SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.22‘Minas Gerais é muitas’: negros e brancos nas escolas do Sul de Minas, no século XIXErudição e racismo na trajetória ascendente de uma família negra do Maranhão índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Revista Brasileira de História da Educação

versão impressa ISSN 1519-5902versão On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.22  Maringá  2022  Epub 01-Jul-2022

https://doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e210 

Dossiê

“Credores de minha estima”: pretos e pardos na instrução pública e privada, no final do século XIX e início do século XX, em Cuiabá - MT

“Mis estimados acreedores”: negros y pardos en la instrucción pública y privada,a finales del siglo XIX y principios el siglo XX en Cuiabá - MT

Paulo Sérgio Dutra1  * 
http://orcid.org/0000-0002-5507-2744

1Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, Brasil.


Resumo:

Este artigo versa sobre a presença de pretos e pardos na instrução pública e privada, em Cuiabá - Mato Grosso, entre 1857 e 1911. Para a construção deste estudo, utilizou-se a pesquisa bibliográfica e documental, além de fontes primárias, como jornais da época, Recenseamento, Relatórios de Presidentes de Província e de Diretores de Instrução Pública. Os objetivos são apresentar, identificar e ampliar o contingente de pretos e pardos atuantes no segmento da instrução educacional nos Oitocentos em Cuiabá. Nesse aspecto, o estudo revelou uma presença significativa de negros como alunos/professores em escolas públicas e privadas em Cuiabá, identificados a partir do nome. Mostrou, ainda, a ampliação do número de professores negros e de professoras negras nesses espaços, bem como a participação de homens negros para além daqueles que deixaram suas contribuições no século XIX, na linha de frente da gestão pública. O estudo também revelou a participação ativa de mulheres negras nas escolas de Primeiras Letras públicas e privadas, no jornalismo e na direção de grêmios.

Palavras-chave: raça/cor; sabe ler e frequenta a escola; professores/professoras negros/as; 1857 e 1911

Resumen:

Este artículo trata sobre la presencia de negros y pardos en la instrucción pública y privada, en Cuiabá - Mato Grosso (MT), Brasil, entre 1857 y 1911. Para la construcción de este estudio se utilizó investigación bibliográfica y documental y fuentes primarias como periódicos de la época, Censo, Informes de Presidentes de Provincias y de Directores de Instrucción Pública. Los objetivos son presentar, identificar y ampliar el contingente de negros y pardos que trabajaban en el segmento de instrucción educativa en los Ochocientos, en Cuiabá. En este aspecto, el estudio reveló una presencia significativa de negros como alumnos/docentes en escuelas públicas y privadas de Cuiabá, identificados a partir del nombre. Reveló, aún, la ampliación del número de profesores negros y de profesoras negras en estos espacios, así como la participación de hombres negros más allá de aquellos que dejaron sus contribuciones en el siglo XIX, al frente de la gestión pública. El estudio también reveló la participación activa de mujeres negras en las escuelas de Primeras Letras públicas y privadas, en el periodismo y en la dirección de gremios.

Palabras clave: raza/color; sabe leer y va a la escuela; profesores/professoras negros/as; 1857 y 1911

Abstract:

This article deals with the presence of blacks and browns in public and private education in Cuiabá, Mato Grosso, Brazil, between 1857 and 1911. For the construction of this study, bibliographic and documentary research and primary sources were used, such as newspapers of the time, Census, Reports of Presidents of Province and Directors of Public Instruction. The objectives are to present, identify and expand the contingent of blacks and browns working in the educational segment in the 19th century in Cuiabá. In this aspect, the study revealed a significant presence of blacks as students/teachers in public and private schools in Cuiabá, identified by name. It also revealed the increase in the number of black teachers in these spaces, as well as the participation of black men in addition to those who left their contributions in the 19th century, at the forefront of public management. The study also revealed the active participation of black women in public and private schools of First Letters, in journalism and the direction of unions.

Keywords: race/color; can read and goes to school; black teachers (men and women); 1857 and 1911

Introdução

Este trabalho apresenta uma contribuição sobre sujeitos que foram caracterizados nas categorias ‘raça/cor’, aqui representados por ‘pretos e pardos’ e ‘sabe ler e/ou frequenta a escola’ presentes no Recenseamento de 1890 e que residiam na cidade de Cuiabá, Mato Grosso (MT). Desse modo, o estudo contribui com dados que ajudam a compreender o universo de homens negros e mulheres negras que tiveram contato e/ou acesso à instrução em Mato Grosso, no final do século XIX, sobretudo na capital da província de Mato Grosso. A esse respeito, documentos como o Recenseamento de 1890 e periódicos da época auxiliam no entendimento do cenário em que esses sujeitos construíram suas trajetórias, centrado em um recorte temporal que compreende o período entre os anos de 1857 e 1911, espaço cronológico que diz respeito aos últimos anos do Império e das primeiras décadas da República.

Dessa forma, o ano de 1857 foi definido como recorte inicial deste estudo, pelo fato de, na ocasião, o pardo Sebastião José da Costa Maricá, ‘professor de primeiro gráo’, da capital da província, ter requerido o pagamento de 300$ réis, correspondente ao excesso de ‘75 alumnos’ presentes em sua escola, conforme o Noticiador Cuiabano, de 28 de junho de 1857, ano I, nº 9, páginas 2 e 3. Além desse fato, o pardo Manoel Pereira Cuiabano foi nomeado Suplente de Inspetor Escolar para a Vila do Rosário, no ano de 1911, o qual marca, assim, o recorte final escolhido para o texto em tela.

Em Mato Grosso, ressalta-se que o referido período foi marcado pelos eventos que ajudaram a pôr fim ao processo de escravidão, como a atuação de alguns desses sujeitos em associações abolicionistas1, o fortalecimento e a ampliação da escola de Primeiras Letras, sobretudo as escolas femininas, bem como o surgimento da Escola Normal e o Liceu Cuiabano, instituições responsáveis pela formação de professores e de professoras para atuar na província2.

Com relação aos objetivos, escolheu-se, como objetivo central, apresentar o contingente de sujeitos caracterizados segundo a raça/cor preta e parda e que estiveram à frente da instrução pública e privada em Cuiabá/MT no final dos Oitocentos e início dos Novecentos. Dessa forma, construiu-se uma exposição a partir dos registros inscritos em fontes primárias, em especial nos jornais de época, sobre quem era e/ou onde estavam os pretos e os pardos na instrução pública/privada na região em questão, trazendo outras contribuições para a produção da historiografia da educação em Mato Grosso. Como objetivos específicos, optou-se, por um lado, por identificá-los mediante essas fontes, tomando o ‘nome’ como base e colocando-os na cena da historiografia, contrapondo uma certa invisibilização de seus perfis raciais na citada produção historiográfica em Mato Grosso. Por outro lado, procurou-se evidenciar uma ampliação de professores negros e professoras negras naqueles espaços na época em questão.

Nessa perspectiva, perguntou-se: qual era a extensão de homens negros e de mulheres negras que sabiam ler e/ou haviam frequentado a escola cuiabana nos Oitocentos? Quem eram esses homens negros e essas mulheres negras atuantes nas escolas públicas e/ou privadas na sociedade cuiabana? Em quais espaços esses homens negros e essas mulheres negras estiveram inseridos? Em quais linhas de frente? Para delinear questões que pudessem responder a essas perguntas, assinala-se que, na construção desta pesquisa, recorreu-se a periódicos mato-grossenses de época que estão hospedados nos sítios da Biblioteca Nacional (https://www.bn.gov.br/). Recorreu-se, também, ao Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional, o qual está ligado ao Instituto de Geografia, História e Documentação da Universidade Federal de Mato Grosso e que possui um acervo digital com diversos tipos de materiais digitalizados. Desse modo, nessa instituição, foi possível encontrar cinco periódicos (A Imprensa, A Situação, Escola, Neophyto e O Cruzeiro) hospedados nesse núcleo. Dentre eles, foram utilizados A Imprensa e Escola.

Nessa mesma linha, ressalta-se que, para coletar os dados da pesquisa, utilizou-se amplamente o Recenseamento de 1890, o que propiciou a realização do cruzamento dos dados, em busca de trabalhar, especificamente, com as categorias registradas nesse documento, a saber: nome, raça/cor, sabem ler e/ou frequentam a escola. A esse respeito, destaca-se que essas três categorias constituíram a base central para reunir os dados que foram utilizados na construção deste trabalho.

Metodologicamente, o estudo em tela filia-se às pesquisas bibliográficas e documentais. Dessa forma, no que corresponde à primeira, recorreu-se, principalmente, a estudos que constroem um olhar sobre instrução pública local, objetivando compreender o cenário posto sobre o tema estudado, a saber: Siqueira (2000), Paião (2006), Gomes (2009) e Miranda (2010). Nessa perspectiva, Lakatos (2003) destaca que esse tipo de pesquisa abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado e a sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que já foi dito, escrito ou filmado sobre determinado assunto.

