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Revista de Educação Pública

versión impresa ISSN 0104-5962versión On-line ISSN 2238-2097

R. Educ. Públ. vol.31  Cuiabá ene./dic 2022  Epub 26-Sep-2022

https://doi.org/10.29286/rep.v31ijan/dez.12710 

Artigos

A escuta discente: desafios e perspectivas para a gestão de uma escola técnica (ETEC)

Student listening: challenges and perspectives for the management of a technical school (ETEC)

Sandra Lúcia FERREIRA1 
http://orcid.org/0000-0002-6891-1332

Ana Claudia CARELLE2 
http://orcid.org/0000-0003-0603-7667

Anamérica Prado MARCONDES3 
http://orcid.org/0000-0001-8000-8894

1Doutora pela PUC-SP – Programa de Psicologia da Educação; Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID).

2Mestra em Educação pela Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID) - linha de pesquisa: Políticas Públicas e Gestão Escolar, planejamento e avaliação nas instituições de Educação; Nutricionista, Pedagoga, docente e coordenadora do curso técnico em nutrição e dietética do CEETEPS - Etec de Guaianazes desde 2004.

3Doutora pela PUCSP – Programa de Psicologia da Educação; Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).


Resumo

O artigo foca no diálogo entre dados avaliativos de macro e microssistemas no âmbito da gestão educacional. Analisa dados do Sistema de Avaliação Institucional (SAI) explorando respostas de 174 discentes – Curso Técnico Nutrição Dietética (microssistema) – comparando-os com as manifestações de 150.004 estudantes dos diferentes cursos (macrossistema), visando o estudo de processos formativos e a identificação de interdependência entre as Etecs do Centro Paula Souza (CEETEPS), influenciadas por uma organização que deixa “marcas” de eficiência da gestão. São trazidas reflexões evidenciando avaliação positiva sobre condições de ensino/aprendizagem, ao lado de pouco diálogo no uso dos resultados do SAI para aperfeiçoar o processo avaliativo/decisional das Etecs.

Palavras-chave Política pública; Centro Paula Souza; Sistema de Avaliação Institucional; Gestão Escolar

Abstract

The article focuses on the dialogue between macro and microsystems evaluative data in the educational management field. Analyzes data from the Institutional Evaluation System (SAI) exploring responses from 174 students –Technical Course Dietetic Nutrition (microsystem)– comparing them with the manifestations of 150,004 students from different courses (macrosystem), aiming at the study of formative processes and the identification of interdependence between the Etecs of the Centro Paula Souza (CEETEPS), influenced by an organization that leaves "marks" of management efficiency. Reflections are brought evidencing positive evaluation on teaching/learning conditions, alongside little dialogue in the use of SAI results to improve the evaluation/decisional process of the Etecs.

Keywords Public policy; Centro Paula Souza; Institutional Evaluation System; School Management

A criação de uma cultura de macro avaliações, concebidas com o objetivo de aferir resultados e qualidade das propostas educativas, principalmente nas instituições públicas, é uma das principais conquistas da área da Educação dos últimos 30 anos. No Brasil a implantação de diferentes níveis de Sistemas Nacionais de Avaliação, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb/1990) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes/ 2004), estimularam processos de avaliações em diferentes redes de Educação, estaduais e municipais. Além de verificar o cumprimento do direito à educação que promove avanços, as avaliações oferecem importantes “pistas” à gestão escolar para traçar diagnósticos e propor estratégias de aperfeiçoamento do trabalho formativo.

Nesse contexto, o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), autarquia do Governo do Estado de São Paulo – vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico – também implantou um Sistema de Avaliação Institucional (SAI), em 1997, com a intenção de monitorar e avaliar a gestão pedagógica e administrativa e com isso, manter e aprimorar o trabalho formativo em suas escolas. Tais escolas, juntas, formam uma rede composta, em 2020, por 223 Escolas Técnicas (Etecs) e 73 Faculdades de Tecnologia (Fatecs)[3], estaduais, distribuídas em 322 municípios de São Paulo, atendendo aproximadamente 297 mil discentes. Destaca-se que nas escolas técnicas1, foco do presente trabalho, são oferecidos cursos de Ensino Médio, incluindo a educação profissional técnica, nas modalidades presencial, semipresencial e online.

O Sistema de Avaliação Institucional (SAI), proposto para avaliar anualmente o desempenho da rede de escolas do CEETEPS, foi validado em 1998 e implantado nas Etecs, em 1999. Em 2010 o processo se estendeu à todas as unidades escolares (Etecs e Fatecs), utilizando questionários padronizados para coleta de informações, inicialmente em formulários xerocopiados e posteriormente substituídos por uma coleta realizada de maneira online. O somatório das coletas realizadas entre 2016 e 2019, nas 223 Etecs, gerou informações referentes a 1.084.543 respondentes: 8.937 funcionários, 665.440 alunos, 261.511 egressos, 61.571 professores, 8.682 gestores e 1.002 pais de estudantes, compondo um grande banco de dados gerenciado pela Área de Avaliação Institucional (AAI) do CEETEPS.

O Curso Técnico em Nutrição e Dietética (da Etec de Guaianazes-SP) faz parte do CEETEPS e tem um projeto de Autoavaliação, implantado em 2017, que busca explorar e analisar informações de seus docentes e discentes disponibilizadas pelo Sistema de Avaliação Institucional (SAI).

Estabelecer o diálogo entre os dados avaliativos de macro (SAI) e microssistema (projeto de Autoavaliação do Curso Técnico em Nutrição e Dietética (da Etec de Guaianazes-SP) é a relevância do trabalho que ora se apresenta. Como perspectiva metodológica o estudo/pesquisa se propôs ao desafio de investir na exploração e uso dos resultados avaliativos, ensaiando possibilidades capazes de instigar reflexões e aperfeiçoamento do trabalho formativo.

