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Revista Brasileira de História da Educação

versión impresa ISSN 1519-5902versión On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.23  Maringá  2023  Epub 26-Sep-2023

https://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e286 

ARTIGO ORIGINAL

Marie-Thérèse Eyquem ou a emancipação sob o controle das práticas corporais femininas (1942-1961)

1Université de Strasbourg, Strasbourg, France. E-mail: jsaintmartin@unistra.fr, cardin@unistra.fr, lisawalther@unistra.fr


Resumo

Entre 1942, ano em que foi nomeada encarregada de projetos de educação física e esportes femininos e 1961, quando se tornou Inspetora da Juventude e Esportes, Marie-Thérèse Eyquem multiplicou iniciativas para sensibilizar as jovens francesas sobre os objetivos higiênicos e estéticos relativo aos exercícios físicos. Sendo assim, o objetivo do presente artigo visa analisar esse engajamento contínuo realizado pela professora ao longo de duas décadas e seus efeitos nas transformações da educação física feminina francesa. Trata-se de medir tanto a importância das fontes de inspiração desta personagem, bem como a evolução do seu percurso intelectual na tentativa de explicar como a emancipação feminina se assenta em parte numa liberdade tutelada do corpo feminino.

Palavras-chave: mulheres; corpo feminino; educação física feminina

Resumé

Entre 1942, année où elle est nommée chargée de mission de l’éducation physique et des sports féminins auprès et 1961 où elle devient Inspectrice de la Jeunesse et des Sports, Marie-Thérèse Eyquem multiplie les initiatives pour sensibiliser les jeunes françaises aux buts hygiéniques et esthétiques des exercices physiques. L’objet de cet article vise à interroger cet engagement continu durant deux décennies et ses effets sur les transformations de l’éducation physique féminine. Il s’agira alors de mesurer à la fois l’importance des sources d’inspiration de cette actrice et l’évolution de sa trajectoire intellectuelle pour tenter d’expliquer en quoi l’émancipation sous contrôle des femmes qu’elle ne cesse de promouvoir s’appuie pour partie sur une liberté surveillée du corps féminin.

Mots clés: Femmes; Corps féminin; éducation physique féminine

Abstract

Between 1942, the year in which she was appointed project manager for women's physical education and sports, and 1961, when she became Inspector of Youth and Sports, Marie-Thérèse Eyquem multiplied initiatives to make young French women aware of the hygienic and aesthetic objectives of exercise physicists. The purpose of this article is to question this ongoing commitment over two decades and its effects on the transformations of female physical education. It is then a matter of measuring both the importance of this character's sources of inspiration and the evolution of her intellectual path, aiming to explain how the emancipation under the control of women that she promoted was based in part on a protected freedom of the female body.

Keywords: women; feminine body; female physical education

Introdução

Marie-Thérèse Eyquem (1913-1978), personagem do esporte feminino e da educação física, política e feminista, iniciou sua carreira ao ser nomeada instrutora esportiva no seio do Rayon Sportif Féminin (RSF) em 1930 (Castan-Vicente, 2009). Ao longo do seu percurso profissional (Morris, 2017) desempenhou vários cargos de responsabilidade em diferentes instâncias associativas, como a RSF, a Federação Internacional de Educação Física e Esportes Femininos (FIEPSF), entre outras; e políticas, como a Comissão Geral de Educação Geral e Esporte (CGEGS) (Terfous, 2010), Direção-Geral da Juventude e Esporte (DGJS), Movimento Democrático Feminino (MDF), Partido Socialista (PS), etc. Por meio das muitas ações que realizou por seu envolvimento com associações, Marie-Thérèse Eyquem tornou-se uma das principais personagens no desenvolvimento do esporte e da educação física feminina na França.

Todos os trabalhos existentes sobre esta personagem destacam que o seu impacto no regime de Vichy e no Movimento Democrático das Mulheres foi muito efetivo. De fato, desde sua entrada na administração de Vichy, Marie-Thérèse Eyquem trabalhou para o desenvolvimento do esporte feminino em nível nacional. Sua ação estava direcionada à procura de colaboração entre as diversas federações femininas, à criação de estágios, à formação de dirigentes, bem como à construção de novas instalações (Munoz, 2002). Encontramos, desde a década de 1930, um forte empenho dessa personagem dentro do Departamento de Esportes Femininos, mas também na década de 1960 por meio do Movimento Democrático Feminino, que cresceu principalmente sob sua direção a partir de 1962, quando se tornou líder do movimento, condição que perdurou até 1970, momento no qual o movimento se arrefeceu. No entanto, resta, a nosso ver, uma zona cinzenta a ser esclarecida e que se refere ao período da Quarta República, período que antecedeu sua nomeação como Inspetora da Juventude e Esportes logo no início dos anos 1960. De fato, entre 1942, ano em que foi nomeada gerente do projeto de educação física e esportes femininos do Coronel Pascot, e 1961, quando se tornou Inspetora da Juventude e Esportes, o pensamento e a ação de Marie-Thérèse Eyquem se multiplicaram e se diversificaram, destacando as evoluções ideológicas da personagem dentro de seu percurso intelectual. Neste período, ela expandiu as iniciativas de sensibilização das jovens francesas para as finalidades higiênicas e estéticas do exercício físico, publicando diversos livros e/ou artigos relacionados com a educação física feminina, sendo o mais conhecido La Femme et le sport de 1944, mas também obteve destaque organizando pela primeira vez, no Parc des Princes, um Dia Nacional do Esporte em 5 de julho de 1942.

Metodologicamente foram analisados documentos oficiais relativos às suas funções ministeriais, mas também as três seguintes obras: La Femme et le sport (1944), Jeunes filles au Soleil (1945) e Irène Popard ou la danse du feu (1959). Destacam-se também os artigos publicados na imprensa escrita, incluindo a imprensa especializada, (revue EGS, Tous les sports, Les jeunes, L’Homme Sain, revue EP.S, revista Basket-ball, etc.). Nesse sentido, o presente artigo lançou luzes sobre as “áreas cinzentas” da carreira desta personagem, visando compreender como os múltiplos compromissos assumidos por ela entre os anos de 1942 e 1961 contribuíram para a promoção de um feminismo essencialista moderado por meio de eventos e manifestações no qual participou e/ou organizou (Congressos Internacionais, Jornadas de Estudos Internacionais) ou redes de influência que ela constantemente fortalecia (católica, educação física/esportiva, local/nacional/internacional).

Educação física feminina: uma ode à feminilidade tradicional?

Uma difícil herança do ideal feminino de Vichy?

