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Revista Brasileira de História da Educação

versão impressa ISSN 1519-5902versão On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.22  Maringá  2022  Epub 23-Set-2022

https://doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e230 

Artigo Original

Uma tipologia das letras usadas na fase inicial da escolarização no Rio Grande do Sul em cadernos escolares de alunos (1937-2015)

A typology of letters used in initial schooling in Rio Grande do Sul based on student notebooks (1937-2015)

Una tipología de letras utilizadas en la etapa inicial de la escuela en Rio Grande do Sul estudios cuadernos estudiante (1937-2015)

Alessandra Amaral da Silveira1  * 
http://orcid.org/0000-0002-6699-1877

1Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, RS, Brasil.


Resumo:

Este artigo apresenta um mapeamento das letras usadas nas classes iniciais de escolarização de diferentes escolas gaúchas no período de 1937-2015, periodização possível considerando a documentação (cadernos de alunos) disponível no acervo de um centro de memória brasileiro. A metodologia utilizada foi a operação historiográfica enquanto uma produção do pesquisador que associa um lugar (social) com diferentes procedimentos de análises (práticas) e com a construção de uma escrita. A análise possibilitou problematizar as mudanças de perspectivas que alteram as orientações e prescrições para o ensino dos tipos de letras. A partir dos dados, foi possível identificar cadernos dos alunos com o uso exclusivo de um tipo de letra e cadernos com o uso concomitante das letras, e essas variações estavam vinculadas aos debates da época.

Palavras-chave: cultura gráfica; letra cursiva; letra imprensa minúscula; letra imprensa maiúscula

Abstract:

This study brings a mapping of letters used in the initial schooling classes of different schools in Rio Grande do Sul, in the period of 1937-2015. This periodization is based on the documentation (student notebooks) available in the collection of a Brazilian memory center. Historiographical operation was used as methodology, taken as a researcher production that associates a (social) place with different analysis procedures (practices), added with the construction of a piece of writing. The analysis made it possible to problematize the changes in perspectives that change the orientations and prescriptions for the teaching of typefaces. From the data, it was possible to identify students' notebooks with the exclusive use of a type of font and notebooks with the concomitant use of letters, these variations were linked to the debates of the time.

Keywords: graphic culture; cursive handwriting; lower case letter; upper case letter

Resumen:

Este artículo presenta un mapeo de las letras utilizadas en las clases de escolarización inicial de diferentes escuelas de Rio Grande do Sul en el período 1937-2015, posible periodización considerando la documentación (cuadernos de estudiantes) disponible en la colección de un centro de memoria brasileño. La metodología utilizada fue la operación historiográfica como producción investigadora que asocia un lugar (social) con diferentes procedimientos de análisis (prácticas) y la construcción de un escrito. El análisis permitió problematizar los cambios de perspectivas que cambian las orientaciones y prescripciones para la enseñanza de las tipografías. A partir de los datos, fue posible identificar los cuadernos de estudiantes con el uso exclusivo de un tipo de fuente y cuadernos con el uso concomitante de letras, estas variaciones estaban vinculadas a los debates de la época.

Palabras clave: cultura gráfica; letra cursiva; letra prensa minúscula; letra prensa maiúscula

Introdução

[...] Que a mão sirva de exemplo [...] O pintor, lápis ou pincel na mão, risca, rabisca, alinha, desenha, enquadra, traça, esboça, debucha, mancha, pincela, pontilha, empastela, retoca, remata. O escritor garatuja, rascunha, escreve, reescreve, rasura, emenda, cancela, apaga [...] (Bosi, 1977, p. 57).

Escrever é uma tarefa que exige habilidades específicas que necessitam do controle das mãos, dos braços, dos olhos, enfim, de praticamente todo o corpo para que o traçado desejado ou estipulado pelos modelos vigentes da ‘boa escrita’, ou simplesmente da escrita, seja alcançado. Os tipos de letras a serem utilizados pelos sujeitos, principalmente no espaço escolar, é um debate histórico, com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. Mapear os tipos de letras utilizados no período inicial de escolarização pode mostrar determinados projetos da sociedade na produção de indivíduos, os quais sejam capazes de suprir as necessidades de cada época.

A discussão sobre os tipos de letras (cursiva, imprensa minúscula e imprensa maiúscula) nos primeiros anos de escolarização da educação formal é recorrente na comunidade escolar, o que ocorre independente de seu tempo histórico. O debate ao qual está vinculada a temática da alfabetização (re)surge e coloca em evidência qual tipo de letra é considerado o mais ideal para ser usado com os educandos que ingressam na escola, seja na educação infantil, seja nos anos iniciais do ensino fundamental. Na segunda metade do século XX, autores como Santos (1953, 1957), D’Ávila (1955) e Fontoura (1963) apresentaram, em seus manuais pedagógicos, orientações e sugestões sobre o uso de determinado modelo de letra para os alunos que iniciavam a escolarização. Na atualidade, Cagliari e Cagliari (1999), Morais (2012) e Soares (1996, 2001, 2016) são autores que, recorrentemente, problematizam a temática dos tipos de letras, especialmente no processo de alfabetização. Isso demonstra que a discussão em torno dessa problemática é atemporal no campo da educação, pois está envolvida em relações de poder que se consolidam no espaço escolar.

Para estudar o tema dos tipos de letras, foram analisados 489 cadernos de alunos utilizados nos primeiros anos de escolarização1, os quais demonstram que, ao longo do período de 1937 a 2015, houve mudanças e permanências sobre o tipo de letra a ser empregado pelos estudantes. Os cadernos de alunos que foram usados no estado do Rio Grande do Sul, referentes ao período inicial do ensino da escrita e da leitura, são as fontes principais que compuseram a pesquisa aqui apresentada e estão salvaguardados em um centro de memória brasileiro2. Para compreender as discussões em torno dos tipos de letras, foram consultados e analisados, como documentos complementares, os manuais pedagógicos, os exemplares da Revista do Ensino/RS e a literatura relacionada à revolução conceitual da alfabetização (Ferreiro & Teberosky, 2007; Grossi, 1990a, 1990b, 1990c), às políticas curriculares e aos programas de formação docente e de alfabetização.

A metodologia aplicada na pesquisa supõe uma operação historiográfica (Certeau, 1982) inserida na relação de dois campos do conhecimento: o da história da alfabetização e o da pesquisa sobre/com cadernos escolares. Certeau (1982) define a operação historiográfica como uma produção do pesquisador que associa um lugar (social) com diferentes metodologias/procedimentos de análises (práticas) e com a construção de uma escrita.

Estudar os cadernos é reconhecer que a história se faz a partir dos vestígios considerados mais banais e produzidos por sujeitos comuns na escola (Hébrard, 2000). Segundo os estudiosos Mignot (2008), Viñao (2008), Gvirtz (1996), Santos (2008), Beccalli (2013), Jacques (2015), Monteiro (2016), dentre outros3, os cadernos escolares são artefatos da cultura material escolar que registram muitas das propostas pedagógicas desenvolvidas na sala de aula, dentre as quais estão os procedimentos adotados pelas professoras no desenvolvimento de determinadas atividades; sendo assim, em suas páginas, são evidenciadas muitas das propostas planejadas pela docente e executadas pelos estudantes.

