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Revista Brasileira de História da Educação

versão impressa ISSN 1519-5902versão On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.23  Maringá  2023  Epub 30-Jun-2023

https://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e273 

DOSSIÊ

A longa, concreta e imaginária presença dos manuais de história da educação estrangeiros no Brasil (1930-1980

La larga, concreta e imaginaria presencia de libros de texto extranjeros en la historia de la educación en Brasil (1930-1980)

Roberlayne de Oliveira Borges Roballo1 
http://orcid.org/0000-0002-9545-611X

1Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.


Resumo:

Este trabalho é resultado da pesquisa sobre os manuais estrangeiros História da educação de Paul Monroe e História da educação e da pedagogia de Lorenzo Luzuriaga, publicados pela Companhia Editora Nacional, entre 1930 e 1980, pertencentes à Coleção Atualidades Pedagógicas. A perspectiva metodológica apresenta duas frentes de análise: a primeira é adentrar o universo de produção desses livros, visto que são “objetos concretos” em circulação; e a segunda é investigar as formas de organização do conteúdo, observando os significados enquanto “lugar imaginário” da história da educação (HE). Esta pesquisa conclui que esses manuais contribuíram para a memória da formação docente e para a própria história da HE, por meio de um passado educativo que se tornou a sua grande lição.

Palavras-chave: formação de professores; coleção de livros; historiografia; materialidade

Resumen:

Este trabajo es el resultado de una investigación sobre los libros de texto extranjeros História da educação de Paul Monroe e História da educação e da pedagogia de Lorenzo Luzuriaga, publicados por la Companhia Editora Nacional, entre 1930 y 1980, pertenecientes a la Colección atualidades pedagógicas. La perspectiva metodológica presenta dos frentes de análisis: el primero es entrar en el universo de producción de estos libros, ya que son ‘objetos concretos’ en circulación; y el segundo es investigar las formas de organización del contenido, observando los significados, a la vez que el ‘lugar imaginario’, de la Historia de la Educación (HE). A través de esta investigación, concluimos que estos libros de texto contribuyeron a la memoria de la formación del profesorado y a la propia HE, a través de un pasado educativo que se convirtió en su gran lección.

Palabras clave: formación de professores; colección de libros; historiografia; materialidad

Abstract:

This paper results from a study on the foreign textbooks História da educação by Paul Monroe and História da educação e da pedagogia by Lorenzo Luzuriaga, published by Companhia Editora Nacional, between 1930 and 1980, belonging to the Collection Atualidades Pedagógicas. Methodologically, it has two analytical fronts. The first is to enter the production universe of these books since they are ‘concrete objects’ in circulation. The second is to investigate the forms of content organization, observing their meanings, as an ‘imaginary place’ of the History of Education (HE). Through this research, we conclude that these textbooks contributed to the memory of teacher training and the history of HE, whereby an educational past became its great lesson.

Keywords: teacher education; book collection; historiography; materiality

Introdução

Dos diversos instrumentos do Homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio são extensões da sua visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida temos o arado e a espada, extensões de seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação (Borges, 1987, p. 05)1.

A citação, em epígrafe, do poeta Jorge Luis Borges é uma ode de amor ao “livro”, por ser um objeto inventado que transcende os sentidos usuais do homem. Como descreve o poeta, o livro é uma extensão da imaginação e da memória e, não importa quanto tempo passe, continuará encantando pelo seu poder de significação.

Metaforicamente, o livro foi definido pelo poeta francês Stéphane Mallarmé (1945)2 como a ideia de “transparente geleira dos voos que não foram”, porque ao mesmo tempo se configura como objeto, símbolo e metáfora, em um formato que, em si mesmo, é portador de sentidos. Dessa sensível visão “mallarmeana” é possível compreender que o livro é esculpido na forma de “objeto concreto” e “lugar imaginário”, sendo capaz de provocar fascínio pela reunião entre texto e forma. Lugar imaginário porque produz sentidos quando da sua leitura, interpretação e fruição; e objeto concreto porque possui características que possibilitam o seu manuseio (é palpável e visualmente acessível). A forma do livro, as suas páginas, os seus caracteres, os seus brancos convidam os diferentes leitores a respeitarem as suas intenções.

Com Mallarmé ainda é possível aprender que é a partir do livro que se parte para o seu culto, não fazendo alusão à questão religiosa, mas considerando-o um “[...] acessório necessário à celebração e divindade celebrada” (Fraisse, Pompougnac, & Poulain, 1997, p. 137). Obviamente, o livro - que se perfez na direta relação e interação de sujeitos com as coisas do mundo; o livro de literatura, principalmente - passou a penetrar outros espaços, como as escolas, sugerindo uma nova forma de relação, porque, no mundo dos livros, as coisas acontecem depressa e tudo muda: “[...] livros, leitores e literatura” (Escarpit, 1976, p. VII).

A partir dessa compreensão, os livros de História da Educação (HE) apresentados neste trabalho sugerem essa nova forma de relação - “a escolar” - sendo um lugar de comunhão entre texto e professor(a), que fez celebrar leituras e interpretações. É à luz dessas sensíveis considerações que historiadores e historiadoras necessitam refletir sobre esses “objetos” em circulação de ideias, concepções e valores (Chartier, 2001). Portanto, neste trabalho, os principais protagonistas são os livros denominados “manuais escolares”, que estão marcados por contornos de uma época e que suscitam reflexões sobre as transformações ocorridas nas formas de escrever a história da educação e que, além disso, trazem à memória os processos, os conteúdos e as formas de ensinar a História da Educação às futuras professoras e professores.

Consideram-se as obras de HE manuais escolares, porque elas apresentam a proposta de “[...] a um só tempo introduzir um tema e sumariá-lo [...]”, exercendo a função de mediação entre determinado conhecimento e os modos de ensiná-lo (Bufrem, Schmidt, & Garcia, 2006, p. 123). São livros que se apropriam de diversos conteúdos, a fim de explicar, às futuras professoras e aos futuros professores, questões relativas ao passado da escola e da educação, além de subsidiar as aulas dos mestres nos cursos de formação docente, de acordo com os programas oficiais.

Em se tratando dos manuais de HE, tanto a produção de títulos novos, quanto de reimpressões estavam ligadas às necessidades que emergiam no contexto educacional brasileiro, especificamente a formação de professoras e professores em curso a partir dos idos de 1930. Nada se tornou mais significativo que a criação e a organização de uma vasta literatura pedagógica para ocupar os espaços escolares, sendo inúmeros os livros (manuais) de história, filosofia, sociologia, didática, psicologia, métodos de ensino utilizados nos cursos de formação docente.

Nesse cenário de expansão do mercado de livros destinados a subsidiar a formação docente a partir de 1930, deflagrada a partir de pesquisas sobre os manuais de HE como as realizadas por Toledo (2001) e Roballo (2012), observou-se que a Companhia Editora Nacional (CEN) seria uma das maiores (se não a maior) editoras a publicar manuais de HE no Brasil, dando a ler publicações de títulos brasileiros e estrangeiros, de títulos novos e de reedições. Foram onze manuais de HE publicados entre os anos de 1930 e 1980 pela CEN, pertencentes à Coleção atualidades pedagógicas (CAP), no âmbito do projeto editorial intitulado Biblioteca Pedagógica Brasileira (BPB), dirigido por Fernando de Azevedo, de 1931 a 1945, e por Damasco Penna, de 1946 a 1978. Esses manuais estão descritos no quadro a seguir (Quadro 1), com as seguintes especificações: o título; o autor; a ordenação conforme o número do volume indicado pela CAP; e a quantidade de edições/reimpressões:

Fonte: Toledo (2001).

Quadro 1 - Os onze manuais de História da educação da Coleção atualidades pedagógicas3.  

É difícil mensurar o impacto dessas obras no campo educacional e, particularmente, no delineamento da disciplina HE; contudo, a presença longeva desses manuais nos cursos de formação de professores, secundários e superiores, as suas tiragens e as suas sucessivas reimpressões são indícios da expressiva circulação e da produção de sentidos e de representações sobre o passado educacional. Nessa perspectiva, privilegiou-se, para este trabalho, os dois manuais de HE escritos por dois autores estrangeiros que tiveram o maior número de exemplares impressos pela CAP durante um vasto período, sendo o estadunidense Paul Monroe e o espanhol (exilado na Argentina) Lorenzo Luzuriga.

A obra de Paul Monroe, História da educação, publicada a primeira vez pela CEN em 1939 e reeditada por mais dezessete vezes até 1987, somou a maior tiragem entre os manuais de HE da coleção, totalizando 86.961 livros. Por sua vez, a obra de Luzuriga, História da educação e da pedagogia, foi publicada a primeira vez em 1955 e reeditada por mais dezesseis vezes também até 1987, somando 80.240 livros. As duas obras, atravessando décadas, somam mais de 167 mil livros, que circularam pelo país entre as décadas de 1930 e 1980.

Portanto, metodologicamente, este estudo busca compreender os dois manuais de HE a partir da dimensão de um inventário. O propósito metodológico é o de inventariar as obras, abordando-as em sua materialidade, por meio de duas frentes de análise que levam em consideração, respectivamente, a ideia de “objeto concreto” e “lugar imaginário”: a primeira frente é adentrar num universo de produção das obras de HE, observando o movimento das edições, a editora, a coleção, os seus autores e algumas características técnicas, visuais e físicas dos manuais (capas, contracapas, folha de rosto), que demonstram a relevância dessas obras para subsidiar os cursos de formação docente; a segunda é a investigação sobre as formas de organização do conteúdo da HE, observando os enunciados, os sumários, os capítulos e as narrativas sobre os significados da HE, que se tornaram importantes à medida que contribuíram para decifrar o público ao qual os manuais eram destinados e as formas de apresentar os ensinamentos ditos úteis sobre a disciplina.

Materialidade e imaterialidade são inseparáveis para compor a análise dos manuais de HE, pois a pesquisa histórica não deve se limitar à descrição dos objetos, mas se debruçar em compreender também os seus intentos e a realidade social que circunda o uso desses manuais, como explica Daniel Roche (2000, p. 13):

Os objetos, as relações físicas ou humanas que eles criam não podem se reduzir a uma simples materialidade, nem a simples instrumentos de comunicação ou de distinção social. Eles não pertencem apenas ao porão ou ao sótão, ou então simultaneamente aos dois, e devemos recolocá-los em redes de abstração e sensibilidade essenciais à compreensão dos fatos sociais.

A existência do livro escolar está vinculada aos sistemas educacionais estabelecidos pelo Estado, o que torna as suas condições de produção análogas às dos demais livros. O livro é um artefato que faz parte da cultura e que passou a ser objeto de estudo da HE nos últimos anos devido à sua interlocução com a Nova História Cultural e à preocupação de historiadores em preservá-lo enquanto fonte de pesquisa e memória educacional. Se as sociedades passaram a considerar que a educação deveria passar pela escola, então tornou-se necessário produzir livros escolares para estudantes e, como explica Lajolo e Zilberman (1996, p. 121), “[...] dispor de professores, esses também formados pelos livros e usuários profissionais desse instrumento”. Além disso, passaram a ser necessárias

[...] tipografias e editoras para imprimir o material didático de que carecem docentes e discentes em sala de aula. [...]. Mas esse desenvolvimento também decorre de uma política, a econômica, gerenciada pela classe dominante de um povo (Lajolo & Zilberman, 1996, p. 121).

Neste sentido, cumpre destacar que os manuais guardam em si a história da sua produção, das suas finalidades e dos seus usos. Por isso, inventariar a materialidade das obras de HE é um passo fundamental para manter viva a história dos processos de formação docente. Como enfatiza Bittencourt (2008, p. 9):

Sob uma aparente banalidade e uma familiaridade enganadora, o manual escolar é um objeto complexo. Trata-se de um produto cultural cujas funções são plurais4: instrumento iniciático de leitura, vetor linguístico, ideológico e cultural, suporte - durante muito tempo privilegiado - do conteúdo educativo, instrumento de ensino e de aprendizagem comum à maioria das disciplinas. Mas é também um objeto manufaturado, amplamente divulgado em todo o mundo, cuja produção e difusão se inscrevem em uma lógica industrial e comercial.

Segundo Chartier, as obras adquirem sentido quando se estabelecem relações entre três polos: de um lado a “análise dos textos”, decifrados nas suas estruturas, nos seus objetivos, nas suas pretensões; de outro lado, a “história do livro”, para além de todos os objetos e formas que toma o escrito; e, por fim, o “[...] estudo de práticas que se apossam de maneira diversa desses objetos ou de suas formas [...]”, produzindo usos e diferenciadas significações (Chartier, 1999, p. 12).

É por meio da análise da materialidade dos manuais que os aspectos daquilo que se considerava novo, melhor, permanente são observados, deixando transparecer as intenções que antecedem a decisão editorial e o trabalho gráfico. Além disso, torna-se possível entender os contornos que a escrita da HE adquiriu - “em formato de livro” - para subsidiar os processos de formação docente.

“Objetos concretos”: os manuais de HE estrangeiros publicados pela Coleção Atualidades Pedagógicas

As editoras comerciais, a partir de 1930, abriram uma frente de publicação de manuais escolares para atender um novo grupo de leitores: “as mulheres normalistas”. Especialmente entre 1920 e 1930, as reformulações realizadas nos currículos dos cursos de formação de professores, sob um contexto de reformas educacionais, provocaram mudanças significativas no campo editorial brasileiro. Conforme Toledo (2001, p. 52), as editoras passaram a investir na produção de livros escolares voltados ao currículo de formação do professorado, privilegiando disciplinas como “[...] didática, psicologia, biologia educacional, sociologia educacional, história e filosofia da educação, entre outras”. Sob a influência dos discursos dos renovadores da educação, a década de 1930 foi particularmente determinante para a criação de coleções de livros e de bibliotecas escolares que visavam o público escolar.

Nesse cenário, é possível perceber a relação que se perfez entre a publicação dos manuais de HE e a sua utilização para subsidiar a disciplina, pois especificamente o percurso disciplinar da HE no Brasil está relacionado ao das Escolas Normais, sendo introduzida a disciplina primeiramente no currículo da Escola Normal do Rio de Janeiro, em 1928. A partir de 1930, a HE passaria a ser incluída nos currículos dos Institutos de Educação e das Escolas Normais por todo o país. Nesse percurso, durante décadas, a HE foi encarada como uma disciplina de caráter utilitário, uma vez que ela tinha a função de oferecer lições e exemplos do passado educativo para as futuras professoras e professores.

A Editora Francisco Alves (fundada em 1854) tornou-se o principal espaço editorial a publicar livros escolares nas cinco primeiras décadas do século XX, seguida da Editora Melhoramentos, em 1915, e da Companhia Editora Nacional, em 1925 (Hallewell, 2005). É interessante observar que a CEN e a Melhoramentos possuíam um catálogo que se sustentava, sobretudo, pela presença dos livros didáticos e se tornaram as maiores responsáveis pela profissionalização do setor.

A CEN, em 1931, lançaria o projeto editorial denominado Biblioteca Pedagógica Brasileira (BPB), organizado por Fernando de Azevedo5, um dos principais intelectuais ligados aos ideais de renovação pretendidos pelo ideário da Escola Nova, que trouxe para a editora os discursos, os artigos e os livros sintonizados ao ideário dos renovadores6. A BPB criou cinco séries (coleções) para atingir um vasto público: 1 - Literatura infantil; 2 - Livros didáticos; 3 - Atualidades pedagógicas; 4 - Iniciação científica; 5 - Brasiliana. A Coleção Atualidades Pedagógicas (CAP) publicou 135 volumes, com temáticas diversas, tendo como objetivo aperfeiçoar cultural e profissionalmente professoras e professores, a partir da circulação de livros, principalmente, nas escolas de formação docente. Fernando de Azevedo dirigiu a BPB e assumiu a direção da CAP até 1945. Após esse período, foi substituído por João Baptista Damasco Penna, que permaneceu como diretor da CAP e da Coleção Iniciação Científica até 1978.

Pela CAP, foram publicadas três obras de HE durante a gestão de Fernando de Azevedo (1931 a 1945): Noções de história da educação, de Afrânio Peixoto (1933); História da educação, de Paul Monroe (1939); e Noções de história da educação, de Miranda Santos (1945). Portanto, dois manuais nacionais e um internacional, o que possibilitou iniciar um processo de diversificação de autores e de propostas de conteúdos sobre a HE.

Sob a direção de Damasco Penna (1946 a 1978), foram publicados oito manuais de HE: A pedagogia contemporânea, Pedagogia social e política, História da educação e da pedagogia, História da educação pública, de Lorenzo Luzuriaga; História da pedagogia, de Rene Hubert; Pedagogia geral, de Leif e Rustin; A educação secundária, de Geraldo Bastos Silva; Tratado das ciências pedagógicas: história da pedagogia, de Maurice Debesse e Gaston Mialeret.

É possível observar que alguns manuais deixam de apresentar em seus títulos a designação História da Educação, dando preferência à História da Pedagogia. Apesar de apresentarem mudanças nos títulos, os manuais se mantêm congêneres, privilegiando em seus textos o passado das diferentes civilizações, das instituições educativas, a evolução das ideias pedagógicas e as trajetórias de um cânone de educadores que produziram teorias sobre a temática educacional.

Cumpre destacar ainda que alguns manuais nasceriam do fenômeno que se fez concomitante entre a constituição da disciplina de HE e as aulas ministradas por professores, como é o caso da obra escrita pelo brasileiro Afrânio Peixoto Noções de história da educação (1933). Depois do manual de Peixoto, vários foram os manuais escritos por autores brasileiros, publicados entre as décadas de 1930 e 1970, como é possível observar (salvo os editados pela CEN já citados anteriormente)7: Pequena história da educação (1936), das madres Francisca Peeters e Maria Augusta de Cooman, pela Editora Cia. Melhoramentos; História da educação (1941), de Bento de Andrade Filho, pela Editora Saraiva; Esboço da história da educação (1945), de Ruy de Ayres Bello, pela Companhia Editora Nacional8; Lições de história da educação [n.d.], de Aquiles Archêro Júnior, pela Coleção Didática Nacional; História da Educação (1953), de Bento de Andrade Filho, pela Editora Saraiva; História da educação lusobrasileira (1966), de Tito Lívio Ferreira, pela Editora Saraiva; História da Educação Brasileira: a organização escolar (1978), de Maria Luisa Santos Ribeiro, pela Editora Cortez & Moraes; História da educação no Brasil (1978), de Otaíza de Oliveira Romanelli, pela Editora Vozes; entre outros.

Dentre os manuais estrangeiros publicados no Brasil (salvo os publicados pela CEN), traduzidos ou não, destacam-se: Historia general de la pedagogia: especial consideracion de iberoamerica [História geral da pedagogia: consideração especial da Ibero-América] (1944), de Francisco Larroyo, pela Editora Porrua; Historia de la educacion y la pedagogia [História da educação e da pedagogia] (1949), de P. Ramón Ruiz Amado, pela Editora Poblet (Buenos Aires); Historia de la educacion [História da educação] (1962), de Carrol Atkinson e Eugene T. Maleska, pela Editora Barcelona; História da educação moderna, teoria, organização e práticas educacionais (1970), de Frederick Eby, pela Editora Globo; História geral da pedagogia (1970), de Francisco Larroyo, pela Editora Mestre Jou; História da educação (1987), de Thomas Ransom Giles, pela Editora EPU; entre outros.

É possível constatar que diferentes editoras tornaram-se responsáveis pela ampliação da produção e da circulação de manuais de HE no Brasil. Porém, a partir dessa amostragem, verifica-se que a CEN seria uma das principais editoras a publicar manuais de HE por meio da CAP. É importante destacar que da década de 1950 a de 1980, as obras de HE de Luzuriaga e Monroe foram responsáveis por uma parte significativa de reimpressões da CAP.

Na década de 1970, foram feitas oito reimpressões do manual História da educação e da pedagogia, de Luzuriaga (1971, 1972, 1973, 1975, 1976, 1977, 1978, 1979) e, na de 1980, foram seis reimpressões (1980, 1982, 1983, 1984, 1985, 1987). O manual de Monroe, na década de 1970, foi reimpresso sete vezes (1970, 1972, 1974, 1976, 1977, 1978, 1979) e, na década de 1980, ocorreram quatro reimpressões (1983, 1984, 1985 e 1987). Na tabela a seguir ((Tabela 1) são apresentadas as duas obras e as tiragens realizadas por anos de edição:

Tabela 1 - Maiores tiragens dos manuais de HE da Coleção Atualidades Pedagógicas5  

Edição Tiragem por autor/obra (ano)
Monroe História da educação Luzuriaga História da educação e pedagogia
4.150 (1939) 4.040 (1955)
4.025 (1946) 4.026 (1963)
4.050 (1952) 4.050 (1967)
5.075 (1953) 3.030 (1969)
5.011 (1956) 3.012 (1971)
7.940 (1958) 7.991 (1972)
4.026 (1968) 3.876 (1975)
3.010 (1969) 3.909 (1976)
4.084 (1970) 4.038 (1977)
10ª 8.934 (1972) 5.000 (1978)
11ª 4.049 (1976) 5.000 (1979)
12ª 4.086 (1977) 5.000 (1980)
13ª 5.068 (1978) 4.848 (1982)
14ª 10.000 (1979) 5.226 (1983)
15ª 3.916 (1983) 6.783 (1984)
16ª 3.214 (1984) 5.196 (1985)
17ª 3.156 (1985) 5.215 (1987)
18ª 3.167 (1987)
Total de impressões 86.961 80.240

Fonte: Toledo (2001).

Conforme é possível observar na (Tabela 1, o aumento de reimpressões dos manuais de HE provavelmente ocorre devido a dois acontecimentos que se interligam: o aumento de matrículas nas escolas primárias e o aumento de matrícula nas instituições de formação de professores9. Destaca-se que, a partir da década de 1970, há um acréscimo acentuado de reimpressões de manuais de HE, ao mesmo tempo em que ocorre uma queda no número de novas publicações. Por hipótese, pode-se considerar que a queda de publicações de novos títulos, assim como o aumento de reimpressões, ocorre devido ao processo de mudanças que começam a se evidenciar no campo da HE10.

Nesse movimento, o que fica evidente é que os manuais estrangeiros de Monroe e Luzuriaga conquistaram um importante espaço na HE do Brasil. Isso, porque são obras que romperam as suas fronteiras de origem e ganharam densidade, tornando-se um “[...] recurso precioso para pensar o essencial: a construção de um vínculo social, a subjetividade individual, a relação com o sagrado [...]”, como é possível refletir a partir de Chartier (1999, p. 9). Ou seja, os textos traduzidos11 para a língua portuguesa não se configuraram como um problema, mas ampliaram um conjunto de obras para subsidiar a disciplina de HE, legitimando modelos exemplares de escrita e significando também a inter-relação entre diferentes culturas e a divulgação de célebres professores.

Um desses modelos exemplares de escrita foi o manual A brief course in the history of education (1907)12, de Paul Monroe, publicado no Brasil trinta e dois anos depois do seu lançamento nos Estados Unidos, sob o título História da educação (1939). Monroe (1869-1947), autor de um dos manuais mais reeditados no Brasil, foi nomeado, em 1897, professor de História na escola de formação docente Teachers College, da Universidade de Columbia. Em 1899, assumiu o lugar de professor adjunto de HE e, três anos mais tarde, assumiu a cátedra de HE até a sua aposentadoria em 1938. Além de professor, foi diretor da School of Education of Teachers College (1915 a 1923). Em 1923, tornou-se diretor do International Institute of Teachers College. Em sua vasta carreira, destaca-se que o autor fez parte de um grupo de professores consagrados pela promoção de um movimento progressista de educação, tanto nos Estados Unidos, como em várias partes do mundo, principalmente nas décadas de 1930 e 1940.

Lorenzo Luzuriaga (1889-1959), pedagogo espanhol, publicou seu manual História da educação e da pedagogia, em 1951, na Argentina, devido ao exílio. Socialista, Luzuriaga abandonou a Espanha quando a guerra civil iniciou em 1936, por conta da perseguição política. Na Argentina, foi professor de Pedagogia, HE e Psicologia Pedagógica na Universidade Nacional de Tucuman, entre 1939 e 1945. Em 1944, em Buenos Aires, atuou como diretor da Coleção Pedagógica da Editorial Losada, na qual publicou quinze livros, entre esses a sua obra História da educação e da pedagogia, que, em sua terceira edição, foi utilizada para a CAP.

Além de livros, escreveu cento e doze artigos na Revista da Pedagogía. Da sua ampla experiência política e educacional, o Luzuriaga socialista tornou-se um dos principais representantes de temas educativos, fundamentando-se sempre no “[...] laicismo e no racionalismo [...]”, por defender um ensino de caráter nacional a todos (Liébana, 2003, p. 1). Na mesma medida, o Luzuriaga professor, engajado no Movimento pela Escola Nova, defendeu uma escola única e unificada.

Este estudo ainda evidencia que vários pesquisadores brasileiros se dedicaram ao estudo e à pesquisa sobre esses dois autores estrangeiros. É o caso de Warde (1998), Gatti Jr. (2011, 2012) e Roballo (2012), que se dedicaram a estudar a obra de Lorenzo Luzuriaga. Gatti Jr. (2012), por exemplo, pesquisou os principais autores estrangeiros de manuais de HE que eram indicados nos programas da disciplina, entre os mais recorrentes, encontrava-se Lorenzo Luzuriaga. Também, vários são os estudos sobre a obra de Paul Monroe no Brasil, destacando-se Silva e Gondra (2011), que analisaram a contribuição desse autor como modelo de narrativa e ensino da HE.

Sem exceção, a CAP procurava mostrar, por meio dos próprios manuais (capas, folhas de rosto, orelhas da capa e contracapas), a posição ocupada por esses professores-autores de HE. Nos manuais, fica evidente que o autor estava falando de um lugar de autoridade em relação ao ocupado por professores e alunos dos cursos de Magistério. Seriam, por exemplo, várias as considerações feitas a Luzuriaga nas orelhas das capas de suas obras, descrito como um autor de larga experiência pedagógica, exigente e rigoroso no informar e no manifestar de suas opiniões. Destaca-se também as considerações feitas sobre Monroe (1958), por exemplo, na orelha da capa da sexta edição de seu manual, na qual, sob a direção de Damasco Penna, Monroe é apresentado como um nome de “[...] primeira grandeza da pedagogia norte-americana [...]” e autor das mais conhecidas obras sobre HE, conforme demonstrado na Figura 1:

Fonte: Monroe (1958).

Figura 1 - Considerações sobre Paul Monroe.  

À vista disso, os manuais de HE não eram apresentados de forma anônima às futuras professoras e professores; muito pelo contrário, a escrita da HE era validada por uma combinação de fatores: pela entrada da disciplina de HE nos currículos de formação docente; pela organização e ordenamento de saberes vinculados a esse fim; e pelo contingente de obras de autores considerados renomados, que, com sua credibilidade e experiência, passam a enunciar escritos sobre a HE.

É possível observar a relação de credibilidade, experiência e visibilidade nas capas dos manuais de HE, que, mesmo com as diferenças que transparecem entre a direção de Azevedo e Damasco Penna, buscam divulgar a coleção, a editora, o editor, o autor do manual, o volume, em alguns casos os tradutores, e apresentam o produto à venda, como é possível ver na próxima figura (Figura 2):

Fonte: Monroe (1939, 1958).

Figura 2 - Mudança de layout na capa dos manuais - da esquerda para a direita do padrão Azevedo para Penna.  

Mesmo sob a mesma direção, como a de Damasco Penna, as mudanças no layout das capas de uma edição para a outra ainda evidenciavam o nome do autor e da coleção, como apresentado na figura a seguir (Figura 3). Segundo Toledo (2001, p. 105), as capas representam “[...] a identidade da Coleção e sua afirmação como tal, dentro do mercado de livros que, a partir dos anos 1930, começa a ser cada vez mais competitivo”. As capas também chamam a atenção do público-alvo para o projeto editorial voltado à HE.

Fonte: Luzuriaga (1975, 1977).

Figura 3 - Mudança de layout na capa dos Manuais de HE de Luzuriaga durante a direção de Penna - da esquerda para direita: 1975 e 1977.  

Na mesma chave de análise, as alunas e alunos, como também seus professores, encontravam nas folhas de rosto dados essenciais das obras, como o nome do autor, título da obra e subtítulo (quando há), edição, editora, local de publicação, data de publicação, entre outras informações, como o nome dos tradutores, caso o original fosse em outra língua que não o português. De forma geral, tanto sob a direção de Azevedo, quanto de Penna, o nome da CAP e da BPB ficam posicionadas na extremidade superior da folha, o nome do autor era acrescentado logo abaixo com indicações de sua experiência profissional e o título da obra se destaca pelo tamanho e tipo de letra. A edição e a tradução são indicadas logo abaixo do título da obra e a editora e sua localização ficam posicionadas na extremidade inferior da folha. No caso dos manuais estrangeiros, o ano de publicação aparecerá em folha separada, juntamente com os dados do original da obra (título, ano de publicação e editora).

Interessante observar que, na sexta edição do manual de Monroe, de 1958, conforme figura a seguir (Figura 4), é assinalado que o autor é “Doutor em Filosofia - Professor de História da Educação no Teachers College da Universidade de Columbia (Nova York)”, já que, na edição de 1939, o autor é descrito apenas como professor do “Teachers College”.

Fonte: Monroe (1958).

Figura 4 - Folha de rosto do manual de Monroe em 1958.  

Destarte, a editora, a coleção, os autores, as capas, as folhas de rosto e orelhas das capas fazem refletir a respeito das escolhas feitas sobre as formas como a HE chegava aos seus leitores, isto é, as(os) estudantes dos cursos de formação docente e seus professores. É na dimensão de um livro, enquanto objeto concreto, que se produz valor à escrita da HE, pois as características materiais dos manuais estabelecem um protocolo de leitura, conforme destaca Batista e Galvão (2009). Nesse protocolo, reuniam-se as intenções do autor e do editor às do provável leitor, a fim de conduzi-lo à leitura do livro.

Do “concreto ao imaginário”, como será visto a seguir, os elementos externos aliados aos internos, que organizam os manuais, como os prefácios, os índices/sumários, os capítulos, as referências, entre outros, sugerem uma leitura e constroem significados. Esses significados estão relacionados ao passado da educação, da escola e do ensino.

Do “concreto ao lugar imaginário”: os manuais de HE e a relação com suas leitoras e leitores

Ao serem destinados aos cursos de formação docente, os manuais de HE entrelaçavam as regulamentações curriculares, as dimensões pedagógicas e as comerciais. Ou seja, além de serem organizados a partir das decisões editoriais sobre o seu formato, o custo, o número de cópias a serem impressas, também cumpriam a função pedagógica/educativa determinada a partir de uma organização muito própria dos conteúdos a serem ensinados sobre a HE.

Dessa maneira, a estrutura que transforma os manuais de HE em lugares imaginários perpassa a forma como se articulavam os saberes da HE ao processo de leitura e de aprendizado das futuras professoras e professores. No interior dessas obras, encontram-se elementos que organizam a leitura por suas páginas, como prefácios, índices/sumários, capítulos, referências, ilustrações (no caso do manual de Monroe13).

Além desses elementos, os manuais apresentam narrativas sobre as temáticas propostas, que manifestam um tom didático, orientando a atividade educativa de modo a torná-la mais eficiente, promovendo a aprendizagem por meio de seus recursos distintos e possibilitando as multiplicidades do ler. Nessa perspectiva, destacamos as considerações feitas por Choppin (2004, p. 559):

A organização interna dos livros e sua divisão em partes, capítulos, parágrafos, as diferenciações tipográficas (fonte, corpo de texto, grifos, tipo de papel, bordas, cores, etc.) e suas variações, a distribuição e a disposição espacial dos diversos elementos textuais ou icônicos no interior de uma página (ou de uma página dupla) ou de um livro só foram objeto, segundo uma perspectiva histórica, de bem poucos estudos, apesar dessas configurações serem bastante específicas do livro didático. Com efeito, a tipografia e a paginação fazem parte do discurso didático de um livro usado em sala de aula tanto quanto o texto ou as ilustrações.

Nesse sentido, é fato que, cada livro, “[...] cada suporte, cada estrutura da transmissão e da recepção do escrito afeta profundamente seus possíveis usos e interpretações” (Chartier, 2003, p. 44-45). Logo, os princípios que guiam e regem as narrativas no interior dos livros escolares pressupõem a decifração de outros que fundamentam os seus processos de produção, circulação e comunicação. Textos e suportes estão profundamente ligados, inspirando-se mutuamente. Os manuais de HE garantem, a partir das suas formas teóricas e metodológicas, uma composição de narrativas que emoldura uma seleção de conhecimentos socialmente valorizados, que (co)respondem aos interesses daquilo que se fazia necessário ensinar e aprender sobre os temas da HE.

Num comparativo entre os manuais de Monroe e Luzuriaga, é possível observar similitudes tanto na organização como na escolha dos conteúdos. Os livros em questão possuem índices (também denominados sumários), que organizam os capítulos; e enunciados, que demarcam a separação entre capítulos, sempre apresentados em letras em negrito e caixa-alta (destaque), antecipando os conteúdos contemplados14. Os subtítulos divididos por seções menores revelam textos breves e separados, a fim de tornar as explicações da HE mais acessíveis às futuras professoras e professores.

Os cursos que optavam por utilizar a obra História da educação (1939), de Monroe, escolhiam uma referência modelar para outros livros de HE. Essa afirmação advém das várias menções feitas a esse autor em manuais como o de Afrânio Peixoto e Miranda Santos, além de ser possível visualizar semelhanças relacionadas à estrutura, à organização dos manuais e às temáticas abordadas sobre a HE. Monroe, assim como Peixoto e Miranda Santos, privilegiou organizar as narrativas a partir de uma disposição cronológica das diferentes civilizações, dividindo os capítulos em: Educação dos Povos Primitivos; Educação no Oriente; Educação Grega e Romana; Educação na Idade Média; Educação no Renascimento; e a Educação na Modernidade.

Nessa organização dos conteúdos de HE, naturalizada e limitada, Paul Monroe afirmava que o estudo da educação do passado proporciona compreender os estágios posteriores e mais complexos da atividade educacional. O estudo das teorias educacionais, que ainda sobrevivem nas instituições educativas “[...] controladas por associações religiosas ou por certas classes dominantes na sociedade” (Monroe, 1968, p. 370) e expostas através de currículos e programas educacionais, possibilita entender a educação e a sua história:

O objeto da velha educação do esforço era desenvolver na criança o poder de atenção voluntária, de aplicação, de fôrça [sic] de vontade, que a habilitasse a vencer os obstáculos ou realizar as tarefas da experiência de cada dia. O objetivo da nova educação de reconciliação é alcançar o mesmo fim por meio do apelo imediato à atenção espontânea e aos interesses da criança (Monroe, 1968, p. 368).

A história, para Monroe, portanto, é apresentada para as professoras e professores como sinônimo de vida social e a educação partícipe da construção e do aprimoramento da sociedade. No sumário da obra de Monroe, a palavra educação está presente nos títulos dos capítulos, determinando o conteúdo a ser estudado, por exemplo: capítulo I, “Povos primitivos: a educação em sua expressão mais simples”; capítulo II, “Educação oriental. A educação como recapitulação: a China como padrão”; no capítulo IV, “Os romanos: A educação como treino para a vida prática”; no capítulo V, “A Idade Média: a Educação como disciplina”; entre outros capítulos escritos à luz das ideias pedagógicas e das tendências educacionais.

A educação, dessa forma, se configura como fator de progresso e evolução, a fim de mostrar que, desde os povos primitivos até os períodos considerados modernos e contemporâneos, a educação é vista como meio para moldar a sociedade, porque é sua guardiã.

No manual História da educação e da pedagogia (Luzuriaga, 1963), o autor descreve para as futuras professoras e professores que a educação se configura como a ação ampla que uma sociedade exerce sobre as gerações mais jovens com a finalidade de conservar e transmitir aos mais jovens a existência coletiva. O autor se aproxima da visão do sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) que via na educação o meio através do qual a sociedade se perpetuaria. Luzuriaga ainda afirma que a educação, por ser um agente ativo de mudança social, seria responsável por transmitir valores morais que integram a sociedade e, sob essa condição, os professores das séries iniciais poderiam provocar mudanças na educação e, por consequência, na sociedade.

Assim como Monroe, o autor Luzuriaga destaca que, no desenvolvimento histórico da educação, é possível observar diferentes fases, como a Educação Primitiva, a Educação Oriental, a Educação Clássica, a Educação Medieval, a Educação Humanista, a Educação Cristã Reformada, a Educação Racionalista e Realista, a Educação Naturalista, a Educação Nacional e a Educação democrática; todas com características particulares, embora não exclusivas ou únicas, “[...] pois a vida humana não se pode reduzir a esquemas simplistas” (Luzuriaga, 1972, p. 5).

Para Luzuriaga (1963, p. 9), a HE não estuda o passado pelo passado, “[...] tal coisa morta, por pura erudição [...]”, mas como explicação do “[...] estádio atual”. A educação presente é fase do passado e preparação para o futuro. O autor ressalta, para as professoras e professores, que o estudo da HE constitui um meio para melhorar a educação atual, porque informa sobre as reformas educacionais, sobre o perigo das ideias utópicas e as resistências anacrônicas, reacionárias que a educação tem experimentado. Para além dessas definições, o autor descreve que a HE possui a sua história, que é a história da mudança e do desenvolvimento da educação e, por outro lado, faz parte da cultura, sendo condicionada historicamente, variando segundo as características dos povos e épocas.

Nessa perspectiva de análise, tanto Monroe, como Luzuriaga oferecem aos professores descrições sobre a educação e civilizações, ajustando-se à ideia de evolução e apresentam uma sequência espacial-temporal pautada numa visão eurocêntrica e, como analisa Dussel (2005, p. 55), um “[...] invento ideológico”. No imaginário dos autores, a educação possui a sua gênese nos povos primitivos e desses seguem com as descrições sobre o desenvolvimento das civilizações que se encerram com o período moderno e contemporâneo, demonstrando que os estágios posteriores se tornam mais complexos.

Sobre esses períodos, os autores assemelham as suas escritas ao enaltecerem os princípios da educação universal, gratuita e obrigatória. Para utilizar as palavras de Luzuriaga, é possível perceber, historicamente, que se instituiu um movimento de ação e reação entre sociedade e educação, entre esta e a cultura, e entre as nações.

É importante destacar que Luzuriaga defende e descreve detalhadamente em seu manual o movimento pela Escola Nova, dividindo-a em grupos específicos. O primeiro grupo seria o das escolas novas inspiradas nas primeiras escolas inglesas de Abbotsholme e Bedales, que deram início ao movimento na Europa, por volta de 1890. O segundo grupo seria das escolas experimentais, do tipo pedagógico e técnico, que se originaram nos Estados Unidos, principalmente por influência da escola universitária de Dewey, em 1896. O terceiro grupo seria das “escolas ativas”, de caráter metodológico, inspiradas em novos métodos e criadas por educadores, como a “Casa das crianças”, de Montessori, a “Escola para a vida”, de Decroly, ambas de 1907, e a “Escola de Dalton”, de Parkhurst, de 1918. O quarto grupo seria das “escolas de ensaio e reforma”, que abarcariam várias instituições de um sistema escolar, oficial, como as reformadas por Kerschensteiner a partir de 1896, e por Sickinger e Washburne (Luzuriaga, 1963).

Paul Monroe não apresenta descrições aprofundadas sobre as escolas novas, provavelmente devido à sua obra ter sido escrita quando se iniciavam as discussões sobre o tema. O autor cita brevemente Dewey como sendo o professor responsável por definir a educação como o processo de reconstrução da experiência, harmonizando os fatores individual e social. Todavia, nas páginas finais de seu livro, Monroe afirma que um novo sentido dado à educação se fazia presente, buscando combinar a preparação para a cidadania, ajustamento à sociedade, preparação para a vida e a harmonização na natureza do processo educativo.

Os autores também apresentam um cânone de educadores (Sócrates, Platão, Aristóteles, Erasmo, Rabelais, Montaigne, os Jesuítas, Lutero, Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Herbart, entre tantos outros) que teorizaram a educação e formularam um conjunto de ideias e conceitos, que serviram de sustentação para as doutrinas pedagógicas. Para retratar as doutrinas pedagógicas desenvolvidas no passado, Luzuriaga utiliza o termo “idéias [sic] pedagógicas”, por sua vez Monroe usa “tendências”, todas com a finalidade de demonstrar o percurso das principais teorias educativas. Os textos representam as principais doutrinas que marcaram o passado, ou melhor, descrevem os filósofos, educadores, padres, sociólogos, que, com suas ideias, inspiraram várias gerações de professores. Desse modo, as doutrinas se encontrariam ligadas à trajetória de grandes educadores, os quais, desde os mais longínquos tempos e civilizações, seriam os responsáveis por fomentar novas ideias educativas e por dar consistência e direção às novas aspirações culturais e educativas.

Vale destacar que, nas descrições sobre os educadores e as doutrinas pedagógicas, prevalece uma intertextualidade entre os manuais de HE. É o caso, por exemplo, dos manuais de Miranda Santos, Hubert, Peixoto e Luzuriaga, que incorporam à sua narrativa as ideias de Monroe. Ou ainda de Miranda Santos, que cita Luzuriaga e Peixoto. Nas palavras de Vieira (2011, p. 98), Monroe e outros autores são referenciados para “[...] sacramentar interpretações que, longe de serem demonstradas, são apresentadas ao leitor chanceladas pela autoridade dos autores e dos seus interlocutores”.

Nas escritas sobre HE, também são valorizadas as instituições educativas ou escolas, convertidas em espaços institucionalizados associados ao desenvolvimento das civilizações. A escola se constituiu no locus privilegiado de acesso aos bens culturais produzidos e valorizados pela humanidade. No quadro a seguir (Quadro 2), são apresentadas considerações presentes nos dois manuais, que afirmam a importância da relação entre o passado das instituições educativas para a HE:

Fonte: Monroe (1939) e Luzuriaga (1978).

Quadro 2 - Sentidos atribuídos às instituições educativas.  

Consequentemente, a HE se configura, nos manuais, como um saber a ser ensinado, saber ensinado e saber aprendido, dispondo dos conceitos propostos por Bittencourt (2008). Um saber que privilegia a educação e a sua história, destacando a evolução das civilizações em diferentes períodos históricos, e que está aliado ao desenvolvimento da vida humana, principalmente por meio da educação escolar. Das ideias mais defendidas, que inter-relacionam a educação aos processos de evolução das sociedades, a que se sobressai é a que se refere à HE como o estudo do passado e meio para explicar o presente e prever o futuro.

As concepções presentes nos textos, pautadas num passado como lição para o presente, revelam e conformam narrativas que efetivamente constituem a HE como uma disciplina formadora, a qual, ao indicar o seu termo limitativo - da educação -, prima por uma concepção mais educativa que histórica e mais útil que matricial. A função da HE, nessa perspectiva, concordando com Warde (1998, p. 91-2), era a de “[...] responder à necessidade de os futuros professores cogitarem do dever ser educacional, dos valores humanos mais elevados a serem preservados e despertados [...]”, o que a tornaria útil por oferecer justificativas para o presente.

Considerações finais

Devido à estima pelo estudo sobre os livros destinados à formação docente, assim como Jorge Luiz Borges (1987), os manuais de HE foram considerados uma extensão da memória e da imaginação, porque difundem e legitimam representações do que deveria ser fundamental para o seu ensino nos cursos de formação de professores. Por essa razão, os manuais se traduziam ao mesmo tempo em “símbolo e metáfora”, porque exprimiam sentidos àquelas(es) que os manuseavam.

Para retornar às expressões de Mallarmé (1945), neste trabalho, o “concreto” dos manuais de HE se encontra nas reflexões sobre os elementos que organizaram a sua distribuição para os cursos de formação de professores. A editora e os seus editores, a coleção, os autores, os elementos que visualmente apresentam a importância desses materiais (como as capas, folhas de rosto, orelhas), didaticamente inspiram o seu uso e orientam a atividade educativa de professores e alunos. O “imaginário” levou aos possíveis sentidos atribuídos à HE, tanto com relação à leitura e interpretação dos conteúdos sobre a educação e sua história, como dos sentidos expressos à profissionalização docente ou ao exercício de ensinar.

Dessa maneira, estabelecer um inventário dos manuais de HE é um passo considerado fundamental para manter viva a história dos processos de formação docente e da própria história da HE. Nunca é demais repetir que o que um dia foi o novo - o livro novo -, hoje, é uma importante parte da história e da memória de um campo.

Frente a isto, duas questões mereceram destaque: a primeira se refere às obras estrangeiras de Luzuriaga e Monroe, que obtiveram larga tiragem, confirmando a sua circulação e a existência de um intercâmbio entre as escritas nacionais e internacionais da HE; a segunda diz respeito à trajetória de publicação dos manuais enquanto testemunho das mudanças ocorridas nos currículos e programas da formação docente a partir de 1930, do ápice das reimpressões em 1970, ocasionadas pelo aumento de matrículas nas instituições secundárias e superiores de formação docente e nas escolas primárias e da queda na produção a partir do final de 1980, relacionada às mudanças no campo da HE.

Por atravessarem as fronteiras dos seus países de origem e a linha do tempo, os livros de Monroe e Luzuriaga durante décadas preservaram em sua estrutura a fundamentação histórico-universal e a função prática e utilitária. Fundamentados na concepção histórico-universal, os seus conteúdos se pautavam em breves estudos dos períodos históricos, relacionando-os a um passado educativo. Ademais, em uma função prática e utilitarista, ensinavam às futuras professoras e professores saberes sobre a história da escola, das doutrinas pedagógicas e do ensino, considerados conteúdos importantes para a formação e atuação profissional.