De acordo com M-T. Eyquem (1941, p. 2), “a esportista francesa trabalha para adquirir saúde, habilidade, resistência, força e graça. Ela colocará as suas qualidades físicas, morais e intelectuais a serviço de um ideal, o do trabalho, da família, do país”. Se a fonte desta citação - semanário oficial do regime de Vichy - já destacava uma aproximação entre Marie-Thérèse Eyquem e o governo colaboracionista, o conteúdo que especificava os objetivos da prática esportiva das mulheres francesas apenas reforçava esta ligação ideológica. Com efeito, esta concepção tradicional de mulher ecoava diretamente na prática física medida e adaptada às capacidades femininas almejada pelo CGEGS, ou seja, referia-se a uma verdadeira política de controle do corpo feminino. O objetivo era o de promover uma educação física de base para consequentemente transmitir saberes corporais especificamente femininos relacionados à estética e à beleza dos movimentos realizados pelas mulheres esportistas. Elogiada igualmente em La Femme et le sport (1944), esta educação física era majoritariamente associada ao ideal de maternidade e tinha o objetivo de criar mulheres saudáveis: “O projeto da Revolução Nacional (...) constrói um universo simbólico e um ideal de maternidade, de família e do lar” (Eyquem, 1944, p. 7). De acordo com os princípios da Educação Geral e Desportiva (EGS), ela defendia uma educação sexual que almejasse a formação das “futuras guardiãs do lar” e “determina uma educação física específica, adaptada à formação das futuras mães da Pátria” (Terfous, 2010), fato que reforçava o dogma da atribuição de identidades sexuais por meio do papel tradicional atribuído às mulheres na sociedade francesa dos anos 1940. Ela militava por um feminismo essencialista, ou seja, aquele que considerava que as mulheres deveriam trabalhar para revalorizar as qualidades femininas. Opunha-se à vontade das mulheres quererem se assemelhar aos homens, adotando, por exemplo, comportamentos masculinos. Em plena sintonia com o contexto das “entre-deux-féministes” (1920-1960) (Chaperon, 2000), correspondente à transição entre o antigo movimento pelos direitos das mulheres e o novo feminismo, Marie-Thérèse Eyquem veiculava um discurso no qual as concepções tradicionais e modernas sobre o lugar e o papel das mulheres na sociedade do pós-guerra se entrelaçavam. Ela incentivava, portanto, as mulheres (e não mais a mulher) a afirmarem a sua feminilidade, que poderia ser plural, em vez de tentar fazer com que elas parecessem homens. Em outros termos, Marie-Thérèse Eyquem engajava-se em uma forma de feminismo mais comedida do que uma vertente mais radical como a proposta por exemplo, por Simone de Beauvoir em “Deuxième Sexe” (1949), pois buscava acima de tudo a complementaridade dos gêneros sem qualquer hierarquia estabelecida.

Além disso, a representação de educação física feminina que promovia estava totalmente adequada aos conceitos médicos transmitidos após o período entre guerras pelo Dr. Maurice Boigey, mas também por Jacques Martinié-Dubousquet, Luc Durtain, Yvonne Legrand-Lambling e Ebba Champetier de Ribes. Em particular citamos um trecho do ABC d’éducation physique féminine escrito por Ebba Champetier de Ribes: “Somos mulheres acima de tudo, queremos permanecer assim no corpo e no espirito: é por isso que pedimos para as mulheres uma Educação Física verdadeiramente feminina. O menino deve estar apto para se tornar um soldado. A jovem mulher deve estar apta a ser mãe um dia... Deveriam receber a mesma educação? (...) a jovem deve estar preparada especialmente para a maternidade, para a doçura, para a graça e para o dom de si” (de Ribes, 1940, p. 2). Neste contexto singular do regime de Vichy, Marie-Thérèse Eyquem apoiava-se no discurso médico para legitimar a sua própria retórica, reconhecendo o princípio da dominação masculina nas práticas corporais da França de seu período.

Ademais, se tais concepções eram largamente majoritárias no período entre guerras e no regime de Vichy, o período de Libération não trouxe qualquer modificação importante e radical no que diz respeito às representações das mulheres. Embora tenham obtido o direito de voto em 1944, o reconhecimento social das mulheres era muito relativo. De fato, nos anos 1940 e 1950, as mães ainda eram apresentadas como trabalhadoras do progresso humano, sendo sua missão servir ao próximo, dar atenção e ter paciência. Com o baby boom, a maternidade voltou ao primeiro plano na década de 1950, onde uma mulher “tem o dever de educar bem os filhos e de tornar o seu lar agradável, mas também o direito, como toda natureza ativa, de se divertir antes do parto para depois retomar com mais coragem” (Eyquem, 1946, apudHubscher, 1992, p. 130). Como tal, a educação católica recebida por Marie-Thérèse Eyquem poderia justificar em parte as concepções que ela transmitia, uma vez que a Igreja Católica reforçava e valorizava a diferença entre os sexos, que ela considera como irredutível (Castan-Vincente, 2009).

Seja como for, se Marie-Thérèse Eyquem não reduziu o papel da mulher à sua única função social ligada à maternidade, ela ainda fazia parte de um discurso tradicional do final do período de guerra, que ela acoplou, é verdade, a um desejo de libertar corpos femininos por meio da inserção da mulher no universo das práticas corporais. Esta dialética entre tradição e modernidade na educação física feminina estava totalmente alinhada com a evolução do discurso na sociedade francesa. Se por um lado o discurso médico tradicional persistia, de outra parte surgiam concepções mais abertas, como a de Claude Magnin (1952), que propunha uma vertente inovadora de educação física feminina. Segundo ele, a sociedade confundia o esporte com sua vertente competitiva, que era algo que poderia conter o bem ou o mal. Apontava também que o fato de ser praticado por meninas ou meninos não era um problema. Encontramos esta dialética na educação física de base que Marie-Thérèse Eyquem desejava desenvolver. Ela baseava-se em métodos já existentes, nomeadamente o de Georges Hébert e a ginástica harmônica, precedendo sua síntese para promover uma educação física completa, comedida, higiênica, mas que permitisse também libertar os corpos femininos.

O modelo engenhoso

Em seu artigo, Claude Magnin também comparou o discurso de Georges Hébert ao de Marie-Thérèse Eyquem. Com efeito, Georges Hébert mostrava que “é o preconceito que nos faz considerar as mulheres como seres à parte, fisicamente inferiores aos seus companheiros masculinos. É a educação que cria as diferenças nas capacidades físicas entre meninos e meninas” (Hébert, 1936, apud Magnin, 1952, p. 23). Quanto a Marie-Thérèse Eyquem, ela indicava “que não existe natureza mais feminina do que a natureza humana. As qualidades e os defeitos da mulher, o seu comportamento, são o resultado da sua situação. Se ela só é boa no que faz, ela foi forçada a isso” (Magnin, 1952, p. 22). Claude Magnin destacava as semelhanças entre as concepções dos dois personagens, partindo da noção de educação que gerava transmissões de cultura e valores diferentes, tudo de acordo o sexo biológico das crianças. Além disso, em 1949, no Congresso de Copenhague, Marie-Thérèse Eyquem também utilizou os adjetivos “inferior” e “superior”, mas desta vez explicou que eles não poderiam mais marcar as diferenças entre homens e mulheres, ao contrário do que ela havia dito em 1951 na revue E.P.S. Esses apontamentos contraditórios mostram que durante esse período a personagem estava dividida entre a tradição e a modernidade, apoiando-se nas concepções de um feminismo essencialista que gradualmente se desvinculava das concepções tradicionais, abrindo-se a tendências mais modernistas.

Ao ancorar-se nesta corrente ideológica entre 1942 e 1961, em ligação com as evoluções das representações sociais das mulheres nesse período pós-guerra, Marie-Thérèse Eyquem desvinculou-se progressivamente de concepções imbuídas de uma visão tradicional das mulheres, passando a levar em conta uma diversidade de perfis femininos cuja emancipação permanecia medida por meio de práticas corporais femininas. Assim, dividida entre a tradição e a modernidade, o período pesquisado dentro da trajetória de Marie-Thérèse Eyquem correspondia plenamente a um momento de transição. O seu discurso e as suas ações ilustravam esta dialética, prova do seu feminismo essencialista, mas igualmente influenciada por um desejo de promover o esporte e a educação física feminina em sua rede de influência, que se estendia a diferentes níveis - local (parisiense), nacional, internacional - e em diferentes campos - católico, esportes, educação física).

