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Revista Brasileira de História da Educação

Print version ISSN 1519-5902On-line version ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.23  Maringá  2023  Epub June 01, 2023

https://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e277 

DOSSIÊ

“Querida mamãe, querido papai”: a invenção de uma prática escolar (1964 - 1980)

‘Querida mamá, querido papá’: la invención de una práctica escolar (1964 - 1980)

1Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.


Resumo:

O objetivo deste artigo é descrever e problematizar a materialidade de um conjunto de 35 cartões, representativos de uma prática escolar de confecção de cartões alusivos às datas comemorativas do Dia das Mães e do Dia dos Pais. O trabalho foi realizado considerando os cartões na interlocução com outras fontes complementares. Os materiais foram produzidos no período entre os anos de 1964 e 1980 em escolas multisseriadas da zona rural do município de Pelotas/RS. Os artefatos foram caracterizados pela abordagem da história cultural e interpretados pela perspectiva da cultura material escolar. Concluiu-se que a produção dos cartões comemorativos é constituída pelo currículo escolar e consolidada por uma prática de tradição inventada.

Palavras-chave: história da educação; cultura escolar; cultura material; prática educativa

Resumen:

El objetivo del artículo es describir y problematizar la materialidad de un conjunto de 35 tarjetas, representativos de una práctica escolar de confección de tarjetas alusivas a las fechas conmemorativas del Día de las Madre y del Día del Padre. El trabajo se llevó a cabo considerando las tarjetas em la interlocución con otras fuentes complementarias. Los materiales se produjeron entre los años 1964 y 1980 en escuelas multigrado de la zona rural del municipio de Pelotas/RS. Los artefactos fueron caracterizados por el abordaje de la historia cultural e interpretados por la perspectiva de la cultura material escolar, y se llegó a la conclusión de que la producción de las tarjetas conmemorativas está constituida por el currículo escolar y consolidada por una práctica de tradición inventada.

Palabras clave: historia de la educación; cultura escolar; cultura material; práctica educativa

Abstract:

The present study aimed to describe and discuss the materiality of a set of 35 cards, which represent a school practice of making cards that allude to commemorative dates such as Mother’s Day and Father’s Day. The study was performed taking into account cards in dialogue with other complementary sources. The materials were produced between the years of 1964 and 1980 in multigrade schools in the rural area of the municipality of Pelotas, state of Rio Grande do Sul. The artifacts were characterized by the cultural history approach and interpreted from the perspective of school material culture. In conclusion, the production of greeting cards is constituted by the school curriculum and consolidated by a practice of invented tradition.

Keywords: history of education; school culture; material culture; educational practice

Introdução

A consolidação dos campos da cultura escolar e da cultura material escolar, atrelados à perspectiva da História Cultural (Chartier, 1988), abarca mudanças, desafios e potencialidades, que configuraram esse giro historiográfico, no qual há um deslocamento de interesse, que passa do plano das políticas educacionais e das reconhecidas instituições às práticas culturais e cotidianas, em que se consideram os objetos, as suas materialidades e os seus usos. Há, nesse sentido, a valorização das múltiplas produções escolares, entendendo-as como um patrimônio educativo caracterizado pelas práticas culturais específicas e pelos modos empíricos do fazer docente e discente presentes no espaço escolar (Benito, 2010).

A perspectiva de ampliação das fontes a partir da história cultural (Bencosta, 2007; Felgueiras, 2015) constitui-se como um potencial horizonte de investigação, que possibilita ou que exige dos pesquisadores da área a inserção abrangente de fontes documentais, justamente porque pretende adentrar o espaço das práticas culturais que configuram o cenário escolar. Tal perspectiva impõe um esforço conceitual e metodológico, pois se faz necessário não só o acesso às fontes, mas também um trabalho criativo e diferenciado para a sua interpretação.

Ao mencionar a consolidação dos campos da cultura escolar e da cultura material escolar - que foi demarcada no Brasil especialmente a partir dos anos finais do século XX e do início do século XXI (Bencosta, 2007) -, de forma alguma, pode-se entender essa consolidação como uma unificação desses campos e noções. É necessário compreender que esses são campos demarcados por disputas e tensões, que se diferem nas relações conceituais e metodológicas e que podem ser trabalhados de forma correlata ou analisados distintamente.

Autores internacionais, como Benito (2000), Dussel (2014), Frago (2008) e Julia (2001), exemplificam essas disputas, expondo conceitos e problematizando-os, na tentativa de explicá-los e de demarcar os espaços de reflexão e de interlocuções. Logo, é necessária a compreensão de que ambos os campos, nas diferentes perspectivas, destacam que a produção da cultura escolar e da cultura material escolar se organizam a partir das relações culturais e sociais dos atores que as constituem, caracterizando uma produção material abrangente, que permite a exploração de diversas fontes documentais, bem como viabiliza que artefatos e materiais antes ignorados integrem cenários investigativos e potencializem as reflexões sobre as culturas da escola.

