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Revista Brasileira de História da Educação

versão impressa ISSN 1519-5902versão On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.22  Maringá  2022  Epub 01-Maio-2022

https://doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e216 

Dossiê

Do sertão ao sul baiano: sociabilidade, circularidade e atuação do intelectual negro Deoclecio Silva (1889-1927)

From the sertão to the south of Bahia: sociability, circularity and performance of the intellectual negro Deoclecio Silva (1889-1927)

Del sertão al sur de Bahía: sociabilidad, circularidad y actuación del negro Deoclecio Silva intelectual (1889-1927)

Cristiane Batista da Silva Santos1 
http://orcid.org/0000-0002-7582-6582

1Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA, Brasil.


Resumo:

Este trabalho tem como finalidade apresentar aspectos da trajetória do intelectual Deoclecio Ramiro Alves da Silva (1889-1927). O recorte temporal inicia-se em 1880, na capital baiana, e estende-se até 1927, em Ilhéus. Tomou-se como ponto de partida do estudo a notícia do ingresso deste na Escola Normal de Homens, localizada em Salvador. Nomeado como professor, em 1913, para atuar na região cacaueira, também foi redator em Ilhéus na Primeira República. Este texto, teoricamente, encontra-se no entrecruzamento entre a História da Educação e a História Social que inclui as trajetórias de intelectuais negros, incumbindo-se, portanto, de visibilizar o protagonismo deste intelectual. Para tal, utiliza-se da análise de fotografias e jornais editados na Bahia. Recorre-se ao entendimento de intelectuais como postula Sirinelli (2003), Silva (2019) e Barros (2021), e, sobre o tratamento metodológico com as fontes históricas, seguiu-se a proposta de Ginzburg (1989, 2006) com o Método Indiciário da ligação nominativa de fontes na análise qualitativa dos dados a partir de indícios. A hipótese central é de que a História da Educação em Ilhéus pode ser perscrutada a partir da trajetória de docentes negros que são invisibilizados no tocante às suas contribuições. Dentre os resultados, destaca-se que Deoclecio fez parte de uma rede de sociabilidade de intelectuais na Primeira República, na capital e em Ilhéus, representando um grupo que coexistiu ao lado dos coronéis, ícones da elite econômica e política, e, em paralelo, constituindo-se como uma elite cultural que exercia a docência como uma agência potencializadora de suas ideologias políticas.

Palavras-chave: estudantes negras/os; emancipação; intelectuais; diáspora negra; luta estudantil

Abstract:

This work aims to present aspects of the trajectory of the intellectual Deoclecio Ramiro Alves da Silva (1889-1927). The time frame begins in 1880, in the capital of Bahia, and extends to 1927, in Ilhéus. The starting point of the study was the news of his entry into the Escola Normal de Homens, located in Salvador. Appointed as a professor in 1913 to work in the cacao region, he was also a copywriter in Ilhéus during the First Republic. This text, theoretically, finds itself at the intersection between the History of Education, and the Social History that includes the Trajectories of Black Intellectuals, therefore, it is responsible for making visible the protagonism of this intellectual. For this, it uses the analysis of photographs and newspapers published in Bahia. We resorted to the understanding of intellectuals as postulates Silva (2019) Sirinelli (2003), Barros (2021) and the treatment of Historical Sources proposed by Ginzburg (1989, 2006) with the Evidential Method of the nominative linking of sources in the qualitative analysis of data a from clues. The central hypothesis is that the History of Education in Ilhéus can be examined from the trajectory of black teachers who are made invisible in terms of their contributions. Among the results, it is noteworthy that Deoclecio was part of a group of intellectuals in the first Republic in the capital and in Ilhéus, representing a group that coexisted alongside the colonels, icons of the economic and political elite, and in parallel constituted itself as an elite cultural that exercised teaching as an agency that enhances their political ideologies.

Keywords: black students; emancipation; intellectuals; black diaspora; student fight

Resumen:

Este trabajo tiene como objetivo presentar aspectos de la trayectoria del intelectual Deoclecio Ramiro Alves da Silva (1889-1927). El marco temporal comienza en 1880, en la capital de Bahía, y se extiende hasta 1927, en Ilhéus. El punto de partida del estudio fue la noticia de su ingreso a la Escola Normal de Homens, ubicada en Salvador. Nombrado profesor en 1913 para trabajar en la región del cacao, también fue redactor en Ilhéus durante la Primera República. Este texto, teóricamente, se encuentra en la intersección entre la Historia de la Educación y la Historia Social que incluye las Trayectorias de los Intelectuales Negros, por lo que se encarga de visibilizar el protagonismo de este intelectual. Para ello, utiliza el análisis de fotografías y periódicos publicados en Bahía. Recurrimos a la comprensión de los intelectuales como postulados de Silva (2019) Sirinelli (2003), Barros (2021) y el tratamiento de las Fuentes Históricas propuesto por Ginzburg (1989, 2006) con el Método Evidencial de la vinculación nominativa de fuentes en el análisis cualitativo. de datos a partir de pistas. La hipótesis central es que la Historia de la Educación en Ilhéus puede examinarse a partir de la trayectoria de los profesores negros que se vuelven invisibles en cuanto a sus aportes. Entre los resultados, destaca que Deoclecio formó parte de un grupo de intelectuales de la primera República en la capital y en Ilhéus, representando un grupo que convivió con los coroneles, íconos de la élite económica y política, y en paralelo se constituyó como una élite cultural que ejerció la docencia como agencia que potencia sus ideologías políticas.

Palabras clave: estudiantes negros; emancipación; intelectuales; diáspora negra; pelea de estudiantes

Introdução

Exibindo fortunas, erguendo palacetes, importando roupas e champanhe e exportando cacau, as elites do cacau seguiam promovendo festas e chás dançantes. E, na imprensa local, trocando farpas e elogios, colocando-se como a situação ou a oposição, declarando-se adamistas ou pessoístas1. Fazia parte de ser da elite o ato de enviar filhas para o Ensino Normal no Instituto da Piedade2 e os filhos para estudarem na capital: esta é uma descrição das principais atividades das elites ilheenses nas primeiras décadas do século XX.

Neste cenário, e em virtude da expansão econômica da lavoura cacaueira, deu-se, paralelo ao aumento demográfico, a consagração de famílias no cenário político pelo montante econômico, sustentando-se na exploração de uma vasta camada de trabalhadores, de maioria negra, descendente de ex-escravizados, em espaços rurais e urbanos. O Intendente Municipal e seu grupo de apoio, em nome do controle social, da civilidade e da modernização, empenhou-se em estender a oferta do ensino público na cidade de Ilhéus e em seus distritos. Nesta Ilhéus Republicana e que se pretendia moderna e civilizada, formou-se uma numerosa elite intelectual migrante, vindo estabelecer-se na região. O perfil de distinção destes novos integrantes estaria calcado não na origem de sangue ou na posse de fazendas de cacau, mas sim nas suas atividades profissionais e intelectuais cujas demandas encontravam em Ilhéus oferta de emprego. É assim que começa nosso encontro com um destes intelectuais, Deoclecio Ramiro Alves da Silva. No entanto, sua trajetória e seu trânsito são marcados por radicais mudanças geográficas de norte a sul do estado da Bahia e carece de mais análises. Sugerem uma precarização do exercício docente até a conquista de melhor estabilidade profissional. É deste entrecruzamento que trata este texto. Não se propõe uma biografia, mas uma discussão sobre como, na História da Educação na Primeira República, a nomeação de um professor para a cadeira do ensino elementar representou, a um só tempo: a expansão do ensino público em Ilhéus, a inserção de um intelectual negro de grande renome na capital vindo para o interior do estado e como ali foram gestadas grandes contribuições para a educação local.