Para compreender quais discussões estavam em torno do ensino da escrita manuscrita escolar, recorreu-se ao conceito de cultura gráfica (Petrucci, 1986; Hébrard, 2000; Chartier, 2002). Esse conceito, além de supor o ensino e a aprendizagem do traçado de diferentes tipos de letras, pressupõe a apropriação de normas e competências estipuladas por diferentes perspectivas sociais, pedagógicas e políticas que estabelecem, hierarquizam e classificam quais saberes devem prevalecer e são legitimados. Conforme Chartier (2002, p. 83), “[...] a reconstituição da cultura gráfica pode ser micro-histórica e apreender, para um período mais limitado e a um só lugar, a totalidade das produções e das práticas da escrita”. A partir desse conceito, é possível compreender que a presença, a permanência, o enfraquecimento e/ou desaparecimento de um tipo de letra estão articulados a discussões vigentes e/ou sujeitos influentes que colaboraram para a sua defesa ou para o seu desuso.

O objetivo da pesquisa foi fazer um mapeamento das letras usadas nas classes de alfabetização de diferentes escolas gaúchas ao longo de 78 anos, se houve mudanças e/ou permanência ao longo das décadas. Logo, a tese que se defende é a de que o ensino das letras se articula aos diferentes embates e debates de ordem social, pedagógica e política, ou seja, as definições que se estabelecem na cultura gráfica escolar estão imbricadas com as relações de hierarquia e de poder que circulam em distintos espaços.

Diante do exposto, destaca-se que este artigo está organizado em duas seções. Na primeira, são apresentadas as análises de 268 cadernos de alunos nos quais foram usados determinados tipos de letra: 1) Cadernos de alunos letra cursiva; 2) Cadernos de alunos letra script/imprensa minúscula; 3) Cadernos de alunos letra imprensa maiúscula. Na segunda seção, são expostos os dados de 111 cadernos de alunos em que foi registrado o uso concomitante de diferentes tipos de letras: 1) Cadernos dos alunos com a concomitância das letras: script/imprensa minúscula e cursiva; 2) Cadernos dos alunos com a concomitância das letras cursiva, imprensa minúscula e imprensa maiúscula; 3) Cadernos de alunos com a concomitância das letras: cursiva e imprensa maiúscula; 4) Cadernos de alunos com a concomitância das letras imprensa maiúscula e imprensa minúscula. Diante disso, as discussões presentes nas seções serão articuladas com reflexões de ordem social, pedagógica e política que, possivelmente, alteram as orientações e prescrições para o ensino do tipo das letras em determinada época.

Cadernos de alunos: exclusividade de um tipo de letra

Nesta seção, apresentam-se os dados referentes aos 268 cadernos de alunos utilizados no primeiro ano de escolarização4, bem como constata-se que houve a presença exclusiva de um único tipo de letra. Nesse sentido, destaca-se que, no decorrer da análise, foi possível observar que houve cadernos de alunos em que a letra era usada exclusivamente em todas as páginas. Sendo assim, a partir dos dados, emergiram três organizações: 1) Cadernos com uso exclusivo da letra cursiva; 2) Cadernos com uso exclusivo da letra script/imprensa minúscula; 3) Cadernos com uso exclusivo da letra imprensa maiúscula. A seguir, o Gráfico 1 mostra como essas tipologias surgiram ao longo da pesquisa.

Fonte: A autora

Gráfico 1 Apresenta a relação total de cadernos e os cadernos com o uso exclusivo de cada tipologia. 

No gráfico, é possível identificar como cada uma das tipologias emerge nos cadernos referentes ao período pesquisado (1937-2015). Nota-se a recorrência exclusiva da tipologia cursiva em todos os anos, a qual, no período final, perde espaço nos cadernos dos alunos. Em relação à tipologia script/imprensa minúscula, evidencia-se o momento específico do seu auge nos anos 1960/1970. Por fim, quando aparece a letra imprensa maiúscula, no início dos anos 2000, ela se faz cada vez mais presente nos cadernos salvaguardados no centro de memória. Dessa maneira, o Gráfico 1 foi apresentada com a intenção de mostrar um panorama geral sobre as exclusividades das tipologias que, a seguir, serão problematizadas e relacionadas com as discussões que estiveram presentes em cada um dos períodos estudados.

Dito isso, inicia-se a explanação relacionada à exclusividade da letra cursiva nos cadernos dos alunos, abordando que é a única letra que foi localizada em quase todos os anos que compuseram a pesquisa, de 1937 até 2014. Segundo Cagliari (2008, p. 91), “Para se ter uma ideia da importância da letra cursiva na alfabetização, é preciso analisar o que acontece nas salas de aula e nos cadernos dos alunos - e não apenas nas cartilhas”.

Sendo assim, considerando que foram consultados e analisados 379 cadernos de alunos usados durante o primeiro ano de escolarização, a letra do tipo cursiva esteve presente de maneira exclusiva em 190 desses cadernos, o que equivale a aproximadamente 50,1% desses cadernos de alunos usados ao longo do primeiro ano de escolarização. Além de estar presente em praticamente todos os anos da pesquisa, outro destaque relevante sobre a letra cursiva é que ela é a única que apresenta anos ininterruptos subsequentes, ou seja, há dois períodos (de 1937 a 1943 e de 1979 a 1989) da pesquisa nos quais não há a presença de nenhum outro tipo de letra por consecutivos anos, sendo a letra cursiva a única utilizada em todo o caderno do aluno. A letra do tipo cursiva fez parte, de maneira exclusiva, de uma parcela significativa de cadernos dos alunos, no entanto cabe ressaltar que, de formas diferentes, devido ao extenso período da pesquisa, foi possível analisar que a sua presença teve influência das discussões vigentes em cada época e, por isso, passou por mudanças, tanto das orientações de seu uso e ensino quanto do próprio traçado de suas letras.

Diante disso, pode-se considerar que o predomínio, a permanência e o enfraquecimento ou desaparecimento desse tipo de letra ocorrem porque o tipo de escrita está diretamente correlacionado com as diferentes discussões e com os sujeitos que as fazem ganhar força ou perdê-la (Petrucci, 1995), isto é, são as condições sociais e históricas e, nesse caso, também escolares e pedagógicas que afetam de modo direto os discursos sobre os tipos de letras a serem ensinados para as crianças quando estas ingressam nas instituições escolares.

Com o intuito de compreender como se estabeleceu, ao longo do tempo, essa cultura gráfica escolar, será apresentado, na sequência, o que era discutido e publicado sobre o ensino da escrita em cada um dos períodos mencionados. Isso constitui aquilo que se tem dito sobre as condições sociais, históricas, pedagógicas e escolares, as quais explicam a cultura gráfica escolar. Os dados foram organizados e analisados considerando os resultados da pesquisa e observando os cadernos dos alunos e períodos de uso exclusivo da letra cursiva, nos seguintes termos: 1) Cadernos do período de 1937-1943; 2) Cadernos do período de 1952-1976; 3) Cadernos do período de 1979-1989; 4) Cadernos do período de 1990-1999; 5) Cadernos do período 2000-2014.

No período inicial da pesquisa (de 1937 a 1943), constavam, no arquivo, quatro (04) cadernos; ao manuseá-los, é perceptível o cuidado com o traçado da letra que parece ser feito com bastante domínio, principalmente quando se trata da etapa de ensino inicial de leitura e de escrita e do uso da caneta tinteiro. Em virtude disso, é possível pensar que, talvez, houvesse uma prática de rascunho ou de ‘passar a limpo’ a atividade. Esse ato era bastante comum até o começo do século XX, pois, conforme Chartier (2007), era uma prática empregada para evitar os erros de uma escrita iniciante ou de ‘primeiro impulso’. Nesse sentido, a escrita no caderno deveria ser a melhor possível, sem erros e com traços alinhados.