Assim, com essa compreensão como base, considera-se que cada pesquisador e pesquisadora que se aproxima das investigações com e sobre a cultura material escolar poderá contribuir, a partir de suas aproximações teóricas e metodológicas, para a ampliação e a apresentação de novas fontes documentais e de possibilidades exploratórias, reflexivas e discursivas. Nesse sentido, neste estudo, apresenta-se uma possibilidade de fonte documental que se refere a uma produção escolar realizada de forma manual, a qual consiste em cartões alusivos às comemorações do Dia das Mães e do Dia dos Pais.

Esses artefatos, produzidos por alunos e professoras na escola, portam, em sua materialidade, uma possibilidade investigativa, que traz à tona aspectos da cultura material escolar e que podem ser explorados em consonância com aspectos relativos aos discursos pedagógicos, à organização do currículo, às concepções de infância e de padronização familiar, entre outros. Eles são representativos de determinada prática e estão salvos do descarte e salvaguardados em um centro de memória e pesquisa1, contribuindo para reflexões acerca das práticas escolares em interlocução com outras fontes documentais.

A partir das diversas práticas cotidianas, a escola colabora para a construção social e cultural dos sujeitos que nela se inserem. Neste trabalho, não se pretende explorar a forma como são planejadas, organizadas e executadas as atividades com as datas comemorativas, como se observou nos trabalhos de Tonholo (2013), que explorou as datas comemorativas no contexto escolar; Palauro e Tomazetti (2016), que discutiram as datas comemorativas e o planejamento para a Educação Infantil; e Linhares (2018), que explorou os aspectos da formação continuada em relação ao trabalho com as datas comemorativas.

Além disso, não é o objetivo deste estudo realizar uma contextualização de como são ou de como deveriam ser abordadas essas atividades nos contextos escolares. Logo, este artigo se propõe a explorar a compreensão histórica dessa prática escolar, que perpassa tempos e espaços e que se consolidou no campo educativo, pois, como enfatiza Benito (2017, p. 119), “[...] a própria escola, mediante suas práticas, cria, codifica e transmite modelos culturais”.

Dessa forma, para este texto, cotejou-se as fontes principais de investigação, representadas pelo conjunto de cartões comemorativos, e nas fontes complementares, tais como as Revistas do Ensino do Rio Grande do Sul, os boletins escolares dos alunos que confeccionaram os cartões e os livros Educação cívica e calendário cívico brasileiro (1º e 2º semestre), de Amaral Fontoura (1967a, 1967b).

A partir dessa premissa, o artigo está organizado em três blocos: (a) inicialmente, há a introdução, já apresentada acima, na qual se discutem, brevemente, elementos da virada historiográfica no campo educacional; (b) na sequência, os aspectos teóricos e metodológicos utilizados na organização dos dados e as interlocuções com outras fontes, bem como as reflexões produzidas a partir delas foram problematizados; (c) e, por fim, as considerações finais são apresentadas, sintetizando e indicando algumas percepções produzidas.

A caixa de guardados: uma breve contextualização

Considera-se necessário expor alguns aspectos relativos ao contexto e ao movimento de busca desses materiais, que englobam o processo de conservação e de doação. Sabe-se que, em arquivos pessoais e familiares, há verdadeiros tesouros e, para encontrá-los, é necessário um investigador atento aos detalhes e às pistas e que esteja disposto a exercitar esse gesto artesão (Farge, 2017), característico de quem se propõe a operar com essas fontes em particular, ou seja, de quem se propõe a manipular manualmente as fontes e é capaz de interpretá-las.

Por conhecer essas possibilidades, e entendendo que a salvaguarda da memória de muitas famílias e das relações culturais e sociais que vivenciaram fica/ficou circunscrita a caixotes e baús antigos, a velhas malas e a espaços de pouca visibilidade, este trabalho adentrou o campo dos guardados familiares. Esses guardados podem ser analisados pela perspectiva dos arquivos pessoais; além disso, eles permitem uma série de desdobramentos, em razão da diversidade que, geralmente, os materiais oferecem, pelo desejo das pessoas de guardar objetos e guardá-los em papel (Cunha, 2019), por exemplo, as cartas, as agendas, os diários, os cartões, os bilhetes, etc. Nesse sentido, destaca-se que a simples durabilidade do artefato “[...] já o torna apto a expressar o passado” (Menezes, 1998, p. 90). Assim, os artefatos são documentos e, sob essa compreensão, a forma como são percebidos se modifica e redireciona, pois busca-se e se opera com os objetos e com os materiais, ou seja, com as fontes.

Ao garimpar materiais nos guardados familiares, verificou-se que ainda restavam, perdidas ou abandonadas, nos galpões da casa localizada na zona rural, caixas empoeiradas e velhas sacolas, com muitos artefatos relacionados ao mundo da escrita e ao contexto escolar. Por algum motivo, foram salvos do fogo e/ou do descarte alguns livros, cadernos de anotações, boletins escolares, convites variados e cartões diversos, que retratam as possíveis relações da família com a cultura escrita. Com isso, surge a possibilidade de investigar a materialidade dos contextos escolares, principalmente, por meio dos artefatos postos em discussão: os cartões alusivos às comemorações do Dia das Mães e do Dia dos Pais e os boletins escolares.