Com relação à pesquisa documental, Oliveira (2007 como citado em Sá-Silva, Almeida, & Guindane, 2009) destaca que esta utiliza materiais que ainda não receberam tratamento analítico. Para o autor, a pesquisa com documentos trata-se de um estudo direto de fontes científicas sem precisar recorrer a fatos do cotidiano. No que concordam também Sá-Silva et al. (2009), os quais assinalam que as fontes primárias constituem dados originais, a partir dos quais o pesquisador tem uma relação direta com os fatos a serem analisados. Sobre essa questão, Cellard (2008) ressalta que o trabalho com análise documental favorece a observação do processo de maturação ou de evolução de indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre outros.

Na perspectiva de Oliveira (2007 como citado em Sá-Silva et al., 2009), para este estudo, dentro das fontes primárias, reuniram-se os Relatórios de Presidentes de Província, de Diretores Gerais de Instrução Pública, os jornais de época e, principalmente, o Recenseamento de 1890. Nesse sentido, os Relatórios de Presidentes de Província são documentos que versam sobre todas as atividades desempenhadas no âmbito da província mato-grossense entre 1835 e 1930 e estão disponíveis no Portal Center for Research Libraries3. No caso dos Relatórios de Diretores de instrução pública, estes são documentos que abordam todas as atividades desenvolvidas no âmbito da educação em Mato Grosso, e, como se apontou anteriormente, o Recenseamento constitui-se um documento contendo dados censitários sobre a população urbana da cidade de Cuiabá.

Outro aspecto relevante na construção deste estudo foi a utilização do ‘nome’ como fio condutor. A esse respeito, Ginzburg (1991) enfatiza que o ‘nome’ é aquilo que distingue um indivíduo de um outro em todas as sociedades conhecidas. Para Ginzburg (1991, p. 175), “[...] as linhas que convergem para o nome e que dele partem, compondo uma espécie de teia de malha fina, dão ao observador a imagem gráfica do tecido social em que o indivíduo está inserido”. Neste trabalho, assinala-se que o tecido social, tal qual é compreendido pelo autor, é nomeado de sociedade cuiabana, que se constituiu por meio da burocracia administrativa, social e da vida privada, experienciada por homens negros e por mulheres negras na capital da província e depois do estado de Mato Grosso, no final do século XIX e início do século XX.

Dessa forma, ressalta-se que, na experiência da pesquisa utilizando o ‘nome’ como fio condutor, à medida que ele era encontrado nos jornais, abria-se o documento denominado ‘Recenseamento de 1890’ e digitava-se o nome na aba ‘localizar’; depois, clicava-se na tecla Enter, e ‘os nomes’ apareciam um após o outro. A seguir, tomou-se o nome ‘Dormevil’ como exemplo, o qual, após escrito no localizador e clicado na tecla Enter, apareceram os seguintes nomes, conforme evidenciado na Tabela 1.

Tabela 1 Dormevil, um nome como fio condutor na construção dos dados sobre pretos e pardos na instrução pública em Mato Grosso entre 1857 e 1911 

Nome Idade Profissão Raça Estado civil Instrução
SL FE
1 Dormevil José dos Santos Malhado4 51 anos Médico Parda Casado Sim Não
2 Dormevil de Figueredo5 2 anos - Branca Solteiro Não Não
3 Dormevil Augusto Duarte6 10 anos - Branca Solteiro Sim Sim

Fonte: O autor a partir de dados coletados em Peraro (2005).

Nota. SL - os/as que sabiam ler, e FE - aqueles/aquelas que frequentavam a escola.

Se, na notícia do jornal, apontavam-se as qualificações do sujeito e/ou conforme o teor da referida notícia, ressalta-se que não era difícil descobrir de quem se tratava o fato narrado e/ou a notícia dada.

Sobre o médico Dr. Dormevil, foi possível colher e reunir informações a partir de diversas fontes, como jornais, Relatórios de Presidente de Província, livro da Inspetoria Geral das Aulas, na qualidade de fontes primárias, e em fontes bibliográficas, como livros, artigos que mencionaram parte da trajetória de Dormevil José dos Santos Malhado na burocracia pública e privada em Mato Grosso. Nesse sentido, o importante médico ocupou cargos de influência na província de Mato Grosso, a exemplo de: Diretor Geral de Instrução Pública, conforme o Relatório de Presidente da Província de Mato-Grosso de 1880; e de Inspetor de Hygiene, de acordo com A Província de Matto-Grosso, de 20 de outubro de 1889a.

No tocante à atuação de pretos e pardos na regência de escolas públicas e privadas, foi possível listar uma dezena de ‘nomes’ de homens negros e de mulheres negras, a partir do ano de 1857. Desse modo, foram esses sujeitos que atravessaram parte do século XIX, exercendo uma diversidade de tarefas e/ou funções, tendo como sucessores/sucessoras outros homens negros e outras mulheres negras, nas décadas finais do século XIX e no início do século XX. Diante disso, o presente texto está dividido em três partes. Na introdução, apresentou-se o cerne da pesquisa, o recorte temporal, os objetivos e as questões metodológicas. Na primeira parte, emergem questões que revelam percentuais populacionais absolutos, percentuais do perfil racial, centrando as atenções em pretos e pardos, sobretudo na faixa etária dos 20 a 39 anos, tendo as mulheres pardas como centro, e, por fim, dados que levam à compreensão de como a escola pública e privada cuiabana foi construída com a intensa presença de pretos e pardos. Na segunda parte, com base nos dados obtidos, apresenta-se ao público passagens de homens negros e de mulheres negras na instrução pública em Mato Grosso. Posteriormente, finaliza-se com as considerações finais.

Negros e educação no Mato Grosso no final do século XIX e início do século XX

No encaminhar dos últimos anos do século XIX, conforme Bissigo (2014), o Recenseamento de 1872 revelou que o Brasil possuía uma população de 9.930.478 habitantes7. Segundo o autor, esse contingente estava assim distribuído: brancos 38,1%, pretos 19,6%, pardos 38,2% e indígenas 3,8%8. De acordo com esses números, o Brasil possuía uma população com maioria negra. Em Mato Grosso9, conforme o Recenseamento de 1872, isso também não era diferente, pois, de acordo com o referido Recenseamento, 71,4% do total de habitantes da província correspondia a uma população não branca; da mesma forma, 69,8% para o município de Cuiabá e 70,7% para a parte urbana da mesma cidade, o que constituía uma população majoritariamente negra10. Logo no final do século XIX, os dados apontam que o Império e a província mato-grossense possuíam características semelhantes no que diz respeito a ter uma população de predominância negra.

Sobre essa questão, a Tabela 2, a seguir, mostra o quantitativo populacional geral e em percentuais, conforme as categorias raça/cor utilizadas no Censo de 1890, as quais correspondiam às duas freguesias que compunham a parte urbana da cidade de Cuiabá, denominadas de Sé e de São Gonçalo de Pedro II, naquele momento.

Tabela 2 População da cidade de Cuiabá, conforme raça, segundo o Recenseamento de 1890 

Freguesia Brancos Pardos Pretos Total
1 11 1880 3298 1227 6405
2 São Gonçalo de Pedro II12 533 1128 266 1927
3 Total 2.413 4.426 1.493 8332
4 Percentuais 28,9% 53,1% 17,9% 99,9%

Fonte: O autor com base em Dutra (2017, p. 155).

Para além dos percentuais gerais contabilizados para as citadas categorias de raça/cor, construíram-se observações que correspondem à presença negra na instrução pública em Mato Grosso, a partir de 1857, com foco principal na cidade de Cuiabá, destacando os homens negros e as mulheres negras que estiveram na dianteira da escola pública e/ou privada mato-grossense, em funções como alunos, professores e gestores.

Dessa forma, para demonstrar esse cenário, faz-se necessário construir um olhar a partir de dados coletados no Recenseamento de 1890 que evidenciam que um contingente de homens negros e de mulheres negras presentes na população urbana da cidade de Cuiabá foram caracterizados como ‘sabiam ler’ e/ou ‘frequentavam a escola’. Nesse sentido, os dados registrados em periódicos mato-grossenses, a partir de 1857, apontaram o tipo de instituição escolar em que esse contingente esteve presente, fosse na escola pública ou privada. Desse modo, para revelar esse cenário, recorreu-se a Dutra (2017), que utilizou amplamente os dados apresentados no Recenseamento de 1890, para demonstrar que, percentualmente, a população negra era maioria na escola cuiabana.

No que diz respeito àqueles e àquelas que haviam tido algum tipo de contato com a escola, Dutra (2017) também constatou que, percentualmente, a população caracterizada como de raça/cor parda constituía o maior grupo em relação a brancos e pretos, entre aqueles e aquelas que sabiam ler e/ou haviam frequentado a escola13.

Na análise sobre as categorias raciais denominadas de ‘branca’, ‘preta’ e ‘parda’ presentes na escola cuiabana, destaca-se que o ápice no trabalho de Dutra (2017) está na questão de gênero. A esse respeito, o autor evidenciou que, na faixa etária de 20 a 39 anos, as mulheres de raça/cor parda superaram, em percentuais, os homens de raça/cor parda na instrução pública, na parte urbana da cidade de Cuiabá, conforme os dados da Recenseamento de 1890 apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 Quantitativo de homens e mulheres considerados de raça ‘parda’, com idade entre 21 e 39 anos, que sabiam ler, conforme Recenseamento de 1890, da Freguesia da Sé14  

20 anos % 30 anos % Total %
1 Homens 93 26,4 77 21,8 170 48,2
2 Mulheres 107 30,3 75 21,3 182 51,7
3 Total 200 56,8 152 43,1 352 99,9

Fonte: O autor com base em Dutra (2017, p. 171).