No segundo período estabelecido para compreensão do uso exclusivo da letra cursiva, entre os anos de 1952 e 19765, 08 cadernos foram identificados com uso somente da letra do tipo cursiva. Os cadernos desse período, que possuem apenas escritas com a letra cursiva, apresentam atividades bem similares, especialmente a de encher linha. É possível perceber, ainda, nos cadernos dos alunos desses períodos, a preocupação com a beleza e a elegância tão exigidas na escrita, como defendiam os discursos relacionado aos modelos caligráficos. Um dos meios para atingir a elegância na escrita é a atividade de cópia, essa que foi justificada em um dos manuais pedagógicos consultados, o qual expõe:

A cópia tem valor relativo na aprendizagem da escrita. Empregada geralmente ‘para melhorar a letra da criança’, ou como tarefa de casa, ou como verificação da rapidez, no escrever, a cópia, pode sugerir uma diversidade de exercícios interessantes. [...] A cópia pode ser usada como trabalho retificador de grafias, como veículo de exercícios diversos como por exemplo o uso de grupo consoantes, ou de grafias difíceis (D’ávila, 1955, p. 246, grifo nosso).

Destaca-se, então, que, no final do século XIX e início do XX, houve, no Brasil, mudanças educacionais significativas, principalmente pela circulação das concepções higienistas na educação (Vidal, 1998). Logo, isso refletia em qual sujeito se queria produzir nos espaços escolares, e, para esse momento, era fundamental formar indivíduos aptos a escrever de forma rápida e legível, suprindo, assim, as necessidades mercadológicas da época.

Ao dar continuidade aos dados extraídos dos cadernos dos alunos referentes àquilo que se caracterizou como primeiro e segundo períodos de exclusividade da letra cursiva, não se tem a pretensão de dizer que as discussões pautadas nos modelos caligráficos desapareceram do espaço escolar, mas compreender que, de certa maneira, outros debates começaram a ganhar força, por exemplo, a ‘flexibilização da escrita’ (Magalhães, 2005). Esse conceito indica certo consentimento em relação ao traçado da escrita do estudante mesmo que ele não seja tão perfeito ou dentro dos modelos caligráficos, como era incentivado em outros tempos. Sendo assim, chega-se a um terceiro período, de 1979 a 1989, para compreender o ensino e o uso da letra cursiva, uma vez que esse momento marca, nos cadernos do acervo pertencentes ao primeiro ano de escolarização, a hegemonia da letra cursiva. Para essas datas, constavam, no acervo, trinta e oito (38) cadernos, e todos eles apresentam somente o registro da referida letra.

De acordo com Camini (2010), nas últimas décadas do século XX, se presencia uma maior aceitação dos traçados não tão bem executados, o que se dá pela necessidade de agilizar a aprendizagem da escrita, pois se almeja mais a rapidez do que a estética da letra, o que, de certo modo, rompe com a proposta apresentada pelo modelo caligráfico que se estabeleceu até o início dos anos 1980 (Vidal & Esteves, 2003).

O quarto período organizado a partir dos dados corresponde aos anos de 1990 a 1999, no qual foram consultados 83 cadernos, dentre os quais 61 usaram unicamente a letra cursiva. Cabe destacar, nessa perspectiva, que, nesse período, têm expressividade, no Brasil, os estudos e as pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, no entanto sabe-se que, nas décadas de 1980 e 1990, o tempo de propagação das informações, teorias e concepções era outro, por isso compreende-se que, ainda nos anos de 1990, a teoria da psicogênese poderia ainda não ter chegado a diferentes localidades do país. Dessa maneira, buscou-se conhecer o que essas pensadoras propunham sobre os tipos de letras, mas com o cuidado de compreender que o tempo da disseminação do conhecimento era outro. Dito isso, cabe enfatizar que as autoras não descartavam o uso da letra cursiva, mas deixaram claro, nos seus estudos, que ela só deveria ser utilizada na sala de aula quando os alunos e as alunas já estivessem em um nível mais desenvolvido de alfabetização, o que, provavelmente, não deveria ocorrer nos primeiros meses do ano letivo.

No quinto e último período investigado, de 2000 a 2015, foram consultados 235 cadernos; desses, 79 apresentam uso exclusivo da letra cursiva. Nos anos 2000, inicia-se um movimento diferente acerca da letra cursiva, pois se percebe, nesse momento, o enfraquecimento dessa tipologia. Nesse período, começa a se estabelecer o ciclo de alfabetização no país, o que, de certa maneira, pode, também, ter influenciado a baixa presença e/ou o desaparecimento da letra cursiva no primeiro ano de escolarização, principalmente devido às políticas curriculares e aos programas de formação docente e de alfabetização (Brasil, 2008, 2012).

Após a explanação das análises referentes à exclusividade da letra cursiva nos cadernos dos alunos, segue-se para a discussão sobre a letra script/imprensa minúscula. O uso exclusivo dessa tipologia ocorreu em 09 cadernos de alunos, o que corresponde a 2,3% do total de cadernos para o período da pesquisa e para o 1º ano. Esses cadernos datam de um período bastante específico, qual seja, dos anos de 1960 e 1970. Destaca-se que, embora quantitativamente pareça um dado ínfimo, esses cadernos e os registros neles identificados, no que tange ao tipo de letra, são bastante reveladores, pois, conforme indicado em estudo de Peres (2003), foi significativo, na escola primaria gaúcha, o uso dessa tipologia.

Conforme Petrucci (1986), Hébrard (2000) e Chartier (2002), para compreender a cultura gráfica, é importante discorrer sobre os debates que estavam circulando na época, especialmente a partir de instâncias consideradas de grande influência. No entanto convém explanar que as discussões sobre os modelos caligráficos6 ainda permaneceram intensas durante o período em que foram localizados cadernos com a exclusividade da letra script (1960, 1966, 1968, 1975 e 1977). Todavia, no Rio Grande do Sul, outras discussões começavam a ganhar força e circulação, em especial pelos comunicados e pelas reportagens de dois importantes veículos de informação: o Centro de Pesquisas e Orientação Educacional - CPOE/RS e a Revista do Ensino, os quais defendiam a necessidade de modernizar o ensino da escrita nas escolas primárias. Para isso, era preciso investir em um tipo de letra considerada mais ‘moderna’, por exemplo, a script, pois era ela que se aproximava aos caracteres da máquina de escrever.

Esse Centro adquiriu relevância no contexto educacional gaúcho, sendo considerado “[...] o lugar de referência dos saberes pedagógicos” (Peres, 2000, p. 68). O CPOE7 divulgava, por meio de documentos (comunicados, boletins, circulares, cursos, dentre outros), o que estimava ser inovador e primordial para o bom desenvolvimento da educação das classes pré-primária, primária, especial, supletiva, rural e normal. O CPOE/RS passa a ser responsável pela organização, orientação e pelo controle de praticamente todo o sistema gaúcho de ensino. Ao longo da sua atuação, o Centro foi referenciando com o que considerava de mais moderno para a escolarização gaúcha e, nessa configuração, enfatizava a importância da caligrafia e da escrita em geral.