De imediato, a salvaguarda do material foi garantida, haja vista que esse foi doado a um arquivo institucional especializado na escolarização primária. Os cartões guardados pertenceram a 12 irmãos (seis homens e seis mulheres) que frequentaram concomitantemente o espaço de uma escola multisseriada da localidade, aspecto comprovado tanto pelo conjunto de cartões produzidos nas datas comemorativas quanto pelo conjunto de boletins escolares.

Dos guardados às fontes: abrindo os cartões

Benito (2017) considera que a produção cotidiana da escola, em específico, a da sala de aula, é um importante elemento representativo e que propicia a interpretação da cultura escolar e da cultura material escolar. Felgueiras (2015, p. 170) também destaca a importância da salvaguarda das fontes para a área da História da Educação e defende “[...] a assunção da materialidade como uma perspectiva muito produtiva na compreensão do processo educacional e como um meio de chegar aos atores de uma forma inesperada, mediada pelos objetos [...]”, sendo claras a simultaneidade e complexidade das relações dispostas entre atores e objetos nessa produção. Segundo a autora:

Folhas, esferográficas, paredes brancas, mobiliário escolar, edifícios, batas, cadernos, em sua materialidade, são signos de pertença a uma cultura. Os artefatos não têm um significado único, o verdadeiro, estabelecido de uma vez por todas, mas um conjunto de possíveis, existindo em paralelo. Há toda uma série de possibilidades de uso que se lhes podem atribuir, das quais só algumas serão possíveis, pois o seu uso está limitado pelo conjunto de normas e valores, de representações mais ou menos conscientes, explícitas e implícitas. Os objetos adquirem significado na relação com uma rede de outros objetos e pessoas que, ao usá-los, vão deixando a marca das suas práticas e vão se constituindo também como sujeitos outros (Felgueiras, 2015, p. 182).

Assim, ao eleger o conjunto de artefatos alusivos às comemorações do Dia das Mães e do Dia dos Pais como potencializadores de reflexões acerca da cultura material escolar, uma primeira problematização vem à tona, qual seja: a nomenclatura a ser utilizada para defini-los, tendo em vista que os materiais vinculam-se às datas comemorativas, relacionam-se aos eventos históricos e aos rituais culturais de determinados contextos e remetem aos aspectos e costumes e/ou à tradição de determinadas sociedades. Eles são inseridos na instituição escolar de forma a representar uma relação da escola com o meio social, podendo ser classificados, segundo Tonholo (2013), como de caráter civil, religioso ou cultural.

Assim, optou-se por denominá-los de cartões alusivos às comemorações do Dia das Mães e do Dia dos Pais, considerando as características físicas, a materialidade e a finalidade que os configuram, sendo dada uma especial atenção ao tipo de papel utilizado (cartão2), aos seus formatos (retangulares, estereótipos gráficos, abre e fecha) e aos adereços variados que os compõem (fitas, decalques, recortes e colagens).

O conjunto de artefatos é composto por um total de 35 cartões, sendo 12 cartões enviados ao pai e 23 enviados à mãe. Do total de cartões, 11 não apresentam registro de data; enquanto os outros 24 cartões correspondem ao período entre os anos de 1964 e 1980, como se pode observar na Tabela 1, com o registro detalhado da periodização dos cartões.

Tabela 1 Relação de cartões por ano 

Número Ano
4 1964
8 1965
1 1966
- 1967
- 1968
1 1969
- 1970
1 1971
- 1972
1 1973
1 1974
2 1975
1 1976
1 1977
1 1978
1 1979
1 1980
11 Sem data
35 Total

Fonte: As autoras (2022).

Ao observar os dados organizados na tabela, é necessário apontar o fato de que a ausência de cartões para determinados períodos não necessariamente significa que eles não tenham sido produzidos nessas épocas. Entre inúmeras possibilidades, os materiais podem ter sido perdidos ou extraviados, ou podem também corresponder aos cartões sem identificação de data, hipótese bastante plausível.

A partir da verificação da quantidade de produções e de sua periodização, organizou-se um quadro descritivo para cada cartão, o qual contempla, de forma detalhada, a materialidade dos cartões (formato, tipo de papel, texto, caligrafia, instrumento de escrita, material para adorno e a imagem do cartão). Neste momento, apenas um dos exemplos da organização do Quadro 1 será explicitado, de modo a evidenciar que essa organização é considerada aspecto metodológico da produção dos dados da pesquisa.

Fonte: As autoras (2022).

Quadro 1 Exemplo da caracterização dos cartões.  

As informações organizadas no quadro remetem à peculiaridade dos artefatos e possibilitam uma visão geral do conjunto. Dessa maneira, é possível observar a escolha dos elementos gráficos nos períodos próximos, a coexistência das produções e as diferenciações ao longo do período analisado.

A partir dessa mostra empírica de materiais, constata-se que eles podem propiciar algumas problematizações acerca da constituição da cultura da escola, que se organiza, segundo Benito (2017), pela interconexão de cultura empírica, cultura científica e cultura política. Nesse sentido, a cultura política e a cultura científica são representadas pelas indicações divulgadas nos impressos pedagógicos e nos boletins escolares, fontes complementares da pesquisa. A cultura empírica, por sua vez, é constatada na expressão significativa da produção dos cartões, pois ela é a representação dos saberes das professoras, produzidos, adaptados e compartilhados na prática cotidiana da sala de aula ao longo dos anos como uma prática escolar.