Em todas as suas propostas didáticas, podemos identificar as questões epistemológicas perseguidas por esta personagem, mostrando que o conhecimento almejado por ela se baseava em duas categorias principais: o desenvolvimento de uma educação física de base, sintetizando principalmente no método natural de Georges Hébert, e a ginástica harmônica de Irène Popard; mas também regulado por um acesso medido e refletido às práticas esportivas e à competição para as mulheres, respeitando, assim, os princípios do feminismo essencialista.

Na educação física de base que Marie-Thérèse Eyquem promovia, ela militava por uma emancipação racional e controlada das jovens mulheres. Em termos de concepções, inspirava-se no método hebertista. Já sob o governo Vichy, fazia referência a Georges Hébert no jornal Tous les sports e em La femme et le sport, em que emitiu elogios ao método natural. Ela propôs, por exemplo, uma educação natural para as mulheres “rurais”, aconselhando-as a realizarem as atividades ao ar livre como preconizava os cursos hebertistas (Eyquem, 1944, p. 293). Também especificou que o método natural “constitui a melhor modalidade de treinamento geral” porque ele permitia o aumento da potência cardíaca, respiratória, muscular e digestiva, a solidez da estrutura óssea e das articulações, bem como a flexibilidade articular. Ela mostrava assim os benefícios deste método do ponto de vista físico, mas também se esforçava para colocar em evidência os benefícios psicológicos e morais das contribuições de Hébert. Mais do que o método natural, ela procurava promover valores hebertistas como altruísmo, dedicação, solidariedade entre as mulheres e, assim, considerando todas elas como uma “grande unidade social” (Morris, 2017, p. 44). Entre 1942 e 1944, sua dedicação orientou-se para as necessidades da nação à imagem dos valores Trabalho, Família e Pátria preconizados pelo regime Vichy e da unidade social que considerava a mulher apenas no singular. No entanto, estes mesmos valores poderiam ser identificados com a Libération no seu romance Jeunes filles au soleil, no qual, ao contrário do período de Vichy, Marie-Thérèse Eyquem destacou uma pluralidade de perfis femininos e a singularidade de mulheres que poderiam emancipar-se por meio de diferentes práticas corporais. Em 1957, Marie-Thérèse Eyquem referiu-se novamente a Georges Hébert na revista L’Homme Sain:

Ele opta por utilizar os movimentos naturais próprios da humanidade que divide em dez famílias: caminhar, correr, saltar (...). Cada um executará estes movimentos não da mesma forma que o seu vizinho, seguindo uma ordem estrita, segundo um ritmo vindo de fora, mas de acordo com o seu próprio ritmo e meios. Ele progredirá fazendo esforço, lutando contra o espaço, a gravidade, a matéria, sendo adversário de si mesmo (Eyquem, 1957, p. 169).

Enfim, ela indicava que o método de Hébert não se apoiava suficientemente no ritmo do movimento. Isso nos leva a identificar um segundo elemento essencial na educação física de base proposta por Marie-Thérèse Eyquem: a educação pelo ritmo.

Educação rítmica: baluarte educativo de uma educação física de base

Em 1957, num artigo na revista de l'Homme Sain, Marie-Thérèse Eyquem (1957b) propôs mais detalhadamente uma educação rítmica. Esse processo educativo valorizava características “femininas” como graça e beleza, complementando assim o método hebertista na educação física de base, que ela sempre havia defendido. Mais uma vez, ela enfatizava o lado estético da educação física, aproximando-se gradativamente da dança. Evocava a ginástica de Per-Henrik Ling, Georges Hébert e Georges Demeny e seu caráter estético, rítmico e harmonioso, bem como as “danças ginásticas”, a ginástica harmónica de Irène Popard, a rítmica defendido pelos representantes franceses do método Dalcroze. Ela insistia no lugar dessas práticas no ensino da educação física, dizendo que “a dança é a expressão mais perfeita da mobilidade corporal” (Eyquem, 1957, p. 2). Marie-Thérèse Eyquem procurava assim defender uma educação rítmica, que constituía em sua opinião um elemento chave de uma educação física de base. As virtudes desta educação rítmica pareciam-lhe favoráveis à libertação dos corpos e à emancipação das jovens mulheres. Aqui, Marie-Thérèse Eyquem referia-se explicitamente à ginástica harmónica de Irène Popard. Com efeito, desde que conheceu esta coreógrafa em 1940 (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959) e o parágrafo no qual apresentou as virtudes da ginástica harmónica em La femme et le sport, ela se tornou uma fervorosa propagandista da ginástica harmónica nacional e internacionalmente (Castán-Vicente, 2009). Em 1959, ela até escreveu uma biografia ficcional de Irène Popard que lhe deu a oportunidade de promover o saber corporal e as virtudes da ginástica harmônica. Segundo Eyquem (1959), Irène Popard permitiu que a ginástica feminina se tornasse sinônimo de comportamento, elegância, beleza e harmonia. Mais ainda, ela se esforçou para defender a ideia de que a ginástica harmônica poderia libertar seres constrangidos, edificar a saúde e construir corpos (Eyquem, 1959), evocando diversas vezes, ao longo do romance, a libertação dos corpos. Ela fazia isso utilizando-se de práticas corporais como a ginástica: “depois da aula ela se sentiu melhor, gostou mais do esporte” ou da dança “como é que quando ela dança ela não tem mais vontade de cantar, de gritar, de chorar? (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 22). A dança seria, para Irène Popard, uma válvula de escape, uma forma de se desligar e libertar-se da sua vida miserável. A busca pela liberdade intensifica-se então na sequência do romance por meio do desenvolvimento e criação da ginástica harmônica e do desejo crescente de Irène Popard de libertar não apenas o seu corpo, mas os corpos de todas as jovens mulheres, “aquelas que têm espartilhos ao redor do corpo e ao redor da alma. E eu, durante toda a minha vida, tentarei libertá-los” (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 90). Seu engajamento era total, como indica o seguinte trecho: “Eu daria às meninas da França a alegria dessas ondas puras, nuas, flexíveis, belas, verdadeiras, livres, livres...” (Eyquem, 1959 apud Popard, 1959, p. 92). Segundo ela, Irène Popard “cumpriu a palavra: as pequenas francesas romperam os laços convencionais, tornaram-se resistentes, bonitas, alegres” (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 122). A noção de liberdade também aparecia fora das práticas corporais, quando, por exemplo, Irène Popard discutia com “Madame Réjane” (patroa de sua mãe, figura das classes abastadas): “Ninguém nos manda. Obedecemos ao sangramento. Rainhas, em todos os lugares, já que a liberdade é o nosso reino”. (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 44) ou ainda quando criticava abertamente com sua amiga Irma a liberdade das mulheres na França: “Tens ilusões sobre o meu país”. Caminhamos para trás desde 1789. Liberdade? As mulheres são escravas! (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 87), ou ao denunciar, por exemplo, certos costumes tradicionais como o uso de espartilho: “Certamente ela é gorda demais. Mas ela prefere ser como a leiteira local, em vez de usar um espartilho, como a mãe. Se também for necessário colocar o corpo dele na prisão! (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 30). No entanto, Marie-Thérèse Eyquem não deixava de recordar o papel tradicional da mulher ao evocar o retrato da mãe de Irène Popard: “a honestidade, a retidão de vida, eram muito mais importantes que o sucesso” ( Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 72), o que ocorre explicitamente no final do romance: “Ela foi embora, em total miséria, mas deixando uma imensa riqueza viva: miríades de jovens, belas, robustas, que seriam o encanto de seu lar e mães de crianças lindas” (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 182). Assim, a libertação do corpo parece ser uma questão importante para Marie-Thérèse Eyquem, que ela ilustrava nas posições e ações de Irène Popard. A ginástica harmónica era de fato um dos meios para libertar os corpos femininos, mas que respeitava as normas de género e o papel tradicional da mulher. Irène Popard, tal como Marie-Térèse Eyquem, estava, portanto, interessada em “jovens que precisavam, não de supervisão, mas de amor, conselho, apoio” (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 107), havendo, assim, a preocupação na forma de guiar a libertação das jovens francesas.