Mesmo ainda envolta em questões dos modelos caligráficos8, outra discussão começou a ganhar força no Rio Grande do Sul, a qual está relacionada ao ensino das letras de tipo script nas escolas gaúchas. É interessante destacar que essa denominação não aparece nos manuais pedagógicos consultados na pesquisa, mas, mesmo assim, optou-se por ela, pois, conforme Peres (2003, p. 87, grifo nosso), no estado do Rio Grande do Sul, a partir do comunicado da CPOE, definiu-se que “[...] a script é a imprensa simplificada com as letras ‘a’ e ‘g’ modificadas. Inalteráveis são os traços básicos das letras em retas, círculos e semicírculos”. A denominação imprensa simplificada aparece nos manuais pedagógicos de Santos (1953, 1957), o qual, inclusive, orienta que, no período inicial de ensino da escrita na escola, “O tipo de letra empregado deve ser o de imprensa simplificado, que poderá ser depois gradualmente substituído pelo manuscrito propriamente dito” (Santos, 1953, p. 154).

Nesse mesmo comunicado, anunciado por Peres (2003), são divulgadas as vantagens do ensino da letra do tipo script, tendo como referência trabalhos desenvolvidos com sucesso em escolas inglesas e suecas. No comunicado n. 04, de agosto de 1959, intitulado A escrita tipo ‘script’ nos primeiros anos da escola primária, assinado pela professora Dorothy Fossati de Vasconcelos Moniz (Orientadora do ensino primário), são elencados nove itens defendendo as vantagens do uso e do ensino da letra script:

  1. As letras de forma são mais simples que a cursiva.

  2. É semelhante aos desenhos com que estão familiarizadas as crianças.

  3. O ‘script’ emprega o mesmo alfabeto que as crianças encontram nas leituras e elimina, assim, o gasto de energias e a confusão de ter de aprender as duas formas de cada letra.

  4. As crianças podem aprender a expressar as idéias sôbre o papel com mais rapidez se utilizarem a escrita ‘script’, de modo que em seguida adquirem certa satisfação.

  5. Há menos fracassos.

  6. Na aprendizagem da escrito ‘script’ há menos tensão dos olhos e é menor a possibilidade de cansaço físico que a aprendizagem da escrita cursiva.

  7. A escrita ‘script’, ao facilitar a expressão escrita, estimula o espírito criador.

  8. A claridade da escrita script tende a criar segurança emocional.

  9. A escrita ‘script’ está adaptada ao desenvolvimento muscular motriz das crianças da escola primária (Centro de Pesquisas e Orientação Educacional [CPOE], 1959, grifo do autor).

No mesmo comunicado, são enumerados apenas quatro itens sobre as desvantagens do uso do tipo script na escolarização inicial das crianças:

  1. As crianças podem ter dificuldades na mudança de letra, ao passar para a cursiva e prejudicar, com isso, o rendimento de aprendizagem.

  2. Muitas crianças que aprendem a escrita ‘script’ têm dificuldades para ler a escrita cursiva.

  3. Alguns críticos da escrita ‘script’ opinam que ela oferece menos oportunidades para um estilo individual que a escrita cursiva.

  4. Os pais, as vêzes, preferem a escrita cursiva e insistem na sua aprendizagem (CPOE, 1959, grifo do autor).

A partir desses itens, é enfatizado o interesse em apresentar as vantagens da letra do tipo script, incentivando, assim, sua implementação no cotidiano da escola, pois, conforme mencionado, ela estaria mais próxima da realidade das crianças, visto que o formato das letras é semelhante aos desenhos. Além disso, argumentavam ser o modelo de letra com o qual a criança teria mais contato, uma vez que ele é mais recorrente nos livros de leitura.

As desvantagens do uso e do ensino desse tipo de letra não são apresentadas no comunicado, sendo apenas abordadas em contraposição à cursiva, o que permite a compreensão de que a escrita script por si só não apresenta problemas, mas sim vantagens, em comparação à letra do tipo cursiva. Um mês após esse comunicado, em setembro de 1959, foi lançada, na Revista do Ensino, a reportagem intitulada ‘A escrita no primeiro ano de escolaridade’, também assinada pela professora Dorothy Fossati de Vasconcelo Moniz, orientadora do ensino primário. Na reportagem, há o reforço da vantagem do ensino da letra script ou imprensa simplificada, destacando que ela deve ser usada desde o primeiro momento em que as crianças iniciam a escrita na escola, e que isso “[...] já lhe constituíra um treino” (Revista do Ensino, 1959, p. 42).

Nos excertos apresentados acima, fica evidente que, no Rio Grande do Sul, houve fortes argumentos em defesa da letra script utilizados pelo CPOE e pela Revista do Ensino, sendo uma tentativa de imitar a letra tipográfica (caracteres da máquina de escrever). Nesse caso, “[...] a orientação para o uso da letra script nesse período baseava-se naquilo que eram consideradas suas vantagens: legibilidade, nitidez, facilidade de aprendizagem, semelhança com a letra de imprensa, simplicidade e beleza” (Peres, 2003, p. 87). Dessa maneira, é plausível afirmar que a tecnologia da época influenciou o ensino das letras na escola gaúcha, pois era necessário aproximar a criança, desde cedo, ao que se tinha de mais moderno, a máquina de escrever. É interessante destacar o discurso em torno da letra script, uma vez que há nele uma dimensão social na qual se enfatiza o uso daquele tipo de letra no cotidiano das crianças e dos futuros adultos e trabalhadores. É preciso lembrar, como enfatizou Petrucci (1995, 2003), que o tipo de letra utilizado pelos sujeitos indicava, dentre outros, o seu grau de instrução e a sua posição social.

Por fim, destaca-se a letra imprensa maiúscula, que esteve presente, de forma exclusiva, em 69 cadernos de alunos, o que equivale 18,2% do total de 379 cadernos. Cabe informar que os cadernos que compuseram esse conjunto correspondem aos anos 2000. Isso quer dizer que é o momento em que a letra imprensa maiúscula começa a ganhar força nos cadernos consultados, sendo empregada cada vez com mais frequência e por mais tempo nas páginas dos cadernos dos alunos. Segundo Cagliari (2008), nos últimos anos do século XX,

Difundiu-se [...] a prática de se alfabetizar, utilizando, primeiramente, apenas o alfabeto de letras de forma maiúsculas. No entanto, esse procedimento não é apenas uma moda: é uma forma mais fácil, concordam todos de se chegar ao aprendizado da leitura e da escrita (Cagliari, 2008, p. 49).

Sobre o tipo de letra imprensa maiúscula, as autoras Ferreiro e Teberosky (2007), ao realizar os testes de escrita espontânea nos seus estudos, registram que há uma primazia na escolha por esse tipo de letra, isto é, elas percebem que as crianças optam por escrever com a letra imprensa maiúscula em vez da cursiva. Conforme as pesquisadoras, isso se justifica por dois motivos:

[...] primeiro, porque as formas estáveis em maiúscula de imprensa precedem majoritariamente, no total de amostragem, as formas em cursiva, indicando claramente a origem pré-escolar deste conhecimento (já que, recordemos, na Argentina a letra escolar é a cursiva); segundo, porque a qualidade da escrita é nitidamente superior em imprensa do que em cursiva (Ferreiro & Teberosky, 2007, p. 208-209).