Com bem menos proeminência, mas com avanços, a avaliação institucional na Educação Básica, interesse basilar deste estudo, vem ampliando estudos e pesquisas apesar de ainda não ser uma prática consolidada. Os resultados de pesquisas correlatas sobre o tema, indicam uma baixa produção de estudos acerca do assunto, se considerarmos a predominância de artigos que tratam da avaliação institucional, com foco na educação superior, em detrimento daqueles que tem como foco a Educação Básica.

Nesse sentido, o presente artigo apresenta resultados da investigação de aspectos convergentes e divergentes, priorizando, nesse momento, a escuta do discente, relacionada a 06 seis fatores de gestão: 1) Condições de ensino; 2) Desempenho escolar; 3) Gestão escolar; 4) Gestão pedagógica; 5) Ambiente educativo e 6) Satisfação.

As análises dos dados avaliativos, que serão apresentadas, buscaram identificar a existência, ou não, de uma interdependência entre as Etecs pertencentes ao CEETEPS nos aspectos investigados. Para tanto, foi realizado um trabalho comparativo dos dados avaliativos do macrossistema (ou seja, respostas de 150.004 discentes) com os dados referentes ao Curso Técnico em Nutrição e Dietética de Guaianazes do microssistema, (ou seja, respostas de 174 discentes), coletados em 2018. Justifica-se a escolha deste curso específico pelo fato de uma das autoras ser responsável por sua coordenação.

Avaliação e teoria geral dos sistemas (TSG): da teoria à prática

Pensar de forma sistêmica não é um exercício recente. Desde a década de 1920, Ludwig Von Bertalanffy (1901/1972) – cientista, biólogo e naturalista austríaco – criticava a predominância do enfoque mecanicista para o desenvolvimento de ideias científicas. Na década 1940, apresenta sua teoria que reconhece o organismo vivo como um sistema dinâmico e não estático e fechado ao mundo exterior capaz de se recompor por meio de um fluxo de energias extraídas do meio ambiente, contrário àquele descrito pela termodinâmica clássica, que trata de sistemas fechados em estado de equilíbrio térmico ou próximo dele (VASCONCELLOS, 2010). Nesse sentido, surgem contribuições para a elaboração de um novo paradigma da ciência que rompe com os pressupostos da simplicidade, objetividade e estabilidade e reconhecendo/valorizando aspectos da complexidade, instabilidade e intersubjetividade.

Com isso, Bertalanffy propôs o estudo de princípios universais aplicáveis aos sistemas em geral, de natureza física, biológica ou sociológica, conceituando “sistema” como um complexo de elementos em estado de interação que não podem ser considerados isoladamente (BERTALANFFY, 1977). Tais elementos tornam seus componentes relacionais e interdependentes, ou seja, "as relações são o que dá coesão ao sistema todo, conferindo-lhe um caráter de totalidade ou globalidade, uma das características definidoras do sistema" (VASCONCELLOS, 2010, p.199).

Seis conceitos compõem a TGS: globalidade (inter-relacional); não-somatividade (o todo não é a soma das partes); homeostase (autorregulação), morfogênese (absorção de aspectos externos ao sistema), circularidade (influência constante entre as partes) e equifinalidade (sistema aberto). Por seu dinamismo, esses conceitos impulsionam a retroalimentação (feedback), justificando o significado da palavra “sistema”, que deriva do grego synhistanai, que tem por significado “colocar junto” em relação. O entendimento sistêmico, portanto, requer uma compreensão de um contexto mais amplo, mantendo em observação, num mesmo sistema, a possibilidades do surgimento de outras estruturas multiniveladas. Nesse sentido, cada um dos sistemas forma um todo com relação as suas partes, sendo ele mesmo integrante de um todo em outro nível. A convivência entre diferentes níveis de sistemas forma a concepção de "complexidade organizada" (VASCONCELLOS, 2010).

É nesse conceito de “complexidade organizada” que pode ser reconhecido o Sistema de Avaliação Institucional (SAI) do CEETEPS, do qual se destacam dois pressupostos em sua proposta avaliativa: 1) tem que apresentar certa estabilidade para possibilitar a comparação e estabelecer os níveis de evolução das instituições num determinado período; 2) ser flexível para efetuar “adaptações” visando apreender a realidade que está em constante movimento.

Na busca de uma compreensão não fragmentada da rede de educação pública, considerando a complexidade do CEETEPS e o diálogo com sua comunidade, o SAI foi inicialmente proposto pela Coordenação de Ensino Superior (CESU) em parceria com a Coordenação do Ensino Médio e Técnico (CETEC); posteriormente, a proposta foi discutida e aperfeiçoada por um Comitê de Diretores. Em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) – Departamento de Economia da Faculdade FEA-USP – em 2013, o sistema chegou aos contornos que tem hoje.

Pode-se dizer, por conseguinte, que o conceito de “complexidade organizada” se revela no fato de que o SAI reconhece a realidade de cada uma das 223 Etecs, ou seja, o SAI reconhece, como pressuposto, que para ser avaliada, a escola precisa ser apreendida de forma total e global. Isso porque, o sistema é complexo e não pode ser determinado como a soma de suas partes, exigindo o reconhecimento da interdependência destas partes, tornando-a única e múltipla, ao mesmo tempo.