As mesmas observações podem ser construídas em relação às mulheres consideradas de raça/cor preta e que residiam na Freguesia da Sé. Dessa forma, conforme Dutra (2017), esses dados só puderem ser constatados apenas na faixa etária dos 20 anos, como observa-se na Tabela 4.

Tabela 4 Quantitativo de homens e mulheres considerados de raça ‘preta’, com idade entre 21 e 39 anos, que sabiam ler, conforme Recenseamento de 1890, da Freguesia da Sé. 

20 anos % 30 anos % Total %
1 Homens 13 22,4 25 43,1 38 65,5
2 Mulheres 17 29,3 3 5,1 20 34,4
3 Total 30 51,7 28 48,2 58 99,9

Fonte: O autor com base em Dutra (2017).

A partir dessas observações, depreende-se que, à medida que se avançava para o final do século XIX, as mulheres tornavam-se maioria na escola cuiabana. Provavelmente, esse fato deveu-se ao regime de coeducação que, conforme Siqueira (2000), havia colaborado vigorosamente para a universalização e a democratização do ensino. Para a autora, ainda que em um movimento de mão dupla, a educação, por um lado, facilitou o ingresso de meninas em um espaço escolar mais ampliado; por outro lado, ofereceu à mulher um campo profissional mais amplo, pois caberia a ela lecionar em escolas tipicamente femininas e naquelas mistas, onde ela era preferida aos homens.

Nessa perspectiva, para responder ao objetivo central deste estudo, sobre a extensão da presença de pretos e pardos na instrução pública/privada em Mato Grosso, seguiu-se o ‘fio de Ariana’. Desse modo, a Tabela 5 traz a lume alguns dos nomes de homens negros e de mulheres negras, a partir de registros encontrados nos periódicos mato-grossenses, que frequentaram a escola pública e privada na cidade de Cuiabá. Desse modo, o Seminário Episcopal da Conceição, até 1874, figurou como a única escola secundária da província de Mato Grosso, localizado na capital. É importante destacar que as informações presentes nas colunas nome, ano, raça e escola, que compõem a Tabela 5, são centrais para compreender essa questão.

Tabela 5 Pretos e pardos nas escolas cuiabanas entre 1857 e 189315  

Nome Ano Raça Professor/a Escola Série/ Classe
1 Agostinho Lopes de Souza 1880 Preta Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano 1º ano
2 Anselmo Liberato de Oliveira 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano 1º ano
3 Antonia Augusta Gaudie Ley 1886 Parda - 2ª escola de meninas da Freguesia da Sé -
4 Antônio Pedro de Figueiredo16 1863 Parda Manoel Ribeiro dos Santos Tocantins Escola de 2º Gráo *17
5 Antônio Pereira Catilina da Silva 1863 Parda Corpo Docente do Seminário Episcopal da Conceição Seminário Episcopal da Conceição Philosofia Racional, História Eclesiastica
6 Antônio Pinto de Souza Leque 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Aulas Preparatórias
7 Augusto de Assis Monteiro 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano 2º ano
8 Bernardina Maria Elvira Rich 1890 Parda - 2ª escola de meninas da Freguesia da Sé -
9 Candido Mariano da Silva 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano 2º ano
10 Carlos Barbosa Farias 1872 Parda Corpo Docente do Seminário Episcopal da Conceição Seminário Episcopal da Conceição Latim Classe de Gramática
11 Celestino Vieira Nery 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Aulas Preparatórias
12 Dormevil José dos Santos Malhado Parda - Escola Norma/Liceu Cuiabano Pedagogia e Métodos
13 Félix Bendicto de Miranda18 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Ouvinte de diversas aulas
14 Francisco Antunes Muniz 1889 Preta Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Exames de preparatórios
15 Francisco de Assiz Pereira 1872 Parda Corpo Docente do Seminário Episcopal da Conceição Seminário Episcopal da Conceição Latim Classe Francês
16 Francisco Ramos da Silva 1875 Parda Benedicto Francisco de Paula 1ª e 2ª escolas 5ª/6ª
17 Francisco Vieira Nery19 1863 Parda Manoel Ribeiro dos Santos Tocantins Escola de 2º Gráo *
18 Francisco Ramos da Silva 1875 Parda Benedicto Francisco de Paula 1ª e 2ª escolas 5ª/6ª
19 Jorgiana carvalho Viera ?20 Parda - - -
20 João Alves Guerra 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano 2º ano
21 João Baptista da Silva Cuyabano 1889 Preta Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Exames de preparatórios
22 João Cancio da Cunha Pontes 1875 Parda Benedicto Francisco de Paula 1ª e 2ª escolas 4ª/5ª
23 João Christião Carstens 1895 Parda - Atheneo Cuyabano Externato para meninos na Sé
24 Joaquim da Silva Rondon 1893 Parda - Lyceu Cuiabano Curso Normal
25 Joaquim Marcellino Martins 1875 Parda Benedicto Francisco de Paula 1ª e 2ª escolas 1ª/2ª
26 José Patricio das Neves 1889 Preta Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Exames de preparatórios
27 Manoel Luiz Pereira 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Aulas Preparatórias
28 Manoel Rodrigues de Miranda 1875 Parda Benedicto Francisco de Paula 1ª e 2ª escolas 3ª/4ª
29 Sebastião José da Costa Maricá21 1857 Parda - Escola de Primeiro Grao da Capital -
30 Solano Alves Pereira 1889 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Exames de preparatórios
31 Thomé Ribeiro de Siqueira 1880 Parda Corpo Docente do Lyceu Cuiabano Lyceu Cuiabano Ouvinte de diversas aulas

Fonte: O autor com base em Noticiador Cuiabano (1857); A Imprensa de Cuiabá (1863); A Situação (1872, 1875); A Província de Matto-Grosso (1880a, 1889b).

Deve-se levar em consideração que os dados registrados na Tabela 5 informam passagens desses sujeitos desde a instrução elementar, o ensino secundário público e privado até a preparação daqueles que pretendiam frequentar o ensino superior e, ainda, aqueles que atuaram na docência na Escola de Primeiras Letras e Secundária.

Da presença de pretos e pardos como estudantes nas escolas públicas e privadas, na cidade de Cuiabá/MT, observou-se que os anos que se seguiram reservaram lugares de destaque para eles, principalmente na atuação como professores na instrução pública na província mato-grossense. Nesse sentido, o vice-presidente da província Barão de Diamantino, em 3 de maio de 1875, destacou que a Escola Normal costumava produzir vantagens, conquanto não compensasse ainda os esforços feitos em prol desta, mas que prometia ‘lisongeiros resultados’. Desse modo, pode-se dizer que, conforme as informações presentes na Tabela 5, quem produzia vantagens e lisonjeiros resultados eram as escolas públicas e privadas da cidade de Cuiabá, que tratava de instruir a mocidade para auxiliar na composição do futuro da província.

Sobre essa questão, o Inspetor Geral de Instrução Ernesto Camilo Barreto destacou, em relatório enviado ao presidente da província, Hermes Ernesto da Fonseca, que Antônio Pereira Catilina da Silva, “[...] um distincto filho do Seminário” (Relatório da Diretoria Geral da Instrução Pública, 1880, p. 16), sentava-se na ‘Cadeira de Minerva’ na Escola Normal. Ademais, anteriormente, o Presidente Barão de Diamantino já havia informado o quadro de professores da referida escola, e, entre eles, constava que Antônio Pererira Catilina da Silva lecionava a disciplina de ‘Grammatica e Analyse da respectiva língua nacional’. No tocante à atuação na escola pública de Primeiras Letras, Sebastião José da Costa Maricá, em 28 de junho de 1857, requereu o pagamento de 300$ (trezentos reis) pelo excesso de 75 alunos que ensinava na Escola de Primeiro ‘Grao’ da capital. Oriundo das escolas pública e privada em Mato Grosso, Felix Benedicto de Miranda foi anunciado pelo Dr. Dormevil José dos Santos Malhado como ‘distincto filho da escola normal’, o qual, em conjunto como outros mestres e mestras “[...] solícitos no cumprimento das obrigações que lhes impõe o cargo de mestres [...]”, integrava as escolas de Primeiras Letras da capital na década de 1880 (Relatório da Diretoria Geral da Instrução Pública, 1880, p. 16).

Desse modo, delineado o cenário sobre a presença de pretos e pardos nas escolas públicas e privadas da cidade de Cuiabá/MT, sobretudo como estudantes, a seguir, joga-se luz sobre ‘os lisonjeiros resultados’ que, como afirmou o Barão de Diamantino, tanto a Escola Normal como o Lyceu Cuiabano iam produzindo. A esse respeito, assinala-se que a Tabela 6, mais adiante, reflete a presença negra na trajetória da instrução pública como professores e professoras em Mato Grosso, entre os anos de 1857 e 1911.

