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Regae: Revista de Gestão e Avaliação Educacional

versão On-line ISSN 2318-1338

Regae: Rev. Gest. Aval. Educ. vol.11 no.20 Santa Maria  2022  Epub 24-Nov-2023

https://doi.org/10.5902/2318133871529 

Artigos

Contexto & Educação - C&E: Trinta E Sete Volumes De História Sobre Educação Nas Ciências

Context & Education - C&E: Thirty-Seven Volumes Of History In Science Education

Jamile Tábata Balestrin Konageski¹  , estudante
http://orcid.org/0000-0002-0742-9024

Maria Cristina Pansera de Araujo²  , professora
http://orcid.org/0000-0002-2380-6934

¹Jamile Tábata Balestrin Konageski é estudante no curso de Doutorado em Educação nas Ciências na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, RS, Brasil. jamilejam26@gmail.com.

²Maria Cristina Pansera de Araújo é professora na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, RS, Brasil. pansera@unijui.edu.br.


Resumo

Por meio deste texto, busca-se descrever os aspectos teóricos e práticos da Revista Contexto & Educação - C&E -, e seu compromisso com o desenvolvimento da área da Educação no país. O periódico é editado regularmente desde 1986 e, atualmente, é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí. Narramos, brevemente, a história da C&E ao trazer, por meio de uma análise documental de caráter qualitativo, o potencial científico através de edições da revista selecionados nos anos de 1986, 1993, 1998, 2010 e 2021. O levantamento e o registro de aspectos importantes da trajetória da C&E, ao longo dos anos, reafirmam o compromisso social e político deste periódico científico e da Unijuí, coerente com suas origens comunitárias e a sua função social.

Palavras-chave: periódico científico; conhecimento; divulgação; universidade

Abstract

Through this writing production, we aim at describing the theoretical and practical aspects of the scientific journal Revista Contexto & Educação - C&E -, and its commitment to the development of the field of ​​Education in the country. The journal has been regularly edited since 1986 and is currently linked to the Graduate Program in Science Education of the Regional University of the Northwest of the State of Rio Grande do Sul - Unijuí. This investigation focuses on the objective of briefly narrating the history of C&E by bringing, through a qualitative documentary analysis, the scientific potential of selected editions of the Journal from the years 1986, 1993, 1998, 2010 and 2021. The survey and the record of important aspects of C&E Journal’s trajectory over the years, reaffirm the social and political commitment of this scientific journal and Unijuí, coherent with its community origins and its social function.

Keywords: scientific journal; knowledge; publishing; university

Introdução

A Revista Contexto & Educação - C&E - é uma publicação da Editora da Unijuí desde 1986, e, a partir de 2004, é editada regularmente pelo Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí. Trata-se de um periódico científico reconhecido pelas áreas de Educação e Ensino, com trinta e sete volumes, um por ano, desde janeiro de 1986 a agosto de 2022, com 118 números e uma edição comemorativa (2021). De publicação quadrimestral, passou, em 2022, por uma transição visando à edição em fluxo contínuo, a ser efetivada a partir de 2023, seguindo a tendência de outros periódicos nacionais e internacionais.

A importância da revista, aliada a seu impacto no campo da Educação nas Ciências, é reconhecida pela comunidade acadêmica e científica do Brasil e da América Latina. Para Arellano (2021), a edição de periódicos científicos é um dos “veículos que promovem o registro do conhecimento e a interação ativa entre pessoas na procura por novas respostas aos desafios da experiência humana” (p. 16). Sob esse viés, os artigos, como um dos produtos da investigação, são os meios de divulgação do conhecimento científico, que se acumula e se organiza, permitindo assim, sua transferência e aprofundamento entre os diferentes campos de produção científica.

A C&E é um dos 31 periódicos científicos da área da Educação da Região Sul do Brasil, comprometida com ações coletivas que à visam a ampliação do investimento em ciência, tecnologia e do reconhecimento da pesquisa e da divulgação científica. Nakano (2005) observa que, ao longo dos últimos anos, ocorreram, no meio acadêmico, diversas mudanças que impactaram no número crescente de publicações e aumento de instituições que promovem a realização de pesquisas, implicando na acentuada demanda por avaliação e reavaliação da produção acadêmica. Nesse sentido, é fundamental reconhecer a história e o compromisso de periódicos, como a C&E, na publicação do conhecimento científico.

Diante disso, é objetivo deste texto, através do retorno ao percurso histórico das publicações da C&E, apresentar, por meio de uma análise documental (Sá Silva, Almeida e Guindani, 2009) de caráter qualitativo (Minayo, 2009), o potencial científico das edições da Revista C&E dos anos de 1986, 1993, 1998, 2010 e 2021. As edições foram selecionadas considerando o marco temporal de 37 anos. Sendo assim, a primeira análise compreende as edições: n.1, v.1 de janeiro/março de 1986; 12 anos depois, a n. 50, v. 13 de abril/junho de 1998; e, a n. 83, v. 25 de 2010. Ainda, apresentamos as exceções, a n. 30, v. 8 de abril/junho de 1993, número especial organizado sob a responsabilidade dos Movimentos de Mulheres participantes e organizadoras do Seminário de Práticas da Educação Popular da Unijuí, a qual é composta unicamente de artigos escritos por mulheres e, por fim, a n. 115, v. 36 de 2021, escolhida por ser a edição comemorativa aos 35 anos do periódico. Pretende-se por meio destas edições, descrever os aspectos teóricos e práticos da C&E, e seu compromisso com o desenvolvimento da área da Educação no país, politicamente engajada, numa perspectiva crítica, como espaço de diálogo entre pesquisadores do Brasil, da América Latina e da Europa.

Breve histórico e perfil da C&E

A C&E é uma revista brasileira academicamente consolidada e longeva. Desde a primeira publicação, em 1986, já foram disponibilizadas 59 edições impressas e 59 edições virtuais, em formato aberto e gratuito, disponíveis em https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoeducacao.

Em sua trajetória, a C&E busca constituir-se num espaço para a veiculação de escritas de diferentes áreas do conhecimento, mantendo a tradição e o compromisso com a livre circulação de ideias e opiniões teoricamente fundamentadas acerca de temas atuais e de interesse no campo da educação, ao contribuir com as discussões e a produção de conhecimento, na qualificação da educação e emancipação social. Com esse propósito, a revista tem publicado manuscritos originais de autores comprometidos com o conhecimento científico, nas seguintes categorias: estudos teóricos, metodológicos, ensaios e resenhas. Os artigos submetidos podem ser escritos em português, espanhol e inglês, e as avaliações são realizadas na categoria duplo-cego pelo corpo editorial científico e pareceristas ad hoc, composto por pesquisadores de diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Em 2000, a revista ganhou uma versão eletrônica, e-ISSN 2179-1309, em coexistência com a tradicional versão impressa - ISSN 0102-8758).

No ano de 2015, a C&E obteve a classificação Qualis A2 na área de Ensino, conferido pela Capes, mais uma evidência de sua relevância na comunidade científica nacional. Conta com conceituação elevada do Qualis/Capes em várias outras áreas da produção científica: geografia, interdisciplinar e educação. A C&E, em 2019, aderiu aos padrões internacionais de identificação e distinção de autoria e de objetos, com os identificadores: Open Researcher and Contributor ID - Orcid - para autores, item obrigatório nos metadados da submissão,e o Digital Object Identifier - DOI - para os artigos publicados, sendo incluído no sistema da revista. A indicação da Licença Creative Commons 4.0 praticada pela revista é expressa no layout de cada artigo.

O registro da C&E em indexadores, como o Directory of Open Access Journals - Doaj -, identifica-a como um periódico de acesso aberto, que reconhece a qualidade científica de seus artigos e seu comprometimento com a popularização da ciência, incentivando melhores práticas de pesquisa e padrões editoriais rígidos. De acordo com Farias et al (2021), “para garantir a visibilidade das publicações e do periódico, bem como uma recuperação rápida e eficiente da informação, é preciso focar na indexação.” (p. 31), nesse sentido, a C&E vem em um esforço contínuo de inserção em diferentes indexadores nacionais e internacionais, conforme quadro 1.

Quadro 1 Relação de indexadores da C&E. 

Tipologia Indexador Origem
Bases de dados Sumários.org Google Acadêmico Brasil EUA
Diretórios Diadorim Doaj Latindex Redib Brasil Suiça México Espanha
Índices PKP Index Canadá
Portais LivRe Portal de Periódicos da Capes Crossref Brasil Brasil EUA

Fonte: C&E, 2022.

A C&E passou, em 2022, a um processo de transição para ser editada em fluxo contínuo a partir de 2023, com dossiês, artigos de demanda espontânea, primando pela diversidade de áreas e tópicos temáticos da Educação nas Ciências. São 698 artigos publicados na versão digital da revista, nas diferentes seções: artigos de demanda espontânea; Educação, ambiente e saúde; Educação, currículo e trabalho; Interculturalidade e educação; e resenhas. Dentre os dossiês, que disponibilizam contribuições aprofundadas de Educação nas Ciências, no contexto contemporâneo, destacamos: Pensamento complexo e transdisciplinar: desafios educacionais, v. 33 n. 106 (2018); Educação escolar e desenvolvimento do psíquico humano, v. 35 n. 110 (2020); Trabalho, currículo integrado e educação, v. 35 n. 112 (2020); e Ensino da computação e pensamento computacional v. 36 n. 114 (2021).

Ao longo do tempo, publicou-se alguns números especiais, que serão referenciados a seguir. Em 2010, Educação popular, v. 25, n. 83, que tematizou as práticas da educação popular na América Latina, com artigos de autores representativos da área. Em 2013, o v. 27 n. 88, intitulado Formação docente, educação sexual e gênero e as relações entre professor e aluno, (2013), organizado por Christiane Gioppo e Maria Cristina Pansera de Araújo, envolveu artigos resultantes de investigações de diversos grupos brasileiros e portugueses sobre a temática. A Geopolítica y educación, v. 28 n. 89 (2013), organizado pelo Dr. Clemente Herrera da Universidad Autonoma de Madrid, apresenta resultados de pesquisas realizadas pelos participantes do grupo internacional de investigação, o PRO-10, ampliando a cooperação com instituições parceiras internacionais. E, também, Educação em saúde: contextos e problemáticas emergentes, v. 37 n. 117 (2022), que apresenta os melhores trabalhos apresentados no 7° Congresso Internacional em Saúde, realizado em outubro de 2020 em uma parceria colaborativa entre a Unijuí e o Centro de Investigação em Estudos da Criança da Universidade do Minho/Portugal.

Em seus 37 volumes, a C&E tem como “referencial a realidade quotidiana (Contexto) e as ações (Educação), que imprimem direção e sentido ao dia a dia da vida humana no seio de grupos sociais concretos” (Gehlen, 1986, p. 7), constituindo-se, assim, numa revista voltada à veiculação de ideias e análises de práticas transformadoras conduzidas por movimentos sociais sob a mediação do processo educativo.

Na primeira edição da C&E (1986) apresenta-se, em sua proposta e compromisso, os objetivos específicos da revista:

Contribuir para a instrumentalização teórico-prática dos agentes que atuam junto aos atores sociais diretos na luta pela transformação qualitativa da sociedade; Ser ela mesma um instrumento provocador de sistematização das ações educativas e de análises das tendências conjunturais que fazem concretas as lutas sociais; Socializar a produção, as experiências e os processos metodológicos empregados pelos que atuam junto, com e para as classes subalternas da sociedade. (Gehlen, 1986, p. 7)

Ademais, acrescenta-se, ao compromisso da revista, o estímulo da colaboração de pessoas ou grupos, que possuam conhecimento acerca dos temas abordados e com atuação em diferentes áreas do saber, em instituições diversas e contextos diferenciados. E, sobre a escolha dos textos, delibera que “temas de certa homogeneidade, conjunturalmente situados e de relevância teórica atual” (Gehlen, 1986, p. 8), constituem uma das características do periódico.

De 1986 a 1996, as edições da Revista C&E tiveram a capa ilustrada, anualmente, por Vilson Maurio Mattos. As ilustrações ou composições - visto que, algumas destas capas tinham como referência, ou reproduziam obras de arte, fotos etc. - eram alusivas ao conteúdo das edições anuais ou expressavam aspectos relativos ao contexto sócio-histórico e político do país. Uma exceção na autoria, é a capa do ano de 1993, ilustrada por Marlene Ramires François. A ilustração das capas é um dos marcos e diferenciais das edições impressas. Nesse sentido, na figura 1 destaca-se alguns aspectos destas edições, a fim de compartilhar o desenvolvimento da identidade visual da C&E, ao longo dos anos.

As capas destacadas são, em ordem: a n.1, v.1 de janeiro/março de 1986; a n. 5, v. 2 de janeiro/março de 1987; a n. 9, v. 3 de janeiro/março de 1988, na qual a foto da capa mostra agricultores reunidos por ocasião da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ijuí, 1963. A foto foi cedida pelo Museu Antropológico Diretor Pestana. A edição n. 25, v. 7 de janeiro/março de 1992, primeira edição em que a C&E passa a ter o subtítulo de Revista de Educación en América Latina y el Caribe, tem a capa inspirada na foto do Templo de Kulkucán, no México. A capa faz referência a nova dinâmica da revista, a inserção na Associação de Educadores da América Latina e do Caribe. A edição n. 31, v. 8 de abril/Junho de 1993, número especial organizado em colaboração com a Aelac/Brasil, foi apresentado pelos professores Maria A. Ciavanatta Franco e Gaudêncio Frigotto, com um mapa da América Central e da América Latina. Ainda, traz um informativo sobre a constituição da Aelac/Brasil e a Declaração Final do Congresso de Pedagogia’93. Por fim, a n. 43, v. 10 de julho/setembro de 1996, último ano com capas ilustradas. Após 1996, as capas passaram a ter um layout padronizado.

Fonte: Acervo C&E, 2022

Figura 1 Capas da C&E

A C&E, em 1992, com o subtítulo de Revista de Educación en América Latina y el Caribe, mantido até 2002, integra a Associação de Educadores da América Latina e do Caribe - Aelac -, apresentando mudanças práticas, como um conselho editorial mais amplo. Estas alterações objetivaram a qualificação ainda maior da revista e o alcance de novos públicos. A cooperação e o fortalecimento propiciado pela Aelac/Brasil, fez com que a c&e se constituísse em um espaço de publicação e intercâmbio de textos de autores brasileiros e latino-americanos sobre os problemas da educação no continente.

Em 1993, a revista contou com financiamento do Programa de Apoio a Publicações Científicas, do Ministério da Ciência e Tecnologia, da Finep e do CNPq, por meio de editais de incentivo a popularização da pesquisa científica. Ao longo dos últimos 36 anos, a C&E teve diferentes composições na organização das edições, conforme observamos no quadro 2.

Quadro 2 Organizadores principais das edições da C&E 

Organizadores principais Edições
Mario Osorio Marques v.1 n.1 (1986) até
v.17 n.66 (2002)
Gilmar Antonio Bedin v. 17 n. 67 (2002)
v. 17 n. 68 (2002)
Ana Maria Colling v. 18 n. 69 (2003)
v. 18 n. 70 (2003)
v. 19 n. 71 (2004)
v. 19 n. 72 (2004)
Celso José Martinazzo v. 20 n. 73 (2005)
v. 20 n. 74 (2005)
Anna Rosa Fontella Santiago v. 21 n. 75 (2006)
Maria Cristina Pansera de Araújo v. 21 n. 76 (2006)
v. 22 n. 77 (2007)
Anna Rosa Fontella Santiago,
Noeli Valentina Weschenfelder
v. 22 n. 78 (2007)
v. 23 n. 79 (2008)
Walter Frantz v. 23 n. 80 (2008)
Helena Copetti Callai v. 24 n. 81 (2009)
Claudio Boeira Garcia,
Paulo Evaldo Fensterseifer
v. 24 n. 82 (2009)
Elza Maria Fonseca Falkembach v. 25 n. 83 (2010)
Anna Rosa Fontella Santiago,
Maria Cristina Pansera de Araujo
v. 25 n. 84 (2010)
Elza Maria Fonseca Falkembach v. 26 n. 85 (2011)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Christiane Gioppo
v. 26 n. 86 (2011)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Christiane Gioppo
v. 27 n. 87 (2012)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Martin Kuhn
v. 28 n. 89 (2013)
Maria Cristina Pansera de Araujo v. 28 n. 90 (2013)
v. 28 n. 91 (2013)
v. 29 n. 92 (2014)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Maria Simone Vione Schwengber,
Celso Jose Martinazzo,
Solange Castro Schorn
v. 29 n. 93 (2014)
v. 29 n. 94 (2014)
v. 30 n. 95 (2015)
v. 30 n. 96 (2015)
Maria Cristina Pansera de Araujo v. 30 n. 97 (2015)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Maria Simone Vione Schwengber,
Celso Jose Martinazzo,
Solange Castro Schorn
v. 31 n. 98 (2016)
v. 31 n. 99 (2016)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Celso Jose Martinazzo,
Solange Castro Schorn
v. 31 n. 100 (2016)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Celso José Martinazzo,
Solange Schorn,
Viviane Roncaglio
v. 32 n. 101 (2017)
Maria Cristina Pansera de Araujo,
Solange Schorn
v. 32 n. 102 (2017)
v. 32 n. 103 (2017)
v. 33 n. 104 (2018)
Maria Cristina Pansera de Araujo v. 33 n. 105 (2018) até
v. 37 n. 118 (2022-atual)

Fonte: C&E, 2022.

Durante 16 anos, o professor Mario Osorio Marques atuou como editor da revista C&E: “Trata-se de uma revista criada por ele e na qual sempre produzia os textos editoriais, demonstrando grande capacidade de articular os mais diferentes temas concernentes ao campo da educação.” (Boufleuer; Rezer, 2016, p. 25). Ao descrever a trajetória da C&E, é fundamental - mesmo que brevemente, narrar a história do professor Mario Osorio Marques.

Mario Osorio Marques nasceu em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, em 2 de janeiro de 1925. Era formado em Filosofia e Teologia, e doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no ano de 1996. Em Ijuí,

foi líder comunitário e professor universitário, constituindo-se no idealizador do ensino superior em Ijuí com a criação da FAFI (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras) no ano de 1957, hoje transformada na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí. A partir da metade da década de 1980 começou uma intensa atividade de pesquisador, deixando um legado intelectual de aproximadamente duas dezenas de livros, tratando especialmente de temas vinculados à educação. Morreu no ano de 2002, aos 77 anos. (Boufleuer; Rezer, 2016, p. 16)

O legado de Mario Osorio Marques inclui, também, a idealização da Editora Unijuí (1985) e do Mestrado em Educação nas Ciências (1994), trajetórias que se entrecruzam e se potencializam com a Revista C&E. O Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências - PPGEC - da Unijuí teve início no ano de 1994, com o curso de mestrado acadêmico e, a partir de 2009, passou a ofertar também o curso de doutorado. O Programa é credenciado pela Capes e, segundo a avaliação quadrienal (2013-2017), possui o conceito 5 de excelência nacional em cursos de pós-graduação. Até o ano de 2022, titulou cerca de 600 mestres, 70 doutores e 13 pós-doutores.

O programa é organizado em três linhas de pesquisa: a) Linha 1 - Currículo e formação de professores, destinada à investigação dos processos e produções que envolvem a formação de professores na educação básica e superior, considerando os pressupostos teóricos e práticos de permeiam o currículo; b) Linha 2 - Teorias pedagógicas e dimensões éticas e políticas da educação, propõe a investigação de concepções relacionadas à gestão de processos de ensino e aprendizagem a partir de pressupostos éticos, políticos e pedagógicos das tradições humanistas e democráticas; c) Linha 3 - Educação popular em movimentos e organizações sociais, busca ampliar a percepção da prática educativa no que tange os movimentos sociais no contexto escolar, comunitário e organizacional.

De 2002 até os dias atuais, a Revista C&E teve diferentes editores vinculados ao PPGEC, que pertenciam às linhas de pesquisa do Programa. Isso implicou na diversidade das temáticas expressas na revista ao longo de seus 36 anos, e no comprometimento em qualificar o debate em Educação nas Ciências.

1986: primeira edição da Revista Contexto & Educação

A edição n. 1, v. 1, de 1º de janeiro/março de 1986, da Revista Contexto & Educação foi publicada com o subtítulo Ideias e práticas sociais transformadoras. O título da edição é Saber da ciência e saber do povo e as palavras-chave centrais destacadas na capa são: universidade, contexto e compromisso; função política do agente; integração, reforma agrária e informações na agropecuária; ações integradas na saúde, refletindo o teor das escritas.

Nesta primeira edição da revista, o conselho editorial era constituído pelos professores da Unijuí: Dilson Trennephol, Dinarte Belato, Eloiza Cavalheiro Kopf, Elza Maria Fonseca Falkembach, Ivaldo Gehlen, Jaeme Luiz Callai, José Augusto Avancini, Marivalda Maldaner, Mario Osorio Marques, Otávio Aloiso Maldaner, Paulo Afonso Frizzo e Telmo Rudi Frantz. Ainda, tinha como redator, o professor: ivaldo gehlen, e vilson maurio mattos, como responsável pela edição e capa.

Os artigos que compõem esta edição de 100 páginas da revista, são: Universidade e compromisso social, de Telmo Rudi Frantz; Universidade e contexto, de Mario Osorio Marques; Função sócio-política do agente, de Victor Emílio Silveira; A função social do Agente, de Ivaldo Gehlen; O saber como instrumento político e a função do agente em educação, de Ivaldo Gehlen e Marta T. Arretche da Silva; Reforma agrária e interesse de classe, de Álvaro Luiz Heidrich; A subordinação do camponês no interior das cadeias alimentícias: integração e contratos de produção, Dinarte Belato; Informação e poder na agropecuária, Dilson Trennepohl; Ações integradas de saúde e participação popular, Águida Wichroswski Kopf.

A edição também apresenta um comentário: A agricultura e o pacote, de Dilson Trennepohl e, uma seção dedicada a resenhas de livros. Na epígrafe da seção, Mario Osorio Marques (1986), assinala que

o livro, amigo e companheiro, é ferramenta indispensável de trabalho. A posse física do livro é como memória fiel ao alcance da mão: dá-nos, a todo momento, a segurança das informações ali a nosso dispor, fertiliza a imaginação, alimenta a inteligência, instrumentaliza a ação esclarecida. (p. 97)

A seção de resenhas apresentou cinco livros: A crítica da escola capitalista em debate (1985), de José Luiz Piotto D’Ávila; Participação: rito ou prática de classe? (1986), de João Bosco Pinto e outros; Planejamento participativo: contribuições para um trabalho de base (1986), de Elza Maria Fonseca Falkembach e Neyta Oliveira Belato; Ações integradas de saúde (1986), escrita coletiva do Centro de Ciências da Saúde, da UNIJUÍ; e, Universidade emergente: o ensino superior brasileiro em Ijuí (RS), 1957 a 1983 (1984), de Mario Osorio Marques.

Os textos expressam desafios e importantes reflexões sobre o Brasil, nos anos 1980, e o lugar da universidade como espaço de diálogo e resistência. Na tessitura dos textos, a transformação da sociedade é pautada metódica e cumulativamente na articulação do saber a nível técnico-científico com o saber ao nível das práticas populares cotidianas, de forma que possa o trabalho produtivo manifestar-se como trabalho intelectual, convertido em instrumento de compreensão e domínio do conjunto das relações econômicas, políticas, técnicas e culturais e em instrumento de poder na organização e condução de uma prática educativa emancipatória.

1993: educação na ótica de gênero

A edição n. 30, v. 8 de abril/junho de 1993, sob o título Educação na ótica de gênero é um número especial, organizado sob a responsabilidade dos Movimentos de Mulheres integradas no Seminário de Práticas da Educação Popular, a qual é composta unicamente de artigos escritos por mulheres. O conselho editorial da revista é composto pelos professores Dinarte Belato, Enio Valdir da Silva, Maria Cristina Pansera de Araujo, Arnildo Pommer, Gaudêncio Frigotto e Maria Luiza Lucchese. Nesta edição, havia também, o conselho de redação, composto por Marco Raúl Mejía Jiménez (Colômbia), Jorge Osório Vargas (Chile), Manuel Iguiniz (Peru), Oscar H. Jara (Costa Rica), Eunice S. Trein (Rio de Janeiro), João Francisco de Souza (Pernambuco), Maria A. Civiatta Franco (Aelac, Brasil) e Mario Osorio Marques (Universidade de Ijuí). Outro diferencial desta edição foi presença de resumo em cada artigo em duas línguas: espanhol ou português.

A Educação na ótica de gênero compreende novas dimensões do processo educativo, desde as vivências do cotidiano até as formas mais elaboradas da construção do conhecimento. Nesta perspectiva, segundo a autora do editorial, Neyta Belato, “deve a educação reconhecer as diferenças entre mulheres e homens, trabalhando-as no sentido de romper com as desigualdades historicamente estabelecidas pela cultura dominante” (1993, p, 7).

Os textos publicados sinalizam caminhos, desafios e interrogações, sob os quais se destacam três aspectos dos rumos para um processo educativo, na ótica do gênero:

primeiro, faz-se necessário partir do entendimento de que a concepção de gênero tem um caráter relacional, envolvendo dimensões que afetam homens e mulheres na busca de novas relações mais igualitárias e justas. É nesse sentido que se entende a questão de gênero como uma luta geral que perpassa inclusive os interesses de classes. (...) Em segundo lugar, a compreensão de que o entendimento das diferenças deve ser buscado nas suas raízes históricas e culturais, leva a abolição do silenciamento da história da cultura sobre a questão das mulheres. (...)

Terceiro aspecto a incorporar na dimensão de gênero dos processos de construção dos sujeitos é o da integralidade que crie condições para resgatar e valorizar as identidades no espaço privado e no espaço público. (Belato, 1993, p. 7)

Os artigos, que compõem a edição de 105 páginas, são: Educação Humana Não Sexista - por uma Sociedade Igualitária, escrito por Amparo Parra, em que apresenta as diretrizes e objetivos da Campanha de Educação Humana Não Sexista; Projeto político no campo popular na ótica de gênero: a construção do sujeito, de autoria dos Movimentos de Mulheres integradas no Seminário de Práticas da Educação Popular, em que analisam a produção e reprodução das desigualdades entre os sexos na ótica do desenvolvimento do capital; Cultura de mujeres: una propuesta de otra socialización, de Raquel Olea, em que aponta os saberes historicamente produzidos pelas mulheres, com seu potencial mobilizador e estruturador de visões de mundo que incorporem as complexidades corporais e psíquicas do ser humano; Por una perspectiva educativa de género que incorpore a los hombres, de Mirtha Correa A, que examina os impactos que as organizações de mulheres exercem sobre as novas relações de gênero negociadas por mulheres e homens; Linguagem e educação não sexista, de Laura Susana Duque-Arrazola, analisa a mediação da linguagem na socialização não sexista com vistas à recuperação dela; O texto memorialístico brasileiro e a questão de gênero, de autoria de Noili Demaman, trata da questão de gênero na literatura, ao evidenciar que a mulher é discriminada até mesmo em suas formas típicas de escritas, os chamados gêneros menores.

A edição abrange, também, os artigos: Ser mujer en la escuela, de Noema Hernández Guevara, que analisa o fato de, na escola, como alunas e professoras, as mulheres substituírem a busca do saber pelo afã de amar e ser amadas, em reforço aos estereótipos da condição feminina; La enseñanza de la história y la invisibilidad de la mujer, de Carmen Tornaria, que apresenta o gênero como uma categoria de análise histórica que supera a mera agregação da mulher à história dos homens, numa visão do heterogêneo e do plural; Mulher negra na educação popular: suas especificidades dentro das questões gerais de gênero, escrito por Alzira Rufino, analisa os papeis sócio-econômicos em contraposição com a resistência da mulher negra na história brasileira; Uma aproximação feminista da educação ambiental, de Moema Viezzer, apresenta a educação não sexista e a educação ambiental como duas faces da luta pela qualidade de vida para todos; e, a edição é finalizada com o artigo Projeto político do campo popular na ótica de gênero: uma proposta metodológica, de Elza Maria Fonseca Falkembach, em que apresenta proposta metodológica para projeto político do campo popular na ótica de gênero, com vistas à busca de igualdade na diferença.

Nesta edição, são apresentada contribuições que fazem parte de um conjunto de reflexões e ações programadas pela Rede Latino-Americana de Educação Popular entre Mulheres vinculadas ao Centro de Educação de Adultos - Ceaal. As práticas que fundamentam as reflexões relatadas nos artigos, têm origem em diversos campos de atuação, em níveis múltiplos de reflexão e em várias regiões e países. Na tessitura dos textos, uma longa história de lutas, de articulações e de organização dos movimentos sociais populares, de ONGs e de universidades, aponta para um novo sentido de vida, para a esperança de que, através da construção de novas relações sociais de gênero, possam firmar avanços na proposta de uma sociedade mais democrática e humana.

Segundo Blay (2006), a partir dos movimentos feministas, observa-se na ciência acadêmica, a ausência do conhecimento sobre as mulheres, suas contribuições culturais e demandas específicas (Silva, 2018). Schiebinger (2001) assinala que “a ciência moderna é um produto de centenas de anos de exclusão das mulheres; o processo de trazer mulheres para a ciência exigiu, e vai continuar a exigir profundas mudanças estruturais na cultura, métodos e conteúdo da ciência” (p. 37). Nesse sentido, compreendemos a importância histórica da edição n. 30, v. 8 de abril/junho de 1993, de valorizar a produção de mulheres.

1998: Revista de Educación en América Latina y el Caribe

No ano de 1998, foi publicada a edição n. 50, v. 13 de abril/junho da C&E, já com o subtítulo: Revista de Educación en América Latina Y el Caribe. Em sua composição, a revista apresenta textos em língua portuguesa e espanhola, evidenciando a cooperação e o fortalecimento propiciado pela Aelac/Brasil.

A revista número 50 teve como conselho editorial pesquisadores de diferentes países: Mario Osorio Marques (presidente, Unijuí), Pablo Antonio Amadeo Gentili (Argentina), Gaudêncio Frigotto e Eunice S. Trein (Brasil), Maria A. Ciavatta Franco (AELAC, Brasil), Edgar Cadima (Bolívia), Jorge Osório Vargas (Chile), Marco Raúl Mejía Jiménez (Colômbia), Oscar H. Jara (Costa Rica), Ida Hernández Ciriano (Cuba), Guadalupe Teresinha Bertussi (México), Manuel Iguiniz (Peru), Argentina Henriquez (República Dominicana), José Luiz Rebellato (Uruguai), Jorge Jeria (USA).

O título da revista é Intercomplementaridade dos saberes: solidariedade das ações. o editorial, escrito por Mario Osorio Marques em junho de 1998, sinaliza que o desenvolvimento das ciências promove um crescente processo de complementariedade e de ação solidária, no qual cabe a educação,

resolutamente, voltar ao processo das aprendizagens necessárias ao pleno exercício da racionalidade comunicativa, vale dizer das capacidades ampliadas de narrar, de dizer a outrem a própria experiência, de argumentar e de solidariamente decidir, aliando a ação comunicativa da palavra à palavra de ação solidária. (Marques, 1998, p. 6)

Nessa perspectiva, os arqtigos que compõem a edição física, de 124 páginas, são: Ainda rolam os dados: que natureza é esta?, de André Baggio, em que descreve a revolução paradigmática da indeterminação nas ciências da natureza e humanas; Notas sobre gobernabilidad y ciudadanía: possibilidades de la pedagogía política em América Latina, de Jorge Osório Vargas, em que aponta as possibilidades de uma pedagogia política na América Latina que relacione democracia e ética na racionalidade comunicativa dos cidadãos; Lo nuevo y lo viejo em las nuevas políticas sociales o de cómo las nuevas políticas sociales socavan las identidades coletivas, de Inés Cortazzo e Patrícia Schettini, no qual as autoras analisam as transformações das relações entre indivíduos sociedade-Estado; A solidariedade como alternativa econômica para os pobres, escrito por Luiz Inácio Gaigner, no qual discute as possibilidades da economia popular solidária como gênese de uma nova forma social de produção; Política fiscal golpeia política educacional, de Nicholas Davies que apresenta dados sobre a retirada pela política fiscal de recursos destinados à área educacional; La pedagogia professional: una realidad, de Alexandre Luiz Ortiz Ocanã que postula em sua escrita uma nova pedagogia da profissão voltada às necessidades sociais; e, por fim, A produção do saber docente na escola: possibilidades emancipatórias da narração na formação permanente do educador, de Inês Ferreira de Souza Bragança, em que apresenta a capacidade de narrar as experiências em comum com o princípio da formação permanente dos educadores.

2010: uma homenagem à educação popular

Em 2010, foi publicada a edição n. 83, v. 25, em formato digital da C&E. O título da revista: Educação popular, é uma homenagem, como descrito no editorial pela professora dra. Elza Maria Fonseca Falkembach, ao movimento pedagógico e cultural que se constituiu e se consolidou no bojo das mais diversas práticas e contextos sociais na América Latina, especialmente a partir da segunda metade do século 20, cujas raízes remontam a momentos na história e lugares sociais mais remotos e amplos. Para a professora dra. Elza Maria Fonseca Falkembach, responsável por organizar esta edicão da C&E, “a educação popular constituiu-se e desenvolveu-se na contramão dos fluxos das relações sociais opressoras, excludentes e autoritárias, em âmbitos como os dos Estados, instituições, movimentos sociais e espaços comunitários” (Falkembach, 2010, p. 7). Ainda, ampliando a discussão, num esforço de definir o conceito de educação popular, acrescenta:

A educação popular vista como prática social e cultural, que implica ensino e aprendizagem, favorecidos por relações dialógicas (entre sujeitos, saberes, perspectivas teóricas, metodologias, fundamentos filosóficos) e que se move mediante a intencionalidade política de contribuir para a construção de uma ordem social (nos mais diversos espaços sobre os quais incide) que não seja marcada pela exploração, opressão e submissão. (Falkembach, 2010, p. 7)

No editorial, a professora dra. Elza Maria Fonseca Falkembach, acentua que homenagenar a educação popular é também reconhecer à história da Unijuí e da C&E:

Ao homenagear a educação popular estamos também reconhecendo e manifestando nosso respeito à história desta instituição de ensino que a Revista Contexto e Educação representa, a Unijuí - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil -, que teve sua constituição como instituição de ensino superior também na segunda metade do século 20, pautando sua prática por intencionalidade convergente com a da educação popular que apoiamos: contribuir, por meio da educação, para a ação política e o desenvolvimento de um pensamento crítico voltado a compreender o desenvolvimento de nossas sociedades e as contradições dele decorrentes, situando os grupos subalternos nas relações de poder vigentes e subsidiando estratégias de resistência a diferentes formas de opressão identificadas. (Falkembach, 2010, p. 7)

Considerando o exposto, o n. 83 da Revista C&E reúne artigos do campo da educação popular, são eles: Educación popular y paradigmas emancipadores, de autoria de Alfonso Torres Carrillo, resulta de pesquisa realizada para o Consejo de Educación de Adultos de América Latina (Ceaal) sobre a contribuição da Educação Popular para a construção de paradigmas alternativos (emancipatórios); Educação popular e paradigmas emancipatórios, de Paulo Evaldo Fensterseifer, aborda o compromisso histórico da educação popular de enfrentar um contexto de desigualdades sociais e de diferenças culturais, frente aos atuais desafios; Habermas e a educação popular: a dimensão política da educação como possibilidade de encontro, de Conceição Paludo, estabelece uma aproximação entre a teoria da ação comunicativa de Habermas e a educação popular, representada pelo pensamento de Freire; e A formação de educadores na perspectiva da educação do campo: reflexões sobre o Iº Curso de Pedagogia da Terra da Via Campesina, em que Cecília Maria Ghedini e Claudia Barcelos de Moura Abreu analisam a proposta teórico-metodológica do curso Pedagogia da Terra da Via Campesina/BR, realizado em Veranópolis/RS, no período 2002-2005.

Também fazem parte dessa edição os artigos: Processos sociais e educativos: a experiência dos agricultores e agricultoras agroecológicas, de Iara Aquino Henn, que descreve as marcas deixadas pela educação escolar em agricultores no Sudoeste do Paraná, sobre as possibilidades de desconstrução dessas e reconstrução de novas referências; Práticas cooperativas como processos educativos, escrito por Walter Frantz, texto alicerçado em pesquisa de campo, apresenta reflexões sobre como o movimento cooperativo abre espaço para a educação popular; Tecnologia social, extensão rural e desenvolvimento local: o gerenciamento integrado de resíduos sólidos em Pernambuco, Maria Augusta Amaral Vieira de Mello e Angelo Bras Fernandes Callou analisam a instituição do gerenciamento integrado de resíduos sólidos no município de Sairé, situado na região do Agreste pernambucano e suas implicações no desenvolvimento local; Educação popular e o processo de socialização de educandos de um hospital psiquiátrico de Belém/PA, escrito por Ivanilde Apoluceno de Oliveira e Rafael Grigório Reis Barbosa traz reflexões sobre uma experiência de alfabetização de jovens e adultos realizada com pacientes de um hospital psiquiátrico da cidade de Belém do Pará; e por fim, Una articulación alternativa para una educación humanizadora, escrito pelo educador uruguaio Mauricio Langon sobre a relação escola e vida.

Os artigos que constituem este número da revista, apontam a pluralidade temática e a riqueza teórica-metodológica da educação popular. Ao problematizar os paradigmas que dão sustentação às suas práticas, analisam experiências de formação que propiciam ampliar e qualificar o debate acerca da educação.

2021: 35 anos de divulgação e produção científica em Educação nas Ciências

A edição n. 115, v. 36, setembro/ dezembro de 2021, da Revista C&E, com o título Formação docente e ensino nas diversas áreas do conhecimento, marca os 35 anos de existência da Revista C&E. Esta edição comemorativa, de 415 páginas, aborda perspectivas da formação de professores e do ensino nas diversas áreas do conhecimento, apresentando um total de 24 artigos, sendo que cinco deles compõem a seção Interculturalidade e educação, três a seção Educação, ambiente e saúde, e 16 a seção Artigos. A equipe editorial é composta por: editora-chefe dra. Maria Cristina Pansera de Araújo; editores associados dra. Eva Teresinha de Oliveira Boff, dr. Celso Martinazzo e dra. Vidica Bianchi.

No editorial, reconhecendo a diversidade e a história da C&E ao longo dos 35 anos, a editora-chefe, professora dra. Maria Cristina Pansera de Araújo (2021), analisa a trajetória do periódico:

Neste período, diversas compreensões e pesquisas em educação foram colocadas à disposição de estudiosos da área no que se refere à Educação Popular, ao Desenvolvimento de Currículo, à Formação Docente, à Interculturalidade, à Saúde, ao Meio Ambiente, ao Pensamento Computacional, dentre outros tantos temas. A cada exemplar publicado várias questões e reflexões foram provocadas pela continuidade das análises propiciadas, que motivam outras reflexões e observações bem delineadas, num diálogo singular com diversos autores. (p. 5)

Na tessitura dos textos desta edição, um dos traços marcantes da Revista C&E é desvelado: a pluralidade e capacidade de interlocução entre diferentes temáticas e áreas do conhecimento. Na seção Interculturalidade e educação apresentam-se cinco artigos que abordam a questão das cotas na universidade, da presença do negro nos livros didáticos, da religião, do gênero e da sexualidade. A seção Educação, ambiente e saúde é composta por dois artigos sobre educação e saúde e um sobre ambiente e sustentabilidade. Os 16 artigos da demanda espontânea constituem a seção Artigos, que tratam de aspectos relevantes da formação de professores da universidade e da educação básica, além de abordar aspectos do desenvolvimento do currículo em relação ao ensino. Nas palavras da editora-chefe, “a diversidade de temas e análises apresentadas nos textos disponibilizados confirma e permite comemorar os 35 anos desta Revista, caracterizada por apresentar questões que suscitam reflexões aprofundadas e ampliadas” (Pansera de Araújo, 2021, p. 9).

Considerações finais

O levantamento e o registro de aspectos importantes e interessantes da trajetória da C&E reafirmam o compromisso social e político da universidade e seu comprometimento com a ciência, coerente com as suas origens comunitárias e a sua função social. Ao expressar opiniões, práticas e produção intelectual de diferentes pesquisadores, a C&E buscou também a integração e a articulação entre pessoas e instituições voltadas aos movimentos emergentes, abrindo, ao mesmo tempo, um veículo importante de assimilação e visibilidade de aspirações e de pressões no sentido de manter o dinamismo da universidade sempre renovado, refletindo criticamente sobre o compromisso social, histórico, político e ético.

A Revista Contexto & Educação, ao longo de seus 36 anos, se caracteriza como um periódico científico comprometido com a publicação de investigações científicas, pautada na política de boas práticas e na preservação da memória científica de livre acesso. Ao retomar o percurso histórico das publicações da C&E, observa-se em seus primeiros anos, o intenso debate sobre a educação popular na rede Latino Americana, e a partir de 2005, uma maior diversidade de temáticas passam a compor as edições abordando temas emergentes, vinculados às áreas da educação, currículo, saúde, gênero, tecnologias, meio ambiente, entre outras, evidenciando a necessidade de maior articulação destas áreas do conhecimento.

Cabe aos periódicos científicos ampliarem as discussões sobre o acesso à informação científica e refletir sobre os desafios da ciência aberta, ao propor novas formas de produção, circulação e apropriação social da informação e do conhecimento.

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Recebido: 30 de Agosto de 2022; Aceito: 10 de Setembro de 2022

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