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Revista Brasileira de História da Educação

versión impresa ISSN 1519-5902versión On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.22  Maringá  2022  Epub 22-Dic-2021

https://doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e204 

Artigo Original

Pensando a oferta de refeições escolares no Brasil e em Portugal a partir do higienismo francês no início do século XX

Pensando en las ofertas de comidas escolares en Brasil y Portugal desde el higienismo francés de principios del siglo XX

Francine Nogueira Lamy Garcia Pinho* 
http://orcid.org/0000-0001-5589-285X

Silvia Alicia Martínez1 
http://orcid.org/0000-0001-9612-6924

1Universidade Estadual Do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil.


Resumo:

Parte-se da perspectiva de que a alimentação escolar é inerente à própria cultura escolar. Desta forma, o objetivo deste artigo é perceber o despertar da necessidade da oferta das refeições em ambiente escolar no Brasil e em Portugal a partir da influência do higienismo francês no despontar do século XX. Essa percepção tem base nos discursos sobre a oferta de refeições pelas cantinas escolares francesas nos Congressos de Higiene Escolar e Pedagogia Fisiológica ocorridos em Paris nos anos de 1903, 1905 e 1910. Assim, a presença de cientistas brasileiros e portugueses nos eventos em questão sugere que eles poderiam ter sido influenciados a compreenderem as conclusões dos higienistas franceses como modelos de cantinas escolares que pudessem ser internacionalizados.

Palavras-chave: alimentação escolar; Congressos de Higiene Escolar e Pedagogia Fisiológica; Brasil e Portugal

Resumen:

Se parte de la perspectiva de que la alimentación escolar es inherente a la propia cultura escolar. Así, el objetivo de este artículo es comprender el despertar de la necesidad de ofrecer comidas en un ambiente escolar en Brasil y Portugal desde la influencia de lo higienismo frances en los albores del siglo XX. Esta percepción se basa en los discursos sobre la provisión de comidas por las cantinas escolares francesa en los Congresos de Higiene Escolar y Pedagogía Fisiológica que tuvieron lugar en París en los años 1903, 1905 y 1910. Así, la presencia de científicos brasileños y portugueses en los eventos en cuestión sugiere que podrían haber sido influenciados para entender las conclusiones de los higienistas franceses como modelos de las cantinas escolares que podrían internacionalizarse.

Palabras clave: comidas escolares; Congresos de Higiene Escolar y Pedagogía Fisiológica; Brasil y Portugal

Abstract:

It starts from the perspective that school feeding is inherent to the school culture itself. In this way, the objective of this article is to understand the awakening of the need to offer meals in a school environment in Brazil and Portugal from the influence of French hygienism in the dawn of the twentieth century. This perception is based on the speeches on the provision of meals by French school canteens at the School Hygiene and Physiological Pedagogy Congresses that took place in Paris in the years 1903, 1905 and 1910. Thus, the presence of Brazilian and Portuguese scientists in the events in question suggests that they could have been influenced to understand the conclusions of French hygienists as models of school canteens that could be internationalized.

Keywords: school meals; School Hygiene Congresses and Physiological Pedagogy; Brazil and Portugal

Resumen:

On part de la perspective que l’alimentation scolaire est inhérente à la culture scolaire elle-même. De cette façon, l’objectif de cet article est de percevoir le réveil du besoin de l’offre de repas dans des ambiances scolaires au Brésil et au Portugal à partir de l’influence de l’hygiénisme français à l’aube du XXe siècle. Cette perception se fonde dans les discours sur l’offre de repas par les cantines scolaires françaises dans les Congrès d’hygiène scolaire et pédagogie physiologique réalisés à Paris dans les années 1903, 1905 et 1910. Ainsi, la présence des scientifiques brésiliens et portugais dans ces évènements suggère qu’ils ont pu être influencés à comprendre les conclusions des hygiénistes français comme des modèles de cantines scolaires pouvant être internationalisés.

Mots-clés: Alimentation scolaire, congrès d’hygiène scolaire et pédagogie physiologique; Brésil et Portugal

Introdução

No último quartel do século XIX, nos países ocidentais, o início da oferta de refeições no ambiente escolar foi caraterizado por iniciativas esparsas e caritativas replicadas à medida que a própria estrutura escolar também foi formada, marcando uma trajetória concomitante. Ao se colocar a lente de observação sobre a instituição escolar entende-se a demasiada complexidade das análises históricas visto que o contexto de sua trajetória é marcado por frenéticos acontecimentos em nível mundial, bem como por uma pluralidade de documentos com diversas visões sobre os fatos.

Parece ser indissociável a compreensão entre as linhas que conduzem o traçado de como a escola é percebida e de sua cultura própria com os “[...] modos de pensar e de agir largamente difundidos no interior de nossas sociedades, modos que não concebem a aquisição de conhecimentos e de habilidades senão por intermédio de processos formais de escolarização” (Julia, 2001, p. 11). Neste mesmo raciocínio, a alimentação escolar é fruto de um contexto da sociedade que entendeu a escola como espaço propício para a oferta de uma alimentação adequada para as crianças, a qual na época era essencialmente para as ‘crianças necessitadas’1.

Entende-se a cultura escolar como “[...] um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos” (Julia, 2001, p. 9). Dessa forma, então, defende-se que a alimentação escolar2 pertence ao processo da cultura escolar à medida que é parte integrante das práticas escolares (Vidal, 2006). Por tal motivo, a alimentação escolar como prática escolar possibilita o processo de ensino-aprendizagem e, assim, faz parte da história da educação3.

Considera-se que o estudo sobre a educação é fundamental para a “[...] compreensão da formação cultural de uma sociedade [...]” da mesma forma que o conhecimento do contexto histórico dos fatos e acontecimentos é “[...] imprescindível para a compreensão do sentido da práxis humana e, dentro dela, da intervenção educativa” (Falcon, 2006, p. 333).Sob esta perspectiva, uma das considerações que se faz necessária é de que a oferta de refeições no ambiente escolar ocorrera, no Brasil, na França e em Portugal, pari passu com a difusão da obrigatoriedade da escolarização.