Diante disso, as autoras demonstram que há um maior interesse das crianças por um tipo de letra - a imprensa maiúscula. Justificam essa escolha pela estabilidade que o traçado apresenta e pela clareza que se instaura ao utilizar esse tipo de letra. Ressalta-se que, nos cadernos analisados em que aparece, pela primeira vez, o uso exclusivo da letra imprensa maiúscula, quase não foram observadas atividades consideradas de treino para aprender a traçar as letras, como encher linhas ou reproduzir a escrita a partir de um modelo apresentado. Os registros localizados nos cadernos são de atividades que englobam a escrita da rotina diária, ler e desenhar, completar com a letra ou sílaba que falta, dentre outras. Conforme Soares (2016), essas mudanças podem surgir em decorrência do paradigma advindo das ideias construtivistas (Ferreiro & Teberosky, 2007; Grossi, 1990a, 1990b, 1990c), que compreende a escrita na alfabetização para além do treino, da cópia, do encher linha etc., “[...] isto é, a escrita entendida como produção textual, que passa a desempenhar um papel importante na alfabetização” (Soares, 2016, p. 26). No caso de alguns cadernos desse conjunto, nota-se o uso da escrita enquanto função social para registrar e demonstrar, aos possíveis interessados, o que foi realizado no decorrer da aula.

Ao consultar os documentos oriundos das políticas públicas para alfabetização das crianças, foram localizadas informações sobre as orientações referentes ao uso da letra imprensa maiúscula nos documentos do Pró-letramento (Brasil, 2008) e do PNAIC (Brasil, 2012). No primeiro, fica sugerido que:

Alguns estudos recomendam o uso exclusivo de ‘letras de fôrma maiúsculas’ nos primeiros momentos da alfabetização, pelo menos até que o aluno passe a reconhecer todas as letras e tenha destreza na escrita das palavras. Essa orientação apóia-se em alguns pontos. No âmbito da leitura, um argumento é que, por serem unidades separadas (e não contínuas ou ‘emendadas’ como as letras cursivas manuscritas), as maiúsculas de imprensa podem ser diferenciadas e contadas mais facilmente pelos alunos. Outro argumento é que é mais fácil reconhecer as letras que aparecem em seqüência nas diversas palavras quando essas letras se apresentam com tipos uniformes e regulares, ao invés de mostrarem traços variados (ora maiúsculas, ora minúsculas; ora letra de fôrma ou de imprensa, ora letra cursiva). No âmbito da escrita, o principal argumento é que as ‘letras maiúsculas são mais fáceis de escrever’, especialmente para as crianças pequenas (Brasil, 2008, p. 30, grifo nosso).

Nessa primeira parte do texto do documento Pró-letramento, nota-se o incentivo do uso da letra imprensa maiúscula, em especial no começo da alfabetização, pois ela é considerada de fácil identificação para leitura pelo fato de apresentar traçados uniformes e regulares, tornando-se mais acessível, também, na realização da escrita por parte dos alunos. Percebeu-se, no documento, que a letra imprensa maiúscula é denominada letra de fôrma maiúscula, ou seja, são vistas como sinônimos. Sobre esse tipo de letra, o documento continua dizendo que:

Por exemplo, quando buscar desenvolver a capacidade de leitura autônoma dos alunos, será mais adequado que o professor ou a professora trabalhe com textos escritos ‘em letras de fôrma maiúsculas’, cuja identificação é mais fácil para as crianças. No entanto, não é recomendável que, em nome dessa facilidade, se impeça o contato de seus alunos com textos e impressos com ‘outros tipos de letras’, que circulem socialmente em diversos suportes, cumprindo diferentes funções (Brasil, 2008, p 31, grifo nosso).

No trecho acima, novamente é destacada a facilidade de identificação das letras traçadas na letra imprensa maiúscula, porém há uma ressalva de não deixar de usar e/ou apresentar os outros tipos de letras na sala de aula. Isso também foi percebido na análise dos cadernos de alunos que compõem esta seção, pois, embora não haja a escrita de outros tipos de letras pelas crianças, eles estiveram presentes em muitos cadernos, ora de maneira impressa em folhinhas coladas nos cadernos, ora escrita pelas professoras diretamente nas páginas.

Nos anos de 2010, com a chegada da política pública denominada Pacto Nacional pela Alfabetização da Idade Certa (PNAIC), a presença dos tipos de letras volta a ser problematizada. No caderno de estudo, na unidade 3, intitulada ‘A apropriação do sistema de escrita alfabética e a consolidação do processo de alfabetização’, fica registrado que:

‘No primeiro ano’, quando os alunos ainda não construíram uma hipótese alfabética de escrita, recomenda-se o uso ‘de letras de imprensa maiúsculas’, que, por ‘serem mais fáceis de reconhecer e de grafar’, liberam o aprendiz para que ele se concentre nas questões conceituais (o que a escrita nota e de que maneira o faz) envolvidas na aprendizagem do SEA. No entanto, isso não significa dizer que não devem ser introduzidos outros tipos de letra nessa primeira etapa. Ao contrário, já no primeiro ano, as crianças devem ser ‘expostas aos diferentes formatos que uma mesma letra’ pode assumir (por exemplo, A, a, A, a), embora, nas atividades de reflexão sobre o sistema, sejam usadas ‘letras de imprensa maiúsculas’ (Brasil, 2012, p. 15, grifos nosso).

No entanto cabe informar que essa política pública é um pouco mais definitiva quando trata dos tipos de letras. Nota-se que o excerto acima já inicia recomendando que, no primeiro ano, seja usada a letra imprensa maiúscula, e nesse documento também se enfatiza o seu uso pelo fato de ser mais fácil de ser traçada. Porém, continua afirmando sobre a necessidade de apresentar outros tipos de letras para que as crianças sejam expostas aos diferentes modelos de letras e que os reconheçam nos diferentes gêneros textuais, porém, quando relacionado ao sistema de escrita, o documento acima volta a afirmar sobre o uso da imprensa maiúscula. Nesse sentido, fica descrito, no caderno de estudos do PNAIC (Brasil, 2012), que o uso da letra cursiva só deve ser empregado quando os alunos se apropriassem do sistema de escrita alfabético (SEA); antes disso, a ênfase deveria ser na escrita com a letra imprensa maiúscula, porque, conforme o documento, esta apresenta traços regulares e de fácil identificação para as crianças que ingressam na escola. Sendo assim, a letra imprensa maiúscula é considerada mais fácil de ser traçada, informação que esteve presente na literatura baseada na Psicogênese da Língua Escrita (2007) e nas políticas públicas para alfabetização (Brasil, 2008, 2012). No conjunto de cadernos com o uso exclusivo da referida tipologia, percebeu-se que, de certa maneira, conforme a noção de que a letra do tipo imprensa maiúscula é mais simples de ser escrita e lida por crianças em fase inicial de escolarização foi se estabelecendo, notou-se que o seu uso foi gradativamente aparecendo nos cadernos consultados e se mantendo até o final do período estabelecido para a pesquisa.