Além disso, ao analisar o conjunto de cartões, verifica-se que essa análise se reflete e se relaciona com o conceito de materialidade de Chartier (2014, p. 37), “[...] como a modalidade de sua inscrição na página ou de sua distribuição no objeto escrito”. Nesse sentido, a própria inscrição do texto em conjunto com os formatos do cartão (corações, janelinhas, decalques, flores, etc.) e dos materiais utilizados em sua confecção lança diferentes formas de leitura, considerando o suporte e o texto nele inserido. A partir dessa materialidade, nota-se a relevância de confeccionar algo à mãe e ao pai, pois se observa, no conjunto dos cartões e na organização do suporte de escrita, um empenho na escolha e na utilização dos elementos gráficos, a exemplo do decalque de flores e de outras imagens. Assim, pode-se caracterizar que há afetividade e respeito inscritos nas produções, bem como se pode ponderar que, ao guardar esse material, essa leitura afetiva e respeitosa também foi realizada pelos sujeitos que as receberam.

Para além desses aspectos, que constituem o conceito de materialidade e estão presentes no conjunto, é possível visualizar, pela produção dos cartões, pelos indícios e pelas marcas que os compõem, os materiais e os instrumentos utilizados para a confecção; a título de exemplo, os diferentes formatos, os tipos de papel, as aplicações de pequenas figuras, recortes, colagens e dobraduras. É necessário ainda atentar às particularidades do registro escrito (tipos de letras, posição da escrita, inserção de linhas), pois esses elementos indicam a ação das professoras e dos alunos na composição dos artefatos.

Com relação aos registros escritos, os textos são diversos, não muito extensos, e podem ter sido (re)produzidos pelas professoras, escritos de forma espontânea pelas crianças ou copiados por elas. Essa diversidade foi constatada a partir da materialidade dos textos, nos quais aspectos referentes à caligrafia (da criança e da professora) e à organização gráfica das linhas foram observados. Os excertos a seguir exemplificam alguns dos registros apresentados nos cartões que foram copiados pela criança: “A boa mamãe neste dia um beijinho”, sem data definida; “Querida mamãe neste seu dia quero saudá-la com alegria”, em 1971. E reproduzidos pelas professoras: “Feliz domingo de agosto. Lembrança do Dia dos Pais”, em 1964; “Ao meu papai muitas felicidades”, em 1965.

Para além das mensagens de afeto e carinho, este estudo identificou, registrado no cartão “Mamãe”, de 9/5/1971, o seguinte texto: “Amanhã às 3 horas compareça à escola para ser homenageada”. Pelo excerto, amplia-se e se confirma a percepção de que essa prática, relativa às datas comemorativas, configura o âmbito escolar e apresenta múltiplas possibilidades de desenvolvimento, pois se evidencia que, além da produção material dos cartões, realizava-se outro tipo de homenagem, que infelizmente não fica explícita no registro; entretanto, quando se relaciona essa informação aos dados das fontes complementares, fica sugerido que elas podem ser de caráter artístico musical ou teatral.

A possibilidade de interlocução com outros materiais contribui para a compreensão e para as reflexões sobre esses artefatos que constituem tal prática escolar. Para essa compreensão, operou-se com fontes complementares, como o conjunto de boletins escolares3, as Revistas do Ensino do Rio Grande do Sul e os livros do Educação cívica e calendário cívico brasileiro (1º e 2º semestre), de autoria de Amaral Fontoura, do ano de 1967. As aproximações ocorreram principalmente pela verificação de informações sobre a temática e pelas indicações de atividades a serem realizadas nas datas.

Os boletins escolares dos alunos foram selecionados porque indicavam os estabelecimentos escolares em que foram produzidos e quais as professoras que orientaram o ensino e a produção dos cartões no período, bem como para relacionar as materialidades com os aspectos dos currículos escolares, verificando a qual disciplina essa prática da manualidade poderia estar vinculada. Infere-se que estava associada à de Artes Aplicadas, disciplina que aparece nos boletins escolares do período de análise.

Pelos dados dos boletins, foi possível identificar duas escolas, ambas multisseriadas e da zona rural: a unidade escolar denominada Escola Conselheiro Cândido Batista de Oliveira; e uma segunda, caracterizada no boletim escolar como “Sem denominação”4, apresentando apenas a sua localidade, no meio rural, chamada de Corredor dos Cruz. Em ambos os estabelecimentos de ensino, os dados registrados nos boletins indicam que a composição do corpo docente era, em sua totalidade, feminina.

Além disso, a partir dos boletins, foi possível perceber que todos os adiantamentos5 produziam os cartões desde o 1º ao 5º ano, pois o cruzamento das datas dos boletins com as datas dos cartões produzidos foi realizado. Desde esse ponto de vista, a produção dos cartões constitui uma prática escolar experienciada pelos diferentes níveis no trabalho pedagógico em uma escola multisseriada em que os diferentes adiantamentos (série/ano) compartilhavam o espaço da sala de aula e as práticas escolares e possivelmente eram regidos pela mesma professora.