Diante dessa afirmação, o objetivo deste artigo é perceber o despertar da necessidade da oferta das refeições em ambiente escolar no Brasil e em Portugal a partir da influência do higienismo francês no despontar do século XX. Essa percepção tem base nos discursos sobre a oferta de refeições pelas cantinas escolares francesas nos Congressos de Higiene Escolar e Pedagogia Fisiológica4 ocorridos em Paris nos anos de 1903, 1905 e 19105. Assim, a presença de cientistas brasileiros e portugueses nos eventos em questão sugere que eles poderiam ter sido influenciados a compreenderem as conclusões dos higienistas franceses como modelos de cantinas escolares que pudessem ser internacionalizados.

Neste sentido, partindo da perspectiva de que a alimentação escolar deve ser analisada tendo em vista sua inserção enquanto inerente à própria cultura escolar, o presente artigo alia uma análise de referências teóricas acerca do tema e enquanto as fontes históricas privilegia o uso dos relatórios dos três Congressos de Higiene Escolar no intuito de encontrar as experiências dos cientistas em relação às cantinas escolares, assim como os intelectuais brasileiros e portugueses que se encontram registrados na documentação aqui analisada.

O rayonnement culturel6 francês

Em relação à influência cultural francesa, é possível afirmar que ela podia ser percebida no Brasil e em Portugal há séculos e mais fortemente desde o Iluminismo e a Revolução Francesa. Intelectuais portugueses da virada do século XX denominavam ‘estrangeirismo’ tal influência, que ia além do uso de expressões linguísticas e se estendia para os vários aspectos da sociedade. François Chaubet (2016) chama a atenção para o movimento intencional da França denominado rayonnement culturel, anteriormente mencionado, que significava literalmente a irradiação cultural francesa para os outros países com o intuito de fortalecer e constituir vínculos culturais entre eles e a França. O objetivo deste movimento foi promover influência cultural com consequentes acordos políticos e econômicos. O rayonnement culturel pôde ser identificado até os anos de 1980, segundo Chaubet, quando então passou por mudanças advindas de novas concepções de sociedade.

Segundo o pesquisador Hugo Suppo (2000, p. 312), a França foi “[...] o primeiro país a propor como estratégia de dominação colonialista o ensino da língua francesa7 a partir da criação, em 1883, da Aliança Francesa”. De acordo com este raciocínio, o desenvolvimento da francofilia promoveria o consumo de produtos culturais franceses, como livros, perfumes, teatro, turismo, vinhos, e inclusive, ideias. É bem nesta seara em que se chama a atenção para a continuidade da influência de matriz francesa em relação à escola, e, especificamente, em relação à oferta de refeições em ambiente escolar.

Em 1907 fora criado o Groupement des Universitéset Grandes Écoles de France, fundado por cientistas no Collège de France em Paris, no intuito de promover a ciência francesa e fortificá-la frente aos outros países. O ideário, que rondava não só a Europa como também os Estados Unidos, era no sentido de que a dominação da ciência moderna significaria também maior influência política e maior potencial industrial frente às outras potências. Petitjean (1996, p. 91) aponta duas funções deste tipo de organismo de ‘irradiação intelectual’. A primeira função era “[...] organizar os intercâmbios científicos, para tirar proveito mais rapidamente dos últimos progressos das ciências e de suas aplicações [...]”, função esta que foi assumida entre as metrópoles, já que estas detinham os conhecimentos científicos mais modernos. Outra função era “[...] tecer redes de aliados políticos a partir de influência cultural e política, tanto como meio de penetração econômica, como para ter apoio desses aliados nos enfrentamentos das grandes potências”. O autor aponta esta última como sendo a função da cooperação intelectual da França com o Brasil.

Os interesses na cooperação intelectual ficam claros na carta de Paul Appell e Emile Levasseur, fundadores do Groupement des Universitéset Grandes Écoles de France pour les Relations avec l’Amérique Latine. A carta foi publicada na Revue Internationale de l’Enseignement em 1908. Nela os autores faziam um apelo aos cientistas para que abraçassem a causa da instituição (chamado somente Groupement) e ajudassem a difundir a influência francesa no mundo. “A irradiação de nossa civilização é um dos elementos mais preciosos da influência francesa no mundo. Importa propagar nossa cultura e defendê-la contra seus rivais” (Appell & Levasseur, 1908 apud Petitjean, 1996, p. 91).

A organização do governo francês em promover a disseminação e continuidade da influência cultural tomara caráter público a partir de 1910, quando da criação do Bureau des écoles et des oeuvres françaises à l’étranger (Escritório das escolas e de obras francesas no estrangeiro), o qual estava subordinado ao Ministère des Affaires Étrangères (Ministério das Relações Exteriores). Este ministério teve muita importância nesse período histórico francês, pois veria seu orçamento de 1913 até 1938 ser multiplicado por 26. Os liceus franceses, aos moldes do Liceu de Paris, foram criados em diversos países com o intuito de propagar a língua e cultura francesas. No Rio de Janeiro fora criado em 1916 e em São Paulo em 1923 (Suppo, 2000). Em Lisboa o liceu se instalara em 1917.

Findada a Primeira Guerra, “[...] a França se pergunta justamente sobre a realidade de sua influência intelectual e cultural no mundo” (Lefèvre, 1993, p. 24). Com vistas a reverter este quadro, o governo francês montou estratégias para que a cultura francesa, juntamente com o consumo em torno da mesma continuasse a se disseminar. Em 1920, foi criada a Maison dela Presse (Casa da Imprensa) que tinha a colaboração da intelectualidade parisiense (como jornalistas, pesquisadores e outros intelectuais) e apresentava o objetivo de “[...] centralizar, analisar e classificar as informações recolhidas pelos serviços diplomáticos e militares, a fim de fornecer elementos de propaganda aos meios de comunicação” (Suppo, 2000, p. 313). Também foi criado neste ano o Service des Oeuvres Françaises à l’Étranger - SOFE (Serviço de Obras Francesas nos Estrangeiro) que ficou no lugar do Bureau des Oeuvres. Nestes órgãos iriam circular intelectuais outros para além do corpo diplomático, os quais teriam a missão de recolher informações que seriam analisadas e utilizadas nos planos das propagandas culturais realizadas no estrangeiro (Ferreira, 2005).

