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Revista Brasileira de História da Educação

Print version ISSN 1519-5902On-line version ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.21  Maringá  2021  Epub June 18, 2021

https://doi.org/10.4025/10.4025/rbhe.v21.2021.e180 

Resenha

Professor Areão: vanguarda da educação catarinense

Cintia Medeiros Robles Aguiar1  * 
http://orcid.org/0000-0002-9177-9122

Jacira Helena do Valle Pereira Assis2 
http://orcid.org/0000-0002-4539-6462

1Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande, Campo Grande, MS, Brasil.

2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil.

Teive, G. M. G.. 2014. Professor Areão: experiências de um “bandeirante paulista do ensino” em Santa Catarina (1912-1950). Florianópolis, SC:: Insular,


Coletânea organizada por Gladys Mary Ghizoni Teive1. A obra em questão busca, por meio da trajetória do professor João dos Santos Areão, um ‘bandeirante paulista do ensino’, saldar a dívida dos historiadores da educação no que se refere ao fenômeno da Historiografia Brasileira conhecido como ‘Bandeirismo Paulista do Ensino’2, entre 1912 e 1950, em Santa Catarina.

A obra foi organizada em seis capítulos e cada capítulo foi escrito por autores distintos, conta ainda com prefácio escrito por Maria Teresa Santos Cunha, apresentação escrita pela organizadora e ao final foi disponibilizado um anexo com excertos da memória de João dos Santos Areão relacionado a sua experiência como diretor dos grupos escolares: Jerônimo Coelho, Vidal Ramos, Hercílio Luiz, e como inspetor escolar.

Destacamos a priori, a abordagem na qual a coletânea se insere, que foi convencionada a denominar de ego-história3 e o reconhecimento das fontes como ego- documento4. E a posteriori que a coletânea oferece diferentes pontos de vista acerca da atuação do professor Areão, no Estado de Santa Catarina, em diversos momentos.

Definida estas questões, o primeiro capítulo intitulado ‘Como no tempo das bandeiras: a primeira expedição do Professor Areão em Santa Catarina’, Gladys Mary Ghizoni Teive analisa a primeira expedição do professor no Estado, recém-formado na Escola Normal de São Paulo, na direção do primeiro grupo escolar de Laguna o ‘Jerônimo Coelho’.

Tem como fio condutor de análise as memórias do professor cruzada com outras fontes documentais e evidencia os desafios diários de um diretor - cargo novo na década de 1910 - no sentido de colocar em prática os postulados da pedagogia moderna e em ser o pioneiro na implantação da primeira escola complementar do Estado.

No capítulo II, intitulado ‘Um educador no Batalhão da Esperança: João dos Santos Areão e a Escola de Escoteiros de Laguna’, Luiz de Souza Romero Sanson5 discute as práticas sociais do escotismo e a produção de discursos jornalísticos acerca das atividades, relacionadas às experiências públicas e aos debates dos campos político e educacional da Primeira República brasileira. A escola é analisada em suas três fases: 1917-1919; 1924-1930 e 1939-1960, com ênfase no período em que foi dirigida pelo professor Areão.

Em ‘Direção do Grupo Escolar Vidal Ramos de Lages: a segunda expedição do Professor Areão em Santa Catarina (1917-1918)’, capítulo III, Norberto Dallabrida6 faz uma reflexão sobre a segunda expedição do professor Areão no Estado, quando convidado a dirigir o Grupo Escolar Vidal Ramos, e da imersão do professor na vida social da elite dirigente de Lages, com sua participação na Orquestra dos Amadores da Arte, no Tiro de Guerra, na Sociedade Literária e Recreativa, na Maçonaria e na Escola de Escoteiros.

O quarto capítulo intitulado ‘João do Santos Areão fala às semanas: os temas da nacionalização do ensino’, Ticiane Bombassaro Marassi7 analisa a performance de Areão nas ‘Semanas Educacionais’ (1930) do Departamento de Educação, um tipo de formação continuada a professores das redes de ensino, relacionada à nacionalização do ensino nos postulados da Escola Nova e na política de assistência a imigrantes estrangeiros.

No capítulo V ‘Contribuições do professor Areão para a construção de sensibilidades nacionalistas através do canto orfeônico’, Tânia Regina da Rocha Unglab8 aborda a atuação do professor como organizador e sistematizador do Canto Orfeônico em prol da nacionalização do ensino em Santa Catarina entre os anos 1930 e 1940. Ancorada na abordagem da história cultural, analisa relatórios, Diário Oficial, partituras e documentos cedidos por entrevistados.

E o último capítulo ‘Partitura política: o caso de João dos Santos Areão e a nacionalização em Santa Catarina’, Marcelo Téo9 analisa a atuação do professor Areão como responsável pela prática do canto orfeônico nas instituições de ensino de Santa Catarina, especificamente os pontos de contato e de distanciamento entre o projeto de regência do coro social nacional e o contexto catarinense, relacionando a música, o ensino e o campo político na Era Vargas - Estado Novo.

O resultado mostra uma coletânea criteriosa, densa, instigante, de leitura agradável e de relevância para a historiografia da educação brasileira. Destaca-se o cuidado com que a questão metodológica é colocada e a qualidade da narrativa na perspectiva peculiar de cada autor aliando teoria e empiria.

