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Série-Estudos

versión impresa ISSN 1414-5138versión On-line ISSN 2318-1982

Sér.-Estud. vol.25 no.53 Campo Grande ene./abr 2020  Epub 12-Mayo-2020

https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v25i53.1432 

Dossiê

Apresentação do Dossiê “Internacionalização na universidade ibero-americana: políticas, desenvolvimentos e desafios”

Maria de Lourdes Pinto de Almeida1 
http://orcid.org/0000-0001-8515-2908

Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira2 
http://orcid.org/0000-0001-8263-9534

José Camilo dos Santos Filho2 
http://orcid.org/0000-0002-4183-0460

1Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Joaçaba, Santa Catarina, Brasil

2Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo, Brasil.


Os artigos deste Dossiê estão, de forma geral, relacionados aos resultados de um grande projeto de pesquisa conjuntamente desenvolvido por 22 universidades, de 9 países, sobre a temática da internacionalização na Educação Superior (ES). O projeto é coordenado por um grupo de pesquisa de âmbito internacional denominado Grupo Internacional de Estudos e Pesquisa sobre Educação Superior (GIEPES), sediado na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

O GIEPES foi criado em outubro de 2015, com o objetivo de congregar pesquisadores e estudiosos sobre Educação Superior em vários países latino-americanos e europeus. Assim, ao GIEPES3 se vinculam grupos de pesquisa sobre Educação Superior de universidades dos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha, México, Portugal, Uruguai e Venezuela.

O interesse dos pesquisadores no projeto nasceu da constatação de que a questão da internacionalização nas universidades do mundo todo tem se tornado um aspecto constituinte de suas preocupações, de suas políticas e estruturação acadêmica. A internacionalização tem estado cada vez mais presente nas instituições universitárias, por meio de diferentes formas: planejamento institucional; órgão próprio de atendimento; projetos de pesquisa conjunta com universidades estrangeiras; mobilidade docente, discente e de pesquisadores; eventos internacionais; convênios e acordos com instituições internacionais; extensão de campus em outros países; interculturalidade no currículo; cursos de línguas; publicações conjuntas entre pesquisadores internacionais e acolhimento de estudantes estrangeiros.

Diante dessa constatação, a importância da temática deu origem ao projeto denominado “A internacionalização na Educação Superior em países da América Latina, Portugal e Espanha”, como um aspecto relevante para ser pesquisado, objetivando ter um melhor conhecimento de como esta questão está conceitua da, entendida, planejada, institucionalizada e desenvolvida nas universidades pertencentes ao GIEPES. Buscou-se saber também quais são os objetivos, metas, estratégias, empenho financeiro e humano que compõem a internacionalização nessas universidades e como estas avaliam os processos de internacionalização que desenvolvem.

Como tem sido enfatizado pela literatura na área (ALMEIDA; SANTOS, 2012), a internacionalização já se constitui na quarta missão da universidade no século XXI, fazendo com que esta se organize estabelecendo conexões com suas similares no mundo todo, criando a integração de comunidades científicas e reforçando a premissa de que a universidade é ainda a instituição que configura a possibilidade de serem alcançados alguns dos importantes valores da contemporaneidade, como a diversidade cultural, o plurilinguismo, a integração de áreas, a investigação em redes temáticas e o compartilhamento de conhecimentos. Com isso, a universidade assume um protagonismo na positividade da chamada globalização, por favorecer a formação de acadêmicos abertos ao multiculturalismo, à multiversidade e à multirreferencialidade.

Desta forma, o projeto de pesquisa sobre o tema permitiu um maior conhecimento dos processos de internacionalização que estão acontecendo nas universidades integrantes, bem como proporcionou um diálogo entre as experiências vividas por cada uma, no sentido da necessária reflexão sobre os significados que a internacionalização assume na formação dos docentes, discentes, pesquisadores, corpo técnico e gestores. O resultado parcial desse projeto está apresentado nos artigos que compõem este Dossiê, divididos em duas seções: a primeira intitulada Internacionalização: aspectos constituintes e a outra Internacionalização: dinâmicas e desafios.