É preciso ressaltar que o caminho inverso acontecera. A cultura brasileira também foi bastante difundida na sociedade francesa e diversos intelectuais que participaram das ‘missões francesas’ no Brasil escreveram sobre a cultura brasileira e contribuíram com a difusão dela na Europa (Ferreira, 2005). Assim como Portugal que também teve sua cultura levada à França.

Os congressos de higiene escolar e as cantinas escolares

Ao fim do século XIX, a alimentação infantil na França havia se tornado “[...] parte do movimento de higiene escolar” (Marchand, 2014, p. 322), tendo como um dos seus pensadores pioneiros o médico higienista francês Henry Méry8 (1862-1927)9, o qual também foi um dos idealizadores da escola ao ar livre (Marchand, 2014). Tiveram papel importante também Paul Le Gendre10 e Louis Landouzy (1845-1917). Além da oferta de refeições, a educação alimentar para as crianças estava sendo esboçada como meio de difusão do conhecimento do uso racional dos alimentos para a população em geral.

É possível compreender por meio dos documentos utilizados que os intelectuais envolvidos com a educação e os médicos escolares, influenciados por seus colegas franceses, foram construindo a necessidade de ofertar refeições para os alunos no momento em que estavam estudando. Nesse período os médicos escolares da França organizavam as cantinas de suas escolas sob os auspícios da alimentação racional e apresentavam resultados sobre a observação da boa nutrição sobre o desenvolvimento físico e cognitivo, disseminando essas ideais pelos outros países.

É sabido, no entanto, que o crescimento e o aperfeiçoamento das cantinas escolares francesas aconteceram gradativamente e especialmente no período do entreguerras quando se apoiavam nas descobertas científicas sobre a nutrição humana os quais faziam parte do discurso que circulava entre os países, ainda que estes estivessem a viver um período de recuperação após a Primeira Grande Guerra.

No ano de 1903, aconteceu em Paris o Primeiro Congresso de Higiene Escolar e de Pedagogia Fisiológica, organizado pela Liga de Médicos e da Família pela Higiene Escolar11, da qual era presidente o médico Paul Le Gendre. No relatório do Congresso, publicado em 1904, há a menção às cantinas escolares sob o título ‘Comida’ (Nourriture).

Considerando que é de toda necessidade que as crianças recebam uma comida apropriada a sua idade;

Que os pais ignorantes dão aos filhos muita comida que eles não conseguem assimilar;

Que, em certas regiões, as crianças levam bebidas alcoólicas para a escola maternal;

Que os menus das cantinas escolares não são apropriados à idade das crianças das escolas maternais, que há entrada de bacon e salsicha em excesso, legumes desidratados e não reduzidos a purê;

Que mesmo em muitas comunas onde as cantinas são organizadas, é a cantina da escola primária que fornece as refeições para a escola maternal;

O Congresso exprime o desejo que os alimentos e as bebidas trazidos pelas crianças sejam estritamente controlados;

Que os alimentos sejam cozidos ou requentados com cuidado;

Que o leite, os ovos e o purê componham exclusivamente o menu das crianças da primeira seção (2 a 4 anos) da escola maternal;

Que a maior solicitude seja dada à supervisão durante as refeições (1º Premier Congrès d’Hygiene Scolaire..., 1904, p. 82, tradução nossa)12.

O presidente da Liga de Médicos e Família pela Higiene Escolar, Dr. Paul Le Gendre, defendera no congresso, entre outras diversas considerações, que os médicos deveriam ter um “[...] monitoramento de perto sobre a alimentação [...]”, sobretudo durante a infância (1º Premier Congrès d’Hygiene Scolaire..., 1904, p. 18). De acordo com as proposições contidas no relatório sobre o Congrès, há de se entender que a racionalização dos alimentos passou a ser uma das ocupações da ciência médica e que a presença do médico escolar seria fundamental na construção dos preceitos de um ideal de escola naquele momento. Segundo Marchand (2014, p. 528), os médicos franceses, a partir da primeira década dos novecentos passaram a orientar os passos da alimentação na escola, tanto sobre a sua oferta - inclusive com a determinação dos menus - como também sobre a inserção do tema no programa de ensino das escolas de formação de professores e nas escolas primárias e secundárias. Isto aconteceu por meio da constante promoção de eventos científicos que discutiram o tema e também pela presença cada vez maior destes médicos nas escolas.

De acordo com Kuhlmann Jr. (2005, p. 60), eventos como este que tratava do tema da educação estavam acontecendo em grande número desde a década de 1870. O autor afirma que os congressos podem ser entendidos no sentido da busca internacional pela legitimação de “[...] modelos e critérios de integração ao concerto das nações civilizadas”. Neste sentido é possível perceber que as referências às ações sobre as cantinas escolares defendidas nos congressos sobre higiene escolar podem ter servido de modelo para as iniciativas de oferta de refeições aos alunos no Brasil e em Portugal.

Fruto de um contexto histórico de certeza da necessidade da intervenção médica no ambiente escolar (Rocha, 2010), acontecera de 11 a 13 de junho de 1905, em Paris, o II Congresso de Higiene Escolar e Pedagogia Fisiológica. No relatório do Congresso há a relação de membros não franceses da Liga organizadora do evento, no qual constavam 18 nacionalidades, dentre as quais se destacam um brasileiro e um português cujos nomes não foram citados (2º Congrès d’Hygiène Scolaire..., 1906).As cantinas escolares continuavam a ter papel de destaque na defesa dos cientistas de então os quais falaram de suas experiências positivas com a intervenção do médico escolar no funcionamento das cantinas e na escolha dos alimentos de forma adequada para a época.

Pode-se destacar do relatório a falado médico escolar Henri Gourichon13 que explicitou seu trabalho na higiene escolar em Paris em diversos aspectos da sua atuação. Quanto às cantinas escolares acompanhadas por Gourichon, ele disse que desde 1881, as refeições “[...] subvencionadas pelas Caixas Escolares e pelo Conselho Municipal permitem que o escolar faça as refeições de meio dia na escola por meio de uma pequena contribuição dependendo do arrondissement ou gratuitamente se ele é indigente” (Gourichon, 1906, p. 259, tradução nossa)14.