Nesta primeira seção, buscou-se demostrar o uso exclusivo de diferentes tipos de letras nos cadernos dos alunos, demarcando os distintos períodos em que foram utilizados e as discussões que possibilitaram se estabelecerem nos cadernos dos alunos. Constatou-se que os debates que circulavam em contextos mais amplos influenciavam as escolhas dos tipos de letras a serem usados no contexto escolar. Entretanto cabe enfatizar que as discussões que circulavam em torno dos modelos de letras não ocorreram de maneira sequencial, e sim de forma dinâmica, isto é, as discussões, muitas vezes, se mantiveram por diferentes períodos. Na sequência do texto, serão apresentados os cadernos dos alunos em que houve o uso concomitante de mais de uma letra.

Cadernos de alunos: concomitância dos tipos de letras

Nesta seção, apresentam-se os dados referentes a 111 cadernos de alunos utilizados no primeiro ano de escolarização nos quais houve o uso concomitante de mais de um tipo de letra. Sendo assim, emergiram quatro organizações a partir da análise dos dados: 1) Cadernos com a concomitância das letras script/imprensa minúscula e cursiva; 2) Cadernos com a concomitância das letras cursiva, imprensa minúscula e imprensa maiúscula; 3) Cadernos com a concomitância das letras: cursiva e imprensa maiúscula; 4) Cadernos com a concomitância das letras imprensa maiúscula e imprensa minúscula.

A seguir, o Gráfico 2 expõe a concomitância das letras ao longo da pesquisa.

Fonte: A autora

Gráfico 2 Apresenta a relação total de cadernos e os cadernos com o uso concomitante das letras 

No gráfico, é possível identificar que, nos primeiros anos da pesquisa, a concomitância das letras ocorre somente entre a cursiva e a script/imprensa minúscula. A partir dos anos de 1990, começa a haver um crescente no uso simultâneo das letras. Destaque para a combinação cursiva e imprensa maiúscula que se torna recorrente nos cadernos dos alunos em meados dos anos 2000. Essas e outras questões serão desenvolvidas a seguir e relacionadas com os debates e as reflexões que colaboraram para o uso simultâneo de diversas letras no processo inicial de escolarização.

A primeira concomitância das letras observada fazia uso da letra script/imprensa minúscula com a cursiva. Considerando os 379 cadernos de alunos utilizados durante o primeiro ano de escolarização, 19 desses usaram os dois tipos de letras em questão, o que equivale a 5,01%. Os cadernos de alunos que compõem esse conjunto foram localizados em três períodos distintos da pesquisa, quais sejam, de 1949 a 1973, de 1990 a 1990 e de 2000 a 2015, o que possibilita pensar diferentes usos e discussões acerca da recorrência dessas letras.

No primeiro período, os cadernos de 1949 a 1973, imperou a discussão advinda da modernização da escrita, principalmente fomentada pelo CPOE, órgão do estado do Rio Grande do Sul e, em determinados momentos, divulgada pela Revista do Ensino. Os cadernos desse momento correspondem às décadas de 1940 a 1970 do século XX e estiveram, provavelmente, sob as discussões dos modelos caligráficos e das orientações oficiais oriundas das políticas do CPOE e presentes na Revista do Ensino do RS, as quais tinham como forte argumento a divulgação e a defesa da letra script/imprensa minúscula nas classes iniciais de escolarização pelo fato de ser considerada uma letra mais moderna. Nesse contexto, agregava-se à escrita escolar uma função social que seria empregada pela criança desde o começo da sua escolarização, ou seja, para que ela estivesse familiarizada com um tipo de letra que ganhava força na sociedade, especialmente pelos recursos impressos.

Essa combinação volta a aparecer depois de 17 anos de sua ausência nos cadernos do acervo. Foram localizadas, no período dos anos de 1990, mais especificamente em cadernos que datam dos anos 1990, 1992, 1996 e 2000, referentes aos anos de 2004, 2005 e 2008. Nesses períodos, pode-se dizer que as concepções docentes estavam vinculadas às discussões provenientes da revolução conceitual da alfabetização (Ferreiro & Teberosky, 2007; Grossi, 1990a, 1990b, 1990c), das políticas curriculares e dos programas de formação docente e de alfabetização, nos quais começa a haver um grande incentivo ao uso de diferentes tipos de letras no ensino da leitura e da escrita.

A segunda concomitância ocorreu com as combinações das letras cursiva, imprensa minúscula e imprensa maiúscula, a qual apareceu em 20 cadernos, o que equivale a 5,2% dos cadernos do primeiro ano. Os cadernos que compõem esse conjunto referem-se aos anos entre 1990 e 1996 e aos anos 2000, mais especificamente entre 2000 e 2015. Sendo assim, a partir dos anos 1990 em diante, os cadernos consultados são marcados por um acontecimento diferente até o momento deste estudo, ou seja, começa-se a encontrar cadernos com os três tipos de letras - imprensa minúscula, cursiva e imprensa maiúscula, no decorrer do mesmo caderno. E os usos das letras acontecem de maneira distinta ou simultaneamente na mesma página do caderno do aluno.

Sobre o conjunto de cadernos classificado com o uso dos três tipos de letras, percebeu-se que, a partir de 2010, houve uma recorrência maior, totalizando nove cadernos (09). Porém, cada vez mais, a letra imprensa maiúscula ganha espaço nos cadernos. Sendo assim, nos cadernos que datam dos primeiros anos desse conjunto, era a cursiva a letra mais recorrente e, posteriormente, passa a haver o predomínio da letra imprensa maiúscula. O uso dos três tipos de letras nos cadernos dos anos 1990 demonstra que já havia a preocupação em tornar as crianças familiarizadas com os diferentes traçados, desde sua chegada à escola. Nos cadernos do acervo consultado para esta pesquisa, nos anos 2000, essa preocupação parece mais evidente, pois, conforme os dados, surgem mais cadernos que utilizaram os três tipos de letras, muito embora haja mais exemplares para esse período. Sendo assim, pode-se supor que as orientações sobre o uso dos diferentes tipos de letras presentes tanto no momento da chamada revolução conceitual como nos documentos das políticas públicas de alfabetização do final dos anos de 1990 e começo dos anos 2000 se efetivaram ao longo do tempo.

Na terceira concomitância, há a combinação das letras cursiva e imprensa maiúscula, a qual apareceu em 67 dos cadernos, o que equivale a 18% dos cadernos do primeiro ano. Os cadernos dessa combinação pertencem à década de 1990, mais precisamente entre os anos de 1994 e 1998, e à década 2000, entre os anos de 2000 e 2015. A combinação das letras imprensa maiúscula e cursiva surgiu nos cadernos pesquisados pela primeira vez em 1994 e se alterou ao longo do tempo. Quando apareceu pela primeira vez, a letra imprensa maiúscula era utilizada em atividades especificas nos cadernos, pois o predomínio, naquele momento, era o do traçado em letra cursiva. No entanto, no decorrer dos anos 2000, a quantidade de cadernos com a concomitância desses dois tipos de letra aumentou significativamente, e a presença da letra imprensa maiúscula, também, a qual passa a ser usada diariamente nos registros localizados nos cadernos, sendo que, em alguns, é predominante e se mantém até o final do ano letivo.

Nota-se um jogo de protagonismo das letras nos cadernos desta seção, pois, em muitos deles, as letras imprensa maiúscula e cursiva coexistiram por determinado momento do ano letivo, como forma de transição de uma letra para outra. Ou ainda, pode-se afirmar que, a partir dos anos 2000, houve um enfraquecimento da letra cursiva nos cadernos, a qual passou a ser utilizada em atividades específicas, ou seja, nos conjuntos que compõem a concomitância das letras cursiva x imprensa maiúscula, houve uma inversão de potencialidade, passando para imprensa maiúscula x cursiva.