Ao observar os artefatos dos anos de 1964 e 1965, estima-se que eles foram produzidos pelas mesmas professoras de forma padronizada, confeccionados com o mesmo material (retangular, tipo de papel e decalques) e caligrafia; ademais, eles possuem o mesmo texto: “Com amor e carinho ao meu papai”6 ou “Com carinho e amor ao meu papai”, conforme Figura 1. Nesses dois anos, foi enviado ao papai um total de 8 cartões (3 cartões de 1964 e 5 cartões de 1965), produzidos pela professora para diferentes crianças. A análise indica que houve apenas a variação do decalque utilizado para ilustrar o cartão, além da variação do nome da própria criança.

Fonte: Acervo da pesquisa (2022).

Figura 1 Cartão para o papai (1965). 

Conforme mencionado anteriormente, a Revista do Ensino também foi analisada, pois ela se caracterizava como um importante periódico educacional produzido no Rio Grande do Sul entre as décadas de 1930 e 19907. Esse aspecto de orientação às professoras primárias pela via do impresso pedagógico foi o que permitiu, inicialmente, que se realizassem as primeiras reflexões e se pensasse a interlocução entre o que foi proposto na revista para as datas comemorativas e as produções dos cartões analisados. Nesse impresso pedagógico, algumas pistas para a problematização foram identificadas, como alguns modelos de confecção muito semelhantes aos dos cartões analisados e uma indicação de outras atividades que seriam realizadas nas datas.

Nos cartões que apresentam o formato de coração do ano de 1965, referente ao Dia das Mães, percebe-se que o modelo de base foi o mesmo, sendo a escrita e os desenhos, possivelmente, realizados pelos alunos. Na Figura 2, a seguir, apresentam-se os modelos de coração; embora eles sejam de formato semelhante, distinções nas suas materialidades podem ser visualizadas, por exemplo, nos tipos de papel, nos registros escritos, nas diferentes formas de ornamentar (desenhos com lápis de cor, decalques florais, colagens, fitilhos), nos instrumentos de escrita (lápis grafite, canetinha hidrográfica e caneta esferográfica) e, em específico no cartão B, um tipo de tinta para colorir e desenhar, em que há um aspecto sensível ao toque, pois uma textura diferente é percebida. Os modelos “abre e fecha” também se repetem ao longo dos anos e se diferenciam nos aspectos anteriormente mencionados.

Fonte: Acervo da pesquisa (2022).

Figura 2 Cartões com modelos de coração: (a) Querida mãe (1965); (b) À minha querida mamãe (n.d.); (c) Salve o dia 10 de maio (n.d.) e (d) Mamãe bonita te amo (n.d.). 

Observa-se, no conjunto de cartões, exemplificado nos objetos antes expostos, que todos os cartões com o modelo de coração foram oferecidos à mãe. O coração é o símbolo da afetividade, exercendo a simbologia do amor sagrado. No entanto, questiona-se: por que esse modelo foi oferecido somente à mãe? Ou era necessário afirmar o amor à mãe com o uso de simbologias afetivas, representadas pelo coração; enquanto, para o pai, como forma de respeito à figura familiar hierárquica, buscou-se outras formas para simbolizar esse amor, a exemplo do chapéu, da gravata e mesmo do cachimbo? A partir da materialidade dos cartões, é possível inferir que há diferenciações que configuram os papéis de pai e de mãe diante da sociedade, bem como observar que essas diferenciações são constituídas no espaço escolar pelas práticas realizadas.

Ao realizar o levantamento de dados nas Revistas do Ensino, uma série de propostas que orientavam o trabalho e as produções nesses períodos festivos referentes ao Dia das Mães e ao Dia dos Pais foi confirmada. Nas orientações, constam desde atividades manuais até a confecção de objetos utilitários e decorativos, a leitura de poemas, a realização de dramatizações e a inclusão de letras de músicas, com a presença das referidas partituras. Essas indicações consolidam a hipótese e o dado do cartão de 1971, de que outras atividades para além da produção do cartão eram executadas no contexto escolar.

Em publicação da Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1952, p. 22), verificam-se “Sugestões para a jardineira elaborar seu plano de trabalho para o Dia das Mães - [...] Confecção de presentes e lembranças. Estudo de quadrinhas para recitar neste dia”. As indicações são acompanhadas por um modelo de quadrinho semelhante ao dos cartões apresentados, mostrado a seguir, na Figura 3.

Fonte: Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1952, p. 22).

Figura 3 Sugestões para a jardineira elaborar seu plano de trabalho para o Dia das Mães. 

Pelo exposto, compreende-se que a produção de cartões comemorativos para as datas como o Dia das Mães e o Dia dos Pais é uma prática escolar que se constitui historicamente e que compõe a cultura escolar, a partir das evidências das materialidades, pois essa produção representa, como afirma Benito (2017, p. 119), “[...] um conjunto de práticas e discursos que regularam ou regulam a vida das instituições de educação formal e a profissão docente”. É possível perceber ainda, tanto pelas orientações da Revista do Ensino, quanto pela tradição escolar e pela própria materialidade dos artefatos, que essa prática educativa compõe particularidades dos currículos escolares, dando o tom às diversas propostas pedagógicas, gerando projetos e temáticas de trabalho nos diversos contextos escolares. Essas atividades são as que compõem a memória escolar de crianças (alunos/filhos) e de suas famílias.