Entre 1942 e 1961, Marie-Thérèse Eyquem alternou seu discurso entre a tradição e a modernidade. Amparando-se num feminismo essencialista, ela reivindicava explicitamente em seus discursos políticos e em seus romances esse posicionamento, confirmando que este período foi de fato um momento de transição para a personagem, que ainda se mostrava apegada a certas concepções tradicionais que certamente estavam ligadas à sua formação católica, mas que ao mesmo tempo já apresentava indícios de concepções mais modernas e mais próximas do seu compromisso feminista explicitado nos anos 1960.

Ela queria desenvolver também essa educação física de base. Os congressos internacionais sobre educação física feminina oferecem-lhe a oportunidade de o fazer, permitindo-lhe destacar particularmente a educação física de base que promovia. Dentro deste ponto de vista, a análise do 2º congresso internacional de Educação Física feminina, realizado em Paris entre os dias 19 e 26 de julho de 1953, é muito esclarecedora. Organizado por Marie-Thérèse Eyquem e pela DGJS no âmbito do IAPESGW, em ligação com as ideias do seu presidente americano, D. Ainsworth, Marie-Thérèse Eyquem transformou esse congresso em uma oportunidade sem precedentes para dar voz às mulheres e aos conferencistas que ela pessoalmente escolheu (Castan-Vicente, 2009). Esse congresso permitiu a promoção da educação física de base que ela defendia havia uma década e que incluía tanto a educação física feminina, que, à ocasião, era objeto de uma apresentação muito precisa da senhora Surrel (diretora da ENSEP de jovens mulheres): a “ginástica rítmica moderna”, a “educação do movimento humano”, o “método de educação física feminina”, o método “corretivo” e a ginástica harmónica que constitui o momento da gala no encerramento do congresso. Além disso, ocorreu uma demonstração de métodos de educação física no âmbito da ENSEP sob a direção de Yvonne Surrel e uma sessão prática de educação popular ministrada por ritmistas franceses. Denise René Mayer (vice-presidente da Federação Francesa de Educação Física) também realizou uma conferência para indicar que a educação física era, de fato, parte integrante da vida das mulheres (Eyquem, 1953). Por fim, tal programa expôs uma diversidade de práticas corporais para as jovens meninas, representando um conjunto de variações possíveis da educação física de base das quais cada uma poderia recorrer de acordo com o perfil de suas alunas. O objetivo continuava a ser o da promoção de uma educação física de base para todos, onde ela deveria ser divulgada o mais amplamente possível devido à presença em Paris de 600 delegados de 37 nações que acentuavam “os interesses da profissão e reavivam o desejo de aperfeiçoar-se, de renovar os próprios métodos, (...) progredir” (Eyquem, 1953, p. 12). O crescente interesse pela educação física das jovens mulheres ocorrida neste congresso foi também destacado na imprensa esportiva da época. O L'Equipe, por exemplo, retomou o artigo publicado no Tous les sports, explicando que a troca de ideias permitia uma “conclusão construtiva” para o esporte feminino, sublinhando com isso o ponto de vista de Gaston Roux sobre o congresso de Paris: “Sempre acreditei, pela minha parte, que os homens se darão melhor no dia em que as mulheres reúnam, em benefício de toda a humanidade, a riqueza de ternura, engenhosidade e desinteresse com aqueles que estudam os problemas da infância e da juventude” (L’Equipe, 27 de julho de 1953, p. 2). A amplitude do congresso mostra a implicação da França no desenvolvimento de novos conceitos de educação física para as jovens meninas. Este envolvimento continuava graças ao entusiasmo dos instrutores e dirigentes, bem como aos novos eventos. De fato, após o Congresso de Paris, foram organizadas, em julho de 1955 no INS, por iniciativa da Federação Francesa de Educação Física e da sua presidente, Sra. Denise René Mayer, jornadas internacionais de estudos sobre a atividade física durante a puberdade de mulheres. Essa jornada marcou a transição entre o evento de Paris realizado em 1953 e o próximo congresso internacional sobre educação física feminina que se realizaria em Londres entre os dias 15 a 20 de julho de 1957 (Eyquem, 1957, p. 169), com a finalidade de responder ao desejo de técnicos e dirigentes em aprofundar os dados relativos às atividades físicas (educação física de base, rítmica, esportiva) durante o período da puberdade em meninas em relação aos conhecimentos anatômicos, psicofisiológicos, patológicos e biométricos (Brenet & Goffin, 1955). Marie-Thérèse Eyquem estava pessoalmente envolvida na preparação dessa jornada de estudo. Foi ela quem dirigiu os debates entre os cento e vinte médicos, pedagogos, psicólogos, técnicos oriundos de diversos países. Duas grandes ideias foram retiradas desses dias: “o problema da puberdade só surge em casos patológicos” e “as competições esportivas oficiais devem ser evitadas durante este período de transformação do corpo para serem posteriormente reservadas a alguns predestinados” (Brenet & Goffin, 1955, p. 29). Da mesma forma, o desenvolvimento dessa educação física de base continuou durante as jornadas de estudo sobre a ginástica feminina moderna ocorrida em Mâcon em 1960. Marie-Thérèse Eyquem foi convidada pelo Cercle de danse harmonique e durante a sua intervenção insistiu nas semelhanças entre a ginástica e a dança moderna (Maucurier, 1960).

Em última análise, esses vários eventos constituíram para ela um meio de divulgação da educação física de base para as jovens meninas, mas também foi uma oportunidade de ampliar sua rede nacional dada a presença de inúmeras personagens e líderes, como a Sra. J. Roger (Fédération française de gymnastique éducative) , Sra. Jacquot (Fédération française de gymnastique), Sra. Delsout (Union française des œuvres laïques d’éducation physique e CREPS de Paris), Sra. Moreau (Fédération sportive de France), Sra. Bal-Voirat (Fédération sportive et gymnastique du travail) Sra. Truc e Sra. Maucurier (Amicale des sportives françaises), bem como de diversas associações e instituições como a UFOLEP e o OSSU. Todas essas relações constituíram uma real oportunidade para Marie-Thérèse Eyquem difundir internacionalmente suas concepções e a desejada educação física de base.

Rumo a uma feminilidade esportiva?

As singularidades das Jeunes filles au soleil (1945)

Ao indicar que “ricos e pobres, ateus, reconhecem os benefícios do estádio” (Eyquem, 1944, p. 299), Marie-Thérèse Eyquem evocava uma diversidade do público feminino e a necessidade de todas essas mulheres, sejam elas moradoras do espaço rural ou urbano, responderem aos valores e ao papel social que lhes eram atribuídos na sociedade. No entanto, a representação proposta em 1944 inseria-se numa lógica dualista de relação ao esporte, com, por um lado, “aqueles que ousam desafiar a opinião pública, lançam medo nas suas famílias” e, por outro lado, “aqueles que só veem o esporte como uma oportunidade para brigas e competição turbulenta” (Eyquem, 1944, p. 26). Em outras palavras, enquanto alguns permaneciam “charmosos, modestos e tímidos”, outros “são qualificados como desmiolados, inquietos e exaltados” (Eyquem, 1944, p. 26). Consequentemente, nessa obra, Marie-Thérèse Eyquem demonstrava uma aproximação com modernidade por meio deste possível acesso das mulheres ao esporte, ao mesmo tempo que transmitia uma representação muito estereotipada da prática esportiva competitiva.

Por outro lado, em seu romance Jeunes filles au soleil, publicado em 1945, a autora destacava um espectro de feminilidades esportivas muito mais amplo, tendo em consideração a diversidade de representações das mulheres no final da Segunda Guerra Mundial. Com efeito, Jocelyne, Lisbeth, Catherine, Michèle, La Mouche, Myriem e Sylviane foram associadas a características físicas singulares e com relações variadas com o esporte tanto em termos de interesse como no âmbito da prática. Por exemplo, Myriem era uma “criatura maravilhosa” (Eyquem, 1945, p. 14), “um belo animal” (Eyquem, 1945, p. 15), que “as graças a dotaram” (Eyquem, 1945, p. 14), enquanto para Lisbeth, “Deus ao criar seu corpo não terminou sua obra, ele a compensou dando-lhe um coração sem fim” (Eyquem, 1945, p. 11). Ao lado destas referências quase mitológicas e das representações tradicionais de uma mulher - Michèle era, por exemplo, “muito sedutora”, “elegante” (Eyquem, 1945, p. 20), já outras protagonistas, como Jocelyne, foram descritas física e moralmente por sua inserção nas práticas esportivas: “o comprimento de suas pernas batendo na água, a força de seus braços cortando a água, a flexibilidade ondulante de seu corpo musculoso, porém insuficiente e muito móvel" (Eyquem, 1945, p. 130). Essas características ecoavam nos níveis das práticas das mulheres; Jocelyne foi descrita anteriormente como uma “excelente nadadora” (Eyquem, 1945, 9), enquanto Lisbeth era “uma esportista medíocre” (Eyquem, 1945, p. 10).

As seis personagens do romance também aliavam interesses específicos em relação à prática esportiva, induzindo uma real singularidade em cada uma delas. Se alguns consideram a prática física uma forma de manutenção de um corpo feminino associado a representações tradicionais (Myriem: “Pratico esporte […] porque me considero bonita, e para continuar assim”) (Eyquem, 1945, p. 56), outros estavam mais ao lado competitivo da prática esportiva. Catherine afirmava explicitamente: “Pratico esporte […] para ganhar” (Eyquem, 1945, p. 56). Assim, por meio desses três indicadores, a evolução do discurso de Marie-Thérèse Eyquem era óbvia. A partir das descrições propostas no romance que destacavam a singularidade de cada protagonista, Marie-Thérèse Eyquem mostrava implicitamente como o esporte (em sentido amplo) tornava as meninas felizes, virtuosas e realizadas, por mais diversos que fossem os valores e virtudes transmitidos pelas práticas esportivas. Aqui confluem a multiplicidade de perfis femininos representados pelas diferentes protagonistas que se relacionavam com o esporte e com estados de espírito totalmente diversificados; no entanto, relacionavam-se em torno da ideia de que o esporte representava para todas as jovens mulheres um meio de evasão, relaxamento, recreação, ao mesmo tempo que tinha como objetivo torná-las mais bonitas e participativas na construção da sua saúde física e mental.

Neste romance com título explícito, Jeunes filles au soleil, sucessor de La femme et le sport, a singularidade de cada personagem do romance ultrapassava as feminilidades esportivas propostas, abrindo-se a um debate mais amplo sobre as classes sociais. Embora tenham aparecido divergências sobre esse assunto entre as protagonistas (“vemos imediatamente que ela não é do nosso mundo”) (Eyquem, 1945, p. 13), a prática esportiva, no romance, aproximava as jovens mulheres em torno de um objetivo comum (“Espero que vocês se deem bem”) (Eyquem, 1945, p. 16), buscando suavizar as diferenças de classe profundamente enraizadas na sociedade do período entreguerras. Além disso, essa atenção particular dada por Marie-Thérèse Eyquem perdurou na década de 1950, assumindo um lugar de destaque no livro que dedicou a Irène Popard: “tenho a honra de ter tido meninas de todas as classes sociais, de todas as crenças, de todas as convicções políticas, às quais nunca perguntei as suas ideias ou as dos seus pais” (Eyquem, 1959, p. 161). Consequentemente, Marie-Thérèse Eyquem transmitiu nesse romance, publicado no período da Libération, uma representação da prática esportiva aberta a todos, em oposição à situação existente no início do século, mas que também estava em descompasso com as questões de profissionalismo que prevaleciam no esporte competitivo masculino e que, por vezes, era transposto para as mulheres. Ao evocar a trajetória de Irène Popard, ela afirmava o seguinte: “Sem dúvida ela preferiu a todas as outras, essas filhas de trabalhadores, pobres e espertas, indomáveis, mas ricas em sensibilidade, para quem a ginástica harmônica era a ilusão da igualdade de classe, a possibilidade de se mostrar superior as mais afortunadas” (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 119).

A análise de conteúdo do romance Jeunes filles au soleil permitiu evidenciar a evolução do pensamento e do discurso de Marie-Thérèse Eyquem. Nesse romance, aliás, ela vai além da representação de uma prática esportiva como meio de ascensão social, propondo diversas relações entre as práticas esportivas realizada pelas mulheres francesas durante as décadas de 1940 e 1950. O seu discurso passou a estar imbuído de uma visão plural de mulher, afastando-se gradualmente do modelo de mulher singular existente durante o regime Vichy e que o livro La femme et le sport relatou.

Essa mudança de concepção evidenciou uma evolução progressiva que encontramos tanto na sociedade como no interior do discurso de Marie-Thérèse Eyquem e que lhe permite ancorar-se nesse período de transição. Para ela, essas duas décadas representaram, portanto, uma oportunidade para promover a sua visão de mulheres esportivas, plurais e singulares, permitindo-lhes, em particular, o acesso a práticas esportivas e competitivas diversificadas.

Uma pluralidade de atividades esportivas e valores assumidos

Mais particularmente, em relação a essa diversidade de feminilidades esportivas, Marie-Thérèse Eyquem vislumbrava um ecletismo nas práticas corporais. Desde as suas propostas realizadas no período de Vichy, ela visualizava que a iniciação desportiva deveria ser incluída na doutrina de uma educação física feminina. Uma vasta gama de práticas foi descrita em La femme et le sport: de esportes individuais a coletivos, incluindo esportes no gelo e modalidades aquáticas e ao ar livre. Porém, para “realizar um esporte equilibrado, comedido, simples, numa palavra, verdadeiramente feminino” (Eyquem, 1942a, p. 2), certas práticas deveriam ser mais promovidas.