Em uma esmiuçada análise realizada por Heloísa Rocha (2010, p. 239) sobre o II Congresso de Higiene Escolar francês, a autora afirma que “[...] os discursos dos franceses caracterizavam-se pelas preocupações em ampliar a legitimidade das suas iniciativas no campo da higiene escolar”. O esforço dos médicos idealizadores desses eventos científicos em promover seus discursos, tanto em solo francês - tentando agregar a cooperação dos pais franceses em prol de suas ações - como tomando eco internacional, por meio da presença de participantes estrangeiros, o que ajudaria a entidade e os seus preceitos científicos a terem maior reconhecimento (Rocha, 2010).

Destaca-se, neste sentido, outro trecho da palestra de Gourichon sobre a adequação dos menus nas cantinas escolares ao organismo infantil eà alimentação doméstica. O médico ressalta que as refeições deviam ser “[...] elaboradas com ainda mais cuidado porque os pais têm muita tendência a dar uma alimentação defeituosa por ignorância ou por pobreza” (Gourichon, 1906, p. 259, tradução nossa)15.A educação alimentar no sentido prático foi tratada também pela professora Augusta Moll-Weiss (1863-1946), Diretora da Escola de Mães de Paris, que palestrou no II Congresso sobre a importância de “[...] que o ensino realmente se torne um ensino científico e que se estenda tanto a homens quanto a mulheres” (Moll-Weis, 1906, p. 57, tradução nossa)16. A diretora acreditava que o aprendizado sobre a alimentação não deveria se reduzir a ensinar o preparo dos alimentos, mas sim “[...] se preocupe com o seu valor nutritivo, a ração necessária para cada um de nós segundo o seu temperamento e as suas ocupações”17. Outras observações sobre alimentação racional foram feitas pela cientista fruto de suas experiências na cantina escolar de sua escola (Moll-Weis, 1906, p. 57, tradução nossa).

O relatório sobre o II Congresso apresenta uma gama de assuntos sobre as percepções de ideal de escola para aqueles médicos, educadores e alguns pais que se reuniram nos três dias de evento. Heloísa Rocha (2010, p. 242) acentua que o congresso, além de permitir uma discussão científica em torno da educação, também indicava uma arena de disputas de interesses dos “[...] médicos (incluídos os médicos inspetores escolares, os médicos de família e os especialistas); dos professores e diretores de estabelecimentos de ensino; assim como das famílias”. É importante, segundo a autora, que se leve em conta que o contexto era de um entrelace de “[...] questões ligadas à saúde e ao desenvolvimento das crianças que se cruzavam com o enfrentamento dos vários problemas que acompanharam o processo de universalização da escola primária na França” (Rocha, 2010, p. 242).

Segundo Nóvoa (1987), o processo de escolarização se estabeleceu em meio ao surgimento da “[...] necessidade da sociedade se ocupar das crianças [...]”; da “[...] interiorização progressiva de um conjunto de regras morais que vão funcionar como mecanismos reguladores das relações entre os homens [...]”; de “[...] uma nova ordem sócio-econômica [...]” que trouxe uma nova relação com a leitura e a escrita; e, da “[...] implantação de uma ‘sociedade disciplinar’ que tem como consequência o encerramento das crianças em espaços que lhes são destinados” (Nóvoa, 1987, p. 414-415, grifo do autor).

A alimentação racional era defendida pela comunidade científica de então. Em uma conferência realizada na Université de la Sorbonne em 12 de março de 1908 pelo professor Louis Landouzy, em que ele propunha que fosse estudada “[...] uma maneira de nos nutrirmos bem, compreendendo que a maneira de nos alimentarmos seja ensinada pela Fisiologia e não pela Gastronomia” (Landouzy, 1908, p. 1, tradução nossa)18.

O cerne deste pensamento pode ser visto na obra Compêndio da alimentação racional (Précis d’alimentation rationnelle) publicada em 1911 pelo Dr. Louis Pascault19, pela editora Bibliothèque Larousse, em Paris. O autor fez uma proposição a qual nomeou como objetivo do livro que ele escreveu. Para ele, as pessoas deveriam aprender em uma linguagem compreensível como e porque se devia ter uma alimentação racional. As bases deste entendimento foram sustentadas em três pontos:

1º O que é necessário comer (regime);

2º Quanto é necessário comer (porção);

3º Como é necessário comer (distribuição das refeições, mastigação [...]) (Pascault, 1911, p. 5, tradução nossa)20.

No livro foram dispostos os conhecimentos sobre nutrição que eram vigentes nessa época em uma linguagem de fácil acesso e com explicações simplificadas. Apesar de não mencionar as cantinas escolares, Pascault esmiuçou as diferenças alimentares das crianças e os cuidados que deveriam ter aqueles que preparavam as suas refeições.

A discussão de uma alimentação racional nas cantinas escolares fora tratada sistematicamente no III Congresso de Higiene Escolar e Pedagogia Fisiológica, em 1910. O médico e presidente do evento, Louis Landouzy, afirmou, na abertura do evento, que as cantinas escolares deveriam fornecer uma alimentação racional para que as crianças tivessem melhor benefício para a saúde e para o aprendizado. Nesse congresso, Landouzy estava representando o Ministério de Instrução Pública da França.

De acordo com Claire Marchand (2014, p. 308, tradução nossa)21, o projeto de implementação das cantinas escolares na França teve o apoio dos médicos escolares porque estas representaram “[...] não somente um meio de aplicar os dados racionais da ciência da nutrição, mas igualmente de difundir estas noções pelo exemplo”.