Nessa lógica, os manuais se assemelham às definições sobre a HE. Os autores concordavam que a HE era importante para desvendar as civilizações, as conquistas do passado e os perfis dos grandes educadores, bem como estavam de acordo em relação à ideia de que a HE impediria que as professoras e professores ficassem alheios à história do passado educativo, que servia para entender o presente e preparar o futuro.

Por fim, o passado educativo se tornou a grande lição presente nos manuais. Na fusão entre o “concreto” e o “imaginário”, os manuais de HE representaram a articulação entre saberes, valores morais e condutas necessárias às futuras professoras e professores. Além disso, se tornarem instrumentos mediadores dos processos de aprendizagem sobre a história da educação, da escola e do ensino.

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1 Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires em 1899 e faleceu em Genebra em 1986. Foi escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta. Em 1923, publicou seu primeiro livro de poemas, Fervor de Buenos Aires. O texto citado na epígrafe é intitulado ‘O livro’, encontrado no livro Cinco visões pessoais, publicado pela Editora Universidade de Brasília, em 1987.

2O poeta simbolista Stéphane Mallarmé nasceu em Paris em 1842 e faleceu em 1898. Inspirado em Charles Baudelaire, escreveu vários livros, destacando-se: Hérodiade [Herodíades] de 1869, L'après-midi d'un Faun [A tarde de um Fauno] de 1876, e Oeuvres complètes [Obras completas] de 1945.

3Utilizou-se a classificação de títulos da CAP conforme a organização elaborada por Toledo (2001), porém foi acrescido à lista o manual Pedagogia geral de Leif e Rustin, porque seu conteúdo se assemelha às demais obras elencadas.

5O nome de Fernando de Azevedo à frente da BPB tornou-se significativo por ser um intelectual renomado, visto que proporcionaria popularidade à coleção, criando assim “[...] a necessidade do consumo dos textos alocados, por ser autoridade reconhecida na matéria [...]”, e não devido ao Manifesto dos pioneiros da Educação Nova de 1932, já que a BPB é lançada no ano que antecede ao Manifesto e ao conflito que se estabelece entre os ‘renovadores’ e os ‘católicos’ (Toledo, 2001, p. 58). Mas, é importante destacar que tanto a Reforma do Distrito Federal de 1927, como o Manifesto concederiam a Azevedo o lugar de autoridade intelectual e política, tanto para o campo educacional, como para o cenário político nacional.

6Octalles Marcondes Ferreira, dono da Companhia Editora Nacional e da Editora Civilização Brasileira, subdividiu o mercado editorial em duas frentes: a Editora Nacional para os ‘renovadores’ ligados a Azevedo e a Civilização Brasileira para os ‘católicos’, englobando neste período diferentes leitores, com diferentes frentes de publicações (Toledo, 2001).

7Os livros elencados, tanto brasileiros como estrangeiros, em sua maioria, fazem parte dos catálogos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e da Biblioteca de Educação da Universidade Federal do Paraná.

8O livro de Ruy de Ayres Bello (professor catedrático da Universidade do Recife, da Universidade Católica de Pernambuco, do Instituto de Educação de Pernambuco) não fez parte da Coleção atualidades pedagógicas.

9De acordo com o Anuário estatístico do Brasil, houve um crescimento significativo de alunos matriculados nas Escolas Normais entre os anos de 1945 a 1971. Destaca-se ainda que a Reforma Universitária de 1968 oficializaria a nova estrutura curricular dos cursos de Pedagogia que, criado em 1939, se expandiria por todo o Brasil.

10O campo da HE atualmente se difere da realidade observada no século passado, pois, em 1984, houve no Brasil a criação do Grupo de Trabalho em História da Educação na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa (ANPEd) e, em 1999, da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), como também a criação de diversos grupos de pesquisa vinculados aos programas de pós-graduação em Educação de todo o país. Todo esse movimento apoiado em debates sobre a historiografia da História da Educação que tem levado intelectuais da área como Mirian J. Warde, Martha M. M. C. de Carvalho, Clarice Nunes, José G. Gondra, Carlos Eduardo Vieira, entre outros, a compreender o itinerário, as mudanças ocorridas e a construção da HE e suas escritas tanto em cenário nacional como internacional.

11Neste trabalho não se procederá a análise das traduções e/ou dos tradutores, porém, sobre o processo de tradução dos manuais compreende-se, a partir de Ricouer (2011, p. 27), que mesmo não sendo “[...] absolutos linguísticos [...]” que aboliam as diferenças entre o próprio e o estrangeiro, eram bem acolhidos, configurando um diálogo entre culturas.

12Dentre os autores brasileiros que se inspiraram no texto de Monroe, destacam-se os livros homônimos de Peixoto e de Santos, conforme pesquisas realizadas por Roballo (2007, 2012, 2021).

13O manual de Monroe apresenta cerca de trinta imagens sobre as civilizações, as escolas e universidades, salas de aula do passado, entre outras, transformando-se em um recurso de comunicação que concretiza noções sobre os valores e costumes de determinadas sociedades, em diferentes contextos históricos.

14Esse recorte, que escandia o texto por títulos de capítulos ou mudanças de linhas, como explica Chartier (2004), é como uma inscrição no livro daquilo que os editores pensavam ser a leitura: “[...] uma leitura que não é exímia nem contínua, mas que pega e larga o livro, só decifra com facilidade sequências breves e fechadas, exigindo marcações explícitas” (p. 272-273).

34Rodadas de avaliação: R1: três convites; uma avaliação recebida. R2: um convite; uma avaliação recebida.

35Como citar este artigo: Roballo, R. O. B. (2023). A longa, concreta e imaginária presença dos manuais de história da educação estrangeiros no Brasil (1930-1980). Revista Brasileira de História da Educação, 23. DOI: https://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e273

Financiamento: A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) e do Programa Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Recebido: 29 de Setembro de 2022; Aceito: 29 de Março de 2023; Publicado: 30 de Junho de 2023

E-mail: roberlayne@ufpr.br

Roberlayne de Oliveira Borges Roballo: Professora do Departamento de Planejamento e Administração Escolar, Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PRPPG/UFPR) - Linha de Pesquisa História e Historiografia da Educação. Doutora e Mestre em Educação pelo PRPPG/UFPR. Integrante do Grupo de Pesquisa História Intelectual e Educação e do Observatório de Culturas e Processos Político-Pedagógicos. Secretária de Educação do Município de Curitiba (Gestão 2013-2016) e Coordenadora do Fórum Municipal de Educação (gestão 2013-2016). E-mail: roberlayne@ufpr.br. https://orcid.org/0000-0002-9545-611X

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