A Escola Normal, o Liceu Cuiabano e os sujeitos do estudo

Para dar conta das nuances que evidenciam a passagem de pretos e pardos na instrução pública mato-grossense, duas instituições cumpriram papéis importantes na sua formação, a Escola Normal e o Liceu Cuiabano. Criada em 3 de fevereiro de 1874, a Escola Normal responsabilizou-se pela formação dos primeiros docentes em 1877; assim, por essa escola passou o pardo Félix Benedicto de Miranda. Quanto ao Liceu, este foi criado em 3 de dezembro de 1879 na gestão do Dr. Dormevil José dos Santos Malhado, que, conforme Siqueira (2000), era adepto do princípio da obrigatoriedade do ensino, empenhando-se em fazê-lo valer em Mato Grosso, especialmente no tocante ao ensino primário.

Nessa perspectiva, estabelecendo um diálogo entre este estudo e outras pesquisas brasileiras que respondem por passagens sobre o negro na instrução pública, aponta-se as contribuições de Silva (2000) e Fonseca (2007). Assinala-se que o texto em tela se assemelha ao trabalho realizado por Fonseca na produção de dados percentuais sobre a presença de pretos, pardos e cabras nas escolas mineiras entre 1820 e 1850. Nesse sentido, Silva (2000) traz a experiência do Professor Pretextato dos Passos e Silva na reivindicação de uma escola para meninos pretos e pardos na Corte. Desse modo, ressalta-se que, no trabalho da autora, é possível indicar semelhanças entre os caminhos construídos no entorno de uma escola vivenciados por Pretextato na Corte e os vivenciados por homens negros e mulheres negras na instrução pública/privada em Mato Grosso. Destaca-se que a diferença entre o trabalho em curso e o texto de Silva (2000) é que, ao passo que o Professor Pretextato constrói uma via crucis ao requerer a permissão para a criação de sua escola, nas trajetórias de pretos e prados construídas em Cuiabá, observou-se, conforme os documentos, que estes sujeitos não encontraram óbice22 à sua inserção, atuação e permanência na instrução pública mato-grossense.

Nessa mesma linha, outros estudos sobre o negro na instrução pública no Brasil podem ainda ser apontados, a saber: Barros (2005), sobre escolarização da população negra em São Paulo; Pinto (2006), o qual lança um olhar sobre a imprensa negra no século XIX; e Cruz (2009), que trata de questões educacionais do negro no Maranhão dentro do sistema escravista. Para somar a essa questão, observe-se a Tabela 6.

Tabela 6 Professores negros e professoras negras residentes na cidade de Cuiabá (MT) nos Oitocentos conforme o Recenseamento de 1890 

Nome Idade Profissão Raça Estado civil Nacionalidade Instrução
SL FE
1 Agostinho Lopes de Souza 30 Professor Preta Solteiro Brasileiro Sim Não
2 Bernardina Maria Elvira Rich 18 Professora Parda Solteira Brasileira Sim Não
3 Felix Benedicto de Miranda 33 Professor Parda Casado Brasileiro Sim Não
4 Antônia Augusta Gaudie Ley 21 Professora Parda Viúva Brasileira Sim Não
5 Sebastião José da Costa Maricá 66 Professor Parda Casado Brasileiro Sim Não
6 Jorgiana Carvalho de Oliveira 19 Professora Parda Solteira Brasileira Sim Não

Fonte: O autor com base em Peraro (2005).

Nota. Para a categoria ‘Instrução’, os dados foram informados em duas siglas: SL - os/as que sabiam ler, e FE - aqueles/aquelas que frequentavam a escola.

A esse respeito, a Tabela 6 foi construída a partir de dados retirados do Recenseamento de 1890; assim, o documento registrou um professor de raça/cor preta e cinco de raça/cor parda. Dentre estes, apenas o Professor Sebastião José da Costa Maricá não teve a sua formação na Escola Normal de Cuiabá, uma vez que os demais passaram por lá. Além disso, há exceção também com a professora Jorgiana Carvalho de Oliveira, que residia na Freguesia de São Gonçalo de Pedro II, e os demais residiam e atuavam na Freguesia da Sé.

Nessa perspectiva, aventa-se que esses dados que revelam a presença de homens negros e de mulheres negras na docência podem ser maiores, a assertiva pode ser confirmada em Paião (2006), que apresentou o perfil de 17 professoras atuando em escolas privadas na Província de Mato Grosso, no século XIX, lançando luz sobre a sua raça/cor. Dessa maneira, observou-se que duas delas foram caracterizadas como pardas, Bernardina Maria Elvira Rich e Jorgiana Carvalho de Oliveira. Paião (2006) destacou também a professora Izabel Perpétua de Mesquita, a qual havia sido caracterizada como sendo de raça/cor branca no Censo de 1890, mas, conforme a autora, e ao referir-se ao registro de óbito de Izabel de Mesquita, destacou que “[...] tem-se ‘nela uma mulher de cor morena’” (p. 80, grifo nosso). Sobre essa questão, a Figura 1 mostra a Professora Normalista Bernardina Maria Elvira Rich, oriunda da educação mato-grossense, jornalista e escritora, conforme assinalou Paião (2006).

Fonte: Extraída de Paião (2006, p. 84)

Figura 1 Professora Bernardina Maria Elvira Rich 

Assim sendo, a partir das observações feitas anteriormente, reforça-se a tese de que o número de professores negros e de professoras negras residentes e/ou atuantes na cidade de Cuiabá, no século XIX, constituía-se de um quantitativo maior. À vista disso, os dados coletados a partir dos Relatórios de Presidentes de Províncias, dos periódicos de época e em obras que respondem pela construção da história de educação em Mato Grosso demonstram que, para além dos dados do Recenseamento de 1890, outros sujeitos integraram a instrução pública cuiabana/mato-grossense como regentes e/ou gestores de escolas públicas ou privadas, como mostra a Tabela 7.

Tabela 7 Professores negros e professoras negras residentes na cidade de Cuiabá (MT) nos Oitocentos 

Nome Idade Profissão23 Raça Estado civil Nacionalidade Instrução
SL FE
1 Antônio Pereira Catilina da Silva24 55 Professor Parda Casado Brasileira Sim Não
2 Dormevil José dos Santos Malhado25 51 Professor Parda Casado Brasileira Sim Não
3 José Joaquim dos Santos Ferreira26 60 Professor Parda Solteiro Brasileiro Sim Não
4 Felippe Liberato 61 Professor Parda Solteiro Brasileira Sim Não
5 Bento Severiano da Luz27 35 Professor Parda Solteiro Brasileiro Sim Não
6 Thomé Ribeiro de Siqueira28 36 Professor Voluntário Parda Casado Brasileira Sim Não

Fonte: O autor com base em Peraro (2005), no Relatório do Vice-Presidente de Província (Mato Grosso, 1872), no jornal A Província de Matto-Grosso (1880b, 1889c) e Paião (2006).

Nota. SL - os/as que sabiam ler, e FE - aqueles/aquelas que frequentavam a escola.

Assim, os dados coligidos a partir de informações registradas nas fontes citadas ampliaram o número de docentes negros de seis para 12. Ao levar-se em consideração as questões relativas à educação não formal, outros sujeitos poderão ser incluídos, como é o caso de Adão da Costa e Faria e Bento José Rodrigues, que desenvolviam atividades de profissionalização por meio dos ofícios dos mestres em oficinas localizadas na cidade de Cuiabá, no ano de 1879. Adão da Costa e Faria29, por exemplo, era mestre das oficinas de correeiros, selleiros e secção de sapateiros30 e comandava 19 operários e um aprendiz. No mesmo ano, Bento José Rodrigues31 atuava como mestre da oficina de serralheiro e comandava 14 operários e um ‘mandador’32. A esse respeito, destaca-se que a ampliação da partição de homens negros e de mulheres negras na educação mato-grossense seguiu até 1911, ano limite imposto para a construção deste texto.

Sobre essa ampliação do número de professores negros e de professoras negras nas escolas de instrução pública e privada em Cuiabá, é importante que se busque entender o que Fonseca (2007, p. 20) chamou de “[...] uma invisibilidade dos negros [...]”, em pesquisa na historiografia da educação brasileira. Segundo o autor:

Há um padrão de tratamento em relação aos negros na historiografia educacional brasileira e sua principal característica é a promoção da invisibilidade dos membros deste grupo racial. Isto se manifesta nos trabalhos de história da educação através de uma afirmação explícita ou velada de que, no Brasil, ‘os negros não freqüentaram escolas’ (Fonseca, 2007, p. 8, grifo do autor).

Fonseca (2007) destaca que, em geral, essa afirmação é dirigida para uma caracterização dos períodos em que vigorou a escravidão e tem como pressuposto básico a ideia de que, nesse sistema, a relação entre negros e as escolas só poderia ser pensada em termos legais para que os escravos frequentassem essas instituições33, as quais foram interpretadas sem levar em conta a possibilidade de sua relação com a população negra (Fonseca, 2007). Sobre essa questão, as fontes têm revelado uma extensão de pretos e pardos ‘letrados’ na capital da província de Mato Grosso e que, possivelmente, utilizaram-na para ascender socialmente. Ademais, deve-se levar em consideração que a província de Mato Grosso possuía, principalmente, uma população mestiça e bastarda. Como assinalou Silva (1995), “[...] ‘foi a disponível para responder as necessidades de povoamento e defesa da fronteira’” (p. 177, grifo nosso), e que, possivelmente, pudesse ser uma característica importante e favorável a presença de pretos e pardos nas escolas cuiabanas.