No cotidiano do processo formativo, a escola se organiza em fases que antecedem a ação avaliativa proposta pelo SAI: o Planejamento (O que se deseja fazer para realizar a missão da instituição? ou quais são os objetivos que devem ser concretizados?); a Estruturação (Como deseja fazer? ou quais os procedimentos que serão adotados para se atingir s objetivos?); a Implementação (Será que está sendo realizado o que foi planejado? ou os procedimentos estabelecidos são suficientes e funcionam?) e a Revisão (Será que o planejado está funcionando adequadamente? ou os objetivos estão sendo alcançados?). Para cada objetivo que se deseja alcançar o modelo proposto pelo SAI identifica três distintos tipos de avaliação, a saber: de Insumos: referem-se aos meios pelos quais o projeto educacional é implementado. Permitem oferecer uma fotografia da infraestrutura básica com a qual as unidades contam para desenvolver as suas atividades cotidianas. Representam, portanto, um importante recurso para que se tenha uma visão geral das condições de toda as Unidades do Centro Paula Souza e de eventuais demandas de cada uma delas; de Processos: revelam como os insumos são utilizados nas ações cotidianas das unidades. Dessa maneira, resultam do modo como a comunidade escolar se organiza para cumprir a sua missão e atender aos seus objetivos estratégicos, segundo as perspectivas de todos os seus segmentos: alunos, professores, coordenadores da equipe de gestão, funcionários e pais ou responsáveis pelos alunos menores.de Resultado: referem-se aos resultados objetivos atingidos e, ainda, às percepções dos diferentes segmentos sobre as realizações da unidade. Esses indicadores são também pontuados para a obtenção de um indicador geral de resultados (CEETEPS, 2014).

É importante registrar que o modelo proposto pelo SAI se aproxima do modelo CIPP – Contexto, Insumo, Processo e Produto – proposto por Daniel L. Stufflebeam (1936/2017), professor emérito da Universidade da Western Michigan University (WMU). Desde 1968, Stufflebeam, juntamente com outros pesquisadores, propõe uma compreensão ampliada do processo avaliativo e o reconhece como uma ação que possibilita a obtenção de informação útil para julgar decisões alternativas (VIANNA, 1999, p. 78), propondo o uso dos resultados avaliativos para o encaminhamento de tomada de decisões. São pressupostos do SAI: a)Continuidade e perspectiva formativa: o conhecimento da realidade constitui um processo dinâmico e ininterrupto que exige investimentos; b)Compromisso do processo de tomada de decisão baseados em dados: processo avaliativo pautado em análises fundamentadas em dados científicos que têm como objetivo orientar as tomadas de decisões; c)Legitimação: a avaliação como instrumento de reconstrução de práticas emerge de um processo de confronto e negociação, construído a partir dos seguintes questionamentos: quais questões precisam ser respondidas? Como obter informações para responder as questões propostas? Como tratar as informações gerando novos conhecimentos?

Para o desenvolvimento do conjunto de pressupostos do SAI, as ações avaliativas foram pautadas para realizar dois grandes desafios: a proposição e implantação de uma metodologia de coleta de dados (instrumentos e procedimentos) que garantissem a operacionalização de acompanhamento do que está sendo realizado nas Etecs e Fatecs por meio da escuta de sua comunidade: estudantes ativos(as) e egressos(as), docentes, diretores, coordenadores e funcionários e o uso dos resultados, como orientadores das políticas institucionais do CEETEPS.

A implementação desta metodologia considerou também como princípio a “escuta” dos diferentes stakeholders2, para avaliar o grau de efetividade do processo formativo oferecido, a partir da visão dos seus usuários. Tal modelo, indicava a possibilidade de desenvolver algum tipo de accountability3, capaz de produzir informação destinada à elaboração de processos de avaliação das condições de ensino e da operacionalização do trabalho educativo, principalmente, a partir do que pensam os(as) estudantes de suas reivindicações e, do ponto de vista das famílias, o que propiciaria mecanismos de fiscalização e manifestação acerca dos serviços públicos oferecidos pelo CEETEPS. Tais encaminhamentos demonstram também uma tentativa de democratização da gestão, favorecendo a aproximação entre a opinião dos usuários e a gestão, proposta ideal, que levaria em conta este conjunto de informações para aperfeiçoar e/ou adequar os seus serviços prestados

Quanto a produção de dados quantitativos, ela está associada à implantação de uma plataforma on line (WebSai) aberta que, anualmente, coleta informações de todas as unidades de nível médio e superior, com o objetivo de registrar as observações dos diferentes segmentos que compõem o processo formativo. Dessa forma, o SAI, por meio do uso da plataforma WebSai, reconhece a importância da participação dos stakeholders no plano de ação de uma autoavaliação ou avaliação institucional, acreditando, pois, que “[...] as realidades não estão objetivamente ‘lá fora’, mas são construídas pelas pessoas, normalmente sob a influência de uma série de fatores sociais e culturais que geram construções compartilhadas” (GUBA& LINCOLN, 2011, p.19).

Somam-se aos propósitos do SAI, desde 2009, os dados oriundos, do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), realizado desde 1996, pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE/SP), que tem como finalidade acompanhar o trabalho formativo por meio de informações referentes ao desempenho de alunos e alunas em Língua Portuguesa e Matemática, indicando a situação da escolaridade básica na rede pública de educação paulista. Seus resultados, envolvendo as Etecs, são disponibilizados em formato de “boletins” que trazem informações de cada escola. As Etecs recebem informações sobre seu desempenho, relacionados somente aos estudantes que frequentam a modalidade do ensino médio regular.