A obra traz as facetas da trajetória educacional de um vanguardista da educação catarinense e coloca em evidência a importância da preservação de documentos, quase sempre destinados ao fogo e/ou lixo, mas que se constituem para o historiador como um patrimônio documental na pesquisa histórica. Tecer os fios da memória do professor Areão permitiu ao pesquisador compreender um passado constituído naquele presente e ao leitor apreender saberes, crenças, valores e práticas de um educador e parte da história da educação de Santa Catarina.

Referências

Cunha, M. T. S. (2014). Prefácio. In: G. M. G. Teive (Org.). Professor Areão: experiências de um “bandeirante paulista do ensino” em Santa Catarina (1912-1950) (p. 14). Florianópolis, SC: Insular. [ Links ]

Teive, G. M. G. (Org.). (2014). Professor Areão: experiências de um “bandeirante paulista do ensino” em Santa Catarina (1912-1950). Florianópolis, SC: Insular. [ Links ]

1 Doutora em educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora associada do Departamento de Pedagogia e do Programa de Pós-graduação em Educação do Centro de Ciências Humanas e da Educação da Universidade do Estado Santa Catarina (UDESC). Autora de Modernização econômica e formação de professores em Santa Catarina; Uma vez normalista, sempre normalista: cultura escolar e produção de um habitus pedagógico (Escola Normal Catarinense: 1911-1935); coautora de A Escola da República: os grupos escolares e a modernização do ensino primário em Santa Catarina.

2Fenômeno desencadeado pela reforma da instrução pública do ensino paulista, iniciada em 1890, a qual, dentre outros, implantou os grupos escolares. Esta experiência inovadora foi disseminada em todo o país por meio das denominadas ‘Missões de Professores Paulistas’, da qual faziam parte normalistas com experiência docente e de gestão em grupos escolares, os quais eram contratados para realizarem reformas congêneres nos Estados. Santa Catarina foi um dos primeiros Estados da federação a contratar um professor paulista para reformar a instrução pública [...] esse fenômeno tem sido relegado a um quase esquecimento no meio acadêmico brasileiro (Teive, 2014).

3Um gênero novo, para uma nova idade da consciência histórica a partir do cruzamento de dois grandes movimentos; por um lado, o abalo das referências clássicas da objetividade histórica, por outro, a investigação do presente pelo olhar do historiador ao passado (Nora, 1989 apud Cunha, 2014, p. 14).

4“[...] termo cunhado pelo historiador holandês Jacob Presser, em 1958, para designar a diversidade das formas de expressão escrita dos sentimentos e experiências pessoais” (Schulze, 2005 apud Teive, 2014, p. 111). Segundo seu principal defensor atual, Rudolf Dekker (2005), o ego-documento é um texto em que um autor escreve sobre a imagem que faz de si mesmo, de sua família, de sua comunidade, de seu país, justificando suas atitudes, manifestando seus medos, mostrando seus valores, refletindo sobre suas experiências e suas esperanças (apud Teive, 2014).

5Mestre em educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

6Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor associado do Departamento de Ciências Humanas e do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Ciências Humanas e da Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Coautor de A Escola da República: os grupos escolares e a modernização do ensino primário em Santa Catarina.

7Doutora em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGE/UFSC). Pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). Atua no Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq). Autora da obra A educação física no Estado de Santa Catarina: a construção de uma pedagogia racional e científica (1930-1940), DIOESC, 2012.

8Doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Educação, pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora adjunta do Departamento de Pedagogia a Distância do Centro de Educação a Distância da Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

9Doutor em História Social, pela Universidade de São Paulo (USP) e professor colaborador do Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Autor de A vitrola nostálgica: música e constituição cultural (Florianópolis, décadas de 1930 e 1940) e De arte: crítica e crônica musical n’A Gazeta (década de 1930), ambos pela editora Letras Contemporâneas.

13Como citar esta resenha: Aguiar, C. M. R., & Assis, J. H. V. P. Professor Areão: vanguarda da educação catarinense. (2021). Revista Brasileira de História da Educação, 21. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v21.2021.e180

Recebido: 16 de Outubro de 2020; Aceito: 08 de Janeiro de 2021; Publicado: 18 de Junho de 2021

*Autora para correspondência. E-mail:crobles.kra@gmail.com

Cintia Medeiros Robles Aguiar é mestra em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2020). Especialista em História e Cultura Afro-brasileira pela Faculdade Batista de Minas Gerais (2019). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017). Atualmente é Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGEdu/UFMS), docente da Educação Básica na Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande/MS (SEMED-CG) e Pesquisadora no Grupo de Estudos e Pesquisas em Antropologia e Sociologia da Educação (Gepase/CNPq). Foi bolsista Iniciação Científica PIBIC-AF/CNPq/UFMS nos biênios 2015/2016 e 2016/2017 e bolsista demanda social CAPES (2018-2020). E-mail: crobles.kra@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-9177-9122

Jacira Helena do Valle Pereira Assis é graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1988), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1997) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2002). Atualmente é Professora Titular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e atua no quadro permanente dos Programa de Pós-graduação em Educação - (cursos de Mestrado e Doutorado) e em Antropologia Social (curso de Mestrado). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Sociologia e Antropologia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: memória, biografia e memorialistas; fronteira e diversidade cultural, famílias, escolas e estado laico. E-mail: jpereira.dou@terra.com.br https://orcid.org/0000-0002-4539-6462

Editor-associado responsável: Ana Clara Bortoleto Nery (UNESP) E-mail: neryanaclara@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-6316-3243

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