Insistindo sobre ‘uma invisibilidade negra’ na historiografia da educação brasileira, percebeu-se que, em algumas obras que tratam da história da educação em Mato Grosso, a categoria ‘raça/cor’ não foi utilizada como um dado importante. Nesse viés, observou-se que, ao trazer contribuições sobre a instrução pública de Mato Grosso, Siqueira (2000) fez referência aos homens e às mulheres que trilharam experiências na construção da educação mato-grossense, recorrendo a dados do Recenseamento de 1890; entretanto, notou-se que a questão de raça/cor não foi objeto de seus questionamentos.

Desse modo, o nome de homens que foram caracterizados como sendo de raça/cor parda pelo referido Recenseamento aparecem nos textos de Siqueira (2000), sendo eles Dormevil José dos Santos Malhado, Felix Benedicto de Miranda e Sebastião José da Costa Maricá. Em conformidade com o Recenseamento de 1890, esses homens negros integravam o grupo racial construído por pardos, conforme a investigação do Censo realizado naquela ocasião. Assim sendo, notou-se que todos esses homens foram invisibilizados, quanto aos seus perfis raciais, na maioria das obras que tratam da historiografia da educação em Mato Grosso. Sobre Dormevil José dos Santos Malhado34, os trabalhos no campo da História também o trazem, mas sem citar seu pertencimento étnico-racial, assim como Antônia Augusta Gaudie Ley, Antônio Pereira Catilina da Silva e outros.

Para culminar a construção deste estudo sobre a presença de pretos e pardos na instrução pública mato-grossense, entre 1857 e 1911, ressalta-se que, se os sujeitos referenciados anteriormente deixaram suas contribuições na e para a historiografia da educação de Mato Grosso, com o avançar da pesquisa até o ano de 1911, observou-se que alguns desses sujeitos35 permaneceram nas lides, e outros pretos e pardos que foram referenciados no Recenseamento de 1890 os sucederam e ampliaram a sua presença, seja na docência, seja na gestão dos trabalhos relacionados à instrução pública na província/estado em questão. A esse respeito, os Relatórios de Instrução Pública, entre 1892 e 1911, pontuam questões como nomeação/exoneração, abertura e/ou propriedade de escolas privadas tendo, sobretudo, pardos na linha de frente.

O Relatório de Instrução Pública de Mato Grosso de 1892 do Diretor Pedro Gardes informou que o Professor Antônio Pereira Catilina Silva atuava com a disciplina de Gramática Portuguesa, no Externato do sexo feminino, do estado de Mato Grosso, tendo sua nomeação no dia 8 de abril de 1889 (Gardes, 1892). Ademais, Dona Bernardina Maria Elvira Rich e Dona Antônia Augusta Gaudieley eram professoras efetivas de escolas primárias localizadas na capital, e Félix Benedito de Miranda havia se aposentado em 26 de junho de 1890. Na seara do que se chama de sucessão e/ou ampliação da presença de pretos e pardos na escola cuiabana, Pedro Gardes (1892, p. 6) informou que, entre as escolas “[...] que se recomendaram aos estimados pais de família [...]”, estava a escola do cidadão Joaquim da Silva Rondon36, localizada na Freguesia de São Gonçalo, e, na Freguesia da Sé, a do cidadão Chirstian Carstens, que se sugere tratar-se do pardo João Christião Carastens.

É provável que João Christião Carstens tivesse transformado sua escola em um externato e tomado como parceiro Januário da Silva Rondon, dando o nome de Antheneo Cuyabano. Dessa maneira, como afirma O Matto-Grosso (1895), o Atheneo Cuyabano teria sido inaugurado em 17 de maio de 1894; assim, aventou-se a possibilidade de que a referida escola pudesse ter sido um externato para meninos, e que, por desentendimento, a parceria entre esses professores tivesse sido rompida em 23 de fevereiro de 1895.

Encaminhando a questão em que se aponta que homens negros desempenharam função na gestão educacional em Mato Grosso, no final do Império e no início da República, assinala-se que, depois da memorável passagem do Dr. Dormevil José do Santos Malhado na Diretoria Geral de Instrução Pública, entre 1880 e 1884, no Relatório de Instrução Pública de 1892, Pedro Gardes informou que o Professor Antônio Pereira Catilina37 exercia o cargo de Diretor do Externato do sexo feminino do estado de Mato Grosso. Assim, outros homens negros desempenharam atividades na Inspetoria Escolar em várias localidades38 de Mato Grosso, seja como inspetor ou substituto. Sobre o ensino público em Mato Grosso, o Diretor Pedro Gardes apresentou sete causas responsáveis pela sua má situação em 1892, apontando, entre elas, a falta de inspeção. Desse modo, ressaltou que:

As escolas estão de baixo da inspeção dos inspetores escolares, ora esse cargo é gratuito e seu exercício rouba tempo necessário para outras ocupações, donde resultam os inspetores raramente visitarem as escolas e contentarem se em passar o atestado de freqüência do professor quando este lhe apresenta o mapa mensal da escola (Gardes, 1892, p. 5).

Nesse sentido, para o ano de 1892, no relatório, foram apresentados 37 nomes de inspetores conjuntamente com seus respectivos substitutos. Em 1902, conforme o Relatório de Instrução Pública fornecido por seu diretor, Januário da Silva Rondon, o cidadão João Chistião Carnstens havia sido exonerado do cargo de Inspetor Escolar da Cidade de Corumbá, por ato da Presidência do Estado, em 7 de maio do mesmo ano (Rondon, 1902). A esse respeito, é possível que o exonerado tenha tido a oportunidade de mudar de profissão, pois, em concordância com O Matto-Grosso (1905), João Christião Carstens atuava como advogado e consignatário na cidade de Corumbá, na Rua 15 de Novembro, nº 10.

Januário Rondon foi recenseado em 1890, com 22 anos, profissão ‘Min. Tra’39, aluno do seminário, solteiro, católico e sabia ler. Nesse viés, indaga-se: é possível que o recenseado pudesse tratar-se de Januário da Silva Rondon, o professor, inspetor substituto da Freguesia de São Gonçalo de Pedro II e diretor de Instrução Publica de Mato Grosso, entre 1903 e 1906? Dessa forma, com relação ao perfil racial, assinala-se que ambos possuem a mesma filiação. Sobre essa questão, um fato que auxilia na possibilidade de Januário Rondon e Januário da Silva Rondon tratar-se da mesma pessoa é o trabalho da professora Maria da Glória Sá Rosa, a qual trabalhou com as memórias da Professora Clarice Rondon, filha de Januário da Silva Rondon. Durante uma entrevista, Clarice Rondon referiu-se ao Professor Januário da Silva Rondon da seguinte forma: “Eu tinha quatro anos e só me lembro de meu pai pelas fotografias. ‘Como era primo do Marechal Rondon, parecia muito com ele, moreno, alto, bigode espesso, cabelo liso’” (grifo nosso)40. Nesse sentido, os relatórios da Diretoria Geral de Instrução Pública de Mato Grosso, correspondentes aos anos de 1903 a 1905, foram assinados por Januário da Silva Rondon.

Findo o marco temporal escolhido para este estudo, destaca-se que o Relatório de Instrução Publica de 1911, na sessão ‘nomeações’, indicou o cidadão Manoel41 Pereira Cuiabano para o cargo de Suplente de Inspetor Escolar na vila do Rosário, por ato do governo do estado, em 11 de junho daquele ano.

Considerações finais

A construção deste texto expôs a inserção, a permanência e o protagonismo de professores negros e de professoras negras na cidade de Cuiabá, durante parte dos anos Oitocentos e início dos Novecentos. Nesse sentido, este trabalho tratou de ‘patentear ao público’ a presença de pretos e pardos nas escolas cuiabanas, fosse pública ou privada, apontando caminhos para a construção de outras pesquisas e/ou estudos em outras frentes. Desse modo, assinala-se que ainda é necessário destrinchar a participação desses sujeitos no processo formativo desenvolvido na Escola Normal e no Liceu Cuiabano - escolas públicas secundárias fundadas em Mato Grosso. Outra questão está no desenvolvimento de estudos que possam evidenciar a atuação das professoras negras nas escolas de Primeiras Letras, a exemplo do que fez a pesquisadora Nailza Barbosa Gomes (2009), ao construir a trajetória da Professora Bernardina Maria Elvira Rich.

Outrossim, é notória a participação dos sujeitos apresentados neste estudo no desempenho de múltiplas funções na burocracia administrativa da província/estado de Mato Grosso, sobretudo na gestão da educação mato-grossense. No tocante a essa questão, os Relatórios de Presidentes de Província e de Diretores de Instrução Pública constituem-se terrenos férteis, e aponta-se, ainda, o Arquivo Público de Mato Grosso como celeiro para a construção desses estudos. Destaca-se que algumas passagens apontam que homens negros e mulheres negras integravam uma intelectualidade mato-grossense e/ou cuiabana, uma vez que os jornais de época se constituíam como veículos de circulação de ideias, informações e opiniões dessa ou daquela facção política, como chamou Sena (2006), e um símbolo da modernidade, conforme Pinto (2018).