Avaliação Institucional: um tema em aberto

O SAI, enquanto sistema de avaliação tem peculiaridades que o aproximam e o diferenciam de outros sistemas de avaliação, quer seja federal, estadual ou municipal. Grande parte desses sistemas, conforme especialistas da área como BAUER et al. (2013) têm se consolidado com objetivos de obtenção de informações avaliativas que possibilitam nortear o planejamento de políticas e programas educacionais, bem como orientar o monitoramento da qualidade da educação oferecida, o que os aproxima do modelo avaliativo do SAI. Este, por sua vez , se diferencia daqueles sistemas, na medida em que assume características da avaliação institucional, ou seja, com a amplitude do olhar avaliativo explorando a realidade das escolas que integram o sistema.

Na busca por estudos relacionados à avaliação institucional, deparamo-nos com uma ampla literatura, que vem se compondo desde a década de 1980, envolvendo principalmente a Educação Superior (BALZAN& DIAS SOBRINHO (1995); SOUSA et al. (2008) entre outros). Essa modalidade avançou com a implantação do Sistema Nacional de Educação Superior (Sinaes), promulgado pela Lei n.º 10.861, de 14 de abril de 2004 (BRASIL, 2004) e continua aperfeiçoando metodologias principalmente produzindo novos instrumentos para coleta de dados com foco na Graduação – Portaria Normativa nº 840, de 24 de agosto de 2018 ou propondo processos de revisão, instrumentos e técnicas de coleta de dados – Portaria nº 748, de 23 de agosto de 2019.

Com bem menos proeminência, mas com avanços, a Avaliação Institucional na Educação Básica, interesse basilar deste estudo, também vem recebendo destaques principalmente em estudos mais recentes – Barretto&Novaes (2016); Síveres&Santos (2018); Brandalise (2015) dentre outros. Apesar das considerações favoráveis à implantação e desenvolvimento de projetos de avaliação institucional pode-se afirmar que, principalmente na Educação Básica, ela ainda não é uma prática consolidada. O resultado de pesquisas correlatas sobre o tema indica uma baixa produção de estudos acerca do assunto, reafirmada na pesquisa bibliográfica de Botiglieri, et al. (2017) que constatou predominância de artigos que tratam da avaliação institucional com foco na educação superior.

Por isso, afirmamos que a avaliação institucional é um tema ainda em aberto, principalmente para a Educação Básica, reconhecendo que é preciso investir na implantação de uma cultura de avaliação que se inicia com definições de políticas públicas que compreendam a avaliação como um sistema integrado, que tem, ao mesmo tempo, a função de regulação e de revisão de propostas pedagógicas.

Com suas peculiaridades, o SAI, enquanto sistema de avaliação institucional, se estrutura considerando uma inovação para o final da década de 90 e desde sua implantação (1997) vem se propondo a desenvolver uma ação avaliativa que busque a melhoria da qualidade da educação compreendida pelo aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade (acadêmica e social) e pela ampliação dos compromissos e responsabilidades sociais. Tem como proposta metodológica a coleta multidimensional de informações advindas de sua rede de escolas/faculdades, visando ao mesmo tempo, integrar aspectos que possibilitem a formação/participação dos envolvidos no processo avaliativo e regular o trabalho da gestão por meio de dados confiáveis.

Em síntese, o SAl, é uma política de ação complexa, cujos aspectos ideológicos, políticos, econômicos e culturais traduzem-se no autoconhecimento do CEETEPS em parceria com suas escolas buscando uma consolidação da identidade organizacional. Tem como objetivo propor a utilização de informações científicas na elaboração de um modelo de acompanhamento e avaliação com vistas à transformação de uma avaliação de produto – dados gerados pelo próprio sistema – em uma avaliação formativa. Essa proposta visa, orientar a gestão de escolas/faculdades no processo de tomada de decisões, pautando-o no conhecimento da comunidade, suas características e principais necessidades, obtidas a partir do autoconhecimento.

Proposta metodológica: a escuta dos estudantes

Nesse estudo, a escuta dos participantes do processo educacional desenvolvido nas Etecs considerou a manifestação dos estudantes que participaram do processo avaliativo no ano de 2018, buscando atender a um duplo propósito. O primeiro propósito buscava analisar a interdependência das escolas do sistema. Para tanto, foram exploradas as respostas de 150.004 alunos coletadas por meio da aplicação de um questionário, encaminhado pela SAI, contendo 39 questões objetivas que versavam sobre as experiências de formação vividas por eles nas Etecs. A matriz do questionário é apresentada no quadro 1, a seguir, e procura sintetizar: os tipos de avaliação propostos pelo SAI; as correspondentes categorias de análise e seus respectivos indicadores.

Fonte: Dados adaptados CEETEPS, 2014.

Quadro 1 Matriz de indicadores: questionário dos estudantes 

O segundo propósito explorou as respostas de 174 estudantes matriculados no Curso Técnico em Nutrição e Dietética, da Etec de Guaianazes, a fim de tornar possível a comparação dos dados institucionais macro universo: (150.004 discentes) com os dados disponibilizados do microuniverso (174 discentes), ambos coletados em 2018, objetivando analisar a interdependência entre as Escolas Técnicas(Etecs) influenciadas por uma organização administrativa/pedagógica que deixa “marcas” como indicadores de eficiência da gestão.

Considerando que o CEETEPS não é um conglomerado de elementos distintos, mas um centro educacional possuindo organização administrativa e pedagógica, a proposta foi investigar quais são os pontos que integram as unidades escolares e como os estudantes se manifestam, a respeito desta integração. A proposta investigativa dos dados não se restringiu a isso. Buscou-se também realçar o diferencial entre os sistemas macro e micro, indicando aspectos que pudessem oferecer pistas à gestão para aperfeiçoamento do trabalho junto ao Curso Técnico em Nutrição e Dietética de Guaianazes.

Quem são os alunos do macrossistema

O macrossistema é compreendido como o conjunto de respondentes pertencentes às seguintes áreas de formação: Produção Industrial, Gestão e Negócios, Hospitalidade e Lazer, Infraestrutura, Recursos Naturais, Produção Alimentícia, Desenvolvimento Educacional e Social, Controle e Processos Industriais, Produção Cultural e Design, Ambiente e Saúde, Informação e Comunicação, Turismo, Hospitalidade e Lazer, Segurança. Responderam aos questionários estudantes de todos os módulos/série, distribuídos quase equitativamente nos três primeiros módulos: primeiro/módulo (35%); segundo/módulo (32%), terceiro/módulo (28%), porém com número menor no quarto/módulo (5%). Os respondentes se distribuem ou no regime de tempo integral (35%) ou no período noturno (43%). Poucos estudam pela manhã (14%) ou a tarde (8%). Há uma distribuição equitativa quanto a gênero, uma vez que alunas (52%) e alunos (48%) frequentam as escolas técnicas quase na mesma proporção. Os brancos prevalecem (55%) em detrimento dos pretos (10%) e pardos (32%). Os amarelos (2%) e indígenas (1%) encontram-se em baixíssima porcentagem. Uma significativa parte dos respondentes (65%) é oriunda das escolas públicas, sendo que 21% realizaram nela a maior parte de sua formação e 29 % dos estudantes já estão no mercado de trabalho.

O contexto do estudo e os alunos do microssistema

O Curso Técnico em Nutrição e Dietética foi criado em 1961 e em 1974, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (TORRES, 2006). No CEETEPS, até 1974, o curso era oferecido somente na Etec Carlos de Campos. Atualmente, 39 Escolas Técnicas do Centro Paula Souza oferecem essa formação. O referido curso faz parte do Eixo Tecnológico Ambiente e Saúde, que também inclui os cursos: Cuidados de Idosos, Enfermagem, Farmácia, Meio Ambiente e Prótese Dentárias, que englobam cursos voltados ao cuidado com seres humanos e meio ambiente.

A Etec de Guaianazes foi inaugurada em 2004 e junto com ela, um dos primeiros Cursos Técnicos em Nutrição e Dietética, na zona Leste da cidade de São Paulo, com uma única turma de 40 alunos. Em 2020, 16 anos depois, o curso é composto por 6 turmas contando, aproximadamente, com 210 alunos e 18 professores. Sua estrutura curricular é organizada em três módulos, dezoito meses, e se propõe a desenvolver o estudo dos alimentos, do corpo humano e de seu funcionamento. Também são contemplados estudos sobre técnicas de orientação alimentar ocupadas de processos do metabolismo do corpo humano; noções de administração de serviços de alimentação com foco no controle de qualidade. O curso proporciona a atuação profissional em áreas como: unidades de alimentação e nutrição, unidades hospitalares, rede hoteleira e merenda escolar. Os alunos matriculados no Curso Técnico em Nutrição e Dietética, da Etec de Guaianazes, em 2018 fizeram parte do presente estudo na dimensão de microssistema.

Os questionários foram respondidos por estudantes de todos os módulos/série, porém sem uma distribuição equitativa: primeiro/módulo (40%); segundo/módulo (12%) e terceiro/módulo (48%). Isto se justifica por um conjunto de fatores intervenientes: número de matrículas por módulo, evasão escolar, vagas remanescentes, com a oportunidade de o aluno ingressar no 2º e 3º módulo. A maioria dos alunos respondentes se concentra nos períodos da manhã (48%) e tarde (39%) e um pequeno porcentual (13%), frequenta o período noturno justificado por ser mantida uma única turma neste período.

A distribuição dos alunos na categoria gênero aponta diferenças em relação aos dados do macrossistema, uma vez que a porcentagem de alunas (86%) é superior à porcentagem dos alunos (14%). Com relação a cor ou raça, o curso abre espaço para acolhimento de pardos, que prevalecem (40%) e de pretos, que ampliam sua presença (10%-18%). A presença dos brancos (37%) diminui. Amarelos (3%) e indígenas (2%) aparecem com baixíssima porcentagem. Assim como no macrossistema, grande parte dos respondentes (75%) estudou em escolas públicas ou realizou nela a maior parte de sua formação (20%), marcando uma característica da população atendida pelas Etecs. Apenas (5%) estão no mercado de trabalho.

Exploração dos dados relativos aos aspectos formativos

O presente estudo/pesquisa está afinado como o objetivo de identificar uma interdependência entre as Escolas Técnicas (Etecs), influenciadas por uma organização administrativa/pedagógica que guarda peculiaridades. Para tanto, os dados avaliativos tiveram como base a Matriz de Avaliação (já apresentada – quadro1) que define níveis, categorias e indicadores. Para avaliar a categoria “Satisfação” que compara a relação entre o que o(a) estudante recebeu com suas expectativas iniciais, foram propostas três perguntas, que tiveram os seguintes resultados: 1) “gostam da escola?” – (macro,88%; micro,89%); 2) “sua unidade se destaca pela qualidade do ensino?” (macro,89%; micro,88%) e 3) “o curso está preparando o seu futuro desempenho profissional?” (macro,93%; micro 99%). As análises desses resultados reveladores de uma atitude positiva em relação à escola, podem ser indicativas de que o universo subjetivo dos estudantes está sustentado por três pilhares distintos. Segundo Trevisan&Veloso(2007), em pesquisa que explora a expectativas da clientela de escolas técnicas, estes pilares podem ser assim descritos:

O primeiro é a própria escolha do Centro Paula Souza como uma "grife" de importância reconhecida para a inserção na vida profissional[...] O segundo pilar do universo subjetivo é a satisfação profissional. O aluno de escola técnica se vê como uma "elite" mais preparada para enfrentar as disputas no mercado profissional. [...]. O terceiro pilar da subjetividade está na identificação do grau de empregabilidade implícito nas potencialidades agregadas ao diploma do Centro Paula Souza (2007, p. 906).

A exploração e análises das demais respostas do questionário, apresentadas a seguir, possibilitam o mapeamento de outros aspectos que podem contribuir para o aperfeiçoamento do processo formativo.

O que dizem os alunos sobre suas escolas

Ouvi-los sobre a categoria Condições de ensino se justifica pela necessidade de verificar como estão sendo reconhecidos os mecanismos da implementação de um Projeto Educacional, planejado e proposto pela CEETEPS e pelos educadores do Curso Técnico em Nutrição e Dietética de Guaianazes. As análises permitem avaliar a infraestrutura, em relação aos indicadores “adequação do espaço físico e instalações” e “adequação de materiais e equipamentos” para o desenvolvimento de suas atividades. Possibilita, portanto, uma visão geral das condições das escolas para a ação pedagógica e possíveis demandas.

Em relação à adequação do espaço físico e suas instalações, pode-se verificar que os estudantes consideram como satisfatória a adequação dos equipamentos dos laboratórios (macro 90% e Micro 89%), e os materiais didáticos disponibilizados pelos docentes (macro 95% e micro 100%), para o desenvolvimento do curso. Porém, quando inquiridos sobre o atendimento às demandas dos cursos nas aulas práticas em laboratórios, os dois universos respondem de maneira muito próxima: – atendimento reconhecido de forma satisfatória – macro (75%); micro (75%) – e insatisfatória em algumas aulas práticas – macro (21%); micro (25%). Há manifestação de insuficiência no que tange ao acervo da Biblioteca (macro 15% e micro 11%) indicando necessidade de investimentos nesse quesito. Destaca-se também que, apesar de reconhecerem a adequação dos espaços didáticos (bibliotecas, laboratórios específicos e de informática, visitas técnicas entre outros), quando inquiridos sobre o uso destes espaços, reconhecem que a frequência acontece somente “algumas vezes” – macro (52%); micro (52%). A não disponibilização de uso destes espaços, como proposta dos(as) professores(as), é registrada por 6% do universo macro e apenas 1% do micro, indicando que especialmente no Curso Técnico em Nutrição e Dietética existem projetos realizados com o objetivo de utilizar efetivamente os espaços concedidos pela Etec. Isso ocorre nos componentes curriculares de Técnica Dietética I, II e III, sendo que todas as aulas práticas são realizadas nos laboratórios específicos, bem como nos projetos ligados ao incentivo à leitura, propostos no Plano Plurianual de Gestão, com a utilização dos espaços da biblioteca e ainda no projeto de realização sistemática de visitas técnicas, que acontece nos três módulos de ensino.

Um ponto que se destaca na manifestação dos estudantes sobre a categoria Ambiente educativo, é a identificação do mesmo como um espaço favorável para o desenvolvimento dos processos formativos. Quase a totalidade dos respondentes indica que o ambiente da escola é seguro (macro 93% e micro 99%) e que há conhecimento das regras de convivência bem como dos direitos e deveres dos discentes – (macro 96% e micro 98%).

A categoria Avaliação do desempenho escolar procura analisar o modo como a escola se organiza para o cumprimento da missão de acompanhar e avaliar o que os alunos aprenderam e o que são capazes de realizar. Para tanto, foram elaboradas quatro questões relativas ao acompanhamento e a avaliação das aprendizagens pelos(as) professores(as), em sala de aula. Tais questões foram elaboradas considerando as respostas num modelo de escala tipo Lickert que variavam entre: A (sim, todos); B (sim, grande parte deles); C (sim, alguns) e D (não). Foram consideradas as alternativas A e B como positivas, na indicação do grau de satisfação; portanto, os valores foram somados para melhor visualização das respostas.

Os resultados quanto ao desempenho escolar se revelaram no indicador “a atenção individual do(a) professor(a) quando os(as) estudantes apresentam dificuldades”. As análises indicam uma avaliação positiva para ambos os universos – macro (73%); micro (87%), porém com maior percentual de respostas no Curso de Dietética. Tais dados possivelmente indicam a valorização, pelos alunos, do projeto “Qualitas”, que se constitui em uma proposta de avaliação diagnóstica associada às intervenções realizadas no decorrer do semestre letivo visando o nivelamento desses alunos. Tal projeto se propõe a realizar ações de recuperação contínua, oferecendo oportunidade aos alunos para melhorarem o desempenho escolar.

Os respondentes indicam também que os docentes “apresentam as avaliações que serão utilizadas no semestre” – Macro (83%); Micro (94%), assim como informam quais serão os critérios de correção das avalições antes da aplicação – Macro (74%); Micro (84%). Por outro lado, “a correção das avaliações, por parte dos professores, para destaques dos erros” recebeu menores porcentagens positivas – Macro (53%); Micro (52%). Verificou-se, inclusive, respostas indicativas de que nem todos os professores têm essa prática – Macro (37%); Micro(38%). Uma porcentagem de alunos se expressa indicando que os professores não realizam as correções das avaliações Macro (10%); Micro (10%). Tais resultados, embora com percentuais mais baixos, evidenciam a necessidade de atenção à tarefa de correção das avaliações, dada sua importância na identificação dos erros e dos encaminhamentos pertinentes.

Salienta-se que, na categoria Desempenho escolar não há significativas discrepâncias entre as respostas advindas do macrossistema (150.004 discentes) ou do microssistema (174 discentes) do Curso Técnico em Nutrição e Dietética, indicando semelhanças entre os dois universos. Outro ponto em comum é a ausência de divulgação de informações relativas à situação escolar dos estudantes. São elas: -os motivos de reprovação ou progressão parcial - Macro (36%); Micro (39%); -os resultados de desempenho escolar e estatísticas educacionais – Macro (15%); Micro (24%); -a atuação do Conselho de Escola – Macro (21%); Micro (24%). Nessas três questões a resposta “não sei informar” recebeu algumas manifestações. Em contrapartida, os estudantes declaram de forma positiva que há divulgação de informações sobre os principais acontecimentos e/ou eventos escolares – Macro (75%); Micro (84%) – e parte declara parcialmente - Macro (22%); Micro (16%). Somente 3% dos respondentes do universo macro declararam que não recebem informações sobre calendário escolar, datas das provas, datas comemorativas etc.

A relação entre docentes e discentes, tanto nos quesitos de interação como pedagógicos, relativos à categoria Gestão Escolar e Pedagógica têm preponderância no questionário. Dos 30 itens analisados (retirados os 9 de perfil), 43% deles versam sobre essa relação. Para tratamento dos resultados dessas questões foi utilizado o mesmo critério aplicado a outros itens que utilizaram o modelo de escala tipo Lickert com as alternativas: A (sim, todos); B (sim, grande parte deles); C (sim, alguns) e D (não). Assim, para indicação do grau de satisfação foram consideradas como positivas as alternativas A e B e, portanto, os valores foram somados para melhor visualização do posicionamento dos estudantes

Os respondentes reconhecem a competência de seus professores indicando que entendem os conteúdos que lecionam – Macro (87%); Micro (96%). Além disso, se manifestam que os docentes não são preconceituosos, pois oferecem a mesma atenção aos alunos negros, brancos, indígenas, pessoas com deficiências, homens, mulheres, homossexuais etc. – Macro (91%); Micro (95%). Reconhecem também que grande parte demonstra planejar as aulas – Macro (81%); Micro (91%). Porém, para uma parte dos respondentes – Macro (17%); Micro (8%) – somente alguns professores demonstram esse planejamento. Em relação às bases tecnológicas definidas para as aulas, parte dos alunos – Macro (31%); Micro (17%)- identifica que somente alguns professores relacionam as aulas com situações que acontecem no dia a dia. Embora com tais percentuais, este é um aspecto importante para ser repensado pois, a virtude de um curso técnico deveria ser a aproximação implícita à aspectos do mercado de trabalho e as atualizações constantes que as áreas exigem.

A participação de estudantes nas aulas também foi um indicador avaliado na relação docente/discente. Quando perguntados se os(as) professores(as) alcançam este propósito, os respondentes indicam que uma parte significativa alcança – Macro (54%); Micro (74%) —, mas, parte deles se manifesta que somente alguns docentes atingem esse objetivo – Macro (39%); Micro (24%). A participação nas aulas não é reconhecida por 7% (macro universo) e 1% (microuniverso). A participação também pode ser medida considerado o estímulo que os professores oferecem para que os alunos tomem decisões para a resolução de problemas e neste quesito os respondentes revelam que somente alguns professores atingem esse objetivo – Macro (32%); Micro (24%). A porcentagem de respondentes que não reconhecem essa característica em seus professores é de 6% (macro universo) e 3% (microuniverso). Uma hipótese sobre as porcentagens serem melhores no Curso Técnico em Nutrição e Dietética, está relacionada à proximidade dos professores de seus alunos, já que existe uma exigência do próprio plano de curso elaborado pelo CEETEPS, uma carga elevada de aulas práticas que aproximam de forma significativa os docentes e discentes desse curso.

Uma observação importante referente aos dados trata do questionamento aos alunos se “gostam de frequentar a escola” . Como já apontado anteriormente, os respondentes (88%) do Macro universo responderam que sim. Num levantamento de dados da WebSai de anos anteriores – 2013 (93%); 2014 (93%); 2015 (não houve realização de WebSai); 2016 – (92%); 2019 (88%) – podemos registrar que o “gostar de frequentar uma Etec” é manifestado por porcentagens altas. Porém, os dados apontam uma pequena queda que merece ser investigada. Tais constatações dão relevância a trabalhos como este, de análise de dados, para a manutenção de excelência formativa do CEETEPS.

Considerações finais

O trabalho investigativo colocou foco sobre o que dizem os estudantes respondentes do questionário proposto pelo Sistema de Avaliação Institucional (SAI) do CEETEPS disponibilizado pela plataforma WebSai, no ano de 2018. Ao dar voz aos estudantes da Educação Técnica para expressarem o que pensam sobre a educação vivida, buscou-se evidenciar a importância desses atores escolares, ouvindo-os sobre o que pensam e vivem nas Etecs, visando o planejamento de uma proposta de autoavaliação com produção de dados que tragam elementos para a orientação da gestão.

O diálogo entre o macro e o microssistema no âmbito do CEETEPS propiciado por um processo de avaliação, que dá voz aos participantes do trabalho educacional, permitiu apontar convergências e especificidades orientadoras da gestão nos dois níveis.

A leitura e análise das respostas dos estudantes sobre os seis fatores de gestão: Condições de ensino; Desempenho escolar; Gestão escolar; Gestão pedagógica; Ambiente educativo; Satisfação dos envolvidos com o processo formativo – indicou a existência de compromissos coletivos, assumidos pelas orientações administrativa e pedagógica nos diversos níveis do CEETEPS que deixam “marcas”, forjadas por princípios e procedimentos pedagógicos e administrativos definidos para a implementação de políticas públicas de educação profissional para o Estado de São Paulo.

Criado pelo Decreto-Lei de 06/10/1969, o CEETEPS, em seu longo percurso de existência vem enfrentando desafios para a realização de um Projeto Pedagógico com diretrizes básicas comuns, destinado para todas as 223 Etecs. As respostas dos 150.004 discentes, em grande maioria, indicam uma imagem positiva, evidenciada pelo fato dos estudantes gostarem de estar na escola e reconhecerem a qualidade do ensino oferecido, além de destacarem a possibilidade de estarem se preparando para o futuro profissional. Quanto às análises referentes ao Curso Técnico em Nutrição e Dietética de Guaianazes, algumas especificidades se destacaram mostrando as diferenças entre as análises de dados de um sistema macro para um sistema micro, quando são evidenciadas características que respondem, inclusive, às questões do espaço geográfico.

O curso em pauta, mostra uma significativa presença feminina (86%) podendo-se afirmar que um alto percentual de alunas se encontra circunscrito na área “do cuidar” atribuída à mulher e a mãe, como acontece em outros cursos de formação, como, por exemplo, o magistério (ROSEMBERG, & AMADO, 1992). Essa característica da presença quase integral de um público feminino é a comprovação de que vivemos, no séc. XXI, numa sociedade que mantém resquícios de ideias do séc. XIX, época em que se consubstanciou a divisão sexual do trabalho. Outra característica destacada no curso Técnico em Nutrição e Dietética de Guaianazes é relativa à presença predominante de alunos que se declaram pardos (40%) e pretos (18%) , sendo mais baixo o número de alunos que se reconhecem como “brancos”. Tais dados revelam o acolhimento daquela população, em geral excluída em outros espaços escolares, mesmo com a legalização do sistema de cotas nas instituições de Educação superior. O curso está localizado na Zona Leste da cidade, considerada, em 2010, uma das subprefeituras com o maior índice de vulnerabilidade social, segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social da Fundação Seade4. Também se destacaram no curso, com percentuais mais elevados de positividade, a manifestação dos alunos sobre aspectos da gestão pedagógica relacionados, entre outros, à divulgação de resultados de avaliações, às informações escolares, expressando possivelmente a existência de projetos e ações que favorecem a melhoria do desempenho do aluno e a aproximação docente-discente. Os problemas e desafios que delimitam o campo de ação que envolve características não superadas socialmente – divisão sexual do trabalho e a vulnerabilidade social – não são aprofundadas pelo modelo de questionário aplicado. Nesse sentido, para o aperfeiçoamento do SAI, três considerações são indicadas: espaço de diálogo aberto com os estudantes, oferecendo possibilidade de justificarem suas respostas, num questionário composto com questões objetivas; o feedback dos resultados da pesquisa para seus participantes e um plano de orientação para o uso dos resultados da pesquisa dirigido aos gestores. Nessa direção, o feedback à comunidade escolar, especialmente com os segmentos participantes, é essencial em virtude de seu caráter formativo, pois os dados são dispostos de modo a propiciar aos envolvidos uma reflexão sobre aquilo que vem sendo produzido no ambiente educacional. Esses espaços de diálogo possibilitam o investimento na transparência e no significado das ações avaliativas, concordando com Guba&Lincon (2011) que anunciam que a avaliação deve ser entendida como retroalimentação contínua que permite realizar correções necessárias.

Sob essa ótica, pode-se apontar que há na plataforma WebSai aspectos a serem melhorados, a fim de que sejam criados espaços de diálogo e feedback aos respondentes, para ampliar a disponibilização dos resultados, que atualmente são divulgados somente para os gestores. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de transparência para os diferentes segmentos acompanharem os resultados da avaliação e o uso das informações. Cabe, portanto, apontar que não basta a comunidade escolar responder questionários, ela precisa ser envolvida na resolução dos problemas encontrados, com abertura para o diálogo, negociações, por meio de canais próprios para indicar o encaminhamento das tomadas de decisão, ou seja, é preciso investir, ainda mais no SAI, para torná-lo um canal aberto para o diálogo com a comunidade escolar.

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1Cursos oferecidos 1) Ensino Médio (somente com os componentes da base nacional comum); 2) Ensino Médio com ênfase em linguagens, ciências humanas e sociais; ciências biológicas, agrárias e da saúde; ciências exatas e engenharias; 3) Ensino Médio com qualificação profissional; 4) Ensino Médio com habilitação técnica profissional; 5) Ensino Médio com habilitação técnica profissional do projeto de articulação da formação profissional média e superior; 6) Ensino Técnico integrado ao ensino médio; 7) Ensino Técnico integrado ao ensino médio do Programa Vence; 8) Ensino Técnico integrado ao ensino médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos(EJA); 9) Ensino Técnico (incompleto).

2Conceito proposto por Freeman (1984, p. 46), considerados como indivíduos que podem afetar ou ser afetados pela organização na realização de seus objetivos.

3Termo que representa a responsabilidade de uma organização responder sobre suas ações perante outras pessoas ou organizações. Para Campos “quanto mais avançado o estágio democrático maior o interesse pela accountability)” (1990, p. 33),

4Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Estatístico (Seade) centro de referência nacional na produção e disseminação de análises e estatísticas socioeconômicas e demográficas vinculada à Secretaria de Governo do Estado de São Paulo http://ipvs.seade.gov.br/view/index.php. Acesso em 20 de fevereiro de 2020.

Recebido: 02 de Julho de 2021; Aceito: 27 de Abril de 2022

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