Deoclecio Silva deu um destaque a Ilhéus dos coronéis do cacau, sob o prisma da educação. Aspecto este até então invisível na imprensa e que elevou a cidade a ser o ponto de partida de diálogo e observação de onde exercia a docência, escrevia artigos e elaborava ideias sobre o ensino público. O professor não se limitou à docência, mas revalorizou o nome da cidade conhecida só pela economia cacaueira como um espaço de oferta de um ensino articulado a uma ideologia republicana. Em acréscimo à sua participação na cidade e no estado baiano, Deoclecio foi redator de jornais e autor de textos e poesias, bem como representante de Ligas e agremiações em prol da educação baiana.

Investiga-se, portanto, como seria ser professor, negro, intelectual, pai de família com esposa e seis filhos, oriundo do período escravista e sendo negro e, em contrapartida, enquadrar-se em meio às elites políticas, econômicas e brancas de modo tão estreito em Ilhéus.

Nas quatro cidades onde Deoclecio exerceu a docência por um certo tempo e os cargos nos jornais cujos títulos já são por demais reveladores, exigia-se dele uma fluidez, acomodações e adaptações sem as quais não teria acesso ou seria incompatível com uma rigidez de posturas fosse em nome de raça, classe ou de partidarismos. Mas Deoclecio dominou a arte de escrever, publicar e falar bem como orador eloquente e ainda circular por diferentes grupos e ideologias conflitantes em um Brasil em que os racismos compunham a lente estrutural da sociedade. Outra questão importante é a necessidade de embranquecimento por parte de negros, pardos e mulatos, através de posturas cotidianas as quais soavam como uma necessidade de existência. Por isso suas falas sobre cor, classe e vicissitudes ligadas ao mundo da docência, por vezes, só poderão ser encontradas nas entrelinhas dos seus discursos, nos nomes dos componentes de seus pares, grupos e agremiações nos quais se inseriu e aos quais assinou seu nome.

Para evitarmos os anacronismos na análise desta trajetória, importa pôr em relevo as fecundas discussões de Antônio Sérgio Guimarães (2004), que, em diferentes textos, elucida como era necessário que esses mulatos claros - como no caso de Deoclecio, que não era preto retinto - se identificassem com os círculos dominantes e que “[...] manifestassem completa lealdade aos seus interesses e valores sociais” (Guimarães, 2004, p. 41). O autor auxilia na compreensão da linha tênue que separava o emprego, a nomeação, a docência e a obrigação silenciosa de ser leal a valores sociais e a interesses que conflitavam com sua cor, origem e história de vida. E é neste sentido que se compreende as pistas nos escritos como as poesias de Deoclecio e nas escolhas para compor grupos nos quais que ele podia falar de si e do que pensava sobre raça, educação, trabalho e pobreza.

É a isto que se atribui o perigoso designativo de considerá-lo excepcional por ser negro e ocupar um lugar de destaque na escala social (Fonseca, 2012). Deoclecio soma-se a uma miríade de docentes negros que tem sido tematizada por uma geração de historiadores da Educação.

No período em questão, são identificados pelo menos cinco docentes negros: três homens e duas mulheres, nos quais a leitura fenotípica das fotografias permite inferir tal condição étnica que precede à leitura de seus atos, contratos e redes de sociabilidade. Os cinco docentes negros têm origem familiar fora de Ilhéus e foram aceitos e aclamados pelas elites ilheenses que fizeram, a seu modo, uso do discurso da ‘fraternidade racial’; além disso, encontraram alternativas para enfrentar o racismo científico cujo postulado não incluía todas as demais pessoas de cor, como os trabalhadores braçais, naquele seleto grupo, seja pela inteligência, seja pela docência, logo os tratando como párias da sociedade. Embora seja necessário discutir como esses quatro docentes negros contemporâneos entenderam o mundo a partir dos lugares que ocuparam em Ilhéus, as diversas similitudes em suas biografias profissionais e em como suas práticas docentes foram mediadas pelos discursos/silêncios raciais serão o foco deste estudo. Nos limites deste texto, nos ateremos apenas a um deles, Deoclecio Silva.

O encontro com docentes negros na Primeira República, em Ilhéus, foi uma experiência metodológica similar às apontadas por Barros (2021) em outras partes do Brasil. No caso de Ilhéus, por meio da triangulação das fontes a partir de nome, sobrenome e fotografias identificadas, foi possível seguir os rastros e perseguir suas trajetórias, associando a cor e o nome. Isto posto, o ‘método indiciário’ (Ginzburg, 2006) passou a ser o grande aliado na utilização do nome como descritor de pesquisa nos jornais digitalizados na Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional ou nas cópias fotografadas do Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual de Santa Cruz.

Bem aos modos metodológicos do que fez Gondra e Schueler (2008) com a utilização simultânea de fontes documentais e iconográficas, aqui se fez necessária para identificar os ‘professores como intelectuais no espaço da cidade’, mas, sobretudo, os negros, duplamente silenciados. De posse das fontes e de sua seleção e transcrição, o próximo desafio foi de cunho teórico. Como articular intelectual, História da Educação e as populações de ‘cor’ sem propor um alargamento do conceito de ‘intelectual homem branco’ da República?

Este texto assume para o sul da Bahia perspectivas similares às pesquisas como as de Fonseca (2012), o qual encontrou, em diferente contexto etnográfico, nomeadamente Minas Gerais, situações em que viajantes flagraram episódios nos quais pretos e mulatos estavam nos mais variados papéis, inclusive na escola, na condição de professores. A perspectiva adotada pelo texto está circunscrita na atual tendência da História da Educação e da produção historiográfica dedicada às formas de participação política e cultural na Primeira República, desvelando novas facetas e dimensões da experiência negra em conformidade com a pesquisa feita no Rio de Janeiro por Muller (2008).

Em artigo sobre o tema, Barros (2021) revisitou a temática sobre intelectuais negros com novos pontos de vista para a compreensão da História da Educação brasileira a partir da inclusão de pessoas negras no universo letrado, bem como incluiu a Bahia com nomes como Carneiro Ribeiro, Cincinato Franca e Elias Nazareth. Na temática sobre as trajetórias de sujeitos atuantes na educação na Primeira República (1889-1930), da qual temos por objeto Deoclecio Silva, este apresenta uma dupla condição racial e intelectual pautada na indicação de ‘cor’ que se revelou somente pelas fotografias. No Brasil, a integração dos mulatos à vida nacional antecedeu a abolição da escravidão, tendo início ainda no século XIX (Guimarães, 2003). Quem foi Deoclecio Ramiro Alves da Silva em sua complexidade e como teve acesso aos redutos políticos de distinção, uma vez que, onde quer que tenha lecionado, sempre se destacou no posto de orador, redator ou professor? Quais foram as suas redes de sociabilidades e como fez uso dialético destas a favor de si? Como ele lidou e estabeleceu vínculos de dependência ou valeu-se do paternalismo, buscando obter dos coronéis e das demais elites políticas - aos quais escolheu associar-se - as vantagens para si e sua família?3

Tais questionamentos alimentam a necessidade de perscrutar não só a trajetória do docente negro para além e por trás de uma tendência geral e mais visível - a de negro ou docente ou intelectual ou redator - mas também articular o nome ao como, ou seja, perseguir as estratégias sociais desenvolvidas por Deoclecio em diferentes escolas, cidades e grupos enquanto um ator “[...] em função de sua posição e de seus recursos respectivos, individuais, familiares, de grupo, etc.” (Revel, 1998, p. 22).