Nesse sentido, Petrucci (2003, 1999) mostra, em suas pesquisas, que a presença, a permanência ou o desaparecimento de um tipo de letra têm muito a dizer ao pesquisador, especialmente pelo fato de estarem vinculados a diferentes relações de poder que podem ser de ordem política, religiosa, monárquica etc. No caso das tipologias das letras na escola, principalmente a cursiva e a imprensa maiúscula, parece que são antagônicas, pois, para uma ganhar destaque, a outra precisa perder a evidência. Isso pode estar de acordo com as discussões que ganharam, e ganham, força no país, relacionadas à revolução conceitual na alfabetização (Ferreiro & Teberosky, 2007; Grossi, 1990a, 1990b, 1990c) e às políticas públicas para alfabetização de crianças escolarizadas.

Por fim, apresenta-se a combinação que corresponde ao uso das letras imprensa maiúscula e imprensa minúscula. A concomitância dessas letras esteve presente em apenas cinco (05) dos 379 cadernos de alunos utilizados durante o primeiro ano, o que representa 1,3%. Tais cadernos foram localizados nos anos 2000, mais especificamente entre os anos de 2007 e 2013. Cabe informar que essa combinação emergiu somente quando o tipo de letra imprensa maiúscula começa a ganhar mais força nos cadernos pesquisados. O uso das letras imprensa maiúscula e imprensa minúscula, nesse conjunto de cadernos, apresentou algumas peculiaridades. Primeiro, mesmo estando os diferentes tipos de letras dividindo o espaço do caderno, nota-se que, na maioria, o predomínio, na escrita, é da letra imprensa maiúscula. Além disso, a letra imprensa minúscula pode aparecer em algumas atividades como prática de escrita ou de escrita livre. Destaca-se que a escrita livre é uma atividade incentivada nos documentos expedidos pelo MEC desde 2006, com as primeiras reflexões sobre a implementação do ensino fundamental de 9 anos, o documento diz que “[...] as escritas de textos espontâneos pelas crianças são uma grande fonte de informação sobre o que elas sabem e sobre os conteúdos que precisam ser trabalhados para que aprofundem cada vez mais a análise e o conhecimento da língua” (Brasil, 2006, p. 92).

Mesmo sendo um conjunto com uma quantidade ínfima de apenas cinco diante dos 378 cadernos consultados, para a pesquisa, foi interessante, pois demonstra que, entre os anos de 2007 e 2013, essa combinação aparece contribuindo para problematizar as múltiplas combinações dos tipos de letras no acervo consultado; logo, segue as orientações e discussões que incentivam o dinamismo do uso das diferentes letras no processo de alfabetização, principalmente oriundas da revolução conceitual (Ferreiro & Teberosky, 2007; Grossi, 1990a, 1990b, 1990c) e das políticas públicas para alfabetização das crianças (Brasil, 2008, 2012).

De maneira geral, nesta segunda seção de análise dos dados, buscou-se apresentar o uso concomitante de diferentes letras no mesmo caderno de aluno. O uso subsequente ocorreu com os três tipos de letras tratadas nesta pesquisa, ou seja, foram localizadas, nos cadernos de alunos, diferentes combinações entre a cursiva, a imprensa minúscula e a imprensa maiúscula, as quais também aconteceram em momentos distintos, por exemplo, a concomitância das letras cursiva e imprensa minúscula nos anos de 1960/1970, voltando a aparecer nos anos de 1990. Ou ainda, no caso da concomitância das letras imprensa minúscula e imprensa maiúscula, que só ocorre por volta dos anos 2000, quando se nota que o primeiro tipo de letra começa a se consolidar nos espaços de alfabetização.

Sendo assim, é possível afirmar que as autoras Ferreiro e Teberosky (2007) e Grossi (1990a, 1990b, 1990c) defendem que, na alfabetização, deve-se oportunizar às crianças o contato com a diversidade de caracteres, dentre eles a letra do tipo imprensa minúscula, porém deixando que a criança escolha o tipo de letra que mais lhe agrada. Conforme Petrucci (1999) e Chartier (2002), para compreender a cultura gráfica de uma época, é importante tentar conhecer o que sujeitos considerados influentes propunham e pensavam sobre a presença e a permanência de determinado tipo de letra, pois, com base em seus ditos e escritos, é possível entender por qual motivo ela ganha espaço ou desaparece. No caso da pesquisa em questão, as considerações sobre o contexto da época demonstram que, a partir desse momento histórico, houve a defesa, por parte dos estudiosos, da alfabetização acerca da importância do uso da diversidade dos tipos de letras, mas levando em consideração a escolha do educando no ato de escrever, com ênfase em um sujeito mais ativo e participativo na construção das suas ideias e ações.

Considerações finais

Para realizar a pesquisa e produzir os dados a partir dos cadernos dos alunos, foi importante o conceito de cultura gráfica, discutido por Petrucci (1986), Hébrard (2000) e Chartier (2002). Os trabalhos desses autores apresentaram indícios de como seria possível analisar diferentes documentos sob a óptica do conceito em questão. Sendo assim, procurou-se analisar os cadernos dos alunos com a intenção de mapear os tipos de letras presentes de maneira exclusiva e as suas concomitâncias em cada época, pois, conforme os autores citados, para compreender a presença, a permanência, o enfraquecimento e/ou o desaparecimento de determinado tipo de letra, é necessário identificar que houve discussões vigentes e sujeitos influentes que colaboraram para a sua defesa ou para o seu desuso.

Buscou-se, portanto, mostrar que nem as discussões que circulavam em torno dos tipos de letras nem os seus usos se deram de maneira sequencial ou direta, mas que havia um dinamismo, ou seja, as discussões, muitas vezes, se mantiveram por diferentes períodos, e as tipologias das letras coexistiram nos cadernos, por isso a ênfase, neste estudo, também nas concomitâncias existentes nos usos das letras. Assim, pretendeu-se demonstrar a presença de diferentes tipos de letras em cadernos de alfabetização e que o ensino de uma ou de outra tipologia esteve articulado aos embates e debates das referidas épocas, pois, para além de querer ensinar as crianças que ingressam no processo de escolarização a traçar diferentes modelos de letras, o ensino dos tipos de letras configura-se como um projeto de sociedade que visa à produção de sujeitos que se encaixem e/ou que correspondam ao almejado em cada tempo e espaço, desde sujeitos disciplinados e ágeis (modelos caligráficos) até ativos e protagonistas das suas ideias e ações (ideias construtivistas).

É possível afirmar, a partir da análise exposta, que houve mudanças de perspectivas que alteraram as orientações e prescrições para o ensino do tipo das letras no Brasil, fosse: (i) por discussões vinculadas aos modelos caligráficos, de ordem mais motora e técnica, baseadas, principalmente, em concepções higienistas (Faria Filho & Vidal, 2000); (ii) em decorrência do surgimento das tecnologias, como a expansão do uso da máquina de escrever nos anos de 1950 (Peres, 2003); (iii) pelo advento do chamado construtivismo, com a divulgação das teorias da psicogênese da língua escrita (Ferreiro & Teberosky, 2007); (iv), pela popularização, mais recente, do uso de computadores nas escolas; (v) ou ainda, em virtude das políticas públicas educacionais para as classes de alfabetização, como o PNAIC, por exemplo.