Faziam parte do Escritório do Comitê Internacional de Organização dos Congressos de Higiene Escolar, como representantes de Portugal, o médico Dr. Sebastião Cabral da Costa Sacadura (1872-1966) como diretor-geral de Instrucção Pública de Portugal e o médico escolar Pacheco de Miranda22e o médico-cirurgião de Lisboa, Dr. Curry Cabral (1844-1920) (3º Congrès International d’Hygiène Scolaire, 1911, p. 11, p. 60).Estes cientistas acima referenciados participavam também do Comitê Internacional do III Congresso e, além deles, faziam parte os médicos Mauperrin dos Santos (diretor da Escola Acadêmica de Lisboa); Mario Moutinho; Costa Ferreira; Almeida Dias; M. Valadares; Aleixo Guerra (estes três últimos como inspetores sanitários escolares). Fazia parte ainda António Ladislau Piçarra que fora sócio-fundador da Liga de Educação Nacional de Portugal, tendo grande atuação na educação portuguesa (Castelo, 2003).

Não faziam parte da organização do Congresso membros brasileiros, mas fora citado como membro titular o Dr. Clemente Ferreira (1857-1947), membro correspondente da Société de Médecine de Paris e membro titular da Société de Médecine Publique et de Génie Sanitaire de Paris. Entre outras atividades como epidemiologista, o pediatra se ocupava do cargo de inspetor sanitário na cidade de São Paulo (Rosemberg, 2008) e fez parte da criação do Serviço de Inspeção Médica nas escolas paulistas (Rocha, 2015).

Constavam como delegados oficiais do governo brasileiro os médicos Dr. Eugenio Guimaraes Rebello (1848-1922) e Dr. Manuel Curvello de Mendonça (1870-1914) (3º Congrès International d’Hygiène Scolaire, 1911, p. 65) que foram enviados pelo prefeito do Rio de Janeiro, na data de 1910, Serzedello Corrêa (1858-1932), atendendo o convite da organização francesa do III Congresso de Hygiene Escolar (Congresso de Hygiene Escolar, 1910, p. 1).

Este último representante, Curvello de Mendonça, no retorno da Europa escreveu uma nota em sua coluna no Jornal O paiz do dia 1º de setembro de 1910. Ele acabara de chegar de dois congressos dos quais foi delegado representando o Brasil, um em Paris e outro em Bruxelas. A nota foi denominada ‘Congressos’ e explanou sobre a numerosa e diversa quantidade de congressos que vinha acontecendo naquela época, principalmente na Europa. Ele foi enfático em descrever o quão numerosos eram os eventos científicos de então e a dúvida que pairava sobre a necessidade de tantos eventos.

Os congressos de toda ordem occupam e preoccupam o mundo inteiro, sobretudo o grande mundo europeu. Emquanto, neste mesmo Paris, quasi não há dia em que se não celebrem sessões solemnes de abertura ou encerramento de congressos de instrucção, de mutualidade, de transporte, de hygiene e educação popular, outras reuniões semelhantes se fazem na Belgica, aproveitando a concurrencia de sua presente exposição internacional, ainda outras se inauguram ao norte deste mesmo continente, como o congresso de assistência e beneficiencia na Dinamarca, o da paz na Suecia, sem falar nos congressos americanos e até brazileiros, cujo echo mal e apagado repercute na opinião e nas columnas da imprensa mundial.

[...] Ora, os governos arranjam-se sobrecarregando de trabalho os seus delegados aos congressos taes e taes, notificando-lhes novas e sucessivas incumbências, algumas das quaes incompatíveis pelo tempo e pelo esforço. Então, os congressistas se tornam as delicias das emprezas de transporte nesta Europa aparelhada para o máximo movimento em suas linhas de navegação e viação férrea. [...]

Na verdade, não falta quem conteste a sua utilidade scientifica e administrativa para os paizes que se representam (Mendonça, 1910, p. 1).

Curiosamente este frenesi científico foi proferido pelo médico Paul Le Gendre, no relatório referente ao I Congresso de Higiene (em 1903) que se assemelhariaà posterior queixa de Curvello de Mendonça. Engajado na importância da discussão científica em prol da higiene escolar, Le Gendre conclama na abertura do evento: “Talvez tenha sido um ato audacioso tentar organizar um novo tipo de congresso em nosso tempo que tanto já viu nascer. No início, havíamos encontrado objeções ao invés de encorajamento” (1º Premier Congrès d’Hygiene Scolaire..., 1904, p. 03, tradução nossa)23.

Ainda que contrariado, Mendonça se mostrou concordante com um dos assuntos que havia sido tratado no III Congresso de Higiene Escolar. Curvello de Mendonça descreveu que uma das preocupações dos cientistas presentes no evento estaria voltada para a diminuição dos programas de ensino em prol de mais atividades ao ar livre e a prática de educação física regularmente, além de pregarem sobre a importância de uma higiene alimentar adequada na infância.

O congresso reconheceu a necessidade para a mocidade das escolas dos diferentes gráos, de tornar a uma vida mais sã, mais favoravel ao seu desenvolvimento e á sua perfeita saúde; necessidade tanto mais imperiosa quanto as taras individuais devidas a uma defeituosa hygiene, sobretudo na idade da formação do espirito e do corpo; [...]

Em resumo, o congresso de hygiene escolar de Paris traduz uma força, uma crença, uma convicção firme de que se deve e pode fazer uma pedagogia nova para resolver todos aquelles problemas: a pedagogia natural, pedagogia physiologica, que revigore a educação intelectual diminuindo o tempo consagrado ao estudo e ao ensino. Para isso, o congresso bem pediu pelo órgão de um dos seus representantes: ‘ar na escola! ar nos pulmões! ar nos programas!’ (Mendonça, 1910, p. 1, grifo do autor).

Muitos foram os assuntos pedagógicos que foram ressaltados no III Congresso de Higiene Escolar, mas ressaltam-se neste artigo especificamente os discursos sobre as cantinas escolares. Oferecer alimentos em ambiente escolar era um desafio que vinha sendo experienciado por diversos países e fomentava discussões sobre os modelos que poderiam trazer melhores resultados. Na sua palestra de abertura, Dr. Louis Landouzy declarou sua certeza na ação da higiene escolar voltada para a alimentação infantil e a importância dos trabalhos sobre as cantinas escolares.