Os esportes coletivos, por exemplo, permitiam desenvolver a dedicação e o autossacrifício: “os esportes coletivos podem dar aos franceses o espírito de equipe que tantas vezes lhes falta. Esse espírito de equipe, que é antes de tudo respeito ao líder, amor ao clube, senso de coletividade, esquecimento de si em benefício do grupo” (Eyquem, 1944, p. 89). Marie-Thérèse Eyquem referia-se aqui ao desenvolvimento integral do homem ou da mulher, promovido pelo regime de Vichy, modelo que apregoava um desenvolvimento físico, moral e social com forte dedicação ao coletivo.

Além disso, suas propostas estavam enraizadas num contexto de desenvolvimento do esporte feminino. O ano de 1942 ficou marcado por uma “pedra branca” (Eyquem, 1942b, p. 2) para o esporte feminino devido ao aumento de filiados nas federações esportivas. “Há, de fato, para 1942: o dobro do número de filiados em basquetebol, esgrima, golfe, ginástica, hóquei, natação, tênis de mesa, voleibol, triplicaram o número de filiados em atletismo, remo, handebol, tênis”. Sendo assim, ela continuava seu desejo de promover o esporte feminino no período da Libération. Em artigo publicado no Les Jeunes em 1946, ela destacava as jogadoras pela flexibilidade da técnica, pela beleza do jogo, pela perfeição dos seus trajes. “Uma verdadeira esportista deve ser capaz de direcionar todas as suas energias para alcançar o sucesso, aceitar os resultados com bom humor...” (Eyquem, 1946b, p. 2) e assim valoriza ainda mais o aspecto técnico e o jogo feminino. Ela também denunciava os estereótipos existentes nas práticas esportivas, tentando “derrubar os preconceitos que há muito cercam esse esporte”, defendendo o basquete feminino “como um esporte muito atraente para meninas e mulheres e bem adequado ao desenvolvimento do corpo” (Walter, 1945, p.4).

Além de seus escritos, Marie-Thérèse Eyquem também teve a oportunidade de divulgar o esporte feminino em diversos eventos e manifestações realizadas nesse período. La Fête de la sportive, que organizou em 1942, representou a sua primeira grande ação a favor do desenvolvimento do esporte feminino, permitindo-lhe glorificar o movimento esportivo feminino francês graças ao agrupamento de esportistas de todas as federações. Segundo Emile-Georges Drigny, a esportista francesa conseguiu mostrar “a sua vontade, o seu ardor, a sua audácia, o seu sangue frio e também os benefícios corporais que retira da prática de exercícios físicos” (Drigny, 1942, p. 2). As mulheres foram apresentadas dessa forma nas celebrações públicas, sendo representadas como lutadoras de uma renovação, mas que ainda apresentavam certas características tradicionais. Com efeito, a prática festiva propunha uma realidade voltada para a “mulher-esportista”, ou seja, uma nova mulher e atriz, diferente da “esportista” do período anterior, modelada agora pela nova educação e pelo método francês sob a impulsão de Marie-Thérèse Eyquem e/ou Irène Popard. Encontramos durante essa celebração o “espírito de união” em relação aos valores hebertistas, mostrando que as mulheres representam um todo, não deixando espaço para a singularidade. Esse tipo de celebração também se encontra no seio do Departamento de Esporte Feminino e na rede católica de Marie-Thérèse Eyquem. Ela também utilizou essa rede para promover o esporte e mais particularmente a revista Les Jeunes, que se tornou, então, um grande meio de divulgação para o esporte feminino após a Libération. Além disso, a sua rede internacional lhe permitiu promover o esporte feminino, principalmente por intermédio da Federação Internacional de Educação Física e Esporte Feminino e de congressos internacionais. O Congresso de Copenhagen em 1949 foi uma oportunidade para ela expor sua visão do esporte feminino. Durante sua conferência ela evocou os benefícios e malefícios do esporte em vários domínios: físico, estético, mental, moral, artístico, social e nacional. Mais especificamente, detalhou todos os processos fisiológicos, nomeadamente por meio do impacto do esporte na respiração, circulação, digestão, metabolismo, força, resistência, flexibilidade, agilidade e velocidade. Ela associou assim virtudes à prática esportiva, que representava então uma atividade positiva para as mulheres graças ao desenvolvimento de um conjunto de saber-fazer de cunho corporal. Marie-Thérèse Eyquem não se limitava, portanto, a uma concepção física de saúde ou do corpo das mulheres, mas optava por uma representação holística com argumentos em torno dos domínios psicológicos. Ela insistia no fato de que o esporte permitia o desenvolvimento da coragem, da tenacidade, da energia no esforço, da resistência diante do adversário, do autocontrole ou mesmo do altruísmo. Salientava também que “o esporte só será positivo ao nível da coletividade que ao agregar valor ao indivíduo aumentava o potencial do grupo” (Ministère de l’Éducation nationale français, 1949, p. 3). Assim, por meio das práticas esportivas, encontramos os valores hebertistas defendidos pela personagem no contexto da educação física de base.

Para prolongar suas ações e expandir suas ideias, na sequência desse congresso, ansiou pela criação de uma Comissão Internacional de Estudos para realizar experiências sobre atividades físicas femininas, pedindo à IAAF que alargasse o programa feminino dos Jogos Olímpicos. Verifica-se, então, que a escala internacional era um vetor importante para essa personagem. O Congresso de Paris de 1953 ofereceu-lhe a oportunidade de continuar a sua atividade, proferindo uma conferência sobre a representação das mulheres nos esportes olímpicos. Ainda que, inicialmente, tais congressos fossem centrados na educação física, Marie-Thérèse Eyquem completava essa oferta oferecendo conferências sobre práticas esportivas, mostrando mais uma vez o ecletismo do seu pensamento. Fica assim especificado, no Congresso de Paris, que as práticas esportivas não tinham um objetivo educativo nem um propósito de bem-estar pessoal e que se tratava de algo que dizia respeito apenas a uma elite. Nessas condições, não podiam constituir um tema prioritário desse congresso que se dedicava exclusivamente à promoção da educação física e esportiva feminina. Na cabeça dos líderes de diversos países, jogar bola, remar, nadar, fazer atletismo, tênis, equitação eram esportes e eles faziam parte da educação física (Brenet et Goffin, 1953). Marie-Thérèse Eyquem defendia veementemente essa complementaridade entre a educação física de base e as práticas esportivas; tais questões podem ser comprovadas por seu envolvimento em determinadas federações esportivas como atestam os artigos publicados nas revistas das federações de basquetebol, atletismo e handebol. Para ela, a rede esportiva era claramente uma mais-valia com vista à promoção do esporte feminino em diferentes âmbitos. O destaque aos benefícios do esporte no desenvolvimento físico, moral, social e psicológico estava explicitamente exposto nas revistas oficiais das federações como na revista Basketball onde indicava que “o basquetebol é perfeitamente adequado às mulheres em geral, e as francesas em particular (…) Um esporte que exige acima de tudo: habilidade, autocontrole, velocidade, resistência média, um pouco de força, não é, por excelência, um esporte feminino?” (Eyquem, 1945a, p. 3). Por isso, especificava que este esporte estava adaptado à prática das jovens e acrescentava que “gostamos da elegância, da precisão, da presença de espírito, do ritmo flexível e, numa palavra, da beleza”. (Walter, 1947, p. 3) ao falar sobre jogadoras de basquete, o que se referia a valores especificamente femininos. Estes valores e concepções defendidos pela personagem estavam alinhados com os ideais de um feminismo essencialista. Além disso, ao desenvolver uma visão cada vez mais moderna, ela também considera os limites dessas práticas, o que remetia ao papel da tradição persistente em seu discurso e a uma emancipação tutelada das mulheres.