Abrindo a discussão da primeira parte, José Camilo dos Santos Filho nos brinda com o artigo Internacionalização da Educação Superior: redefinições, justificativas e estratégias. Neste texto, o autor tratou de três aspectos considerados relevantes para a compreensão do tema da internacionalização da Educação Superior: (1) conceitos de internacionalização da Educação Superior, destacando as diferentes perspectivas de sua definição; (2) razões ou rationales da internacionalização da Educação Superior, sintetizadas em duas grandes categorias por alguns autores - razões políticas e econômicas e razões culturais e educacionais - ou em quatro por outros autores - razões política, econômica, sociocultural e acadêmica; e (3) estratégias de internacionalização da Educação Superior, traduzidas num conjunto de estratégias e atividades que operacionalizam a política da instituição universitária. Segundo Santos Filho, a implementação da política referente à internacionalização implica efetivo comprometimento com sua incorporação, a qual é explícita nos propósitos e funções da universidade contemporânea.

Na sequência, Altair Alberto Fávero e Marcio Giusti Trevisol trazem para o debate: Ensino Superior e internacionalização: atores e desafios. O artigo discute a internacionalização do Ensino Superior a partir dos atores que atuam no campo das políticas educacionais. O objetivo principal foi apresentar como a questão da internacionalização é tratada nos documentos internacionais e quais suas influências sobre as políticas de internacionalização adotadas pelo Estado Brasileiro. Segundo os autores, o sentido de internacionalização nos documentos evidencia uma forte tendência de valorização de políticas que garantam o desenvolvimento econômico, em desfavor de políticas que valorizem a diplomacia e as redes solidárias de conhecimento. Portanto pode-se inferir que, segundo Fávero e Trevisol, estas políticas de internacionalização apresentam várias facetas e intencionalidades oriundas dos atores envolvidos no campo universitário.

Marilene Gabriel Dalla Corte e Fernanda Ziani Mendes debatem Rankings globais, qualidade e a convergência com a internacionalização da Educação Superior na América Latina. Este texto é fruto das pesquisas realizadas no Grupo Gestar/CNPq/UFSM sobre a internacionalização da Educação Superior e se insere no debate dos rankings e da qualidade. O objetivo foi traçar um panorama sobre a convergência entre os indicadores definidos em destacados rankings globais, os quais buscam medir a qualidade a partir das ações de internacionalização e a interlocução com a percepção latino-americana. O foco se deu na análise das declarações emitidas em conferências regionais e mundiais e relatórios de organismos internacionais, a exemplo da Unesco e Banco Mundial. Verificou-se, segundo as autoras, que os mais influentes rankings globais têm critérios próprios, tais como a produtividade da pesquisa e as citações. Constatou-se que a garantia de qualidade, sob a perspectiva do capitalismo universitário, tende a valorizar a ES como commodity, mais do que, propriamente, alcançar um conceito determinado de “qualidade” de ensino.

Lara Carlette Thiengo e Lucídio Bianchetti discutem: Universidades internacionalizadas ou Universidade de Classe Mundial? Problematizações e tendências a partir do contexto latino-americano. Neste artigo, o objetivo foi analisar o lugar da internacionalização para edificação de Universidades de Classe Mundial (UCM) e, de forma mais específica, como a internacionalização vem assumindo a “dianteira” na corrida pela excelência acadêmica nos países latino-americanos. Foram analisados documentos de organismos internacionais, de planos de desenvolvimento institucionais de universidades latino-americanas com “melhores posições” nos rankings internacionais, além de dados de questionários respondidos por pesquisadores do tema Educação Superior/Políticas de Educação Superior de países da América Latina e do Caribe, a partir de uma plataforma on-line. Segundo os autores, constatou-se que há uma espécie de UCM de segundo tipo sendo forjada para os países que não compõem o eixo dinâmico do capital, garantindo a difusão do modelo, ainda que com adaptações. Nesse sentido, a internacionalização aparece como o grande eixo promotor da excelência para os países da região.

Abrindo a segunda seção, intitulada Internacionalização: dinâmica e desafios, temos o artigo de António Cachapuz da Universidade de Aveiro, sobre O processo de Bolonha e a internacionalização do Ensino Superior na Europa: a universidade de Aveiro e a rede GIEPES. O objetivo deste estudo é contribuir para uma reflexão sobre problemáticas de internacionalização das Instituições de Ensino Superior (IES) no quadro do Espaço Europeu de Ensino Superior (EEES). Embora a construção do EEES/Processo de Bolonha (1999) seja hoje em dia frequentemente criticado como projeto político legitimando a lógica economicista, e não o serviço do desenvolvimento humano de caráter emancipatório, é inegável, segundo o autor, a sua contribuição no processo de internacionalização das IES na Europa. Neste trabalho, através de uma análise documental, discutem-se cenários possíveis de internacionalização de acordo com o cruzamento de dois eixos estruturantes: abertura à complexidade envolvendo as dinâmicas de interdependência entre IES e/ou países, incluindo espaços transnacionais; e integração das dimensões de internacionalização envolvendo o modo como as missões canônicas das IES se articulam entre si. Cachapuz discute o caso da universidade de Aveiro, Portugal. Vale a pena conferir!

María Carmen López e Emilio Crisol Moya escrevem sobre El compromiso de la Universidad de Granada con la internacionalización: un estudio de caso. Neste trabalho, os autores apresentam as ações desenvolvidas pela Universidade de Granada (Espanha) para promover a sua projeção internacional em nível multilateral. Os resultados obtidos mostram não só o enorme esforço realizado e o alto grau de compromisso adquirido, mas também os importantes desafios e dificuldades associados a um processo de transformação desta magnitude.

Na sequência, María Verónica Leiva Guerrero e Hery Segovia Embry contribuem com um artigo intitulado Internacionalización en instituciones de Educación Superior: el caso de la Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, Chile. Este texto tem por objetivo descrever os processos de internacionalização da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso (PUCV), no que se refere à mobilidade estudantil. Para isto, os autores fizeram um estudo documental e estatístico de fontes internas da universidade PUCV. Os resultados mostram que a mobilidade estudantil tem se instalado como uma das ações de internacionalização fundamental no Plano de Desenvolvimento Estratégico, para consolidar a Cooperação Acadêmica Internacional por meio da criação e do fortalecimento de redes de mobilidade estudantil e de programas de intercâmbio para cursar um semestre em universidades estrangeiras com convênio com a PUCV, cuja língua seja o espanhol. Diante disto, a PUCV, segundo os autores, é a segunda IES com maior mobilidade acadêmica no país.

Patricia Viera-Duarte, Adriana Chiancone e Enrique Martínez Larrechea discutem Internacionalización de la Educación Superior y movilidad académica en la universidad pública uruguaya. O artigo se propõe a descobrir as bases conceituais com que a Universidad de la República del Uruguay (UdelaR) pratica o fenômeno da internacionalização. O objetivo é informar as políticas e os programas de inserção regional e de internacionalização no período de 1985 a 2019. Segundo os autores, desde 1990 a Universidad de la República desenvolve ações proativas de mudanças de contexto regional e global, que se expressaram em políticas e práticas de internacionalização, cujo resultado foi uma agenda política de transformação interna, especialmente relevante à zona de fronteira. Para os autores, assumir processos de internacionalização fez com que a universidade enfrentasse alguns desafios.

Silvia Regina Canan, Edite Maria Sudbrack e Thais Campos da Silva são autoras do artigo Construindo cenários de mobilidade acadêmica: o processo de internacionalização na Universidade Regional Integrada do Alto Rio Uruguai e das Missões (URI). O artigo retrata os resultados parciais de uma pesquisa quali/quantitativa sobre o processo de internacionalização no âmbito de uma universidade comunitária do Rio Grande do Sul, situada na região noroeste do estado. Ao investigar a temática, segundo as autoras, foi possível concluir que houve um avanço no conceito de internacionalização e uma maior integração por meio de ações e convênios com universidades latino-americanas, contrariando os primeiros indícios de internacionalização que apontavam para um número muito mais expressivo de convênios assinados com universidades europeias. Não obstante o número de acadêmicos e professores que vivenciaram processos de mobilidade acadêmica na URI pareça ser baixo em relação a universidades públicas de grande porte, para a região, foi extremamente significativo se considerarmos as condições econômicas e sociais do locus onde se desenvolveu a pesquisa.

Finalizando a seção dois, Maria de Lourdes Pinto de Almeida, Silmara Terezinha Freitas e Diego Palmeira Rodrigues discutem a Internacionalização da Educação Superior no oeste catarinense: análise a partir da experiência de uma universidade comunitária. Este texto teve como objetivo mapear e analisar os processos de internacionalização desenvolvidos em uma universidade caracterizada no modelo comunitário, situada no oeste catarinense, a Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). Com base nos dados coletados, evidenciou-se que, para esta IES, a internacionalização perpassa todos os níveis de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, vários professores, sejam da graduação, sejam da pós-graduação lato sensu ou stricto sensu, desenvolvem pesquisas com pesquisadores de outros países, tendo como resultado várias publicações conjuntas, fortalecendo redes de investigação. A UNOESC possui um órgão próprio para a internacionalização, nomeado Coordenadoria de Relações Internacionais. A internacionalização está presente como um dos pontos-chave do Plano de Desenvolvimento Internacional. Vale a pena destacar que a IES tem grande impacto social no meio-oeste catarinense e se destaca por ser uma universidade comunitária. Diante disso, a preocupação é de internacionalizar regionalizando-se e de regionalizar internacionalizando-se. Esta instituição, segundo a pesquisa realizada pelos autores, está implantando e fortalecendo, gradativamente, as políticas e os processos que envolvem a internacionalização.

Na sequência, temos um posfácio intitulado “A chave está na troca” − estudantes de mobilidade como vetores da internacionalização em casa”, escrito por Caroline Baranzeli, Marília Costa Morosini e Vanessa Gabrielle Woicolesco. O artigo tem por objetivo compreender como a experiência de estudantes brasileiros que realizaram mobilidade foi aproveitada no contexto local de suas instituições de origem. Para as autoras, a internacionalização pela mobilidade é dominante no contexto latino-americano. Todavia observa-se que três tendências afetam diretamente seus avanços: 1) o baixo número de estudantes estrangeiros que escolhem a América Latina como local de estudos; 2) a carência de políticas estratégicas nacionais e institucionais para internacionalização das Instituições de Educação Superior; e 3) a escassez de recursos para o envio de estudantes locais para o exterior. Foram conduzidas entrevistas com estudantes de instituições de Educação Superior privadas e as análises foram produzidas com princípios de Análise Textual Discursiva (ATD). Os resultados apontam para o interesse dos estudantes em compartilhar suas vivências e a atuação em projetos diferenciados e interdisciplinares adquiridos no exterior. Contudo observa-se a falta de estratégias organizacionais para a utilização das competências adquiridas pelos estudantes em suas experiências de mobilidade. Assim, faz-se necessário, segundo as autoras, ampliar a perspectiva de mobilidade, buscando novas alternativas de internacionalização que atinjam um público mais amplo e tragam benefícios para a sociedade como um todo.

A oportunidade de compor o Dossiê com artigos que fazem a análise da internacionalização desenvolvida em suas universidades apresenta um mosaico diversificado de âmbito institucional, com universidades públicas, privadas, comunitárias, confessionais, municipais e de diferentes contextos geográficos, culturais, políticos e econômicos.

Este Dossiê traz um quadro atualizado da internacionalização que está sendo desenvolvida em países da América Latina, Portugal e Espanha, o que levou a constatar que a internacionalização não é um modismo, mas um aspecto constituinte da instituição “universidade” na contemporaneidade, um movimento consciente e intencional de inter-relações com instituições congêneres de contextos e culturas diversas.

3O site do GIEPES pode ser consultado no endereço: https://www.giepes.fe.unicamp.br/br

REFERÊNCIA

ALMEIDA FILHO, Naomar; SANTOS, Fernando S. A quarta missão da universidade: internacionalização universitária na sociedade do conhecimento. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2012. [ Links ]

Maria de Lourdes Pinto de Almeida: Pós-doutora em Políticas Educacionais pela Universidade de São Paulo (USP) e em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutora e mestre em Filosofia, História e Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp. Graduada em Pedagogia pela Unicamp. Graduada em História pela Faculdade de Ciências e Letras Plínio Augusto do Amaral. Docente pesquisadora do PPGE da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), na linha de pesquisa Educação, Políticas Públicas e Cidadania. E-mail: malu04@gmail.com, Orcid: http://orcid.org/0000-0001-8515-2908

Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira: Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Mestre em Educação pela University of Sheffield. Pedagoga pela Universidade de São Paulo. Livre Docente e Titular pela Unicamp. Professora Titular da Faculdade de Educação da Unicamp. É Professora Bolsista Produtividade 2, do CNPq. E-mail: eaguiar@unicamp.br, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8263-9534

José Camilo dos Santos Filho: Ph.D. em Educação pela University of Southern California. Mestre em Educação pela University of Southern California. Mestre em Administração Pública pela University of Southern California. Professor na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). E-mail: eaguiar@unicamp.br, Orcid: http://orcid.org/0000-0002-4183-0460

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