Daí a importância, que na pedagogia, começa a tomar a alimentação de crianças e de adolescentes, questão, que até ontem, estava entregue ao empirismo e aos preconceitos. Daí o interesse de trabalhos produzidos no estrangeiro e na França sobre as cantinas escolares;daí o interesse que se atribui ao cuidado dos dentes nas escolas; questão que, por menor que parece aos espíritos superficiais, relaciona-se diretamente ao problema da alimentação racional. [...] Esta questão da educação doméstica começa a apaixonar todo o mundo. A razão é que a educação alimentar, além das moralidades higiênicas denunciadas pelos médicos, envolve as moralidades econômicas e sociais, estando estes correlacionados com aqueles24 (Landouzy, 1911, p. 109, tradução nossa).

É preciso ressaltar que após estes congressos foram criados no Brasil o Serviço de Inspeção Médica e em Portugal a Inspecção de Sanidade Escolar, ambos vinculados à direção de instrução pública (Rocha, 2015), os quais preconizavam, entre outros cuidados com a saúde infantil, influenciada pelas certezas da ciência higienista médica, os cuidados com a cantina e merenda escolares.

Considerações Finais

Ainda que as iniciativas em solo brasileiro e lusitano estivessem, na primeira década dos novecentos, longe de conseguirem atender a todos os alunos e de se adequarem aos modelos previstos, pode-se afirmar que este período marcou duas formas de ver a alimentação escolar. Primeiro como uma forma de garantir a frequência escolar (France, 1902; Cantina escolar, 1909; Os grupos e as caixas escolares, 1913) e, segundo de forma a permitir consolidação da associação entre uma boa nutrição e um bom aprendizado escolar pela comunidade científica.

Ressalta-se que o modelo educacional advindo da França fazia parte da cultura escolar tanto no Brasil como em Portugal no período histórico em questão. Esse processo, em grande medida, foi possibilitado pela frequente circulação dos intelectuais brasileiros e portugueses em eventos científicos franceses. Entretanto, por mais que se reconheça no recorte espaço-temporal selecionado elementos que contribuem para a construção da política de alimentação escolar, ela ainda não poderia ser entendida como tal.

Diante da observação dos relatórios dos três Congressos de Higiene Escolar e Pedagogia Fisiológica ocorridos em Paris pode-se perceber que a alimentação escolar passou a ser alvo de preocupação médica e tratada sob a sua responsabilidade, tanto na França como no Brasil e em Portugal. Essas fontes nos mostram que as investigações avançavam sobre os prejuízos da má alimentação para o desenvolvimento e aprendizado das crianças.

O campo de estudos voltado à história da educação e às práticas da cultura escolar não pode abrir mão da alimentação escolar. O recorte aqui analisado evidencia isso. A análise das ricas fontes aqui selecionadas mostra a complexidade de um importante aspecto da escola a partir do século XX que se constituía enquanto discussões que, circuladas a partir da França, começavam a ser percebidas por intelectuais luso-brasileiros.

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1Este termo é utilizado por Adenis (1898) no documento Les cantines scolaires du XIIe arrondissement para descrever as crianças que pertenciam às famílias que teriam dificuldades financeiras em arcar com as despesas das refeições escolares.

2Utiliza-se o termo alimentação escolar para englobar quaisquer refeições servidas sob a responsabilidade da escola. Ressalta-se que no Brasil ela é conhecida socialmente como merenda escolar, a qual é oferecida no refeitório escolar. Em Portugal sempre se denominou refeição escolar e era servida na cantina escolar. Na França ela era denominada refeição escolar e era servida também na cantina escolar.

3Considera-se que a alimentação escolar é uma das práticas escolares que caracteriza a cultura escolar, mas, apesar disso, em boa parte dos estudos brasileiros e portugueses das áreas da história e da história da educação ela é trabalhada tangencialmente. A maioria dos estudos sobre o tema é realizada nas áreas da nutrição e pediatria.

4O professor de Ciências da Educação da Universidade de Lyon, Dr. Charles Chabot, afirmara que a Pedagogia Fisiológica era fruto da reunião de esforços dos higienistas para melhorar o regime da escola de então por meio da definição de como a condição fisiológica da criança interfere em sua educação intelectual. Para Chabot (1905, p. 383, tradução nossa) “[...] a fisiologia tem o direito de fixar os limites e os quadros são impostos à educação intelectual pelas condições de saúde da criança”. “[…] la physiologie a le droit de fixer les limiteset les cadres qu'imposent à l'éducation intellectuelle les conditions de la santé de l'enfant”.

5Todos os trechos em língua francesa foram trazidos neste texto ipsis litteris aos originais.

6Tradução: Irradiação Cultural.

7No século XIX, quando da sua criação, o francês era obrigatório para a admissão na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

8Médico francês que participou do movimento de higiene escolar. Fundou uma escola ao ar livre em Eure-et-Loire e organizou a inspeção médica das escolas primárias em Paris em fins do século XIX. Ele publicou um tratado sobre higiene com Chantemesse e Mosny. Tornou-se membro da Sociedade de Medicina Pública e ingressou na Academia de Medicina em 1921.

9As datas entre parênteses ao longo do texto, na frente dos nomes significam o ano do nascimento e de morte dos cientistas. Quando os dados puderam ser encontrados.

10Não foram encontrados dados de nascimento e morte do médico.

11Esta organização foi fundada aos moldes da homônima alemã a qual participou do referido Congresso.

12“Considérant qu’il est de toute nécessité que les enfants reçoivent une nourriture appropriée à leur âge; Que les parents ignorants donnent trop souvent à leurs enfants une nourriture que ceux-ci ne peuvent s’assimiler; Que, dans certaines régions, les enfants apportent à l’école maternelle des boissons alcoolisées; Que les menus des cantines scolaires ne sont pas appropriés à l’âge des enfants des écoles maternelles, qu’il y entre trop de lard et de saucisses, de légumes secs non réduits en purée; Que même dans beaucoup de communes où la cantine est organisée, c’est la cantine de l’école primaire qui fournit les repas à l’école maternelle; Le Congrès émet le voeu que les aliments et les boissons apportés par les enfants soient étroitement contrôlés; Que ces aliments soient cuits ou réchauffés avec soin; Que le lait, les œufs, les purées composent presque exclusivement le menu des enfants de la première section (2 à 4 ans) de l’école maternelle; Que la plus grande sollicitude soit apportée à la surveillance pendant les repas”.

13Não foram encontrados dados de nascimento e morte do médico.