Sobre os homens negros e as mulheres negras que participaram do processo de construção de uma intelectualidade mato-grossense, explicita-se discursos do Professor Sebastião José da Costa Maricá, em 1864, na ocasião da distribuição de prêmios aos seus alunos ocorrida na data de 9 setembro daquele ano, conforme A Imprensa de Cuiabá (1864), e no discurso pronunciado pelo Dr. Dormevil José do Santos Malhado, por ocasião da inauguração do Liceu Cuiabano, em 1880, e ainda a participação da Professora Bernardina Maria Elvira Rich na construção do Grêmio Júlia Lopes e da Revista Violeta. A esse respeito, deixou-se uma ponta solta, indicando um caminho para pesquisas futuras que possam dar conta de revelar a participação de pretos e pardos em uma intelectualidade mato-grossense. Assim sendo, patenteemos ao público.

Referências

Barros, S. A. P. (2005). Negrinhos que por ahi andão: a escolarização negra em São Paulo (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo. [ Links ]

Bissigo, D. N. (2014). A “eloquente e irrecusável linguagem dos algarismos”: a estatística no Brasil imperial e a produção do recenseamento de 1872 (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. [ Links ]

Brasil. Ministério da Educação. (2004). Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília, DF. Recuperado de: https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-conteudo/acervo-linha-editorial/publicacoes-diversas/temas-interdisciplinares/diretrizes-curriculares-nacionais-para-a-educacao-das-relacoes-etnico-raciais-e-para-o-ensino-de-historia-e-cultura-afro-brasileira-e-africanaLinks ]

Cavalcante, E. D. A. (2003). A sífilis em Cuiabá: saber médico, profilaxia e discurso moral (1870-1890) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. [ Links ]

Cellard, A. (2008). A análise documental. In J. Poupart, J.-P. Deslauriers, L.-H. Groulx, A. Laperrière, R. Mayer, & A. P. Pires (Orgs.), A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos (1a ed., p. 295-316). Petrópolis, RJ: Vozes. [ Links ]

Cruz, M. S. (2009). A educação dos negros na sociedade escravista do Maranhão provincial. Outros Tempos, 6(8), 110-129. [ Links ]

Decreto-lei no5.812, de 13 de setembro de 1943. (1943). Cria os territorios federais do Amapa, do Rio Branco, do Guapore, de Ponta Pora e do Iguassu. Recuperado de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/del5812.htmLinks ]

Dutra, P. S. (2017). “Ao correr da penna: pretos e pardos letrados na cidade de Cuiabá/MT nos oitocentos” (Tese de Doutorado). Universidade Federal Fluminense, Niterói. [ Links ]

Fonseca, M. V. (2007). Pretos, pardos, crioulos e cabras nas escolas mineiras do século XIX (Tese de Doutorado). Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo. [ Links ]

Gardes, J. P. (1892). Relatório apresentado pelo Diretor Geral da Instrução Pública. Cuiabá, MT: APMT. [ Links ]

Ginzburg, C. (1991). O nome e o como. Troca desigual e mercado historiográfico. In C. Ginzbug, E. Castelnuovo, & C. Poni (Orgs.), A micro-historia e outros ensaios (1a ed., p. 169-178). Rio de Janeiro, RJ: Difel. [ Links ]

Gomes, N. C. B. (2009). Uma professora negra em Cuiabá na Primeira República: limites e possibilidades (Dissertação de Mestrado). Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. [ Links ]

Lakatos, E. M. (2003). Fundamentos da metodologia científica. São Paulo, SP: Atlas. [ Links ]

Lei nº 31, de 11 de agosto de 1977. (1977). Cria o Estado de Mato Grosso do Sul, e dá outras providências. Recuperado de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp31.htmLinks ]

Machado Filho, O. (2003). Ilegalismos e jogos de poder: um crime célebre em Cuiabá (1872) e suas verdades jurídicas (1840-1880) (Tese de Doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Campinas. [ Links ]

Mato Grosso. (1872, 4 de outubro). Relatório do Vice-presidente José Francisco Cardoso Junior apresentado a Assemblea Legislativa Provincial. Cuiabá, MT. Recuperado de: http://www.crl.edu/pt-br/brazilLinks ]

Mato Grosso. (1876, 3 de maio). Relatório do Presidente da Província, Hermes Ernesto da Fonseca, apresentado á Assemblea Legislativa Provincial. Cuiabá, MT. Recuperado de: http://www.crl.edu/pt-br/brazilLinks ]

Mato Grosso. (1877, 3 de maio). Relatório do Presidente da Província, Hermes Ernesto da Fonseca, apresentado á Assemblea Legislativa Provincial . Cuiabá, MT. Recuperado de: http://www.crl.edu/pt-br/brazilLinks ]

Mato Grosso. (1880, 3 de maio). Relatório do Presidente da Província, Barão de Maracaju, apresentado á abertura Assemblea Legislativa Provincial. Cuiabá, MT. Recuperado de: http://www.crl.edu/pt-br/brazilLinks ]

Mato Grosso. (1880, 17 de agosto). Relatório da Diretoria Geral da Instrução Pública apresentado pelo Diretor da Instrução Pública, Dormevil José dos Santos Malhado ao Presidente da Província, Barão de Maracaju [APMT - Livro n. 86 B]. Cuiabá, MT. [ Links ]

Mato Grosso. (1884, 1 de outubro). Relatório do Presidente da Província, Barão de Batovy, apresentado á abertura Assemblea Legislativa Provincial. Cuiabá, MT. Recuperado de: http://www.crl.edu/pt-br/brazilLinks ]

Miranda, M. D. S. (2010). Crianças negras na Instrução Pública em Cuiabá/MT (1870-1890) (Dissertação de Mestrado). Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. [ Links ]

Paião, I. D. (2006). Professoras de pena, papel e tinta: trabalho feminino entre representações e práticas de gênero em Mato Grosso (1870-1892) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. [ Links ]

Peraro, M. A. (2005). Levantamento de fontes censitárias: o recenseamento de 1890 em Mato Grosso. Cuiabá, MT: PIBIC/CNPq/UFMT. [ Links ]

Pinto, A. A. (2018). Nas páginas da imprensa: intelectuais e cotidiano em Mato Grosso (1880-1920) - caminhos teórico-metodológicos para a pesquisa histórico-educacional. Perspectivas em Diálogo, 5(10), 227-247. [ Links ]

Pinto, A. F. M. (2006). De pele escura e tinta preta: a imprensa negra do século XIX (1833-1899) (Dissertação de Mestrado). Universidade de Brasília, Brasília, DF. [ Links ]

Rondon, J. S. (1902). Relatório apresentado pelo Professor servindo de Diretor Geral da Instrução Pública. Cuiabá, MT: APMT . [ Links ]

Sá-Silva, J. R., Almeida, C. D., & Guindande, J. F. (2009). Pesquisa documental: pistas teóricas e metodologia. Revista Brasileira de História e Ciências Sociais, I(1), 1-15. [ Links ]

Silva, A. M. P. (2000). Aprender com perfeição e sem coação: uma escola para meninos pretos e pardos na corte. Brasília, DF: Plano. [ Links ]

Santos, M. A. (2016). A Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá (1817-1930): assistencialismo, práticas médicas, memórias e razões de Estado (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. [ Links ]

Sena, E. C. (2006). Entre anarquizadores e pessoas de costumes: a dinâmica política e o ideário civilizatório em Mato Grosso (1834-1870) (Tese de Doutorado). Instituto de Humanidades, Universidade de Brasília, Brasília. [ Links ]

Silva, J. V. (1995). Mistura das cores (política de povoamento e população na Capitania de Mato Grosso - Século XVIII). Cuiabá, MT: EdUFMT. [ Links ]

Siqueira, E. M. (2000). Luzes e sombras: modernidade e educação em Mato Grosso (1870-1889). Cuiabá, MT: INEP/COMPED/EdUFMT. [ Links ]

Vilela, M. A. (2001). Quando o dedo de Deus apontou a nossa província ao anjo da morte: a ocasião da varíola em Cuiabá (1967) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT. [ Links ]

Fontes Primárias

A Imprensa de Cuiabá. (1863, 17 de dezembro). ano V, n. 257, p. 2. [ Links ]

A Imprensa de Cuiabá . (1864, 29 de dezembro). ano IV, n. 314, p. 2-4. [ Links ]

O Liberal. (1876a, 4 de julho). ano IV, nº 358. [ Links ]

O Liberal (1876b, 1 de agosto). n. 362. [ Links ]

O Liberal . (1878, 28 de setembro). ano VIII, v. 369, p. 1-2. [ Links ]

O Matto Grosso. (1890, 26 de janeiro). ano XII, n. 576, p. 3. [ Links ]

O Matto-Grosso. (1893b, 5 de março). ano XV, n. 674, p. 3. [ Links ]