Em inúmeros jornais da Bahia - como citaremos ao longo do texto -, do Rio de Janeiro e de Aracaju, pode-se encontrá-lo em fotografias e na escrita memorialística de João da Silva Campos (2006), especialmente sobre sua passagem em Ilhéus. Nestes três discursos implícitos nas fontes, o campo das representações e o do discurso se entrelaçam. Entra em jogo a polaridade entre o que falam sobre Deoclecio e o que ele produziu e publicou por si mesmo. A utilização dos impressos no escrutínio das trajetórias dos docentes intelectuais negros na História da Educação na Primeira República, em Ilhéus, só se tornou possível pelo acesso às fontes da Hemeroteca Digital em consonância com a abertura recente do debate oficializado nos Grupos de Pesquisa em História da Educação e pela inserção das populações negras como objeto corolário ao tema, como um campo de dissenso e interdisciplinar num largo escopo.

Ilhéus integra-se, por esta via, a uma pesquisa maior que se ocupa da História da Educação na Bahia e do segmento metodológico com as fontes impressas para o centro do debate (Almeida, 2020). Destaca a autora a importância da operação metodológica apoiada em discursos jornalísticos publicados em impressos. Para compreender essas especificidades, o trabalho será dividido em duas seções: a primeira aborda a trajetória de Deoclecio a partir dos impressos e suas publicações. A segunda parte do texto debruça-se sobre a presença de Deoclecio na Ilhéus dos anos 1910 e 1920 e sobre suas permanências e ações como professor da Escola Complementar de Ilhéus.

Deoclecio Ramiro Alves da Silva, um professor em trânsito

‘Um dos homens de letras do nosso estado’ homenageado na data do aniversário, em 11 de maio. O jornal O Operário apresentou um resumo de sua biografia profissional, destacando que ele estava na direção da Escola Complementar de Valença naquele ano de 1911 (HDBN, 1911a). Apontar uma cronologia que levou Deoclecio até Ilhéus é importante para uma vida de tantas circularidades. Sabemos que Deoclecio nasceu na Bahia em 11 de maio na década de 18704. Um ano após a abolição, o Diário da Bahia da capital publicou a lista dos aprovados por disciplina na Escola Normal de Homens. Ele estava aprovado em todas, exceto Francês (HDBN, 1989). A trajetória do intelectual, a partir deste registro, revela diferentes posições ocupadas no seu caminho tracejado, o qual indicia o de outros docentes negros na sociedade do pós-abolição. A vida pessoal de Deoclecio só reaparece nas típicas felicitações de uma família distinta na coluna social dos jornais, como em 1910, na Gazeta de Notícias da Bahia. Na ‘Chronica Social’, mapeou-se, em diversas ocasiões, as felicitações aos filhos de Deoclecio, como Cyphisia, Franklin, Altair, Waldemira, Zuleika, Laís e a esposa, Joanna de Carvalho Silva (HDBN, 1910a). Foi feita a análise dos jornais do século XIX e início do XX na Hemeroteca Digital. Em 1892, procurava-se, no O Pequeno Jornal, um volume de poesias, intitulado Saudades, de Deoclecio Silva. Seu endereço era a Rua do Jenipapeiro, nº 200, 1º andar (HDBN, 1892a). Nesse mesmo ano, no jornal O Trabalho, Deoclecio oferecia seus préstimos como professor de primeiras letras em colégios e casas particulares (HDBN, 1892b). Há lacunas entre sua oferta de serviços e sua aprovação para professor na Escola Normal de Caetité, mas esta foi a primeira guinada social e espacial para o sertão pela ascensão ao emprego público. Nesta reconstrução da trajetória de vida, ao investigar as perspectivas que abordam os lugares de sociabilidades de Deoclecio, considera-se um caminho de relações e redes baseado no que discutem Gomes (2009) e Silva (2019). Foi em consonância com o traçado metodológico destes autores que se olhou para Deoclecio, desde sua primeira pista, saindo do Recôncavo e indo estudar na Escola Normal, em Salvador, até o primeiro emprego, em Caetité. Este foi seu oficial acesso aos lugares tradicionais de produção intelectual, ao ser nomeado professor da Escola Normal de Caetité, de 1898 até 1903, em acordo com os dados localizados (HDBN, 1898a). Em seguida, sua trajetória cabe na ideia de “[...] participantes de múltiplas redes de sociabilidade, através das quais se colocam em contato com o mundo” (Gomes, 2009, p. 11).

E foi neste primeiro círculo que Deoclecio estreitou laços com outros intelectuais negros e deu início à sua vida paralela à docência, bem como deixou rastros em duas fontes: no jornal A Penna e nos escritos do memorialista João Gumes5. No jornal A Penna, a partir de 5 de agosto de 1897, Deoclecio fez parceria com o intelectual negro e colega Alfredo José da Silva. Em outros achados, identificou-se que João Gumes era proprietário-redator e trabalhava com Marcelino José das Neves, seu tio e professor de Pedagogia, além de Deoclecio Silva, o qual atuou como redator do seu jornal e professor de Desenho da Escola Normal. Somado a estes, aparece Alfredo José da Silva, que também estudara no Instituto Normal do Estado, em 1902, o qual foi o primeiro professor negro a dirigir a antiga Escola Normal de Caetité (1930-1935); além disso, Alfredo foi prefeito da cidade entre 1947 e 1948, e faleceu em 19856. João Gumes registraria mais tarde aquele momento solene da Escola Normal de Caetité, no qual se realizou o juramento e posse dos lentes, professores e corpo administrativo, destacando que “[...] em seguida orou também, empolgado o auditório, o professor de Pedagogia, Marcelino Neves, o mais velho dos lentes e professores do instituto. Recitou o professor Deoclecio Silva, em seguida, uma linda poesia da sua lavra” (Gumes, 1927, p. 28)7.

A cada escolha de nomes para compor o jornal ou mesmo o Grêmio Literário Plínio de Lima, e que tinha como uma das datas de reunião e debate o dia 13 de maio, faziam-se seleções muito sugestivas. Reforça-se com tais escolhas uma brecha para uma investigação indiciária, afinal as parcerias de Deoclecio muito sinalizam sobre sua ideia de mundo. Observa-se que os integrantes do grupo que detinha o espaço de divulgação de debates e pensamentos, a partir do A Penna, eram docentes negros. Consiste em um dado muito revelador para uma sociedade pós-abolição, na qual o lugar de intelectuais tinha outra cor e etnia na Bahia.

Localizou-se o primeiro grupo social de Deoclecio, o que é significativo, pois, conforme salienta Rebecca Gontijo (2005, p. 262), “[...] a atração, a amizade e os afetos, assim como a hostilidade, a rivalidade e o rancor desempenham um papel importante no mundo intelectual”. A autora ainda postula a ideia de que as redes de sociabilidade alimentam os microclimas, ou seja, na sua concepção, são meios nos quais as ações e os comportamentos dos intelectuais se constituem um microcosmo particular.