Sobre cada tipo de letra localizado nos cadernos dos alunos, chegou-se aos seguintes resultados: 1) o tipo de letra cursiva (de 1937 a 2015) teve uma presença significativa tanto cronológica quanto quantitativa na pesquisa. Sobre a questão cronológica, destaca-se que a letra cursiva esteve presente em, praticamente, todos os anos que contemplaram a pesquisa, sendo que, em determinados períodos, de maneira ininterrupta e exclusiva, apareceu em um conjunto significativo de cadernos.

A segunda tipologia que emergiu da análise dos cadernos dos alunos foi a script/imprensa simplificada, imprensa minúscula; primeiro, de forma concomitante, em 1949, e, posteriormente, de forma exclusiva, para os anos de 1960 e 1970. Ela que, inicialmente, apareceu dividindo espaço com a letra cursiva, logo ganhou a exclusividade em alguns cadernos de alunos. No entanto cabe relembrar que, no momento inicial da sua presença nos cadernos dos alunos, havia uma discussão forte no estado do Rio Grande do Sul em defesa da sua inserção no espaço escolar (Peres, 2003). Isso foi localizado nos comunicados do CPOE e na Revista do Ensino, e seu uso pode ter perdido força devido ao encerramento das atividades do Centro de Pesquisas e Orientação Educacional (Quadros, 2006) e a mudanças na compreensão do processo de alfabetização. Outro dado destacado é que, nessa ocasião, a nomenclatura mais usual era letra script ou imprensa simplificada; o que as diferenciava, no caso gaúcho, eram, fundamentalmente, os traçados das letras ‘a’ e ‘g’.

Por fim, identificou-se o uso da letra imprensa maiúscula. Inicialmente, ela era usada com pouca expressividade e, principalmente, para chamar atenção ou para dar destaque a alguma informação na página do caderno. Nos anos 1990, ela emerge em concomitância com os outros tipos de letra (cursiva e imprensa minúscula), mas ainda em atividades bem específicas que serviam mais como mola propulsora para o ensino dos outros tipos de letras. É finalmente em meados dos anos 2000 que a letra imprensa maiúscula ganha força, sendo que, em 2005, seu uso aparece pela primeira vez em alguns cadernos de forma exclusiva. Nos anos seguintes, isso ocorre com mais frequência, até chegar nos anos 2010 com a ampliação do período de alfabetização.

Por certo havia tantas outras possibilidades de pensar os tipos de letras presentes nos cadernos dos alunos, todavia optou-se, nesta pesquisa, por construir uma tipologia das letras com inspiração no conceito de cultura gráfica (Petrucci, 1986, 1995, 1999, 2003), a fim de compreender como se estabeleceram, em distintos tempos e espaços, o ensino e o uso de diferentes letras no começo do ensino escolar, com o intuito de compreender as possíveis mudanças e permanências das letras no espaço educacional. Assim, diante de tudo que foi exposto, elucida-se que os cadernos de alunos relacionados à fase inicial de escolarização demonstram que o Rio Grande do Sul acompanhou, e tem acompanhado, as principais orientações sobre o uso de determinados tipos de letras para as crianças que chegam ao espaço escolar.

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1 Esta pesquisa é a síntese de uma tese de doutorado defendida no ano de 2019.

2Atualmente, o Centro de Memória possui 6 acervos principais, sendo um deles denominado ‘cadernos de alunos (ciclo de alfabetização e outras séries)’, o qual é composto, até o atual momento (março de 2021), de 2.116 cadernos.

3Nas últimas décadas, ganharam força as pesquisas que utilizaram os cadernos escolares como fonte documental, principalmente em dissertações e teses. Durante o desenvolvimento do estudo de doutoramento, foram localizadas 17 pesquisas acadêmicas publicadas entre 1988 e 2016. Todas essas foram devidamente consultadas e compuseram o estudo da arte realizada pela autora.

4No estudo de doutoramento, optou-se por incluir, no corpus de análise, os cadernos de alunos do segundo e terceiro anos, o que corresponde ao ciclo de alfabetização implementado pela Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que ampliou o ensino fundamental para nove anos. O corpus total de cadernos de alunos foi de 489 (incluindo o ciclo de alfabetização), como foi mencionado na introdução deste estudo. Desses, 379 são de alunos do primeiro ano e 110 são de alunos do segundo e terceiro anos. Dito isso, para justificar que os dados foram tratados em momentos distintos, nas seções 1 e 2 do artigo, serão apresentados somente os dados referentes aos cadernos usados no primeiro ano de escolarização.

5O ano de 1949 marca o primeiro caderno em que aparece outro tipo de letra além da cursiva, que é a script/imprensa minúscula, porém, nesta subseção, isso não será tratado, isso será feito na seção que irá abordar as concomitâncias das letras.

6Conforme os estudiosos Faria Filho (1998), Vidal e Esteves (2003) e Fetter (2011), no Brasil, no século XX, havia fortes discussões sobre os modelos caligráficos, sendo eles: ‘inclinado, vertical e muscular’. Os debates sobre eles tinham como base, principalmente, a elegância e a agilidade do ensino da escrita.

7No ano de 1942, a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul se reorganizou, deixando de seguir o sistema de Inspetorias e de Diretoria da Instrução Pública, passando a vigorar, então, o Departamento de Educação Primária e Normal. No ano seguinte, em 1943, foi aprovado o regimento interno desse departamento e, com ele, criado o Centro de Pesquisas e Orientação Educacional - CPOE/RS (Peres, 2000; Quadros, 2006).

8A discussão em torno da letra cursiva, principalmente no período inicial da pesquisa, pode ser problematizada à luz de determinado projeto de sociedade que visa à produção de sujeitos que se encaixem e/ou correspondam ao que se almeja em cada tempo e espaço. No caso do ensino da letra cursiva, sujeitos disciplinados, com ênfase para legibilidade, higiene e rapidez, princípios esses sustentados pelos defensores dos modelos caligráficos.

10Nota: este texto é uma síntese da tese de doutorado que teve como orientadora a Profª Drª Eliane Peres. A pesquisa foi realizada, principalmente, no Centro de Memória História da Alfabetização, Leitura, Escrita e dos Livros Escolares - Hisales/FaE/UFPel

12Rodadas de avaliação: R1: dois convites; duas avaliações recebidas

13Como citar este artigo: Silveira, A. A. Uma tipologia das letras usadas na fase inicial da escolarização no Rio Grande do Sul em cadernos escolares de alunos (1937-2015). (2022). Revista Brasileira de História da Educação, 22. DOI: http://doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e230

14Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4)

Recebido: 20 de Abril de 2021; Aceito: 27 de Dezembro de 2021; Publicado: 23 de Setembro de 2022

*E-mail: ale82amaral@yahoo.com.br.

Alessandra Amaral da Silveira possui graduação em Pedagogia (FURG) e em Filosofia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro, especialização em Educação Física Escolar (FURG). Mestrado em Educação em Ciências: química da vida e saúde (PPGEC/FURG) e Doutorado em Educação (PPGE/UFPel). Professora na rede municipal do Rio Grande/RS. Atualmente realiza pós-doutorado na FURG. E-mail: ale82amaral@yahoo.com.br https://orcid.org/0000-0002-6699-1877

Editor-associado responsável: Cláudia Engler Cury (UFPB) E-mail: claudiaenglercury73@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-2540-2949

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