Um feminismo moderado: o medo da masculinização

Apesar das evoluções na prática esportiva das mulheres, especialmente sob o regime Vichy, as representações tradicionais persistentes na sociedade tendiam a limitar a emancipação das mulheres por meio do esporte. Com efeito, as jovens francesas tinham a oportunidade de conhecer as técnicas esportivas, mas ainda era necessário “mantê-las afastadas das competições, onde elas se esgotam física e nervosamente” (Evesque, 1942, p. 151). Impregnada desde sua juventude por essa concepção, Marie-Thérèse Eyquem insistia regularmente nos limites da prática esportiva, transmitindo a noção de emancipação tutelada das mulheres. Com efeito, em La Femme et le sport, ela evocava os principais perigos resultantes de atividades físicas mal dirigidas, mal dosadas, que levassem ao “overtraining”, a “masculinização”, ao “excesso de trabalho, distúrbios articulares, histrionismo”. “Cabe ao Comissário Geral lançar as bases de uma organização que tenda a reduzir ao máximo estes perigos para alcançar um esporte equilibrado, comedido, simples, numa palavra, verdadeiramente feminino” (Eyquem, 1944). Assim, encontramos em suas falas as concepções do regime de Vichy e as representações da mulher na sociedade desse período histórico. Apesar de estar no período da Libération, tal relutância face ao esporte feminino persistia na sociedade devido às representações tradicionais das mulheres em vigor, como recordou Fatia Terfous em 2011: “Apesar de obter para as mulheres o direito de voto em 1944, tornando o sufrágio político universal, apesar da inserção na constituição de 1946 da igualdade dos sexos em todas as áreas, apesar da publicação do Deuxième Sexe em 1949 (Beauvoir), o fim da Ocupação não levou ao desaparecimento dos estereótipos de género na educação dos corpos. Em outras palavras, pode-se afirmar que uma mudança política não leva a uma mudança de mentalidade” (Ottogalli-Mazzacavallo & Liotard, 2012, p. 105). Da mesma forma, o Doutor R. Anddrivet na revista INS de 1952 destacava os limites do esporte feminino, indicando que os corpos das mulheres não estavam adaptados à competição esportiva e que os esportes ditos fortes e viris (futebol, rúgbi, luta livre, boxe) deveriam ser interditos às mulheres. Para ressaltar ainda mais suas palavras, ele se apoiou em “motivos” anatômicos (sistema muscular menos desenvolvido, menor performance, fadiga mais rápida, insuficiência respiratória, orientação das paredes abdominais), fisiológicos (complexidade hormonal) e sociais (a mulher estava destinada à maternidade, “perder de vista este destino seria (...) cometer um erro grave”). Segundo o médico, apenas o basquetebol, o voleibol e o handebol poderiam ser acessíveis às mulheres, mas apenas para “sujeitos robustos e resistentes” (Andrivet, 1952, p. 8). Esta parte da tradição também se refletia no discurso de Marie-Thérèse Eyquem, destacando o medo de uma masculinização das mulheres, fato que evidenciava sua ancoragem ideológica a um feminismo essencialista existente nesse período. Por exemplo, em 1945 ela defendeu a causa do esporte feminino ao afirmar que “a esportista deve receber uma educação adequada às suas possibilidades como mulher” (Walter, 1945, p. 4). Assim, ela sempre considerava os limites das práticas esportivas no período da Libération, respeitando as especificidades do sexo feminino.

Neste mesmo período, durante um congresso da Federação Católica, indicou que “a natureza do esporte (...) pode ser a mesma e o comportamento na prática esportiva (...) deve ser diferente”, em razão de um menor poder nas mulheres que engendrava uma “beleza específica” do sexo feminino. Sendo assim, ela chega a criticar certas atletas que não correspondiam aos padrões femininos: “as campeãs não são mulheres excepcionais, exemplares excepcionais do atletismo feminino, verdadeiras exceções que confirmam a regra” (Eyquem, 1946a, 2). Marie-Thérèse Eyquem expunha, assim, concepções muito tradicionais de mulheres esportistas em relação à visão das práticas femininas propostas às jovens católicas que deveriam ser equilibradas, “respeitadoras do lugar da mulher na sociedade e na Igreja”, correspondendo aos valores das Filhas da Caridade (decência, abnegação, modéstia, humildade) (Munoz, 2005, p. 175). Em 1959, ela manteve sua posição ao especificar que “embora todos os esportes sejam autorizados, alguns felizmente são negligenciados, como o futebol e o ciclismo que, praticados por mulheres, as tornaram paródias de bastante mau gosto. (...) Gostaria ainda que desaparecessem outros exercícios excessivamente violentos: no atletismo, a corrida dos 800m que causou acidentes fatais nos Jogos Olimpícos, o cross-country competitivo e o remo que pode causar deformação da bacia” (Munoz, 2002, p. 68). Essas eram as únicas interdições apontadas por Marie-Thérèse Eyquem porque ela “acreditava que todos os outros esportes podem ser praticados com excelentes resultados pelas mulheres. Primeiro a natação que desenvolve harmoniosamente, depois o atletismo, o basquete, a patinação, o tênis” (Eyquem, 1959, apud Popard, 1959, p. 191). Mais uma vez, determinados esportes pareciam-lhe mais adequados às mulheres e às especificidades do público feminino. Os excessos e os desvios de uma prática esportiva demasiado intensa, que ela destacava em determinadas modalidades, prejudicariam a beleza e a elegância das mulheres. Ela defendia em seu discurso uma abertura às mulheres em determinadas práticas esportivas, ao mesmo tempo em que considerava os limites dessas mesmas atividades.

Além disso, seguindo os mesmos princípios do período, ela defendia a não miscibilidade entre homens e mulheres. Por exemplo, na revista Les Jeunes, incentiva a criação de novas sociedades e pedia às secções masculinas que criassem uma secção feminina com uma vida esportiva distinta. (Eyquem, 1945b). Na mesma edição, ela recordava que “a intenção de instituir um estágio de basquete no centro nacional quando a miscibilidade ali tiver desaparecido” e, na transmissão de rádio de 6 de dezembro de 1945, Marie-Thérèse Eyquem indicou que “As mulheres não devem praticar esportes como os homens, elas não deveriam fazer isso com eles” (Eyquem, 1945c, p. 2). Ela toma o exemplo de uma partida de basquete: “se uma partida fosse mista para o equilíbrio do jogo, a mulher teria que correr tão rápido quanto o homem e responder aos passes certeiros e brutais com passes tão vivos e brutais. Daí esta masculinização que justamente atribuímos às jogadoras de outrora”. Isso se refere às questões ideológicas e epistemológicas perseguidas pela personagem, considerando o esporte feminino com seus limites e perigos.