Mais dados são emblemáticos nesta pesquisa. O jornal O Trabalho, no qual Deoclecio divulgou seus serviços após concluir o curso de Escrita Pedagógica como professor, em 06 de março de 1892, tinha como redator Manoel Querino, intelectual negro de grande representatividade baiana8. Nesta edição destacada, em um texto intitulado ‘Educação dos libertos’, asseverava que seria digno reconhecer o dever da parte dos estados de conceder a todos os meninos, sejam brancos ou negros, os benefícios da instrução escolar. O artigo afirmava categoricamente ser firme a convicção, com base no exame dos Relatórios Anuais da Repartição Nacional, sobre a importância da educação dos libertos. Destacava, ainda, que “[...] em geral os sulistas que mais fazem a favor da educação em seus estados são bem dispostos para gente de cor que em teoria consideram que os negros merecem parte igual nos favores que seu estado estende a seus cidadãos em cousas de educação” (HDBN, 1892c).

Suas ideias sobre o negro e as denúncias do preconceito sentido a seu tempo como homem não branco começam a ganhar contornos com estas posições de Deoclecio inserido no debate com grupos que davam aula para libertos em fins do século XIX, na capital. O mesmo jornal queixava-se comparando a Bahia ao sul do país, o qual “[...] na prática tem concedido aos negros tudo o que a esse respeito os meios a seu dispor lhes permitiam conceder” (HDBN, 1892c). A aproximação não era aleatória com o jornal em questão, no qual Manuel Querino era redator e Deoclecio oferecia seus serviços. Além do debate sobre a discussão dos libertos, havia a oferta do curso noturno de primeiras e segundas letras para os artistas e operários, cujo professor seria Damião da Hora.

Deoclecio também esteve presente e foi citado em mais de uma ocasião em que teria a posse da palavra num evento com a Sociedade Monte Pio dos Artífices e da Sociedade Beneficente dos Alfaiates, circunstância em que usou da palavra ao lado do Sr. Francisco Lourdes e atuou como o lente representante da Escola Normal de Caetité, recitando, ainda, inspirada poesia (HDBN, 1898b). Salvador e Caetité encontravam-no como liame.

Até aqui, sua trajetória apresenta um professor, um redator e um homem das letras. Antes da nomeação para Ilhéus, em 1913, Deoclecio requereu inspeção de saúde e pediu uma licença de 3 meses (HDBN, 1912a). Esteve nos mesmos espaços, seja como orador, convidado ou ouvinte de Manoel Querino9 e de Cosme de Farias. E, em pelo menos seis cidades diferentes da Bahia, foi professor em um dado espaço de tempo. Em três delas, foi redator de jornais locais, ao mesmo tempo que era professor público: Caetité, Valença e Ilhéus.

Acompanhar a trajetória de Deoclecio, portanto, exige uma triangulação de fontes e uma alargada discussão sobre conceitos de itinerários docentes e de intelectualidade negra que representem a sua ampla circulação por muitos espaços que seriam supostamente restritos a pessoas de sua cor e profissão, ainda que ele demonstre integração, permitindo pensar que “[...] todo grupo de intelectuais organiza-se a partir de uma sensibilidade ideológica ou cultural comum e de afinidades que alimentam o desejo e o gosto de conviver” (Sirinelli, 2003, p. 246). Não podemos afirmar se no estado baiano era prática costumeira tal circulação, devido à precariedade da profissão docente, levando-o à transferência, ou ainda, se foi sua intenção deliberada. Contudo, é notório que ele encurtou espaços pela comunicação e utilizou-se de saberes circulantes, vivendo experiências na docência em locais litorâneos, como a Ilhéus cacaueira; no sertão, como Caetité, e na capital, Salvador, enquanto espaço no qual buscou formação sem, no entanto, eximir-se da linha de frente de embates na educação. Deoclecio tornou-se um elo entre as demandas, as lutas ideológicas e políticas, as publicações nos impressos de elites de norte a sul da Bahia com os quais fazia parceria, ouvia, publicava e, sobretudo, dialogava.

Fonte: Mapa do Estado da Bahia em 1927 (1927).

Figura 1 Mapa do estado da Bahia em 1927 - Itinerários de Deoclecio Silva. 

Na Figura 1, a seta amarela indica os seis lugares da Bahia, incluindo a capital, onde o nome de Deoclecio circulou, foi citado como professor ou autor de poesia e texto, ou como lente da cadeira, desde a Escola Normal de Caetité, a Escola Complementar de Ilhéus, até a Escola de Meninos de Jequié, Cachoeira e Valença. Cabe ainda em sua trajetória profissional a inclusão de textos enviados ao Correio de Aracaju, em 1911, como correspondente10.

Deoclecio é a personificação do que discute Silva (2019) ao perscrutar a trajetória do professor Álvaro Palmeira, analisando os prováveis lugares de sociabilidade possibilitados pela função docente, e ao enfatizar a necessidade da observância das redes de sociabilidade como traços de uma trajetória emblemática e extensa.

Em julho de 1913, prestes a ir a Ilhéus, participou do 3º Congresso Brasileiro de Instrução Primária e Secundária, com a tese intitulada Qual dos modernos processos de ensino o que mais distancia o ensino da língua vernácula do ensino da gramática? Nesse mesmo ano, publicou no Jornal de Notícias, nas edições dos dias 16 e 23 de janeiro, dois artigos: ‘Educação dos sentidos’ e ‘A educação moral’. Cumpre retroceder alguns anos no percurso de Deoclecio para nos determos sobre suas iniciativas políticas no ano de 1911, em Valença. Ali integrou-se, pela terceira vez, a um nicho de intelectuais e compôs a redação de mais um jornal, a Voz do Operário (HDBN, 1911b). Valença vivia o furor da modernização republicana com a Companhia Industrial, que absorveu 1.200 operários entre homens e mulheres, e com a criação da vila operária e do investimento inglês. O docente e seu cargo no jornal não podem ser analisados separadamente. Sua escrita jornalística trouxe inspirações ao professor enquanto lecionava. Sua produção foi intensa. Promoveu debates tematizando a educação sob as lentes e penas do redator-chefe. Sem melindres, discutiu largamente em prosa a Instrução Pública, a condição do homem sertanejo, citando a abolição da escravidão e os sofrimentos cotidianos da população pobre e em idade escolar. Em uma de suas poesias, falou sobre Sabino Vieira, na Gazeta de Notícias da Bahia, em 1912 (HDBN, 1912a).

Fonte: Elaborado a partir de dados da Hemeroteca Digital - FBN.

Quadro 1 Textos publicados na Revista do Brasil (BA). 

Além destas publicações citadas no Quadro 1 acima, difundidas em impressos baianos, encontramos o nosso intelectual no jornal carioca O Malho, de 1910, no qual publicou o poema ‘O pântano’, como ‘Retribuição a Sabino Silva’, e assinou como autor oriundo de Cachoeira, Bahia (HDBN, 1910b). Impressiona esse trânsito entre as cidades, os contatos com outros intelectuais, o acesso à publicação de seus textos e o seu tom crítico. Nesse mesmo ano, esteve no gabinete do presidente da República, no palácio do Rio Negro, em Petrópolis (HDBN, 1910c), demonstrando prestígio e circulação em diferentes grupos sociais.

Sua inserção jornalística não cessou e, em seguida, publicou o poema ‘O verme’, o qual dedicou a Cícero Mendes, assinando como Valença Bahia, em 02 de agosto de 1911 (HDBN, 1911c). Tanto a Sabino Silva quanto a Cícero Mendes cabem outras inserções como personagens que ultrapassariam os limites deste texto11.

Ainda em 1911, na coluna intitulada ‘De tudo... um pouco!’, voltou a tematizar o povo baiano, o sertão e a instrução, ressaltando, em tom de denúncia, a politicagem e a situação dos trabalhadores “[...] acostumados ao trabalho da gleba, de cujas mãos houve quem arrancasse as escolas que o espírito culto de S. Exa. ergueu para a instruccção dos filhos dos campônios” (HDBN, 1911d). Longe de neutralidades ou apartidarismos, na edição seguinte, Deoclecio publicou outro texto, destacando questões similares sobre votos, políticos e a relação com a capital do estado. A coluna foi particularmente especial na edição ‘1º de Maio’, de 1912. Nesta ocasião, não faltou ao professor e escritor a exposição de suas ideias de classe, civilização, povo baiano, seus costumes e a relação entre o operariado baiano e J. J. Seabra (HDBN, 1912b). A influência de Deoclecio atravessava a docência e a escrita na Bahia. Suas participações pessoais em movimentos e manifestações políticas eram noticiadas na imprensa carioca, num período em que a cidade do Rio de Janeiro era a capital do país, considerada uma das mais importantes para a nação brasileira (Almeida, 2020). Demonstrando o prestígio político do intelectual analisado, O Século, em 1912, descrevia uma grande manifestação popular ocorrida na capital em homenagem “[...] ao Marechal Hermes, ao dr. Seabra e ao general Sotero de Menezes [...]”, na qual foram oradores os srs. Raphael Pinheiro e Deoclecio Silva (HDBN, 1912c). A circulação de Deoclecio pela Bahia é de fato impressionante. Isto nos faz supor que seu universo intelectual tenha sofrido diversas influências, bem como entusiasmado outros professores em seus discursos proferidos e nas suas escritas nas distintas regiões da Bahia. Até mesmo a região sudeste da Bahia estaria incluída nos itinerários de docência de Deoclecio se ele não tivesse se ausentado da cadeira de Jequié, como reportou a Gazeta de Notícias da Bahia. Em 1912, foi informado ter sido declarada vaga a cadeira de segunda classe do sexo masculino, da cidade de Jequié, por ter se ausentado dela sem licença, desde o dia 01 de agosto, assim queixava-se uma nota sobre a instrução pública (HDBN, 1912d).

As relações e redes de sociabilidade do intelectual Deoclecio o colocavam em um lugar de distinção social e política. Isto se exemplifica com evidência em um episódio destacado na sociedade baiana. Na ocasião, houve uma homenagem para o comandante da guarda civil, o Major Justiniano, e, na manifestação de apreço em Salvador, a Gazeta de Notícias destacou o nome de Deoclecio na lista dos oradores. Novamente ele teve a oportunidade de diálogo com aquele seleto grupo no distrito de Brotas, na capital. O jornal destacou que a casa do manifestado estava cheia de ‘pessoas gradas’, expressão corriqueira para referir-se aos sujeitos de destaque econômico e político. Neste mesmo evento, o professor Roberto Correa foi orador oficial, assim como o Major Cosme de Farias12 juntamente com Deoclecio Silva, os quais foram aplaudidos (HDBN, 1912e). Nesta nota, é possível mapear a presença do professor entre os proeminentes intelectuais da sociedade baiana.

Analisando as produções de Deoclecio, emerge a ideia de raça, do negro e do trabalhador, assim como a de educação e de racialização. Todas aparecem com robustez nas matérias publicadas por Deoclecio no jornal Voz do Operário. Enquanto publicava poemas na Revista do Brasil, também escreveu textos provocadores, como o intitulado ‘Simeão’. Neste texto, Simeão, a personagem, foi descrito marcado por infortúnio de vida e morte, mesclando a realidade. Há ainda no texto uma homenagem e alguns trechos que dão a entender ao leitor tratar-se de uma metáfora acerca do que o professor intelectual pensava sobre raça, trabalho e o corpo negro.

Fonte: Bahia Ilustrada (1911).

Figura 2 Professor Deoclecio Silva 

Os itinerários e vínculos profissionais do professor (Figura 2), que era casado e tinha seis filhos, sofreram algumas mudanças. Sabe-se disto pelas pistas de seu texto no jornal em comparação com outro no qual escreve e assina como professor complementar de Ilhéus. A mudança geográfica conduzia Deoclecio para o terceiro epicentro baiano de economia, influências culturais e redes de sociabilidades. Numa análise dos temas que abordou no jornal O Operário, é possível ler nas entrelinhas que o professor alinhava-se com ideias próximas ao universo dos trabalhadores e suas vicissitudes. Em 1911, os títulos de seus textos são sugestivos de um autor crítico, de refinada sagacidade na escrita e no tom irônico, apresentando queixas no texto intitulado Grammatiquices - 23 de abril de 1911, José de Alencar - 06 de maio de 1911 e 14 de maio de 1911.

Em 1910, em Valença, assumiu, junto com a cadeira de ensino, a redação de um jornal republicano. Também adentrou os espaços mais politizados da cidade, como a Loja Maçônica Caridade e Luz, em 1911. O Operário narrou um episódio envolvendo Deoclecio no Cinema de Valença. Segundo o articulista, os bilhetes foram esgotados e, além do povo assistir a uma série de fitas cuidadosamente escolhidas, um dos intervalos foi marcado pelo discurso de Deoclecio. O colega jornalista o descreveu como amigo, correligionário, professor, redator daquela folha; este ainda relata que, em nome da Loja, Deoclecio agradeceu a magna concorrência e “[...] foi ouvido religiosamente por espaço de vinte minutos, sendo, por último, aplaudido [...]” e, por fim, “[...] dispensou prêmios às creanças pobres e estudiosas das escolas desta cidade, os quaes contaram de entradas gratuitas e localização distincta” (HDBN, 1911a). Há nesta passagem muita representatividade, além do seu empenho em prol da ajuda a alunos pobres. Alberto destaca como os intelectuais se aproximam das lojas maçônicas, das sociedades literárias, sociais e recreativas e de uma imprensa negra ativa que era a usina do pensamento afro-latino-americano (Alberto, 2017). Observa-se que neste tempo decorrido Deoclecio já acumulava, além da docência, a redação do jornal, escrevia poesias, era membro da Maçonaria, era orador e fazia parte do Partido Republicano de Valença. A circularidade de saberes movidas por ele parecia estender-se à família. Cyphisia Silva, filha de Deoclecio publicou um conto no jornal que carece ser analisado com mais profundidade. O conto, intitulado ‘Nahyda’, foi publicado no jornal A Ordem, de Cachoeira, em 1911. Além do mais, para Cyphisia, ter como inspiração o pai intelectual certamente foi fundamental para introduzi-la à escrita. Outro fato apurado é que Cyphisia era leitora assídua e enviava respostas das anedotas infantis de um dos jornais de grande circulação para crianças, O Tico Tico; pelo menos em duas ocasiões, a jovem enviara soluções de enigmas e participou de concursos promovidos pelo jornal infantil (HDBN, 1906).

Outro ponto de destaque na trajetória de Deoclecio foi sua participação na Liga Operaria Bahiana, a qual funcionava como agremiação para a instrução gratuita; inclusive, ele esteve atuante na sessão em que ficaram resolvidos a comemoração modesta do Dia do Trabalho e o desejo de publicar um órgão de imprensa para defesa dos interesses da Liga. Além disso, ele foi copartícipe neste grande salto na direção das camadas pobres, aproximando-as dos espaços de escolarização, defendendo a instituição da Liga com aulas “[...] nocturnas e gratuitas, para ambos os sexos que funcionariam numa casa à ladeira da Palma” (HDBN, 1913a). Importa nesta notícia a aplicabilidade do método indiciário para ler os nomes dos copartícipes ao lado de Deoclecio, como afirmação de suas escolhas políticas e ideológicas ao arrolarmos ao seu os outros nomes envolvidos. Na diretoria, nesse ano, estavam Lourenço Conceição, Conceição Menezes e Elyeser Lemos e, como auxiliares, os professores: Deoclecio Silva, Alberto Assis, João Damasceno Viração, Correia Raposo, o bacharel em Letras Apollinario Baptista, Adolpho Conceição, João Varella e Antonio B. Silva.