Há, de certa forma, uma vinculação estreita entre as datas comemorativas e a formação identitária de uma sociedade, pois elas se configuram como construção cultural e social e adentram os múltiplos espaços de formação, podendo variar de um contexto para outro, mas reafirmando o seu propósito. O fato é que a escola tem um papel nessa construção, principalmente, porque, muitas vezes, organiza o currículo e as práticas educativas com base nas datas comemorativas, expondo/impondo aspectos de ordem cívica, religiosa, moral e familiar aos sujeitos que a frequentam, assumindo um papel determinante em sua (re)elaboração cultural.

Essas afirmações são corroboradas pela publicação da Revista do Ensino de agosto de 1962, que indica “Sugestões de atividades para o Dia do Papai”. O texto faz menção à importância da figura paterna para as crianças no contexto familiar, destaca a família como uma estrutura social, na qual devem ser privilegiadas a boa convivência e a inserção primeira nos conceitos de autoridade e hierarquia, tendo a figura do pai especial destaque, como pode ser verificado no excerto a seguir:

Transcorrendo no 2º domingo do mês de agosto o ‘DIA DO PAPAI’, data de grande importância para a criança, por ter o pai tanta significação para ela, terá o professor ótima oportunidade de levá-la à integração de novas aprendizagens. Poderá ser iniciado o trabalho, dirigindo-se a criança no sentido de conhecimento de sua própria família. Ela deve ser despertada para o amor ao lar, às pessoas que o compõem e a ter atitudes de respeito e cooperação no meio familiar.

[...]

O pai é, portanto, uma autoridade no lar.

Partindo da noção de autoridade dentro do ambiente familiar, onde o pai é o dirigente, poderão os alunos melhor compreender o sentido de autoridade política e administrativa (Revista do Ensino do Rio Grande do Sul, 1962, p. 16, grifo do autor).

É possível observar que, pelas sugestões dadas para o trabalho da data comemorativa, o pai é evidenciado como autoridade dentro do ambiente familiar. Por essa razão, a data comemorativa em questão constitui-se para além do cunho afetivo e passa a configurar-se como uma cultura moralizante e disciplinadora de uma ordem social que atribui historicamente lugares distintos e superiores ao pai em relação à mãe.

Essas seriam as aprendizagens que a Revista sugere quando afirma que “[...] terá o professor ótima oportunidade de levá-la à integração de novas aprendizagens [...]”, apontando uma forma de auxiliar a criança a compreender a autoridade política e administrativa? Talvez esses aspectos sejam indicativos de como determinada cultura e determinada tradição se constituem e se (re)produzem socialmente pelas práticas escolares.

A indicação de que as produções manuais são orientadas pela professora também é observada, como indica o impresso pedagógico: “Auxiliados pela professôra, os alunos poderão realizar o ‘álbum de família’, onde colocarão fotos dos familiares, citando as datas ou acontecimentos a eles relacionados” (Revista do Ensino do Rio Grande do Sul, 1962, p. 16, grifo do autor). Na publicação, a importância da data Dia do Papai é mencionada para propiciar a aproximação dos pais com a escola. Ademais, há uma indicação da organização do Círculo de Pais e Mestres: “Uma ótima ocasião para a instalação dêste Círculo seria em uma festa em homenagem aos pais” (Revista do Ensino do Rio Grande do Sul, 1962, p. 17). Nesse sentido, a prática também propicia a aproximação das famílias com os contextos escolares e, ao indicar essa possibilidade pelo “Dia do Papai”, sugere que o pai deveria ter essa ligação com o controle escolar das crianças, de modo que essa possibilidade não fica abrangida às mães, visto que, pelos dados, elas devem comparecer à escola nas datas indicadas para receber homenagens.

Logo, ao considerar os dois volumes do Educação cívica e calendário cívico brasileiro, de Fontoura (1967a, 1967b), já mencionados como fonte complementar desta investigação, percebe-se a presença dessas datas com indicações de trabalhos práticos a serem realizados nas escolas pelos professores e com a apresentação do histórico das referidas datas. Em Fontoura (1967a), há menção à definição e ao histórico do Dia das Mães. Além disso, na sucessão de 48 páginas sobre a data, aparecem sugestões de quadrinhas e de poemas para serem utilizados nas comemorações atinentes ao Dia das Mães. Uma das seções é relativa ao Dia das Mães e Abolição8, com sugestão de dramatização para turmas de segunda e quarta série.

Semelhante ao que se observa na Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1962) sobre a data do Dia dos Pais, com “grande importância para a criança”, verifica-se, em Fontoura (1967b), primeiramente, a definição para a data do Dia dos Pais e, posteriormente, o histórico da comemoração no Brasil e sugestões de poemas dedicados ao papai.

DIA DO PAPAI

DEFINIÇÃO - Depois de se haver criado um ‘Dia das Mães’, tão festejado em quase todos os países do mundo, justo era que se criasse também um ‘Dia’ especial para homenagear os pais. Mas acontece que, quando se fala no plural, ‘os pais’, a expressão engloba o pai e a mãe: ‘Joaquim e Ana são os pais de Maria’. Então, para caracterizar a figura do pai apenas, foi resolvido recorrer a aquêle diminutivo carinhoso: ‘o papai’ (Fontoura, 1967b, p. 41, grifo do autor).

Na explicação, afirma-se que o trabalho com a data comemorativa ao Dia dos Pais surgiu da necessidade de “um dia especial para homenagear os pais” e indica-se que, para diferenciá-lo, em relação à referência aos pais no plural, bastaria a caracterização referindo-se de maneira diminutiva ao pai; esse fato é pouco contundente, pois, na descrição, referenda-se que é preciso diferenciá-lo da data da mãe, ou seja, há a necessidade de “caracterizar a figura do pai apenas”.

Nesse sentido, em relação às datas comemorativas problematizadas na investigação, bem como no diz respeito ao fato de serem dadas ênfases diferenciadas para o Dia das Mães e o Dia dos Pais, recorre-se ao que Hobsbawm e Ranger (2008, p. 9) definiram como tradição inventada: “[...] um conjunto de práticas normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição”. Segundo os autores, tais tradições são construídas, inventadas e formalmente institucionalizadas, tal como foi problematizado com relação ao caso das produções dos cartões na escola e das orientações que chegaram até a instituição escolar via orientações nos impressos pedagógicos, como discutido neste trabalho. Assim, é possível indicar que a escola constitui uma forma moralizante de orientação entre as figuras familiares do pai e da mãe, passando a dar legitimidade social às datas como já referido ao longo deste estudo.

A reflexão sobre a tradição inventada corrobora com a ideia de que a escolarização é - embora essa relação seja muito mais complexa - um dos mediadores fundamentais de inserção de indivíduos, famílias e grupos sociais nas culturas do escrito (Galvão, 2002) e em determinadas práticas culturais. Essa multiplicidade é manifestada pelo conjunto de cartões analisados e pelas indicações/sugestões de trabalho com as datas comemorativas verificadas nas fontes complementares.

Nas sugestões de atividades identificadas nas fontes complementares, faz-se destaque à indicação de poemas e de quadrinhas referentes às duas datas comemorativas. Quanto ao conjunto de cartões analisados, destaca-se a presença das quadrinhas, que aparecem na grande maioria do material analisado. A seguir, um exemplo da escrita do cartão e do que foi encontrado no livro é apresentado (Figura 4):

Fonte: Fontoura (1967a) e cartão de 1974.

Figura 4 Quadrinhas para mamãe. 

Pela observação das sugestões de texto (quadrinha) e pela identificação do texto nos cartões, infere-se que as professoras utilizavam e/ou adaptavam as propostas para trabalhar nos espaços de sala de aula. Esses elementos indicam também a constituição plural de uma determinada tradição escolar, representada aqui pela prática de confecção dos cartões em homenagem às mães e aos pais, pois as atividades sugeridas contemplam diferentes possibilidades e diferentes formas de trabalho.

Assim, é necessário considerar que o trabalho docente e as atividades que o caracterizam se organizam de uma forma determinada pela tradição; ou, como caracteriza Benito (2017, p. 23), referindo-se às atividades, “[...] com o passar do tempo, têm sido legadas como patrimônio pedagógico legitimado, ou seja, como práticas transmitidas pelo ethos e pelo costume estabelecido como tradição”. Ao refletir sobre a tradição dessa prática escolar da confecção dos cartões alusivos às datas comemorativas, em especial ao Dia dos Pais e ao Dia das Mães, é possível notar que ela se configura como uma prática recorrente e presente no cenário escolar atual, muitas vezes, com outra roupagem e abordagem e que, ademais, ela é esperada e cobrada pelas famílias. Esse aspecto reverbera a legitimação social e familiar da prática escolar da realização de homenagens e de registros dedicados ao Dia das Mães e ao Dia dos Pais, desconsiderando-se, de certa forma, as múltiplas possibilidades familiares atuais e mantendo-se a tradição de uma cultura escolar.

Considerações finais

Ao articular as noções de cultura escolar e cultura material escolar, abre-se um vasto leque de possibilidades, entre as quais, a investigação da materialidade de produção, a partir da qual se inserem os cartões alusivos ao Dia das Mães e ao Dia dos Pais. Esses artefatos são peculiares e representam uma fonte pouco explorada, que reverbera múltiplos aspectos da materialidade da escola, principalmente com referência aos materiais usados na escrita e aos tipos de papel, o que permite uma aproximação inesperada, porém profícua, com a produção material dessa prática presente no fazer da escola.