Marie-Thérèse Eyquem também destacava em suas manifestações os limites do esporte feminino. Durante sua conferência no Congresso de Copenhagen, ela indicou que as mulheres não deveriam praticar esportes que pudessem causar choques: boxe, luta, catch, rúgbi, futebol, pelota basca, hóquei no gelo, polo aquático, ciclismo competitivo. As mulheres deveriam, portanto, evitar especialidades e exercícios suscetíveis a causar repercussões em seus órgãos internos para preservá-los para a futura maternidade: salto em profundidade, salto com vara, salto triplo em distância, corridas de descida de esqui. Eventos de alta intensidade eram, portanto, reservados para determinados indivíduos. Era preciso evitar o excesso de trabalho esportivo, o overtraining, bem como a prática de vários esportes ao mesmo tempo. Para evitar esses perigos, ela insistia no papel dos instrutores: “Só uma mulher que conhece as possibilidades e os limites do organismo feminino pode evitar o treino demasiado intensivo, ou mesmo o carácter viril e deselegante que muitas vezes marca o ensino confiado exclusivamente aos homens” (Ministère de l’Éducation nationale, 1949, p. 3). Para ela, o esporte correspondia a um “exercício físico que recebeu uma codificação válida para todos os seus praticantes e que pode dar origem a competições” (Ministère de l’Éducation nationale, 1949, p. 3). As “codificações válidas” correspondiam aos limites que ela imaginava para o esporte feminino, o que remetia às concepções de um feminismo essencialista. Durante essa mesma conferência, afirmou ainda que “para evitar ao máximo prestar um desserviço ao esporte feminina, colidindo com as concepções do público, as esportistas devem estar habituadas a medir os seus esforços, a controlar o seu nervosismo, a permanecer, numa palavra, naturais sem tensão ou afetação” (Ministère de l’Éducation nationale, 1949, p. 4). Identificamos aqui uma certa lucidez por parte de Marie-Thérèse Eyquem, consciente de que determinadas práticas poderiam se chocar com a opinião pública, visto que ela era conhecedora de que as representações do corpo feminino e do esporte no período não condiziam com uma emancipação completa da mulher num ambiente que ainda era predominantemente dominado por homens. Ela adotaria, assim, um discurso matizado e adaptado para que suas palavras fossem ouvidas e aceitas, alinhando-se às concepções hegemônicas para poder desenvolver o esporte feminino, mesmo que isso se referisse à consideração dos limites de ingresso às práticas corporais. Ela considera os perigos, as precauções, as interdições nas práticas corporais, que se relacionavam com as especificidades do público feminino. Isso remetia às concepções tradicionalistas que persistiam no discurso da personagem.

As práticas esportivas pareciam também ser um elemento essencial para Marie-Thérèse Eyquem, visto que ela desejava satisfazer as expectativas e necessidades das jovens mulheres dentro da singularidade e especificidade feminina. Através dessas práticas esportivas, encontramos certas virtudes, valores e saberes corporais já presentes na educação física de base como os valores hebertistas, mas também outros saberes corporais que permitiam a libertação dos corpos femininos. A educação física de base e as práticas esportivas surgiam como elementos complementares, permitindo um desenvolvimento completo e harmonioso do corpo feminino. Encontramos também a vontade da personagem em promover estas atividades esportivas, utilizando-se de diversos meios de comunicação e divulgação (congressos e federações esportivas por exemplo), mesmo considerando os limites desta prática. Esses limites representavam uma estratégia lúcida por parte de Marie-Thérèse Eyquem para continuar a promover o esporte feminino, mas ela parecia estar ligada a certas concepções tradicionais persistentes no seu discurso, referindo-se assim a uma emancipação tutelada das mulheres e delimitando os contornos de seu feminismo essencialista.

Considerações finais

O período entre os anos de 1942 e 1961 representou um período de transição para Marie-Thérèse Eyquem na evolução de suas concepções e no estabelecimento de um método sintetizado e eclético baseado tanto em uma educação física de base, composta por diferentes métodos, como no hebertista e numa educação rítmica, além das diversas práticas esportivas. Esse ecletismo referia-se a questões epistemológicas e a seu desejo de transmitir saberes corporais variados, a fim de permitir um desenvolvimento completo e harmonioso do corpo - físico, social, moral - respeitando os valores femininos de graça e beleza, de acordo com os princípios do feminismo essencialista da época. Marie-Thérèse Eyquem promovia esse ecletismo por meio do seu discurso e de suas manifestações, mas também em sua rede de influência, que também era bastante eclética (católica, educação física, esportiva) e se estendia em diferentes escalas (local, nacional, internacional). Por fim, nesse período todo, seu trabalho esteve orientado para o desenvolvimento do esporte e da educação física feminina e para a emancipação tutelada das mulheres, que poderia ser alcançada por meio do ecletismo das práticas corporais.

Em termos de valores, Marie-Thérèse Eyquem estava empenhada em promover os valores sociais do altruísmo, da dedicação e da generosidade em conformidade com os do feminismo essencialista que se desenvolvia naquela época. Por intermédio da educação física de base e das práticas esportivas ponderadas, ela defendia a libertação dos corpos femininos e a emancipação tutelada das mulheres.

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Walter, Ph-G. (1947, 6 janvier). Discours à la louange des Basketteurs. Basket-ball, 161, pp. 2-4. [ Links ]

Rodadas de avaliação por pares:

R1: três convites, um parecer recebido.

R2: três convites, um parecer recebido.

Financiamento: A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) e do Programa Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Licenciamento: Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

Recebido: 26 de Janeiro de 2023; Aceito: 22 de Maio de 2023; Publicado: 07 de Junho de 2023; Publicado: 04 de Setembro de 2023

*Autor correspondente. E-mail: jsaintmartin@unistra.fr

Jean Saint-Martin:

Inscrito em Estudos Políticos e Culturais, sua pesquisa destaca o desenvolvimento da Educação Física e do esporte durante os séculos XIX e XX com ênfase na difusão e transformação das técnicas corporais em diversos contextos culturais e políticos. E-mail: jsaintmartin@unistra.fr https://orcid.org/0000-0002-5880-0495

Lise Cardin:

Professora de Educação Física no Departamento de Ciências do Esporte da Universidade de Estrasburgo. Concluiu o doutoramento em 2019 com uma tese sobre a história do handebol na França de 1922 a 2004. Pertence ao Laboratório E3S (UR 1342, Estrasburgo), e a sua investigação centra-se principalmente na divulgação das atividades físicas. E-mail: cardin@unistra.fr https://orcid.org/0000-0002-8185-1979

Lisa Walther:

professora associada de Educação Física, atualmente trabalhando em Mayotte. Ela possui mestrado MARAPS pela Universidade de Estrasburgo. E-mail: lisawalther@unistra.fr https://orcid.org/0000-0001-9871-9774

Tradução:

Tradução do original em francês realizada pelo Prof. Dr. Marcelo Moraes e Silva (UFPR/Brasil - Université Rennes 2/França), com revisão técnica da Profa. Dra. Daniele Cristina Carquejeiro de Medeiros (UDELAR/Uruguai).

Editor associado responsável:

Raquel Discini de Campos (UFU) E-mail: raqueldiscini@uol.com.br https://orcid.org/0000-0001-5031-3054

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