O Matto Grosso . (1893a, 9 de abril). ano XV, n. 679, p. 3. [ Links ]

O Matto Grosso . (1895, 3 de março). ano XVII, n. 778, , p. 4. [ Links ]

O Matto Grosso . (1905, 12 de março). ano XXIII, n. 1072, p. 4. [ Links ]

Noticiador Cuiabano. (1857, 28 de junho). ano I, n. 9, p. 2-3. [ Links ]

O Porvir. (1877, 11 de setembro). ano I, n. 10, p. 1. [ Links ]

A Província de Matto-Grosso. (1879, 12 de outubro). ano I, n. 41, p. 3-4. [ Links ]

A Província de Matto-Grosso . (1880b, 11 de abril). ano II, n. 67, p. 2. [ Links ]

A Província de Matto-Grosso . (1880a, 18 de abril). ano II, n. 68, p. 2-3. [ Links ]

A Província de Matto-Grosso . (1881, 24 de abril). ano III, n. 121, p. 1. [ Links ]

A Província de Matto-Grosso . (1889a, 20 de outubro). ano XI, n. 562, p. 4. [ Links ]

A Província de Matto-Grosso . (1889b, 3 de novembro). ano XI , n. 564, p. 3. [ Links ]

A Província de Matto-Grosso . (1889c, 8 de dezembro). ano XI , n. 569, p. 2. [ Links ]

A Situação. (1871, 6 de março). ano V, n. 129, p. 3-4. [ Links ]

A Situação . (1872, 25 de agosto). ano V, n. 249, p. 4. [ Links ]

A Situação . (1875, 18 de julho). Ano VIII, n. 482, p. 1-2. [ Links ]

1Conforme Dutra (2017), o Dr. Dormevil José dos Santos Malhado integrava o movimento abolicionista em Mato Grosso.

2Sobre o espaço geográfico, assinala-se que a província de Mato Grosso, conforme Miranda (2010), correspondia a 1.477.041 km, uma extensão que abrangia os atuais estados de Rondônia e de Mato Grosso do Sul, os quais foram desmembrados, no decorrer do século XX, para a criação das citadas unidades federativas. Desse modo, assinala-se que, por meio do Decreto-lei no 5.812, de 13 de setembro de 1943, foram criados os Territórios Federais do Amapá, do Rio Branco, do Guaporé, de Ponta Porã e do Iguassú. Em 1977, criou-se o estado do Mato Grosso do Sul, por meio da Lei nº 31, de 11 de agosto Nesse viés, no recorte temporal escolhido para este estudo, a província mato-grossense fazia fronteira com as províncias do Amazonas, do Pará, de Goiás, de São Paulo e do Paraná e com dois países, a Bolívia e o Paraguai.

3Endereço eletrônico: http://www.crl.edu/pt-br/brazil.

4Para se ter uma ideia, sobre Dormevil José dos Santos Malhado, dados presentes nas seguintes fontes foram procurados: Peraro (2005); Siqueira (2000); Vilela (2001); Machado Filho (2003); Relatório de Presidente de Província... (Mato Grosso, 1876); Relatório de Presidente de Província... (Mato Grosso, 1880); Relatório de Presidente de Província... (Mato Grosso, 1884); O Porvir (1877); O Liberal (1876a, 1876b); O Liberal (1878); A Província de Matto-Grosso (1881); O Matto-Grosso (1890); Paião (2006), entre outros.

5Presente no Recenseamento de 1890, na página 23.

6Presente no Recenseamento de 1890, na página 119.

7Conforme os dados citados, a população negra brasileira, em 1872, chegava a 57,8% (a soma de pretos e pardos), e a população não branca brasileira chegava a 61,6%, reunindo pretos, pardos e indígenas.

8 Bissigo (2014) destacou que o Relatório da Diretoria Geral de Estatística (DGE), do ano de 1876, sintetizava os dados do Recenseamento de 1872, apresentando a população brasileira em tabelas temáticas, tais como condição social, raça, profissão, religião, instrução, entre outras.

9 Dutra (2017) usou o conceito de superioridade demográfica negra, cunhado por Fonseca (2007), para expor como a população na província, no município de Cuiabá e em sua zona urbana, era de constituição predominantemente negra. Por outro lado, neste texto, uniu-se pretos e pardos na categoria negro, por entender que ambos reúnem, conforme alerta o Movimento Negro, aqueles que reconhecem sua ascendência africana (Brasil, 2004, p. 14).

10As contribuições de Siqueira (2000) ajudam a compreender uma ‘superioridade demográfica negra’ no contingente populacional da província de Mato Grosso. Para isso, a autora recorreu a dados levantados pelo ‘engenheiro milita Luiz D’Alincourt’, no ano de 1828, e destacou que “[...] no tocante a etnia da população, constatamos a existência de uma maioria de pardos, compreendidos entre a categoria livres, fruto da miscigenação entre os diversos segmentos étnicos. Nesse período, a imigração se mostrava acanhada, contando com apenas 156 estrangeiros de diversas nacionalidades” (p. 53-54).

11Conforme o Recenseamento de 1890, na Freguesia da Sé, as categorias raciais estavam assim representadas: brancos = 29,3%, pardos = 51,4% e pretos = 19,1%, ou seja, a população negra respondia por 70,5% dos habitantes da cidade da referida Freguesia em 1890 (Peraro, 2005).

12O Recenseamento de 1890 indicou que, na Freguesia de São Gonçalo de Pedro II, as categorias raciais estavam assim representadas: brancos = 27,5%, pardos = 58,5% e pretos 13,8%, ou seja, a população negra respondia por 72,3% dos habitantes da cidade da referida Freguesia em 1890 (Peraro, 2005).

13 Dutra (2017) chamou de grupo ‘abrangente’ o total geral da população cuiabana, particularizando as categorias de pretos, pardos e brancos que sabiam ler, haviam frequentado a escola e residiam na parte urbana da cidade de Cuiabá (MT), nos Oitocentos. Além disso, nomeou de grupo ‘intermediário’ o total correspondente à faixa etária de 21 a 39 anos das categorias constituídas de pretos, pardos e brancos que sabiam ler, haviam frequentado a escola e residiam nas duas freguesias que compunham a cidade de Cuiabá, naquela ocasião, e que, provavelmente, teria nascido a partir de 1850.

14Ver dados sobre a Freguesia de São Gonçalo de Pedro II em Dutra (2017).

15Na Tabela 5, Antonia Augusta Gaudie Ley, Bernardina Maria Elvira Rich, Dormevil José dos Santos Malhado, Jorgiana Carvalho Viera, João Christião Carastens, Joaquim da Silva Rondon, Sebastião José da Costa Maricá figuram como professores e professoras; Antônio Pereira Catilina da Silva e Félix Bendicto de Miranda figuram como alunos e professores; os demais, apenas como alunos em escolas públicas e privadas da cidade de Cuiabá.

16A contar com os dados do Recenseamento de 1890, Antonio Pedro de Figueiredo possuía 37 anos, pelos cálculos realizados e, em 1863, contava com 10 anos de idade e frequentava a ‘Escola de 2º Grao’ de Instrução Primária, regida pelo professor Manoel Ribeiro dos Santos Tocantins.

17O uso do asterisco representa que, conforme A Imprensa de Cuiabá (1863), Antônio Pedro de Figueiredo havia sido aprovado simplesmente e Francisco Vieira Nery aprovado plenamente na ‘Escola de 2º Grao’ de Instrução Primária, regida pelo professor Manoel Ribeiro dos Santos Tocantins.

18De acordo com A Situação (1871, 1872), frequentava a aula da cadeira de Francês, no Seminário Episcopal da Conceição, durante os anos de 1871 e 1872.

19As informações presentes no Recenseamento de 1890 indicam que Francisco Vieira Nery possuía 39 anos naquela ocasião; no entanto, pelos cálculos realizados, ele teria nascido em 1851 e, em 1863, contava 12 anos de idade e frequentava a ‘Escola de 2º Grao’ de Instrução Primária, regida pelo professor Manoel Ribeiro dos Santos Tocantins.

20Dentre as fontes pesquisadas, não se encontrou registro algum de escola e/ou de ‘grao’ na qual Jorgiana Carvalho Vieira tivesse desempenhado a docência em Cuiabá. Nesse sentido, o Recenseamento de 1890 é a fonte comum que une as obras construídas que citam a referida professora.

21Conforme o jornal Noticiador Cuiabano (1857).

22Sobre tal semelhança, sugere-se a leitura dos trabalhos Aprender com perfeição e sem coação: uma escola para meninos pretos e pardos na corte, de Ariana Maria Paulo da Silva, publicado no ano 2000, principalmente o terceiro capítulo, e Ao correr da pena: pretos e pardos letrados na cidade de Cuiabá nos Oitocentos, de 2017, também o terceiro capítulo. A esse respeito, notaram-se semelhanças entre as trajetórias do Professor Agostinho Lopes de Souza e a de Pretextado dos Passos e Silva; no entanto, Agostinho Lopes conseguiu reger uma escola privada/mista, localizada na parte central da cidade de Cuiabá, atendendo aos/às filhos/filhas de diversas famílias gradas residentes na referida cidade.