Além da materialidade dos cartões, verificou-se que as datas comemorativas dos Pais e das Mães se configuram como uma tradição inventada, para além das afetividades que as datas impõem. Trata-se de inserir uma discussão de cunho social e moralizante de diferentes papéis de pai e mãe e de uma estrutura de família padrão que está implícita e/ou explícita nas indicações e nas orientações pedagógicas da Revista do Ensino, do livro Educação cívica e calendário cívico brasileiro (1º e 2º semestre) e dos próprios textos e modelos dos cartões, destacando-se a relação dessas produções com a imposição de um perfil de mãe e pai e de estrutura familiar. Os sentidos criados na confecção dos cartões na escola acabam, também, por produzir uma estrutura de família, cujo foco está centrado na figura do pai como padrão de hierarquia e de disciplina. Desse modo, para que essa sobreposição fosse amenizada, bastaria recorrer ao diminutivo da palavra, ou seja, “paizinho”. Para a data da mãe, por outro lado, as palavras utilizadas nas quadrinhas e nos cartões são “pura” e “formosa”, entre outras.

A tradição inventada, na perspectiva de Hobsbawm e Ranger (2008), é configurada a partir de uma regra institucional da escola, cuja via de entrada é o próprio currículo escolar. A cada nova comemoração carregada de afetividades, a escola reforça e mantém a estrutura familiar perante a sociedade, com os padrões de pai, de mãe e de infância, a partir de um currículo que dá suporte a esses padrões. Por fim, é possível afirmar que essa discussão não se esgota aqui e que a produção desses artefatos, cartões alusivos ao Dia das Mães e ao Dia dos Pais, permitirá ainda outras explorações e discussões do currículo escolar ainda pouco abordadas.

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1Este estudo foi desenvolvido no âmbito das investigações do Hisales. O Hisales - História da Alfabetização, Leitura, Escrita e dos Livros Escolares - é um centro de memória e pesquisa, constituído como órgão complementar da Faculdade de Educação (FaE), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que contempla ações de ensino, pesquisa e extensão. Sua política principal é fazer a guarda e a preservação da memória e da história da escola e realizar pesquisas. Trata-se de um arquivo especializado nas temáticas da alfabetização, leitura, escrita e dos livros escolares, constituído de diferentes acervos. O Hisales é, também, um grupo de pesquisa cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq desde 2006. Está localizado no Campus II - UFPel, Rua Almirante Barroso, 1202 - Sala 101 H, CEP 96.010-280 - Pelotas/RS. Mais informações sobre os acervos, ações de ensino, pesquisa e extensão, podem ser conferidas via internet, no site www. ufpel.edu.br/fae/hisales/, nas redes sociais Facebook e Instagram: @hisales.ufpel e por e-mail: grupohisales@gmail.com.

2Cartão - tipo de papel utilizado na impressão gráfica e nas produções escolares, popularmente chamado de cartolina, com espessura inferior a 0,5 mm.

3O conjunto completo é constituído por 25 boletins. Foram considerados, neste artigo, apenas 14 boletins que compreendem a temporalidade do estudo.

4Sobre a escola sem denominação, o registro obtido no dia da doação dos materiais indica que ela funcionava num domicílio particular, cujo proprietário emprestava um dos cômodos para o funcionamento da escola, que não possuía prédio próprio, aspecto que exige uma investigação mais aprofundada em outro momento.

5Refere-se a diferentes séries/anos escolares estudando na mesma sala de aula.

6Ver a imagem no Quadro 1.

7Para saber mais sobre a Revista do Ensino do Rio Grande do Sul, ver Bastos (2005).

8Essa é uma seção que merece atenção e aprofundamento em outro estudo específico.

20Rodadas de avaliação: R1: dois convites; duas avaliações recebidas.

21Como citar este artigo: Thies, V. G., & Monks, J. C. “Querida mamãe, querido papai”: a invenção de uma prática escolar (1964 - 1980). Revista Brasileira de História da Educação, 23. DOI: http://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e277

Financiamento: A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) e do Programa Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Recebido: 29 de Setembro de 2022; Aceito: 29 de Março de 2023; Publicado: 30 de Junho de 2023

*Autora para correspondência. E-mail: vaniagrim@gmail.com.

Vania Grim Thies: Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas, no curso de graduação em pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Pesquisadora e líder do grupo de Pesquisa História da Alfabetização, Leitura, Escrita e dos Livros Escolares (Hisales), coordenadora do centro de memória e pesquisa Hisales. Possui Graduação em Pedagogia (2004/UFPEL), Mestrado em Educação (2008/UFPEL) e Doutorado em Educação (2013/UFPEL). E-mail: vaniagrim@gmail.com. https://orcid.org/0000-0002-6169-067X

Joseane Cruz Monks: Graduada em Pedagogia (2014). Mestra em Educação pelo Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas (2019). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas; Pesquisadora e integrante do grupo de Pesquisa História da Alfabetização, Leitura, Escrita e dos Livros Escolares (Hisales) e do Centro de memória e pesquisa Hisales. E-mail: joseanemonks@gmail.com. https://orcid.org/0000-0001-6662-4834

Editores-associados responsáveis: Ana Clara Bortoleto Nery (UNESP) E-mail: ana-clara.nery@unesp.br https://orcid.org/0000-0001-6316-3243

Andréa Cordeiro (UFPR) E-mail: andreacordeiroufpr@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-6963-5261

Gizele de Souza (UFPR) E-mail gizelesouza@uol.com.br https://orcid.org/0000-0002-6487-4300

Marcus Levy Bencostta (UFPR) E-mail: evelynorlando@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-3387-7901

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