14“[...] subventionnées par les Caisses des écoles et le Conseil municipal, permettent à l’écolier de prendre le repas de midi à l’école, moyennant une faible rétribution suivant les arrondissements, ou gratuitement s’il est indigent”.

15“[…] établi avec d'autant plus de soin que les parents n'ont que trop de tendance à donner une alimentation défectueuse par ignorance ou par pauvreté”.

16“[…]l'enseignement devienne réellement un enseignement scientifique et qu'il s'éntende à l'homme aussi bien qu'à la femme”.

17“[…]qu'il se préoccupe de leur valeur nutritive, de la ration nécessaire à chacun d'entre nous selon son tempérament et ses occupations”.

18“[...] la manière de nous bien nourrir, entendant que la manière de nous alimenter nous soit enseignée par la Physiologie et non par la Gastronomie”.

19Não foram encontradas as datas de nascimento e morte do Dr. Louis Pascault.

20“1º Ce qu’il faut manger (régime); 2º Combien il faut manger (ration); 3º Comment il faut manger (distribution des repas, mastication [...])”.

21“[...] non seulement un moyen d’appliquer les données rationnelles de la science de la nutrition mais également de diffuser ces notions par l’exemple”.

22Não foram encontradas as datas de nascimento e morte do Dr. Pacheco de Miranda.

23“C’était peut-être un acte audacieux de tenter d’organiser une nouvelle sorte de congrès à notre époque qui en a déjà tant vu naître. Nous avons rencontré au début des objections plutôt que des encouragements”.

24“De là l’importance, qu’en pédagogie, commence à prendre l’alimentation des enfants et des adolescents, question, jusqu’à hier, livrée à l’empirisme et aux préjugés. De là l’intérêt des travaux produits à l’étranger et en France sur les cantines scolaires; de là l’intérêt qui s’attache aux soins des dents dans les écoles; question qui, pour mince qu’elle apparaisse aux esprits superficiels, se rattache directement au problème de l’alimentation rationelle [...]Cette question de l’enseignement ménager commence à passionner tout le monde. La raison est que l’éducation alimentaire, en plus des moralités hygiéniques dénoncées par les médecins, comporte des moralités économiques et sociales, celles-ci étant corrollaires de celles-là”.

66Rodadas de avaliação: R1: três convites; duas avaliações recebidas.

67Como citar este artigo: Pinho, F. N. L. G., & Martinez, S. A. Pensando a oferta de refeições escolares no Brasil e em Portugal a partir do higienismo francês no início do século XX. (2022). Revista Brasileira de História da Educação, 22. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e204

71Peer review rounds: R1: three invitations; two reports received.

72How to cite this article: Pinho, F. N. L. G., & Martinez, S. A. Thinking about school meal offers in Brazil and Portugal from French hygienism in the early 20th century. (2022). Revista Brasileira de História da Educação, 22. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e204

76Rondes d'examen par les pairs: R1: three invitations; two reports received.

77Comment citer cet article: Pinho, F. N. L. G., & Martinez, S. A. Reflexion sur l’offre de repas scolaires au Bresil et au Portugal depuis l’hygienisme français au debut du XXe siecle. (2022). Revista Brasileira de História da Educação, 22. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e204

25This term is used by Adenis (1898) in the document Les cantines scolaires du XIIe arrondissement to describe the children who belonged to families who would have financial difficulties in paying for school meals.

26The term school meals is used to cover any meals served under the responsibility of the school. It is noteworthy that in Brazil it is socially known as school lunch, which is offered in the school cafeteria. In Portugal it has always been called a school meal and was served in the school canteen. In France it was called a school meal and was also served in the school canteen.

27It is considered that school meals is one of the school practices that characterizes school culture, but despite this, in most Brazilian and Portuguese studies in the areas of history and history of education it is worked tangentially. Most studies on the subject are carried out in the areas of nutrition and pediatrics.

28Professor of Educational Sciences at the University of Lyon, Dr. Charles Chabot stated that the Physiological Pedagogy was the result of the joint efforts of hygienists to improve the school regime at the time by defining how the physiological condition of the child interferes with their intellectual education. For Chabot (1905, p. 383, our translation) “[...] physiology has the right to set limits and frameworks are imposed on intellectual education by the child's health conditions”. “[…] la physiologie a le droit de fixer les limiteset les cadres qu'imposent à l'éducation intellectuelle les conditions de la santé de l'enfant”.

29All excerpts in French language were brought in this text ipsis litteris to the originals.

30Translation: Irradiação Cultural.

31In the 19th century, when it was created, French was mandatory for admission to the Faculty of Medicine of Rio de Janeiro.

32French doctor who participated in the school hygiene movement. He founded an open-air school in Eure-et-Loire and organized the medical inspection of primary schools in Paris in the late 19th century. He published a treaty on hygiene with Chantemesse and Mosny. He became a member of the Society of Public Medicine and entered the Academy of Medicine in 1921.

33The dates in parentheses throughout the text, in front of the names, signify the year of birth and death of the scientists. When data could be found.

34Data on birth and death of the physician were not found.

35This organization was founded along the lines of the German namesake who participated in the aforementioned Congress.

36“Considérant qu’il est de toute nécessité que les enfants reçoivent une nourriture appropriée à leur âge; Que les parents ignorants donnent trop souvent à leurs enfants une nourriture que ceux-ci ne peuvent s’assimiler; Que, dans certaines régions, les enfants apportent à l’école maternelle des boissons alcoolisées; Que les menus des cantines scolaires ne sont pas appropriés à l’âge des enfants des écoles maternelles, qu’il y entre trop de lard et de saucisses, de légumes secs non réduits en purée; Que même dans beaucoup de communes où la cantine est organisée, c’est la cantine de l’école primaire qui fournit les repas à l’école maternelle; Le Congrès émet le voeu que les aliments et les boissons apportés par les enfants soient étroitement contrôlés; Que ces aliments soient cuits ou réchauffés avec soin; Que le lait, les œufs, les purées composent presque exclusivement le menu des enfants de la première section (2 à 4 ans) de l’école maternelle; Que la plus grande sollicitude soit apportée à la surveillance pendant les repas”.