23A profissão dos sujeitos foi informada como ‘professor’, no Quando 3, para mostrar que, em algum momento de suas vidas, assumiram atividades alusivas à instrução pública, sendo nomeados e/ou se oferecendo para, voluntariamente, realizar trabalhos em escolas, como foi o caso de Thome Ribeiro Siqueira ao dispor-se, de acordo com A Província de Matto-Grosso (1889c, p. 2), “[...] para leccionar gratuitamente o systema métrico decimal a turma dos examinados da escola de 1ªs lettras do arsenal de guerra em cada 6ª feira útil”. A esse respeito, Peraro (2005) registrou as seguintes profissões: Antônio Pereira Catilina da Silva (empregado público), Dormevil José dos Santos Malhado (médico), José Joaquim dos Santos Ferreira (capelão), Felippe Liberato (músico), Bento Severiano da Luz (cônego) e Thomé Ribeiro de Siqueira (empregado público).

24No Relatório de Inspetoria Geral dos Estudos de Cuiabá, endereçado ao presidente Hermes Ernesto da Fonseca, a partir dos dados fornecidos pelo inspetor geral Ernesto Camillo Barreto, foi apresentado um quadro intitulado ‘Mapa nominal dos empregados e professores da Escola Normal da Província de Mato Grosso em 1876’, informando, na coluna ‘nomeações’, que os professores Antônio Pereira Catilina da Silva, Dr. Dormevil José dos Santos Malhado, Alferes José Estevão Correa e Capitão João Roberto da Cunha Bacellar haviam sido nomeados professores da Escola Normal em 30 de setembro de 1874 (Relatório de Presidente de Província, 1877, p. 2).

25O Relatório do Presidente da Província de Mato Grosso de 1872 José Cardoso Junior informa que um Curso Noturno havia sido criado na capital naquele ano e que havia nomeado um conjunto de professores para reger as cadeiras criadas para a efetivação do curso. Salienta-se que, entre eles, estava o Dr. Dormevil José dos Santos Malhado, que havia sido designado para lecionar a sexta cadeira, cuja matéria se tratava de Geografia e História concomitantemente.

26Conforme o Relatório do Presidente da Província de Mato Grosso de 1872 José Cardoso Junior, José Joaquim Ferreira do Santos era o responsável por reger a cadeira de Latim no Curso Noturno criado naquela ocasião.

28De acordo com A Província de Matto-Grosso (1889c). Peraro (2005) indicou que Thomé Ribeiro tinha como profissão ‘empregado público’.

29Conforme Peraro (2005), Adão da Costa e Faria poderia ser caracterizado como sendo de raça/cor preta, 40 anos, correeiro, casado, católico, brasileiro, sabia ler.

30Na edição de A Província de Mato-Grosso (1879), são apresentadas diversas oficinas, a saber: de ferreiros, serralheiros, latoeiros e funileiros, alfaiates, pintores e ainda da fábrica de pólvora. Assinala-se que as oficinas tinham como responsáveis vários mestres e que a elas também integravam, além destes, o mandador, os aprendizes, os operários e os serventes.

31Conforme Peraro (2005), Bento José Rodrigues poderia ser caracterizado como sendo de raça/cor parda, 42 anos, serralheiro, casado, católico, brasileiro, sabia ler.

33Nesse sentido, o ex-escravizado Gil Braz Marcondes requereu a inclusão do seu nome na lista de votantes da capital, o qual, na década de 1880, além de exercer função de empregado público, recorreu também ao Tribunal de Relação para assegurar a participação enquanto eleitor na Freguesia da Sé. Tal passagem pode ser comprovada na edição de número 562 de A Província de Mato Grosso, veiculada em 20 de outubro de 1889. O mesmo juiz responsável pelo despacho da lista apresentada respondeu a uma contestação de outro eleitor que, indignado, dizia que Gil Braz não possuía ‘renda legal’ para ser eleitor, devido às casas onde Gil havia residido não possuir “[...] o necessário valor locativo recomendado pela lei”. Sobre essa questão, assinala-se que, na parte introdutória do despacho do juiz interino da Comarca de Cuiabá, este considerou ter ficado “[...] provada a renda legal do justificante ‘cidadão’ Gil Braz Marcondes da Silva” (A Província de Mato Grosso, 1889a, p. 4, grifo nosso).

34Além da trajetória na instrução pública tratada em Paião (2006) e Siqueira (2000), Dormevil José dos Santos Malhado atuou como médico no ‘Corpo de Saúde do Exército’, na linha de frente na Guerra entre o Brasil e o Paraguai, na epidemia de varíola e nos tratamentos contra a sífilis (Vilelea, 2001; Cavalcante, 2003), atuou na Santa Casa de Misericórdia (Santos, 2016), em associações abolicionistas (Miranda, 2010; Dutra, 2017).

35Como o recorte final deste estudo avança até o ano de 1911, na República, a geração da faixa etária entre 5 e 25 anos, presente no Recenseamento de 1890, assumiu a dianteira na instrução pública em Mato Grosso. Nesse sentido, conforme Peraro (2005), Januário da Silva Rondon tratava-se, possivelmente, de Januário Rondon, que contava 22 anos, caracterizado como sendo de raça/cor parda, solteiro, sabia ler e era ‘alummo do Semnário’; João Christião Carsterns, em conformidade com o Recenseamento de 1890, contava 19 anos de idade, de raça/cor parda, solteiro e sabia ler.

36 O Matto-Grosso (1893a), apresentou, na ‘Seção de Notícias’, a nomeação de Januário da Silva Rondon para reger a cadeira de Latim no Lyceu Cuyabano.

37 O Matto-Grosso (1893b), informou, na ‘Secção De Notícias’, que um dos ‘membros mais dignos’ da sociedade cuiabana, Antônio Pereira Catilina da Silva, havia falecido no dia 3 de março de 1893, bem como havia desempenhado com ‘toda aptidão e zelo’ o serviço público por onde tinha passado, como Secretário do Tribunal de Relação em 1874 e professor da cadeira de Latim do Lyceo Cuiabano.

38O Relatório de Instrução Pública de 1892 (Gardes, 1892) indicou o quadro de Inspetores Escolares e seus substitutos que estavam em exercício do estado de Mato Grosso naquele ano, a saber: na Sé, Antônio Pinto de Souza Leque, posse em 24 de agosto de 1892; em São Gonçalo de Pedro II, Inspetor Substituto Januário da Silva Rondon, posse em 8 de junho de 1892; em Brotas, Inspetor Substituto Manoel Felipe Cuiabano, posse em 4 de agosto de 1892. No tocante ao perfil racial, os indicados anteriormente foram caracterizados como sendo de raça/cor parda em Peraro (2005).

39Sobre a profissão indicada para Januário Rondon, não foi possível descobrir o seu significado. Destaca-se que, sobre o pardo Pedro Leite da Cunha Mattos, também consta essa mesma profissão. Ambos residiam com três padres no Seminário Episcopal da Conceição, sendo, conforme Peraro (2005), um de nacionalidade francesa, outro de nacionalidade alemã, e um terceiro de nacionalidade brasileira.

40A entrevista com a Professora Clarice Rondon encontra-se em http://parquetematicodopantanal.com.br/clarice-rondon/.

41Conforme Peraro (2005), Manoel Pereira Cuiabano havia sido caracterizado como sendo de raça/cor parda. Ainda temos Antônio Galdino da Silva Prado, que contava com 6 anos de idade em 1890, de raça/cor parda, não sabia ler nem frequentava escola e residia na Freguesia de São Gonçalo de Pedro, segundo Peraro (2005). Desse modo, depreende-se que o sujeito informado em Peraro possa ser o mesmo informado no Relatório de Instrução Publica de 1911 e que, possivelmente, fosse fruto da escola cuiabana. Dessa maneira, o ‘Dr. Antônio Galdino da Silva Prado’ foi nomeado para o cargo de professor interino da cadeira de História Natural do Liceu Cuiabano em 18 de março de 1910.

Rodadas de avaliação: R1: três convites; três avaliações recebidas.

94Como citar este artigo: Dutra, P. S. “Credores de minha estima”: pretos e pardos na instrução pública e privada, no final do século XIX e início do século XX, em Cuiabá - MT. (2022). Revista Brasileira de História da Educação, 22. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e210 Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

Recebido: 17 de Outubro de 2021; Aceito: 22 de Março de 2022; Publicado: 01 de Julho de 2022

*Autor de correspondência: E-mail: paulodutra@unir.br.

Paulo Sérgio Dutra é professor adjunto da UNIR - Campus de Ji-Paraná. Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso, e graduado em Licenciatura em Pedagogia pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Relações Raciais e Migração e integra a Rede de Pesquisa, Ensino e Extensão da Educação nas Regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil e na América Latina - RECONAL-Edu, e a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as - ABPN. E-mail: paulodutra@unir.br https://orcid.org/0000-0002-5507-2744

Editores-associados responsáveis: Adlene Arantes E-mail: adlene.arantes@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-7007-0237

José Gonçalves Gondra E-mail: gondra.uerj@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-0669-1661

Surya Aaronovich Pombo de Barros E-mail: surya.pombo@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-7109-0264

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons