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Revista Brasileira de História da Educação

versión impresa ISSN 1519-5902versión On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.23  Maringá  2023  Epub 30-Jun-2023

https://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e267 

DOSSIÊ

A Itália também teve seu Museu South Kensington: a coleção didática do Museu Real Industrial de Turim de 1862

Francesca Davida Pizzigoni1  * 
http://orcid.org/0000-0002-9117-4027

1Università di Torino, Turim, Itália.


RESUMO

Resumo: O artigo pretende trazer à luz uma descoberta recente no que diz respeito à história dos museus pedagógicos italianos: 12 anos antes da abertura oficial do que é reconhecido como o primeiro Museu Real de Instrução e Educação, inaugurado em Roma em 1874, em Turim, uma seção do Museu Real Industrial foi dedicada à reunião de livros e materiais didáticos para as escolas primária e secundária no final de 1862. Essa coleção foi uma expressão direta da Exposição Universal de Londres, de 1861, da qual os Comissários Reais retornaram com a ideia de reproduzir o South Kensington Museum. Nesse sentido, o artigo reconstrói a história da coleção e a sua exposição, acompanhando a sua evolução até o seu desaparecimento. O objetivo é oferecer uma parte significativa da história do patrimônio histórico-educativo na Itália e da sua musealização

Palavras-chave: museu educativo; objetos educativos; escola primária; escola secundária

Abstract:

The article aims to bring to light a recent discovery with respect to the history of Italian pedagogical museums: 12 years before the official opening of what is recognized as the first. Since 1862, in Turin, a section of the Royal Industrial Museum has been dedicated to the collection of books and teaching materials to the primary and secondary schools. This collection was a direct expression of the London Universal Exhibition of 1861, from which the Royal Commissioners returned with the idea of copying the South Kensington Museum. The article reconstructs the history of the collection and its exposure, following its evolution until its disappearance. The aim of this article is to offer a significant piece of the history of the historical-educational heritage in Italy and its musealization.

Keywords: educational museum; educational objects; primary school; secondary school

Resumen:

El artículo tiene como objetivo traer a la luz un descubrimiento reciente con respecto a la historia de los museos pedagógicos italianos: 12 años antes de la apertura oficial de lo que se reconoce como el primero. Desde 1862 en Turín, una sección del Museo Real Industrial se dedicó a la colección de libros y material didáctico dedicado a la escuela primaria y secundaria. Esta colección fue expresión directa de la Exposición Universal de Londres de 1861 de la que regresaron los Comisionados Reales con la idea de copiar el Museo de South Kensington. El artículo reconstruye la historia de la colección y su exposición, siguiendo su evolución hasta su desaparición. El objetivo de este artículo es ofrecer una pieza significativa de la historia del patrimonio histórico-educativo en Italia y su musealización.

Palabras clave: museo educativo; objetos educativos; escuela primaria; escuela secundaria

Introdução

Na Itália, é considerado como o primeiro museu pedagógico o Museu Real de Instrução e Educação inaugurado em Roma em 1874 (Dal Pane, 1961; Laeng, 1993; Covato, 2010; Cantatore, 2019; Sanzo, 2020). No entanto, recentemente, veio à luz a existência precedente de uma ampla coleção didática em exposição ao público com o objetivo de mostrar o progresso no campo da instrução e da educação em nível internacional.

As pesquisas de fato trouxeram à tona como a Itália também teve seu South Kensington Museum, ou melhor, um museu que, diretamente inspirado no modelo londrino, mostrou ao público não apenas os instrumentos mais inovadores relacionados à ciência e à tecnologia, mas também à educação, assim como aconteceu por meio da Seção Educacional do museu inglês. Se de fato esse modelo é hoje considerado como precursor dos museus pedagógicos (Boyer, 2009; Benito & Hernández Díaz, 2002; Nuzzaci, 2002; Cossetto, 2002), de certa forma podemos dizer que a Itália, imediatamente após a unidade nacional, ocorrida em 1861, teve seu próprio museu pedagógico. Esse modelo estava localizado em Turim (então capital da Itália), no Royal Industrial Museum, fundado em 18627 por Giuseppe Devincenzi8 e Gustavo di Cavour9, quando retornaram da Grande Exposição de Londres, que aconteceu no ano anterior, da qual participaram como Comissários Reais do Reino da Itália.

Ao retornarem da Exposição, Devincenzi e Cavour trouxeram 700 caixotes repletos de materiais diversos (Giacomelli, 2010), entre os quais estão uma coleção didática composta por volumes dedicados ao ensino elementar e objetos doados por vários expositores internacionais. A intenção explicitada era justamente reproduzir na Itália o modelo do South Kensington Museum, visitado várias vezes por Devincenzi, que, por sua vez, saberia

disseminar alguns conhecimentos necessários entre todas as classes e preparar os jovens desde as escolas primárias aos institutos técnicos, para encontrar reunidos em um departamento especial do Museu todos os sistemas, métodos, dispositivos e livros relacionados à instrução industrial dos jovens em qualquer idade. A todos aqueles que dão ou querem dar trabalho ao ensino em geral e ao ensino técnico em particular, um estudo que em pouco tempo possam vir fazer no Museu, e especialmente neste departamento, deve ser muito vantajoso (Devincenzi, 1865, p. 11).

É evidente que o autor faz referência, especificamente, à Seção Educacional do Museu de Londres, inaugurada em 1857. Além disso, indica como os fundadores do museu de Turim pretendiam dar vida a uma instituição igualmente capaz de apoiar a instrução desde as séries iniciais. Por outro lado, o fato de o Real Museu Industrial de Turim, ou pelo menos uma parte das suas coleções, ser considerado o primeiro museu pedagógico italiano também é reconhecido por aquele que viria a ser Ministro da Educação, Ruggero Bonghi, que, ao fundar em Roma em 1874 aquilo que, até hoje, foi estudado como o primeiro museu pedagógico italiano, explicita como na realidade aquela não era a primeira coleção didática-pedagógica na área:

A ideia de abrir um Museu de Instrução e de acolher tudo aquilo que é relacionado à escola não é novidade na Itália. A exposição de Londres, de 1862, já lhe deu a oportunidade de um primeiro ensaio; uma vez que uma coleção de livros e objetos como a que aqui nos referimos faz parte da coleção mais abrangente e genérica do Museu Industrial de Turim (Giornale del Museo d'Istruzione e di Educazione, 1875, p. 5).

A história dessa realidade italiana tão precoce, dedicada à exibição de materiais didáticos, veio à tona recentemente graças à redescoberta e à localização de caixas dentro de um depósito da Biblioteca do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Turim, pertencente a um fundo de livros históricos dedicados à aprendizagem da leitura e da escrita e aos manuais do ensino elementar que ainda carregam o selo do Museu Real Industrial de Turim. Esse fundo, juntamente com os depoimentos de Bonghi, estimularam o início de uma investigação, que faz parte da linha de estudo que visa investigar a relação entre as Exposições Universais e o nascimento dos museus pedagógicos e das coleções nacionais (Lawn, 2009; Lawn & Grosvenor, 2009; Escolano Benito, 2012), com o objetivo de reconstruir essa realidade, até então desconhecida.

A formação das coleções do Real Museu Industrial

Ao retornar da Exposição de Londres de 1862, Devincenzi e Cavour trouxeram, como previsto, 700 caixotes repletos de materiais de diferentes gêneros (Giacomelli, 2010). Esses caixotes permaneceram fechados, aguardando um posto definitivo que só foi encontrado em 1869, quando o Real Museu Industrial pôde ocupar o grande edifício no centro de Turim, deixado vazio pela mudança da sede do Ministério da Guerra (a cidade, entretanto, perdeu o papel de capital da Itália, que passou de fato para Florença e, depois, definitivamente para Roma).

Na ausência de um inventário que nos permita compreender o conteúdo desse material trazido de volta à Itália, existem duas fontes que nos ajudam a reconstruir o núcleo original do museu e a entender como, desde a constituição da coleção inicial, uma grande atenção foi dada ao material escolar: em primeiro lugar, as memórias de Devincenzi sobre os primeiros momentos de coleta dos objetos e os motivos que o levaram a criar o museu; e, em segundo lugar, o catálogo da coleção didática entregue para a impressão no mesmo ano em que o conteúdo das caixas foi exibido pela primeira vez e cujas páginas são, portanto, uma expressão fiel da primeira coleção original. Dessa maneira, nos parágrafos seguintes, o conteúdo da coleção será reconstruído. Para tanto, examinaremos os dois tipos de fontes mencionados respectivamente.

Devincenzi, que permaneceu após a morte de Gustavo di Cavour, em 1864, a única testemunha direta dessa operação para criar a coleção que formou o núcleo fundador do Museu Real da Indústria, foi nomeado Diretor. Em suas memórias, ele recorda como considerou seu dever "fazer todo o trabalho para aproveitar essa grande oportunidade" e sentiu a responsabilidade de fazer parte daquela Comissão Real que enviou uma delegação de 43 homens a Londres para "pesquisar como promover na Itália as indústrias individuais e alguns ramos da educação e da instrução pública” (Devincenzi, 1865, p. 21). O desenvolvimento industrial e a instrução pública foram vistos como elementos não só paralelos, mas também intrinsecamente ligados, desde a constituição da Comissão, a qual foi incumbida de aplicar essa visão dupla. Todos estavam convencidos de que "não há estabilidade política que não dependa da prosperidade econômica" (Comitato Reale, 1863, p. 11) e que, como um silogismo natural na sociedade do século XIX, uma forma de sustentar esse desenvolvimento econômico era potencializar o sistema de instrução e formação.

Devincenzi estuda as soluções adotadas por outros países:

O estudo comparativo dos produtos de todas as nações levou todos os governos a refletir sobre como o desenvolvimento passa pela instrução industrial [...]. A consequência foi a construção de um grande Museu Industrial, o de Kensington em Londres que, pouco a pouco se tornou a base sobre a qual esse maravilhoso sistema de instrução industrial na Inglaterra foi gradualmente construído e estabelecido (Devincenzi, 1865, p. 14).

Por esse motivo, decide "importar" a solução que a seus olhos parecia ser a mais convincente e frutífera para replicar, em Turim, o Museu South Kensington. É evidente e claro o papel que Devincenzi deseja que o Museu tenha para todos os níveis de ensino na Itália e como pretende replicar as atividades e propósitos da Secção Educativa da realidade londrina, cuja contribuição continua a enaltecer no que diz respeito à divulgação da instrução, mesmo elementar:

esse departamento no Kensignton Museum foi o que tanto contribuiu na Inglaterra para difundir os melhores métodos e sistemas de ensino às menores vilas, uma infinidade de pequenos aparelhos, um número muito grande de diagramas, que facilmente colocam sob os olhos coisas que de outra forma seriam impossíveis ou muito difíceis de entender (Devincenzi, 1865, p. 14).

Além de declarar o modelo no qual se inspira e os objetivos a partir dos quais desejava promover o Museu Industrial, o relatório de Devincenzi nos permite entender como ele conseguiu criar a coleção inicial: não quis pedir ao Governo a criação de um museu, mas contou com o que chama de simpatia que viu nos ingleses em relação à Itália:

Tendo, pois, raciocinado com muitos dos meus amigos ingleses, homens eminentes quer para a política, quer para a ciência ou para o exercício das indústrias, e todos de grande autoridade, do meu desejo de estabelecer na Itália um Museu semelhante ao de Kensington e do modo como pretendia construí-lo com contribuições espontâneas, recebi aprovação e incentivo de todos e me comprometo de bom grado ajudar em sua cooperação muito válida, o que eles então fizeram […]. Assim, ao trabalhar com uma circular, na qual expressava quase os mesmos conceitos já aprovados por aqueles meus amigos e talvez mais do nosso país, voltei-me para os líderes industriais, cujos produtos foram admirados principalmente na Exposição. A única condição que coloquei foi que eu não aceitaria contribuições de objetos premiados naquela grande exposição, não devendo servir para comparações e estudos em um Museu Industrial Italiano a ser estabelecido com base no de Kensington (Devincenzi, 1865, p. 15).

As ofertas foram tantas que, segundo o promotor da iniciativa em Turim, ele se viu obrigado a recusar muitos materiais e outros os enviaram uma vez que Devincenzi retornou à Itália. Sem ter gasto nada, exceto o frete, o valor econômico da coleção arrecadada ultrapassou um milhão de liras. Devincenzi estava ciente da excepcionalidade da iniciativa: "uma oportunidade tão favorável não se apresentará para nós novamente" (Devincenzi, 1865, p. 16). Os pequenos custos de envio foram cobertos por meio do fundo relativo às despesas de representação dos Comissários Gerais. Comparado com o fundo total de 1.368.807 liras "destinado a prover aquela Exposição", graças a esse sistema de acordo de cavalheiros, houve economias e, assim, o próprio Ministro sugeriu destinar 259.000 liras decorrentes das economias para "concluir e estabelecer definitivamente este Museu Industrial” (Devincenzi, 1865, p. 16).

Para além das explicações das intenções de Devincenzi que, claramente nos fazem entender o interesse absoluto na constituição de um acervo educativo-didático atento a todas as ordens escolares, ainda seria complexo hipotetizar, com uma boa margem de certeza, quais os materiais contidos nesse acervo inicial coletado em Londres, se as tarefas reais realizadas em Londres pelos membros da delegação e, em particular, pelos dois promotores do novo Museu Industrial Italiano não fossem investigadas. Nessa reconstrução, destacamos que, pela primeira vez na Exposição de 1862, uma sessão separada foi dedicada a "trabalhos e métodos relacionados à educação" (International Exhibition, 1862). Essa, por sua vez, foi dividida em três subclasses, respectivamente dedicadas a: editores; expositores de objetos e equipamentos relacionados com a educação; expositores de brinquedos e jogos. O marquês Gustavo di Cavour foi nomeado jurado para a parte de objetos didáticos e também assumiu a presidência da seção italiana XXIX dedicada à educação e à instrução pública em geral (Cavour & Devincenzi, 1862).

Nessa função, Gustavo Di Cavour não apenas teve a oportunidade de aprofundar, muito de perto, os seus conhecimentos sobre os materiais didáticos e os objetos expostos de outros países, mas certamente teve ocasião para estabelecer laços com os presidentes de outros países indicados para essa sessão expositiva expressamente dedicada à educação, à instrução e aos seus subsídios. É, portanto, bastante plausível que, retornando Cavour de Londres com a ideia já bem desenvolvida de criar um museu, ele se esforçasse para trazer para a Itália, como parte da nova coleção, materiais provenientes da exposição didática.

Em relatório ao Ministro, com o relato do trabalho em Londres, Devincenzi e Cavour fazem questão de especificar que, durante a viagem a Londres, eles estavam muito empenhados em coletar o maior número possível de objetos para serem exibidos ao público italiano: "acreditamos ter cumprido o nosso dever ao lançar as bases de um museu industrial ao recolher um grande número de objetos e coleções na exposição e no exterior” (Cavour & Devincenzi, 1862). Esse compromisso declarado e, de alguma forma, reivindicado, pode certamente ter sido divulgado precisamente no contexto da sessão XXIX da Exposição em que Cavour mais trabalhou, trazendo de volta à Itália parte dos objetos didáticos presentes naquele espaço expositivo.

Ao tratarmos em particular de objetos (e não apenas livros), também emerge a seguinte frase, a qual explica como, nas ideias de Cavour e Devincenzi, era preciso completar a coleção inicial com livros: "aos objetos já colecionados combinando os livros, os estudos dos comissários especiais, teremos o necessário para montar um museu industrial” (Cavour & Devincenzi, 1862, p. 27). Em resumo, acreditamos que fica claro que o Museu Industrial de Turim foi concebido, desde o seu estágio embrionário, como uma realidade na qual uma parte da coleção e da exposição deveria desempenhar as funções que, no futuro, seriam atribuídas aos museus pedagógicos.

A coleção de ensino do museu turinês

Os materiais na posse do Real Museu Industrial eram organizados segundo uma subdivisão, na qual os instrumentos ligados aos laboratórios de um curso de ensino (que também funcionava como escola de formação de futuros engenheiros), concedidos ao museu, eram manuseados pelos respectivos professores, enquanto as “diferentes coleções” eram destinadas a um diretor. Um escrito desse diretor, Gugliemo Jervis, revelou a natureza dessas coleções não relacionadas aos cursos de estudo: em 1869, de fato, ele decidiu publicar os catálogos desses materiais a partir do que chamou de "Coleção Educacional".

Esse material testemunha como o Real Museu Industrial não incluiu em suas coleções apenas textos e objetos estritamente relacionados à educação profissional, como poderíamos imaginar, mas estendeu as suas competências a todos os setores da instrução, desde o primário ao secundário, com uma grande biblioteca de livros complementares e materiais didáticos e também ocupando-se de estatísticas a respeito da população que sabia ler e escrever, bem como de municípios com escolas de ensino primário em seu território, com a presença de creches, ou escolas dominicais e noturnas, bibliotecas populares circulantes e muito mais. Na capa de seu livro, ele declarou que se tratava de "Livros escolares e pedagógicos, e uso para premiações, relatórios de ensino, notas sobre o ensino elementar e secundario" (Jervis, 1869, p. II), não fazendo referência direta à formação técnico-profissional que a própria natureza do Museu sugeria, mas mencionando explicitamente os ensinos primário e secundário.

Em outras palavras, o conteúdo do volume destaca como, na realidade, o Museu Industrial Real de Turim foi equipado com uma biblioteca dirigida a professores da escola primária. O Museu desempenhou, de alguma forma, o papel de centro de pesquisa sobre as condições de educação na Itália e estabeleceu relações internacionais com outras realidades que tratavam da educação.

São as palavras de Jervis que confirmaram que o núcleo que incluía a Coleção Didática em sua publicação fez parte daquele material, o qual, desde a fase inicial de planejamento, era parte do projeto: “foi trazido de volta a Turim pelo comissário real, Devincenzi, uma riquíssima coleção de produtos brutos e manufaturados, juntamente com uma biblioteca de obras técnicas e livros de instrução, que juntos formaram o núcleo do Real Museu Industrial Italiano” (Jervis, 1866, p. 4).

O diretor, em sua publicação, ainda mostrou como o Museu se encarregou de conhecer, monitorar e divulgar a situação da educação primária na Itália por meio de estudos e de estatísticas. Por outro lado, Jervis via a coleção didática do Real Museu Industrial como uma seção separada, com a dignidade de ser independente: “entre as coleções das quais o Real Museu Industrial Italiano é rico, incluido àquelas relativas à educação pública e privada, elementar e secundária, distinta da biblioteca industrial” (Jervis, 1869, p. VI).

Tal coleção, dedicada à instrução, é composta por “uma coleção de livros educativos e meios para facilitar e auxiliar os ensinamentos, que estão atualmente em uso em países mais civilizados” (Jervis, 1869, p. VII). Ao comparar expressamente a seção didática do Royal Italian Industrial Museum de Turim à seção didática do South Kensington Museum, Jervis chegou a dizer mais:

esta coleção encontra quase a única confirmação na análoga estabelecida no Royal Industrial Museum Museu de South Kensington em Londres, a qual […] constitui uma exposição internacional permanente do cuidado e preocupação colocados nos vários países à promover, facilitar e difundir a educação (Jervis, 1869, p. VII).

O prefácio do diretor Devincenzi à publicação de Jervis oferece algumas informações sobre a Seção Didática:

Embora no seu nascimento, a coleção didática existente neste museu, no entanto, já adquiriu tal importância que atraiu a atenção de ilustres e competentes membros do congresso pedagógico, realizado neste outono em Turim [...]. Naquela ocasião, o diretor Jervis, que deu tanto amor à referida colecção e tanto trabalho na sua recolha e organização, aconselhou, de acordo com a Direção, a partir dela começar a ilustração das coleções do Museu, e propriamente daquela parte que inclui a livros, excluídos os relacionados com instrução superior científica, técnica ou especial (Jervis, 1869, p. VIII).

A análise do conteúdo da publicação confirma que os materiais considerados como parte da “Coleção Educacional” são, na verdade, totalmente dedicados às instruções primária e secundária, deixando deliberadamente de fora dessa coleção volumes e materiais relativos aos cursos de especialização em engenharia realizados pelo Museu. A publicação é dedicada exclusivamente aos “livros italianos”, mostrando como é “desta natureza a coleção mais rica do Reino” (Jervis, 1869, p. VIII).

Em outras palavras, o Diretor Devincenzi afirmou, sem medo de negar, que a coleção didático-pedagógica de seu museu era a maior e mais representativa da Itália. O fato de essa coleção educativa estar definida “na raiz” sugere um desejo de futura expansão.

A publicação também abriu a lista de todos os doadores que permitiram a criação dessa parte italiana da Coleção Didática, possibilitando reconstruir as relações do Real Museu Industrial com diferentes realidades. Desse modo, surge uma densa rede de intercâmbio com editores italianos e 36 particulares que contribuíram para a implementação da coleção, incluindo vários professores de toda a Itália, inspetores de educação, prefeitos, párocos.

Em nível institucional, ao lado do Ministério da Educação, o Subcomitê de Nápoles, na Exposição Internacional do ano de 1862, foi listado como doador; a Direção do Real Instituto do Surdo-Mudo de Milão e a mesma instituição de Turim; a Direção do Colégio Asiático de Nápoles; a Direção do Colégio de Artesãos Valdenses de Turim; a prisão militar de Gaeta, a de Savona e a Tábua Valdense de Torre Pellice de Turim.

Além desses, dois doadores institucionais estrangeiros também aparecem: a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira de Londres e a Sociedade Bíblica de Dublin, as quais, no entanto, doaram livros publicados em italiano. O nascimento de vínculos entre o Royal Industrial Museum e esses doadores institucionais pode remontar à própria Exposição de Londres de 1862, em que um dos fundadores do museu presidiu o grupo de expositores relacionados a temas educacionais.

De igual modo, deve ser especificado que o diretor do Museu, Devincenzi, e o diretor Jervis também foram nomeados, respectivamente, Presidente e Secretário do Royal Italian Committee para a participação na Exposição Internacional de Dublin, em 1865. Na ocasião, precisaram lidar com essa “sessão 17”, a qual era dedicada à educação pública. Jervis se refere explicitamente a ela em seu relatório final de regresso a Dublin (Jervis, 1866). Portanto, essa nova possibilidade internacional, ligada ao ensino e à exposição de seus suportes mais atualizados, pode ter sido uma oportunidade para construir novos laços, tanto para os italianos, quanto para os participantes internacionais.

Além da consistência numérica do acervo educativo, a subdivisão (em várias categorias) proposta pelo diretor Jervis é exposta a seguir. O material é interessante para entender a variedade de volumes e temas, assim como para compreender a organização interna que o Museu almejava estabelecer em relação à sua própria coleção educacional:

Table 1 “Coleção Educacional” (1869): tema dos volumes. 

Tema Volumes
Silabários 33
Livros de leitura 71, mais 8 livros de leitura para serem usados como prêmio
Sagradas Escrituras 10
Livros de religião 40, aos quais são adicionados 7 hinos e canções
Livros morais 11
Gramática 31
Composição 14
Língua italiana 10
Antologia 9
Poesia 2
Literatura 13
Retórica 1
Filosofia 3
Livros de memorização [“mnemotécnica”] 1
Gramáticas latinas 9
Língua latina 6
Fábulas latinas 1
Clássicos latinos 11
Sagradas Escrituras 1
Gramáticas gregas 4
Clássicos gregos 1
Gramática alemã 1
Gramática árabe 1
Leituras francesas 3
Gramáticas francesas 5
Antologia francesa 1
Clássicos franceses 2
Mitologia 1
História universal 7
História sagrada 14
História moderna 1
História grega 3
História da Europa 2
História da pátria 14
História da Inglaterra 2
História da Alemanha 2
História da Holanda e Bélgica 1
Biografia 15, mais outros 24 para uso de prêmios e para leitura doméstica
Cosmografia 7
Geografia 28
Geografia sagrada 1
Atlas geográficos 2
Aritmética 40
Contabilidade 2
Geometria 9
Álgebra 2
Trigonometria 1
Mecânica 1
Desenho 10
Conhecimento científico 1
Ciências naturais 2
Física 1
Química 9
História natural 13, aos quais são adicionados 3 volumes como livros de prêmios
Antropologia 1
Geologia 1
Agricultura 2
Teoria musical 5
Música instrumental violão 2, piano 11, violino 1
Cantar 6
Ginástica 1
Higiene 2
Periódicos educacionais 4
Periódicos pedagógicos 3
Didática e pedagogia 38
Relatórios e documentos educacionais 25
Estatísticas do ensino primário e secundário 6

Fonte: a autora (2023).

A impressão que temos dessa lista de quase 700 volumes é que não se trata de um corpus intencionalmente definido a priori; mas, ao contrário, de uma coleção criada de forma autônoma, cuja classificação foi elaborada posteriormente. Parece-nos, com base na observação das doações recebidas gratuitamente de editores e autores, que ela foi construída de forma não heterogênea e que ficou, em alguns aspectos, incompleta ou desequilibrada. A partir de Jervis podemos reconstruir a rede completa de doadores, graças à especificação gravada em cada volume que identifica quem foi o doador (mas na qual não consta a data da doação).

Na realidade, uma pesquisa realizada na Academia de Ciências de Turim permitiu verificar que existem três versões diferentes desse catálogo da coleção didática do Museu Real da Indústria criada por Jervis em 1869, todas publicadas no mesmo ano, pela mesma editora. De fato, ao lado da versão que analisamos dedicada à seção italiana da coleção, um segundo relatório lista todos os livros didáticos pertencentes ao Royal Industrial Museum, em qualquer idioma em que tenham sido publicados e em qualquer país em que tenham sido editados; enquanto o terceiro é apenas um relatório breve, no qual nem todos os títulos dos volumes estão listados, como acontece nos dois outros casos.

A edição completa, por assim dizer, de toda a coleção didática, incluindo textos nacionais e internacionais, ultrapassa 300 páginas, em meio às quais, no entanto, um amplo espaço é ocupado pela coleção de livros italianos que assume o conteúdo da edição que consideramos neste estudo. A legenda é um pouco diferente e lemos “livros escolares e pedagógicos, bem como para uso como prêmio. Relações com o ensino. Notas sobre educação em países individuais” em vez de “sobre educação primária e secundária” na parte final.

Nesse caso, a publicação também permite reconstruir a rede de relações tecida pelo Real Museu Industrial, com a lista de doadores que contribuíram para a criação da Seção Didática. Entre esses, podemos incluir algumas Comissões de representantes de diferentes países na Exposição Universal de Paris em 1867: as Comissões Austríaca, Romena e Saxônica. Em seguida, aparecem as Comissões Nacionais de Educação da Irlanda em Dublin, o Diretor do Departamento de Educação Pública do Cantão de Zurique e o Ministério da Educação Pública da Prússia em Berlim. A especificidade desses doadores mostra como, ainda em 1867, persistia o claro desejo de alimentar a coleção didática dedicada à instrução pública, considerada em todas as suas séries escolares.

Além dessas representações governamentais, há um registro de trocas ativas de materiais, além de associações de caráter religioso, representados pelo Conselho de Educação da Igreja Congregacional em Homerton (Londres), pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira em Londres, pela Sociedade Bíblica Bíblica de Dublin, pela Sociedade Bíblica da França de Paris, pela Sociedade de Livros Religiosos de Toulouse, pela Sociedade de Tratados Religiosos em Londres e, finalmente, pela Sociedade de Promoção do Conhecimento Cristão de Londres.

A esses nomes são adicionados os editores estrangeiros: União das Escolas Dominicais de Londres; Adam e Charles Black de Edimburgo; Giorgio Bridel de Lausanne; Butler de St-Louis na América; Chabers de Edimburgo; Delachaux de Neuchatel; Jules Delalain e filho de Paris; Gall ad Inglis de Edimburgo; James Gordon de Edimburgo; Jarrold e filhos de Londres; Librairie Agricole Bixio e C. de Paris; Longman Green e Roberts de Londres; Macmillan e C. de Cambridge; Oliver e Boyd de Edimburgo; George Routledge e filhos de Londres; Simpkin, Marshall e C. de Londres; e Weal de Londres. Alguns cidadãos particulares, incluindo professores e comerciantes, aparecem entre os doadores, pois parece que alguns volumes de ensino foram doados, diretamente, à título pessoal pelo diretor das coleções do South Kensington Museum, em Londres, na pessoa de Philip Cuncliffe Owen.

A coleção de volumes de “ensino infantil, primário e secundário” é dividida de acordo com os países de onde foram doados, para cada um dos quais Jervis especifica as diferentes línguas impressas. Portanto, temos livros de todos os países, não apenas europeus, mas também africanos, asiáticos e americanos. Os volumes de cada país são divididos de acordo com os conteúdos, propondo a mesma classificação temática que vimos utilizada para o corpus dos volumes italianos. A lista de volumes de cada país é precedida de um breve resumo sobre a situação do ensino primário do país em questão, conforme também indicado no prefácio do Diretor através de uma frase única que diferencia a introdução desta edição da edição anterior.

Na parte final do volume, como já revelado na edição dedicada apenas aos livros italianos, também nesse caso, uma ampla seção é dedicada à “instrução e educação especial de cegos”, a qual é composta por textos da Áustria, Dinamarca, Alemanha e Prússia, Wurtemberg, Grã-Bretanha, Itália, Suécia, Estados Unidos com alfabetos em relevo, tipo móvel, música em relevo, mapas e silabários em relevo e livros de leitura em relevo. Finalmente, uma seção é dedicada à educação especial para surdos-mudos com materiais da Grã-Bretanha e Itália. No total, a coleção de livros dedicados ao ensino ultrapassa as 2.300 unidades.

Exposição de objetos educativos no Royal Industrial Museum

Para obter mais informações sobre a coleção didática e, em particular, sobre os objetos didáticos do Museu Real Industrial, temos que esperar pelo ano seguinte, 1870, quando o novo diretor Codazza decide iniciar a impressão dos Anais. Codazza sucedeu Devincenzi, que renunciou no mesmo ano, em contraste com o decreto de 1869, que redimensionava o papel do Museu (Março, 1984).

Os materiais foram subdivididos em publicações originais, direitos industriais, notícias científicas e industriais; entretanto, a parte didática não foi considerada. Na abertura desses Anais, o mapa da parte expositiva do museu é exposta. A partir desse mapa, podemos depreender que no primeiro andar na sala 7 existia o que chamamos Colecções de meios de ensino (Annali..., 1870). A monografia sucessiva, criada por Codazza a convite do Ministério para apresentar o Museu Industrial na Exposição Mundial de Viena, em 1873, confirma que tal “coleção de materiais didáticos” foi dedicada ao ensino a partir do pré-primário, representando aquela “Seção Educativa” do Museu, ou melhor, daquele acervo que representava um verdadeiro Museu da Educação, como Devincenzi tanto desejou desde o início.

Em seu texto, Codazza se refere ao museu chamando-o de “estabelecimento instrucional” e faz questão de especificar que

enquanto o Ministério da Educação trabalhava para melhorar o ensino superior prático dos Engenheiros com a criação das escolas de aplicação e do Instituto Técnico Superior de Milão, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, interpretando as necessidades mais sentidas do país, dedicou incansavelmente cuidados e estudos para promover, divulgar e melhorar não só o ensino técnico superior com o sincero favor deste Museu Industrial […] mas também o primário e o secundário (Codazza, 1873, p. 4).

O novo Diretor deseja, dessa forma, apresentar o museu, recordando, já nas primeiras páginas, o seu compromisso com o ensino primário e secundário, sublinhando como essa parte da coleção estava prevista desde os primeiros momentos de fundação do museu. Na redação, Codazza especifica que, além das coleções de cada laboratório, existem “as coleções próprias do Museu”. Entre essas, no que diz respeito aos nossos interesses específicos de estudo, emerge o que ele descreve como uma Coleção de produtos industriais destinada a facilitar e promover a instrução primária e secundária, de diagramas e livros relacionados.

Nas páginas seguintes da monografia, cada uma dessas coleções é apresentadasob o título: Objetos relativos a instrução elementar e secundária (Codazza, 1873, p. 55), encontramos uma lista que permite reconstruir o tipo e a quantidade de tal coleção do “Museu pedagógico de Turim”. Faziam parte do acervo de 1873 referente às instruções primária e secundária:

Table 2 Objetos relacionados às instruções primária e secundária (1873). 

Objeto Quantidade
Material escolar 8
Brinquedos educativos 7
Mesas de parede pintadas para o ensino primário 48
Material didático para leitura 80
Auxílios didáticos para redação e materiais relacionados 146
Auxílios em geografia e astronomia 200
Coleções demonstrativas para o ensino de história natural cerca de 3.50
Mapas, diagramas relativos à história natural 65
Desenho elementar 381
Geometria e corpos sólidos para uso no ensino primário e secundário 441
Mecânica, brinquedos educativos e maquetes de elementos de máquinas 89
Gráficos de parede 348
Livros de educação pública nacionais e estrangeiros em todas as línguas10 2.348
Objetos para o ensino e ocupação dos cegos 71
Livros em relevo para uso de cegos 75
Livros para ensino especial de surdos-mudos 28
Fotografias de escolas primárias e secundárias e outras coisas relacionadas com a educação pública 20
Maquete topográfica do Monte Cenisio 1

Fonte: a autora (2023).

No total, o Royal Industrial Museum possuía 8.057 materiais (incluindo livros) dedicados às intruções primária e secundária. De acordo com as declarações do Diretor, todo o material dessas coleções é uma expressão direta da doação inicial obtida por meio das relações mantidas durante a Exposição de Londres, em 1862, à qual se somaram as da Exposição de Paris em 1867 e da Exposição marítima de Nápoles em 1871.

Como não temos acesso a uma descrição mais detalhada dessa coleção e não há vestígios dela no Arquivo Histórico da Cidade de Turim, não podemos obter informações precisas sobre objetos individuais, ou rastrear informações quanto ao fabricante, ano, ou autor. Contudo, estamos certos de que a Coleção de Instrumentos Didáticos foi exposta ao público graças ao Regulamento para as coleções do Real Museu Industrial, que especificava como finalidade das coleções: “oferecer uma exposição histórica e progressiva de objetos cientificamente ordenados” (Regio Museo Industriale di Torino, 1873, art. 1). O artigo 9º fala sobre como era necessário elaborar anualmente um relatório que explicitasse as variações nas cobranças e propostas de compras e eliminações.

Esses relatórios não chegaram até nós e, portanto, não nos fornecem informações sobre o desenvolvimento da coleção didática, mas na ausência de documentos dentro do museu, é um guia da cidade de Turim que nos permite reconstruir idealmente toda a visita ao museu e, em particular, à Secção Didática (Borbonese, 1884). Dessa fonte, depreendemos que as coleções estavam expostas em dois dos três pisos que constituíam o grande edifício que hospedava o museu, um antigo convento de 4.400 metros quadrados construído em 1677. As coleções do museu podiam ser visitadas todos os dias, gratuitamente. A visita iniciava no primeiro andar da seção dedicada aos produtos inorgânicos: aqui, além dos corredores de exposição, o acervo educacional ocupava 12 salas.

Nas duas primeiras salas, 28 e 29, e no corredor, havia “a importantíssima biblioteca, acessível a todos os professores” (Borbonese, 1884, p. 307), a qual continha livros em italiano, francês, inglês, alemão, holandês e outras línguas “divididos por idiomas e classificados por matérias”. Ao lado desses, estavam “móveis para escolas primárias, provenientes de vários países” e uma “coleção de desenhos e fotografias de prédios escolares na Itália” (Borbonese, 1884, p. 307). Seguiu-se um grande modelo topográfico em relevo das montanhas do norte da Itália. Uma sala ao lado era dedicada aos registros escolares, brinquedos educativos, material para creches e para o ensino de ginástica elementar, bem como tabelas de nomenclatura.

O percurso continuava na sala 31, na qual era possível apreciar o acervo de métodos de ensino da leitura, livros ilustrados para crianças e mesas de música e canto. Na sala 32, materiais para o ensino de aritmética, cadernos de caligrafia, lousas e pranchetas de metal para escrita, tintas diversas e canetas eram encontrados. Ao lado desses, havia globos, diagramas e atlas de astronomia, mapas em relevo, uma série de modelos em relevo para o ensino de geografia, mapas e tabelas em branco e atlas de geografia física, política e histórica.

As próximas três salas eram dedicadas ao ensino de história natural. A dedicada ao reino mineral exibia coleções graduadas dispostas em caixas, “utilizadas nas escolas dos vários países ou como prêmio” (Borbonese, 1884, p. 307) e uma série cronológica de rochas. No que diz respeito ao reino vegetal, estavam expostas pranchas para o ensino de botânica econômica e organografia vegetal, desenhos de plantas venenosas, herbários de plantas tintureiras econômicas, medicinais e pasto para alimentação dos animais, assim como coleção de sementes das principais plantas cultivadas na Itália.

Com relação ao reino animal havia “diagramas de tipos de animais invertebrados, atlas zoológicos, corais dos principais tipos, conchas econômicas” (Borbonese, 1884, p. 307). A sala era composta ainda por uma seção dedicada ao ensino objetivo, com pequenas coleções de produtos para o uso das escolas e uma vitrine contendo o material recomendado para a organização de museus escolares, “um presente do Sr. W. Twining, fundador do Museu Econômico de Twickenham11” (Borbonese, 1884, p. 307).

A sala 36 era dedicada ao desenho e abrigava cadernos e álbuns para desenhos e aquarelas, pequenas maquetes, lápis, pincéis, tintas, linhas, paletas, além de diagramas e dispositivos físicos “atendentes das várias classes do ensino inferior”. A próxima sala foi dedicada às pranchas de geometria descritiva, corpos sólidos, modelos de cristais e modelos de construção. A sala 38, por sua vez, tratava da educação dos cegos e continha

diversos aparelhos de leitura e escrita, mapas geográficos e uma série de trabalhos de todo tipo realizados em institutos para cegos de muitos países, incluindo os de Amsterdã, doados pelo Sr. J. J. Majer e os de Turim, Copenhague e Viena. Tudo acompanhado de um rico acervo de documentos e fotografias, referentes à educação de cegos. Cerca de 650 publicações impressas em relevo com diferentes caracteres, incluindo aquelas em caracteres romanos pontilhados, de Stuttgart e as publicações sobre cada ramo da educação, realizadas em Brighton pelo Dr. Moon, ele próprio cego e doado pelo mesmo ao Museu e a música em fonte Braille do instituto de Copenhague (Borbonese, 1884, p. 308).

A última sala da seção expositiva relacionada à Didática abrigava materiais para o ensino de história e as obras de crianças em idade escolar com uma coleção de exames escolares provenientes de vários países. A exposição foi completada pela superfície do corredor em que existia mapas e diagramas murais: “existem inúmeros mapas murais para uso das escolas; mapas de cosmografia, geografia, geologia, incluindo o melhor de Paravia, Scioldo, etc., e diagramas ilustrando as escavações de Nínive, Egito, Pompéia, e as catacumbas de Roma, além de uma infinidade de outros” (Borbonese, 1884, p. 308).

Depois de ter concluído o relato detalhado das várias coleções do Museu Real Industrial de Turim, o autor do volume só pôde concluir afirmando:

A partir desta breve revisão do Museu Industrial Real Italiano, parece claramente como uma variedade de propósitos e uma utilidade enorme. […] E não se discute quão vantajosa é a Seção de Didática para todos os professores das escolas primárias e secundárias, e para aqueles que desejam ampliar seus conhecimentos em qualquer língua” (Borbonese, 1884, p. 311).

Longe de ser mínima ou secundária, a seção dedicada à exposição de materiais didáticos surge dessa reconstrução, mostrando como o desejo do fundador de criar em Turim o mesmo modelo de Museu da Educação visto por ele em South Kensington se tornou realidade.

Desenvolvimento da seção educacional do Royal Industrial Museum

Como a experiência de publicação dos Anais do Museu terminou precocemente e, com o passar dos anos, o Real Museu Industrial deixou de ter catálogos impressos relativos às suas coleções, serão sempre os Guias da cidade de Turim que nos permitirão apreender algumas informações sobre a parte expositiva do museu e, consequentemente, sobre a Seção Didática. Graças a uma dessas publicações, sabemos que, em 1898, o museu estava aberto e pôde ser visitado, sempre no mesmo local, e que a Seção Didática manteve o mesmo espaço no primeiro andar, ocupando sempre 12 salas e, a exposição, parte dos corredores (apenas a numeração das salas parece ter mudado em relação à descrição anterior):

Seção Didática. Esta importantíssima coleção está organizada por assunto nas salas do n. XXIX a XL e nas galerias vizinhas. Inclui livros didáticos para uso escolar. Material didático e científico para o ensino. Livros ilustrados para prêmios. Coleções de mineralogia, botânica, zoologia. Material didático para cegos. Relações escolares (Borbonese, 1898, p. 112).

Apenas quatro anos depois, quando é realizada a publicação oficial por ocasião dos primeiros quarenta anos de vida do museu, a Seção Didática-Educativa passa a maior parte do tempo em pleno silêncio. (Regio Museo Industriale, 1902).

Em 1906, da fusão do Real Museu Industrial com a Real Escola de Aplicação de Engenheiros, nasce o Real Politécnico de Turim (Ferraresi, 2001, p. XIX), o qual, consequentemente, assume uma dupla sede, ocupando, tanto a residência savoiana de Valentino, que foi vendida desde a criação da Escola de Aplicação em 1859, como o edifício onde funcionava o Museu Industrial. Após a aprovação do regulamento da nova instituição, em 1908, a Direcção do Politécnico procedeu à reorganização, catalogação e colocação do material relativo às coleções recebidas em herança.

Em 1911, essas coleções foram transferidas para as instalações de Valentino em Turim, onde foram abertas ao público, sempre apresentadas como duas coleções distintas em relação à origem dos materiais e, portanto, como Museu Industrial e como Museu de Geologia e Mineralogia (Paravia, 1917). Na realidade, são poucos os vestígios dessa reorganização do Museu Industrial e, ao contrário do Museu de Geologia e Mineralogia, que também é anunciado nos guias dos museus da cidade, o Museu Industrial não é mencionado.

Os bombardeios que atingiram duramente Turim durante a Segunda Guerra Mundial destruíram completamente o prédio que abrigava o Real Museu Industrial. Esse espaço nunca foi reconstruído e, hoje, é ocupado por uma praça. Nesse triste episódio parece que muito do material didático que pertencia ao Museu se perdeu (Anuário das bibliotecas italianas, 1956, p. 79). A parte das coleções de livros que sobreviveu, dada a falta de espaço devido à perda das instalações, foi doada à Academia de Ciências: “os volumes permaneceram embalados sem inventário” (Burzio, 2001, p. 53) e, no final da década de 1970, foram doados pela Academia de Ciências ao Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Turim, “porque foram reconhecidos como disciplina pertencente aos estudos realizados pelo Departamento e, portanto, considerada de maior interesse para este” (Burzio, 2001, p. 53).

No presente, a Biblioteca de Ciências da Educação do Departamento de Filosofia e Ciências da Educação da Universidade de Turim é de alguma forma a herdeira da Seção Educacional do Real Museu Industrial Italiano, fundado em 1862. Em realidade, ela abriga tudo o que foi salvo dessa seção. Os volumes recuperados e, agora, pertencentes à Biblioteca da Universidade, correspondem a um total de 1.507.

Ao estudarmos os fundos do Real Museu Industrial, atualmente guardados na Biblioteca, podemos ver claramente as ligações diretas com aquela coleção didática que Jervis encomendou e com relação à qual ele publicou um catálogo. De fato, a coleção é composta por livros publicados em diversos países e em vários idiomas, como inglês, francês, holandês, alemão, polonês, sueco, húngaro, galês, havaiano e italiano. Eles representam vários gêneros, da pedagogia à gramática, da religião à história, das leituras instrutivas aos silabários, até antologias, poemas e histórias para crianças. Existem alguns textos dedicados mais especificamente a assuntos técnico-científicos (botânica, química, agrimensura), de forma muito residual; mas a parte preponderante é certamente representada por volumes didáticos.

Para sermos mais precisos: uma vez que a coleção de livros proveniente do Royal Industrial Museum preserva o carimbo e a etiqueta originais afixados na capa interna pelo diretor Jarvis, podemos identificar, para cada volume, exatamente a classificação originalmente atribuída a cada um e que foi usada para descrever a coleção na publicação de 1869. Os volumes que hoje se fundem ao patrimônio da Biblioteca da Educação representam 107 gêneros. Dentro de cada um deles, como mencionamos, existem volumes em diferentes idiomas, provenientes de diferentes países.

Esses volumes foram publicados em um período entre 1790 e 1898. Desses, 387 fazem parte do corpus inicial coletado entre 1862 e 1869; outros 329 textos são publicados nos vinte anos entre 1872 e 1892, dando uma clara demonstração da continuidade do crescimento de textos dedicados à educação.

O texto mais recente relativo a essa coleção data de 1898 e, portanto, permite-nos reconstituir a forma como, até essa data, foi implementada a Coleção Didática do Real Museu Industrial. Com toda a probabilidade, entre o final do século XIX e os primeiros anos do século XX, a Secção Didática acabou de ser implementada, paralelamente a uma progressiva perda de centralidade relativamente aos novos objetivos do Museu, os quais foram assumidos pelos diretores que se seguiram a Devincenzi. Além disso, a morte do diretor Jervis, em 1906, marca o fim daquela figura que havia providenciado a reorganização, preservação e valorização da própria Seção Didática, em perfeita sintonia com o fundador do Museu. Além disso, depois dele, a figura do curador/diretor não está mais prevista e, portanto, não há mais funcionários dedicados à conservação desse fundo.

A coleção de livros sobreviventes, uma vez que chegou à Biblioteca do Departamento de Filosofia e Ciências da Educação, no final da década de 1970, foi estudada em 2000 por ocasião de uma tese de licenciatura, coordenada pelo professor Giorgio Chiosso, realizada por Emanuela Burzio, que foi destinada a catalogar os volumes. Esses materiais estão localizados no porão da Biblioteca na sede do Departamento, na via Gaudenzio Ferraris, não visíveis ao público no presente.

No que diz respeito à parte dos objetos didáticos que compunham a Coleção Didática, a sua total dispersão, ocorrida durante os ataques aéreos a Turim em 1942, parece ser confirmada pelo fato de que o atual “MAP-Museo Archivio Politecnico”, que reúne materiais e documentos sobre a história do Politécnico de Turim, embora dedique várias publicações à história das coleções do Royal Industrial Museum (De Benedetto, 1995; Marchis, 2009), não tenha encontrado nenhum material pertencente à coleção de objetos educacionais.

Considerações finais

Até agora, a história do Real Museu Industrial de Turim foi estudada a partir de dois enfoques: a reconstrução de sua contribuição para a formação técnica; ou a sua coleção científica (Ferraresi, 1979; Daprà, 1986; Olmo, 1995; Accornero & Della Piana, 2001; Giacomelli, 2010). Todavia, nunca se tinha dado atenção à sua disposição fortemente didática e educativa voltada para todos os níveis de ensino, assim como ainda não havia surgido essa perspectiva de mostrar, aos professores e ao público em geral, um grande acervo educacional capaz de se inspirar diretamente nas primeiras experiências nesse sentido realizadas no exterior. Essa exposição significativa acompanha a história da educação italiana há mais de 30 anos, mas estava esquecida.

Por essa razão, a reconstrução aqui apresentada intentou demonstrar como, no polimorfismo do Museu Industrial de Turim, típico dos grandes museus positivistas do século XIX, uma de suas identidades era certamente a do Museu da Educação. Com esse ensaio, esperamos ter ajudado a reconstruir, pelo menos em parte, a história dessa realidade, oferecendo uma contribuição para aquela estimulante linha de estudo ligada à materialidade, que, há trinta anos, engaja com sucesso a comunidade científica internacional (Gaspar da Silva, Meda & Souza, 2021). Esperamos também ter sublinhado o quanto a Itália pode ter orgulho de ter uma verdadeira coleção educacional nacional desde 1862, doze anos antes da abertura do que é reconhecido como o primeiro museu italiano dedicado à educação e à instrução.

O desafio cultural, que agora nos coloca a descoberta desse novo museu, é valorizar essa história e, possivelmente, para usar o fundo de livros, oportunamente veio à luz como um elemento para a formação, bem como para exposições que permitam a circulação de um patrimônio único no seu gênero e fortemente expressivo em relação à história da exposição pedagógica italiana.

A figura de Devincenzi também vem à luz como uma pessoa capaz de compreender o valor cultural de uma exposição de “meios de ensinamento” e o possível impacto que ela pode ter no mundo da escola. Assim, emerge a sua capacidade de ser um homem que tem uma visão real do poder das coleções educacionais no que concerne à melhoria da instrução e que tem a capacidade não só de conceber, mas também de colocar ideias em prática, propor soluções e identificar estratégias adequadas ao contexto. Devincenzi, em outras palavras, é um mediador cultural que sabe, por um lado, analisar cuidadosamente os fenômenos oferecidos pela realidade estrangeira (neste caso, o museu South Kensington em Londres) e, por outro lado, se aplica às exigências específicas da Itália, imediatamente após a unificação.

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7O Decreto Real n. 1001, de 23 de novembro de 1862, assinado pelo ministro Pepoli marca a criação oficial desta nova instituição, de valor nacional e subordinada ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.

8Giuseppe Devincenzi (1814 - 1903), pertence a uma família da burguesia agrícola, após ter participado das revoltas de 1848 e ser eleito para o Parlamento napolitano, foi forçado ao exílio quando os Bourbon voltaram ao poder. A decisão de se instalar primeiro em Genebra, depois em Paris e Londres, permite-lhe estabelecer relações internacionais e desenvolver um interesse específico pelas novas técnicas de impressão e artes gráficas. De volta à Itália, em 1861, foi eleito deputado e em 1868 senador. Ele ocupa o cargo de Ministro das Obras Públicas em vários governos.

9Gustavo di Cavour (1806-1864), formado em direito e apaixonado pelos estudos de economia política, religião e filosofia, em 1861 ingressou na faculdade de letras e filosofia da Universidade de Turim e, no ano seguinte, foi nomeado presidente do Real Escritório central italiano do Comitê para a Exposição Internacional de Londres de 1862, bem como - juntos, como foi dito à Devincenzi - Comissário Real Geral do Reino da Itália.

10Aqui, o autor faz referência à já mencionada publicação de Jervis dedicada ao catálogo de livros didáticos.

11O núcleo deste Museu Econômico tinha sido criado na Casa da Sociedade das Artes, em 1856, e tinha por finalidade reunir e expor todo o conhecimento útil no quotidiano para uma boa gestão da economia doméstica. Uma parte da coleção era dedicada à alimentação (Food Department) e essa secção esteve exposta durante um período no South Kensington Museum. Um guia de 96 páginas feito em 1859 por Edwin Lankester (A guide to the Food Collection in the South Kensington Museum) também foi impresso para essa exposição. Volumes dedicados à economia doméstica, bem como especificamente à exibição de alimentos no Museu de South Kensington estavam presentes entre os materiais exibidos na Seção de Indústria e Artes da Exposição Internacional de Londres, em 1862, ocasião em que tal material pode ter sido coletado por Devincenzi para o núcleo do Museu de Turim. Se assim foi, então poderíamos imaginar que nas 700 caixas vindas de Londres, após a Exposição de 1862, havia não apenas livros impressos, mas também objetos didáticos que, portanto, desde o início da coleção faziam parte permanentemente do corpus original.

26Rodadas de avaliação: R1: três convites; duas avaliações recebidas

27Como citar este artigo: Pizzigoni, F. D. A Itália também teve seu Museu South Kensington: a coleção didática do Museu Real Industrial de Turim de 1862. Revista Brasileira de História da Educação, 23. DOI: http://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e267

28Financiamento: A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) e do Programa Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

29Licenciamento: Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

30Nota: Tradução feita por Gecia Aline Garcia, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. A revisão técnica foi feita por Gizele de Souza, professora titular do Setor de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma instituição - UFPR

Recebido: 30 de Julho de 2022; Aceito: 29 de Março de 2023; Publicado: 30 de Junho de 2023

Francesca Davida Pizzigoni: Pesquisadora do INDIRE (Instituto Nacional de Documentação, Inovação e Pesquisa Educacional) e professora da Universidade de Turim. Coordena uma comissão de trabalho da SIPSE - Sociedade Italiana para o Estudo do Patrimônio Histórico e Educacional e estuda o patrimônio histórico-educacional e a história das publicações para crianças. Entre seus trabalhos mais recentes estão "Tracce di patrimonio. Fonti per lo studio della materialità scolastica nell'Italia del secondo Ottocento" (Pensa, 2022) e "Il Catalogo perduto. La productionione per l'infanzia della casa editrice cattolica SEI di Torino” (Franco Angeli). E-mail: f.pizzigoni@indire.it. https://orcid.org/0000-0002-9117-4027

Editores-associados responsáveis: Ana Clara Bortoleto Nery (UNESP) E-mail: ana-clara.nery@unesp.br https://orcid.org/0000-0001-6316-3243

Andréa Cordeiro (UFPR) E-mail: andreacordeiroufpr@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-6963-5261

Gizele de Souza (UFPR) E-mail gizelesouza@uol.com.br https://orcid.org/0000-0002-6487-4300

Marcus Levy Bencostta (UFPR) E-mail: evelynorlando@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-3387-7901

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