Fonte: HDBN (1913b).

Figura 3 A Liga Operária e o Congresso Brasileiro de Instrução. 

Nos nomes citados, como se observa na Figura 3, embora não se possa identificar a cor dos professores, os negros, além de Deoclecio, estão presentes, como Alberto de Assis. Pesquisar um intelectual em fins do século XIX e início do XX é adentrar o terreno das representações e leituras das minúcias que porventura indicam aspectos como quais seriam suas filiações ideológicas, sua biografia e quais ressonâncias lhe dão o status de intelectual numa escrita e pesquisa históricas que associam diretamente, quase como sinônimos, o intelectual a um homem branco. Há ainda outros limites alarmantes em termos de sentidos, como a estreita associação entre o objeto de pesquisa ‘o intelectual’ como natural filiação teórica do pesquisador à História Econômica ou Política. No entanto, é no campo da História Social da Educação que repousam biografias, trajetórias e intelectualidades dissidentes que não se enquadrariam nos padrões do senso comum. Primeiramente na questão da cor, os intelectuais são negros, pardos ou não brancos.

De modo geral, estes intelectuais não têm origem nas truncadas relações familiares e nas posses de bens e terras. São trabalhadores, com escolaridade, e que, além de atuar ou não na educação formal, tiveram participações ímpares mesmo sem publicações de impressos, notas de jornais ou expressivas publicações literárias. O alargamento do conceito de intelectual e a análise dessas biografias enquadram-se em narrativas contra-hegemônicas que pesquisadores da História da Educação têm realizado na última década. Ademais, concordamos com Muller (2008), a qual notou que, no imaginário social brasileiro, a população negra só teve acesso à escola nos idos dos anos cinquenta e sessenta do século XX.

Encontrar um intelectual negro que atuou na educação na Primeira República exige, portanto, uma redução da escala de observação (Revel, 1998) e do uso das ligações nominativas como os principais descritores na pesquisa por eles, seus familiares e suas redes de sociabilidade. Outro fator de importância incontestável é a leitura de fotografias na qual não somente a compleição física e os aspectos étnicos são revelados e problematizados mas também outros elementos presentes na imagem, as intencionalidades. Deoclecio mobilizou, com a sua trajetória individual, outros sujeitos ou grupos com experiências semelhantes. Inclusive, Hasenbalg (2005) alerta que a posição social não isenta o indivíduo do preconceito - só o torna mais sutil.

Deoclecio como professor da Escola Complementar de Ilhéus

Embora de forma sucinta, é preciso contextualizar a Ilhéus que recebera Deoclecio Silva e sua família para assumir a cadeira da Escola Complementar, o qual, logo depois, assumiu a direção da escola. Nas seções anteriores, destrinchou-se a trajetória profissional de Deoclecio numa multiplicidade de papéis. O ano letivo de 1914 iniciou-se sob a regência de Deoclecio. No plano estadual, ele era um conhecido nome, o professor Seabrista, republicano, pai, redator e orador. Ilhéus fervilhava em notas de apoio ou críticas, especialmente nos jornais entre 1912 e 1916, período no qual o primeiro governo de J. J. Seabra, em Salvador, impactava a política local.

Não era fácil ser negro em Ilhéus em um tempo em que grassava o racismo científico entre elites e políticos brasileiros, determinando os valores dos sujeitos. Ser docente, negro e intelectual na cidade de Ilhéus, no auge das fortunas de famílias brancas, de ascendência europeia e controladoras sociais de comportamentos, ideais de civilização, escolas e jornais locais era um desafio se o sujeito fosse não branco, não descendente familiar de entrada pelo nascimento e sobrenome. Ser rico e ser da elite, ser homem e ser intelectual eram ideias indissociáveis nas primeiras décadas do século XX, em Ilhéus.

Seja o prédio escolar a lecionar, a nomeação ou a exoneração de um professor, estes dependiam dos interesses dos coronéis do cacau e da força destes que, intrinsecamente, estava ligada à posse da terra e ao prestígio social. Existiam dois lados divididos entre Domingos Adami de Sá e Antonio Pessoa da Costa e Silva, grupos opostos chamados de adamistas e pessoistas (Ribeiro, 2001). Logo, para um profissional de fora como Deoclecio, fundamentalmente, seria necessário filiar-se a um grupo, a um periódico e a uma seleção de eventos promovidos ora pela situação, ora pela oposição.

Nas duas primeiras décadas da República, a família Sá esteve no poder, e o lugar foi sucessivamente ocupado pelo coronel Adami, intendente entre 1904 e 1908. Por seu turno, Antonio Pessoa, ao assumir a intendência, encomendou a Francisco Borges de Barros a ‘Memória Sobre o Município de Ilhéus’, mandando escrever a História Local com a versão que lhe convinha. Desse modo, moveu os sobrenomes como peças de seu tabuleiro histórico, citando: os Sá, os Homem Del’Rei, os Adami de Sá, os Lavigne de Lemos, os Cerqueira Lima, os Amaral, sobrenomes pelos quais as relações de poder assimétricas e brancas também determinavam os principais cargos públicos (Ribeiro, 2001).

Os conflitos ideológicos enfraqueceram a força política dos adamistas com o advento de J. J. Seabra ao governo estadual e com a nomeação de intelectuais para a cidade como João Baptista Soares Lopes, em 1912, e Deoclecio Silva, em fins de 1913. A cidade de Ilhéus interpretou o ‘seabrismo’ a seu modo e teve que lidar com uma cultura associativa proletária assustadora aos olhos dos ex-escravagistas, a qual se formava por meio do advento de grêmios, filarmônicas, escolas e clubes. Na Ilhéus de 1913, um docente precisava transitar pelas sociedades operárias e ainda ser professor, como fez com maestria Nelson Schaun13, e como logo entenderia Deoclecio.

A história da educação em Ilhéus, na Primeira República é, portanto, fruto deste cenário racializado e marcado pelos estigmas raciais que adentraram o início do século XX, como analisou Santos (2019), ao refletir sobre as vicissitudes das populações negras nesta Ilhéus marcada pela entrada de intelectuais que chegavam da capital após vastas experiências em associações e incursões de debates no cenário político da capital.

A sociedade ilheense era marcada pela disseminação de escolas primárias isoladas, e construía-se o Grupo Escolar General Osório para inauguração de um símbolo de modernização, civilização e instrução na cidade, a qual, em 1913, foi transformada em bispado, chegando o primeiro bispo em 1915.

Com a experiência obtida na Escola Normal de Caetité e no jornal, Deoclecio estava em Ilhéus quando se deu a criação do Colégio Nossa Senhora da Piedade e do Colégio Diocesano São José, em 1916, e a criação da Sociedade Beneficente Centro Operário, em 1918. O professor sentiu o clima ideológico e político da cidade, a qual também viu nascer a Sociedade União dos Operários Estivadores, adentrando a década de 1920, momento no qual ele já dirigia a Escola Elementar de Ilhéus. Carvalho (2015) mapeou o terreno do mutualismo e da estreita criação de escolas no período, destacando grupos como a Sociedade União Protetora dos Artistas e Operários de Ilhéus e a Sociedade Beneficente dos Artistas e Operários. Na cidade, a Sociedade União Protetora dos Artistas e Operários recorreu ao Conselho Municipal ilheense para obter uma subvenção que deveria ser aplicada no funcionamento de sua escola noturna.

Nas escolas, se aglutinavam a complexidade de significados e as estratégias que o mundo do trabalho criou e mobilizou para assegurar o controle social sobre as populações pobres. Na imprensa da capital, o coronel Misael Tavares foi destaque por ser o ‘abastado fazendeiro e presidente do conselho’ que inaugurou um custoso elegante palacete repleto da ‘elite de Ilhéos’ (FBN, 1915).

Em 27 de novembro de 1913, o Gazeta de Notícias publicou que o professor Deoclecio Silva estava de “[...] facto designado para ter exercício na Cadeira Complementar de Ilhéos” (HDBN, 1913c). Esta nomeação foi confirmada depois, na edição de 29 de novembro. Por iniciativa do professor Deoclecio Silva, realizou-se, pela primeira vez, em Ilhéus, na data comemorativa da passagem da Lei Áurea, a festa da Árvore, estando presentes a totalidade dos alunos das escolas municipais e estaduais, e presidida pelo intendente. Um dos números do extenso programa das solenidades foi a plantação de árvores simbólicas na praça Dr. Seabra (HDBN, 1913c).

Ilhéus viveu a ideia moderna de intelectual. Sob a influência francófona - criticada inclusive por Deoclecio no Jornal de Ilhéus em 1916 -, o intelectual era visto como um homem público que não deveria tomar partido em questões sociais locais. Este intelectual era homem, lia e escrevia. Lia nos jornais sobre as guerras, revoluções e deveria escrever à luz dos valores universais e em consonância com a formação da identidade nacional como uma súmula dos valores burgueses sobre os proletários. As mulheres, como minoria expressiva, dificilmente poderiam ser vistas como intelectuais. Para ser intelectual não branco, era preciso ser homem e ser marcado por uma excepcionalidade que revelaria como raras exceções poderiam ser notáveis. As elites que escreviam citavam exemplos dessas dissonâncias do perfil negro trabalhador analfabeto, das quais, desde a sociedade monárquica, destacaram-se André Rebouças, José do Patrocínio, Francisco de Paula Brito, Cruz e Sousa, Castro Alves, Luís Gama e Machado de Assis. Estes seriam exemplos que coadunam em diferentes proporções, mas com similitudes de posturas intelectuais locais que Deoclecio Silva assumiria tanto na capital quanto no sul da Bahia. Nas palavras de Florestan Fernandes, seria a noção do ‘negro de êxito’ e “[...] com possibilidades reais de mobilidade social ascendente na estrutura da sociedade de classes” (Fernandes, 1972, p. 55).

O professor integrou o Diário da Manhã - jornal de pequeno formato, editado diariamente, sob direção de Inocêncio Cezimbra, e que teve vida efêmera, de 1915 a 1916. Também atuou no Jornal de Ilhéus - Órgão do Partido Democrata, que funcionou de 1912 a 1921. Este periódico, propriedade do Sr. Misael Tavares, teve como diretores Alípio Mota, Antonio Pessoa da Costa e Silva e Deoclecio Silva, este como o correspondente local do Jornal de Notícias, o que marcou sua entrada oficial para um grupo seleto de Ilhéus. Sugerindo observar o que Silva (2019) discute sobre as complexas redes de sociabilidades, interpreta-se o que Deoclecio escreveu na edição do dia 19 de janeiro de 1914, com os seguintes trechos: Segundo Deoclecio, de todas as cidades do Estado, a mais interessante, pela posição em que se acha situada, excetuando a da capital, e o gosto artístico que se revela nas construções, Ilhéus possui a primazia (Campos, 2006). Deoclecio descreveu Ilhéus como uma pequena baía rodeada de morros, com bons edifícios e propriedades invejáveis, públicas e particulares, e que em breve iria funcionar o Grupo Escolar, “[...] o primeiro sem similitude no interior do nosso Estado, e a segunda Bahia” (Campos, 2006, p. 143).

Enquanto Deoclecio exercia a docência em Ilhéus, também disputou um cargo na Associação de Imprensa da Bahia, em 1913, na capital, obtendo 30 votos para a comissão de contas (HDBN, 1913d). A Festa das Arvores em Ilhéus foi noticiada com pompa, conforme o telegrama publicado no Gazeta de Notícias em 18 de maio de 1914. A festividade de iniciativa do professor contou com a presença da ‘mocidade das escolas estaduais, municipaes’ e demais autoridades, o que evoca a importância que Deoclecio aglutinara em torno de sua atividade. Nesta ocasião, compareceram o presidente da Câmara, os deputados, os magistrados, o funcionalismo público e outras ‘pessoas gradas’ e numerosas famílias. De acordo com o jornal, começou por uma conferência no Paço Municipal sobre ‘assumptos patrióticos’, seguindo plantação com a plantação de uma árvore simbólica na praça Dr. Seabra e as ‘distinctas senhoritas belos recitativos’. O articulista Manoel Messias asseverou que “[...] a festa a nível das melhores gênero” (HDBN, 1914). Na concepção da Bahia Ilustrada, ao tratar sobre os mestres da infância da Bahia, a presença de um professor ilustre como Deoclecio, em Ilhéus, era quase um desperdício de seu potencial, e questionou: “Deoclecio Silva - em Ilhéos, é um martyr; mas quem lhe nega a competência, o talento?” (HDBN, 1918). Mártir por ter sido um sacrifício assumir a cadeira da Escola Complementar no sul da Bahia, o lugar geograficamente mais distante da capital?

Suas múltiplas atividades e circulação por entre diferentes meios acadêmicos dão pistas da intensa vida intelectual. Evidencia-se que nenhuma das notas fazem referência à cor ou à biografia. No máximo, no que tange à vida privada, os jornais parabenizam a ele ou a sua família, incluindo sua esposa, Joanna de Carvalho Silva, pela Gazeta de Notícias, em 1914, período no qual que já residiam em Ilhéus. Acompanhar o trânsito de Deoclecio é um desafio, pois nas fontes pululam pistas de seus interesses e de como se dedicava à educação para além da docência. Verifica-se sua presença marcante, e sempre como orador ou apresentando ideias, como nas Conferências Pedagógicas na Bahia, em 1915, identificado como professor de Ilhéus na capital. Podemos inferir que, a esta altura, o professor já gozava de prestígio na capital, e o evento nos faz supor que ele fora convidado para expor suas ideias (HDBN, 1915). Não é de estranhar que viajasse, portanto, de Ilhéus até o Rio de Janeiro para participar de um evento na Federação Operária, ocorrido na Praça Tiradentes, no Sindicato dos Sapateiros, em 1917. Na ocasião, podemos pontuar, dentre as ações de Deoclecio, a leitura de um manifesto, ao lado de Maximiano Macedo, Marcos de Brito, dr. Lustosa de Aragão e de muitos operários que se queixaram pedindo proibição de ‘entrada de creanças analfabetas até 14 anos das fabricas’, além da campanha dos operários “[...] pela leitura dos jornais” (HDBN, 1917). Era neste lugar de mobilização política que ele circulava por entre suas aulas.

Considerações finais

Ao final da Primeira República, um jornalista baiano concluiu, numa reportagem assinada com o pseudônimo de Alberti Borgia, no Etc. (BA), sobre a intelectualidade em Ilhéus, que “[...] esta cidade [é] de muitos fazendeiros e poucos intellectuaes [...]”, e inclusive mapeou para o leitor quem seria o seleto grupo: “[...] os intellectuaes de Ilhéos reduzem-se a quatro: Carlos Monteiro, Octávio Moura, João Evangelista de Oliveiras e Sosigenes Costa [...]”, este último “[...] decididamente nunca será fazendeiro de cacau” (HDBN, 1930). Em edições posteriores, o autor da coluna se identifica, nada menos, como Jorge Amado, afirmando ser seu pseudônimo, e continuou a descrever Ilhéus sob o prisma da modernidade e intelectualidade na coluna Causos & Coisas. De fato, Jorge Amado não citou Deoclecio em sua conta. Tampouco mais quatro intelectuais com o perfil dele nestes termos. Faltava-lhes sobrenome ou algo a ver com sua cor. Mas quem pareceu mesmo entender de Deoclecio foi Thales de Azevedo com As elites de cor (Azevedo, 1955), texto em que explicou o processo de ascensão social de negros e mulatos intelectuais na Bahia da década de 1950, mas reportando-se para esse período.

Seja comunismo, integralismo brasileiro ou fascismo internacional, cabia ao dito intelectual passar ao largo das ideias de inclusão popular de maioria afrodescendente. A posição pública de um intelectual deveria ser, em questões gerais, pública, sobretudo se tivesse a oportunidade de ser orador oficial em nome desses valores. A vinculação direta às lutas políticas só marcaria o cenário ilheense décadas mais tarde. Ao entendimento construído sobre ser intelectual, caberia ser erudito, acadêmico, mas o preço seria ter pouca ou nenhuma intervenção na sociedade. Não podemos ignorar que estes sujeitos liam os jornais, sabiam as possibilidades de ocupar outros espaços dentro das estratificações sociais. Podemos atribuir a Deoclecio o conceito de intelectual negro aos modos do que faz Silva (2019), quando esmiuça metodologicamente as ideias de Sirinelli. Num texto posterior, Sirinelli (2003) contempla um traço muito singular de Deoclecio, que foi o de aproximar-se da imprensa, dos jornais e do mundo dos que escreviam seus pensamentos onde quer que tenha sido nomeado como professor público: Caetité, Ilhéus ou Valença. Isto vai ao encontro do que Sirinelli (2003, p. 248) explica sobre o meio intelectual, o qual constitui, ao menos para seu núcleo central, um “[...] pequeno mundo estreito, onde os laços se atam, por exemplo, em torno da redação de uma revista ou do conselho editorial de uma editora”.

Esta era a mais politizada forma de aliar sua intelectualidade ao exercício docente. Pode-se aventar as possibilidades de leituras raciais em Deoclecio em suas produções, mas suas condições étnicas falam por si: homem negro nascido no período da escravidão e que, após a abolição, foi à capital como primeiranista da Escola Normal de Homens; além disso, como ex-normalista, chegou à condição de um profissional gabaritado. No ano de 1927, é possível encontrar o professor Deoclecio em Ilhéus como professor público (HDBN, 1921).

Pluralizam-se as experiências concretas deste professor não somente por exercer a docência em lugares distintos mas também pela ação e a reflexão sobre uma circularidade cultural que não se encerrava com a presença física. Na verdade, ao se seguir os fios de Ariadne, tendo os nomes como principal elemento de orientação (Ginzburg, 2006), mais quatro intelectuais negros de pele retinta e ações ousadas entrarão em cena na História da Educação, consagrando a trajetória de cinco sujeitos, pretos, intelectuais e com versões negras dos fios de Ariadne.

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1 Termos pelos quais ficaram conhecidos os partidários e apoiadores de grupos rivais ligados às famílias com sobrenomes Adami ou Pessoa que se alternaram no poder político local.

2O colégio N. Sra. da Piedade em Ilhéus foi fundado em 1916 pelas freiras ursulinas e, em 1919, foi equiparado à Escola Normal da capital, formando as filhas das elites locais.

3A ideia de paternalismo é um princípio de Thompson (1998).

4A imprecisão do ano de nascimento e morte deve-se ao fato do acesso ao arquivo no APEB - Arquivo Público do Estado da Bahia ter sido suspenso em virtude da pandemia. Apenas a data do aniversário, 11 de maio, é citada nos jornais.

5Para saber mais sobre este grande intelectual do sertão, ver: Santos (2017).

6Informações obtidas no site oficial do Projeto Aldir Blanc: http://www.cultura.ba.gov.br/2021/03/18889/LeiAldirBlanc-Acervo-digital-e-criado-em-homenagem-ao-Professor-Alfredo-Jose-da-Silva.html.

7Para citar esta edição especifica sobre Deoclecio, no contexto da Revista da Escola Normal de Caetité, além desta edição, podemos encontrar as demais citadas e debatidas na pesquisa de Silva (2020).

8Manuel Raimundo Querino (1851-1923) foi um importante professor intelectual na História da Bahia. Em 1923, o artigo de Querino, intitulado ‘Os homens de cor preta na história’, foi publicado na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (48), 353-363). Neste artigo, ele fez um estudo sobre a biografia de 38 homens negros que, na sua concepção, tiveram uma importância significativa para a história da Bahia e do Brasil.

9Ver: Leal (2020).

10Esta informação consta na Página do Grupo de Pesquisa - GEPEC, o qual oferece uma minibiografia de Docentes Negros da Primeira República, incluindo Deoclecio Silva. Destaca que ele atuou como colaborador do Jornal Correio de Aracaju, contando com um artigo publicado e intitulado ‘O saber ler e o escrever’, na edição de nº 532, datada de 05 de março de 1911 (https://modosdefazer.org/educadores-baianos-quem-sao/).

11Ao longo da trajetória de Deoclecio, ele citou, produziu ou trabalhou com um elenco emblemático de nomes que será explorado com mais vagar em outros textos e contextos, dada a complexidade da rede.

12Em 1915, fundou a ‘Liga Baiana contra o Analfabetismo’, entidade que funcionou até alguns anos depois de sua morte. Publicou panfletos, artigos e cartilhas, fundou e manteve numerosas escolas, em Salvador e outras cidades baianas.

13Para saber mais sobre este professor de grande fama no período, ver: Schaun (1999, 2001).

18Rodadas de avaliação: R1: três convites; nenhuma avaliação recebida. R2: dois convites; duas avaliações recebidas

19Como citar este artigo: Santos, C. B. S. Do sertão ao sul baiano: sociabilidade, circularidade e atuação do intelectual negro Deoclecio Silva (1889-1927). (2022). Revista Brasileira de História da Educação, 22. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v22.2022.e216

Recebido: 19 de Novembro de 2021; Aceito: 01 de Março de 2022; Publicado: 01 de Julho de 2022

E-mail: cbssantos@uesc.br.

Cristiane Batista da Silva Santos é historiadora, pesquisadora das questões étnico-raciais, professora Adjunta do DCIE - Departamento de Ciências da Educação da UESC e do PPGE - Mestrado Profissional em Educação, membro do GRUPPHED - Grupo de Pesquisa em Política e História da Educação-, coordenadora da Linha 3 intitulada "População negra na Bahia: História da Educação e Ensino de História " com o Projeto de Pesquisa Histórias da Educação, Racialização e Trabalho entre a escravidão e o pós-abolição no sul da Bahia. E-mail: cbssantos@uesc.br https://orcid.org/0000-0002-7582-6582

Adlene Arantes E-mail: adlene.arantes@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-7007-0237

José Gonçalves Gondra E-mail: gondra.uerj@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-0669-1661

Surya Aaronovich Pombo de Barros E-mail: surya.pombo@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-0669-1661

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