37No data on the physician's birth and death were found.

38“[...] subventionnées par les Caisses des écoles et le Conseil municipal, permettent à l’écolier de prendre le repas de midi à l’école, moyennant une faible rétribution suivant les arrondissements, ou gratuitement s’il est indigent”.

39“[…] établi avec d'autant plus de soin que les parents n'ont que trop de tendance à donner une alimentation défectueuse par ignorance ou par pauvreté”.

40“[…]l'enseignement devienne réellement un enseignement scientifique et qu'il s'éntende à l'homme aussi bien qu'à la femme”.

41“[…]qu'il se préoccupe de leur valeur nutritive, de la ration nécessaire à chacun d'entre nous selon son tempérament et ses occupations”.

42“[...] la manière de nous bien nourrir, entendant que la manière de nous alimenter nous soit enseignée par la Physiologie et non par la Gastronomie”.

43The dates of birth and death of Dr. Louis Pascal were not found.

44“1º Ce qu’il faut manger (régime); 2º Combien il faut manger (ration); 3º Comment il faut manger (distribution des repas, mastication [...])”.

45“[...] non seulement un moyen d’appliquer les données rationnelles de la science de la nutrition mais également de diffuser ces notions par l’exemple”.

46The dates of birth and death of Dr. Pacheco de Miranda were not found.

47“C’était peut-être un acte audacieux de tenter d’organiser une nouvelle sorte de congrès à notre époque qui en a déjà tant vu naître. Nous avons rencontré au début des objections plutôt que des encouragements”.

48“De là l’importance, qu’en pédagogie, commence à prendre l’alimentation des enfants et des adolescents, question, jusqu’à hier, livrée à l’empirisme et aux préjugés. De là l’intérêt des travaux produits à l’étranger et en France sur les cantines scolaires; de là l’intérêt qui s’attache aux soins des dents dans les écoles; question qui, pour mince qu’elle apparaisse aux esprits superficiels, se rattache directement au problème de l’alimentation rationelle [...]Cette question de l’enseignement ménager commence à passionner tout le monde. La raison est que l’éducation alimentaire, en plus des moralités hygiéniques dénoncées par les médecins, comporte des moralités économiques et sociales, celles-ci étant corrollaires de celles-là”.

49Ce terme est utilisé par Adenis (1898) dans le document Les cantines Scolaires du XII e Arrondissent pour décrire les enfants qui appartenaient aux familles qui auraient des difficultés financières pour subir les dépenses des repas scolaires.

50On utilise le terme alimentation scolaire pour couvrir tous les repas servis sous la responsabilité de l’école. On souligne que au Brésil, elle est connue socialement comme ‘merenda escolar’ (collation scolaire), qui est offerte dans la cantine scolaire. Au Portugal, elle a été toujours appelée repas scolaire et était servie dans la cantine scolaire. En France, elle s’appelait repas scolaire et était servie dans la cantine scolaire.

51On considère que l’alimentation scolaire est une des pratiques scolaires qui caractérise la culture scolaire, mais, malgré cela, dans la plupart des études brésiliens et portugais dans les domaines de l’histoire et de l’histoire de l’éducation, elle n’est pas travaillée de façon confluente. La majorité des études sur le thème se fait dans le domaine de la nutrition et de la pédiatrie.

52Le professeur de Sciences de l’éducation de l’Université de Lyon, Dr. Charles Chabot, affirma que la Pédagogie physiologique était le fruit de la réunion des efforts des hyigiénistes pour améliorer le régime de l´école à ce temps-là définissant comment la condition physiologique de l’enfant interfère dans son éducation intellectuelle. Pour Chabot (1905, p. 383) « [...] la physiologie a le droit de fixer les limites et les cadres qu'imposent à l'éducation intellectuelle les conditions de la santé de l'enfant”.

53Tous les morceaux en langue française ont été traduit à lettre, dans ce texte, selon les originaux.

54Traduction : Irradiação Cultural

55Dans le XIXe siècle, lors de sa création, le français était obligatoire pour l’admission dans la Faculté de Médecine de Rio de Janeiro.

56Médecin français qui a participé au mouvement d’hygiène scolaire. Il a fondé une école de plein air en Eure-et-Loire et a organisé l’inspection médicale des écoles primaires à Paris à la fin du XIXe siècle. Il a publié un traité sur l’hygiène avec Chantemesse et Mosny. Il est devenu membre de la Société de Médecine Publique et est entré à l’Académie de Médecine en 1921.

57Les dates entre parenthèses tout au long du texte, devant les noms indiquent l’année de naissance et décès des scientifiques. Quand ces données ont pu être retrouvées.

58Les donnés de naissance et décès du médecin n’ont pas pu être trouvées.

59Cette organisation a éte fondée à la façon de l’homonyme allemande qui a fait parti du Congrès en question.

60Les donnéss de naissance et décès du médecin n’ont pas pu être trouvées.

61Les donnéss de naissance et décès du médecin n’ont pas pu être trouvées.

62Les donnés de naissance et décès du médecin n’ont pas pu être trouvées.

Recebido: 30 de Abril de 2021; Aceito: 21 de Setembro de 2021; Publicado: 22 de Dezembro de 2021

* Autora para correspondência. E-mail:francinepinho1@gmail.com.

Francine Nogueira Lamy Garcia Pinho é Doutora e mestre em Políticas Sociais, pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF-RJ; Graduada em Nutrição pela Universidade Federal Fluminense - UFF, Niterói -RJ. Pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais (PPGPS) da UENF. E-mail: francinepinho1@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-5589-285X

Silvia Alicia Martínez é Professora Associada do Laboratório de Estudos de Educação e Linguagem (LEEL) do Centro de Ciências do Homem (CCH) e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais (PPGS) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF-RJ); Pós-doutora pela Universidade de Lisboa (Portugal); Doutora e Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ); Graduada em Ciências da Educação (Mar del Plata -Argentina). E-mail: silviam@uenf.br https://orcid.org/0000-0001-9612-6924

Editor-associado responsável: Ana Clara Bortoleto Nery E-mail: ana-clara.nery@unesp.br https://orcid.org/0000-0001-6316-3243

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