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Série-Estudos

versão impressa ISSN 1414-5138versão On-line ISSN 2318-1982

Sér.-Estud. vol.28 no.63 Campo Grande maio/ago 2023  Epub 21-Ago-2023

https://doi.org/10.20435/serieestudos.v28i63.1732 

Artigo

“Mamãe, Tem uma Drag Queen Contando Histórias!”: currículos, (re)existência e o investimento na imaginação e produção de si na comunidade

“Mom, There’s a Drag Queen Telling Stories!”: curriculum, (re)existence and investment in imagination and self-production in the community

“¡Mamá, Hay una Drag Queen Contando Historias!”: planes de estudio, (re)existencia e inversión en imaginación y autoproducción en la comunidad

José Rodolfo Lopes da Silva1 
http://orcid.org/0000-0002-8719-202X

Rodrigo da Silva Vital1 
http://orcid.org/0000-0002-0774-7735

Maria Waleska Peil1 
http://orcid.org/0000-0001-5021-3379

1Universidade Federal de Pelotas (UFPeL), Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil


Resumo

O presente trabalho tem o objetivo de analisar a atividade literária Drag Queen Story Hour (DQSH) e suas potencialidades. Iniciada na cidade de São Francisco (Califórnia, EUA), no ano de 2015, a ação vem permeando fronteiras e se vendo diante de diferentes enfrentamentos ao movimento neoconservador. Sendo assim, também nos interessa examinar os investimentos do movimento neoconservador e seu projeto moral neoliberal, que, aliado ao pânico moral e ficções, como os valores tradicionais de família, deseja silenciar, invisibilizar e estigmatizar sujeitos e processos de vida que coloquem as falácias neoliberais sob suspeita e desnudam os processos de subalternização das diferenças segundo os interesses da onda neoconservadora, promovendo um ambiente crítico à ressignificação de saberes, práticas, valores e, consequentemente, aos processos de educação. Como perspectiva teórico-metodológica, buscamos aporte em contribuições de perspectivas pós-modernas, como os estudos foucaultianos e os estudos de gênero e sexualidade, refletindo acerca do caráter produtivo da linguagem, assim como suas possibilidades de (re)existência e subversão. Assim, defendemos que produzir uma pedagogia outra envolve reconhecer a pluralidade e particularidade de nossa sociedade e seus indivíduos, bem como permitir que cada pessoa possa falar, ser ouvida e construir sua própria história.

Palavras-chave: drag queen; currículos; imaginários

Abstract

This paper aims to analyze a literary activity called Drag Queen Story Hour (DQSH) and its potentialities. The action, which was initiated in San Francisco (California - USA) in 2015, has been permeating borders and facing different confrontations from the neoconservative movement. Consequently, it is also our interest to examine the investments of the neoconservative movement and its neoliberal moral project that, allied to the moral panic and fictions such as the traditional family values, desires to silence, make invisible, and stigmatize subjects and life processes that put under suspicion neoliberal fallacies, and reveal the subalternization processes of the difference according to the interests of the neoconservative wave, promoting a critical environment to resignifications of knowledge, practices, values and, consequently, to education processes. From theoretical and methodological perspectives we seek support in contributions from postmodern perspectives such as Foucault studies and Gender and Sexuality studies, considering the productive character of language in addition to its possibilities of (re)existence and subversion. Therefore, we defend that, producing another pedagogy involves recognizing the plurality and particularity of our society and its individuals, as well as permitting that each person be able to speak, to be heard, and to write their own story.

Keywords: drag queen; curriculum; imaginary

Resumen

El presente trabajo tiene como objetivo analizar la actividad literaria Drag Queen Story Hour (DQHS) y sus potencialidades. Iniciada en la ciudad de San Francisco (California - EUA), en 2015, la acción ha ido traspasando fronteras y afrontando distintos enfrentamientos con el movimiento neoconservador. Por lo tanto, también nos interesa examinar las inversiones del movimiento neoconservador y su proyecto moral neoliberal, que, combinado con el pánico moral y las ficciones, como los valores tradicionales de la familia, quiere silenciar, invisibilizar y estigmatizar a los sujetos y procesos de vida que sitúan las falacias neoliberales bajo sospecha y exponen los procesos de subalternización de las diferencias según los intereses de la corriente neoconservadora, promoviendo un ambiente crítico para la resignificación de los saberes, las prácticas, los valores y, en consecuencia, los procesos de educación. Como perspectiva teórico-metodológica, buscamos aporte desde perspectivas posmodernas, como los estudios foucaultianos y los estudios de género y sexualidad, reflexionando sobre el carácter productivo del lenguaje así como sus posibilidades de (re)existencia y subversión. Así, defendemos que producir otra pedagogía implica reconocer la pluralidad y particularidad de nuestra sociedad y sus individuos, así como permitir que cada uno hable, se escuche y construya su propia historia.

Palabras claves: drag queen; currículums; imaginarios

1 INTRODUÇÃO

Em 2015, na cidade de São Francisco (Califórnia - EUA), começou a Drag Queen Story Hour2 (DQSH) - Hora da História com a Drag Queen, em uma tradução livre. Contadoras/es de histórias, por meio da arte drag, leem livros para crianças em diferentes espaços, como livrarias, bibliotecas e escolas. A DQHS tem como objetivo celebrar, promover e fomentar a leitura, o lúdico e a imaginação em meio a conteúdos que tenham como enfoque a diversidade, a aceitação e a inclusão. Outras regiões, como a Ásia, a Austrália, o Canadá, a Europa e o México vêm promovendo os encontros com drag queens e suas audiências em lugares como livrarias, bibliotecas, escolas, assim como museus, festivais, creches, dentre outros. No ano de 2017, Helena Black3, personagem criada pelo ator e produtor Paulo Reis, passou a contar histórias, como drag queen, no Brasil, por meio do projeto “Mamãe, Tem uma Drag Queen Contando Histórias!”. Por meio do contato e da convivência com a literatura e a diversidade, essas ações trazem como elementos, discursivos e não discursivos, a possibilidade de deslocamentos, (re)interpretações de si e da sociedade, que busca alargar sentidos, significados e pensamento crítico.

Drag queens vêm, no decorrer da história, ocupando e disputando diferentes espaços em uma sociedade que habitualmente não é receptiva a quem cruza as imaginárias fronteiras de gênero e sexualidade produzidas e administradas por diferentes sujeitos e instituições. Podemos nos remeter a Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, drag queens, mulheres trans4 negra e latina, respectivamente; figuras marcantes e precursoras do movimento de Stonewall e criadoras da Street Transvestite Action Revolutionaries (S.T.A.R.), Travestis de Rua Revolucionárias em Ação, em uma tradução livre; uma associação e abrigo para a juventude LGBTTI+5 da década de 1970. No cenário brasileiro, a arte também tem suas e seus representantes que vêm cada vez mais acessando diferentes espaços. Marcia Pantera, Suzy Brasil, Isabelita dos Patins, Pabllo Vittar e Rita Von Hunty são algumas dentre muitas que vêm contestando e (re)construindo saberes, imaginários e relações. Segundo Judith Butler (2003), sem partir de uma generalização, as drag queens podem ter um efeito paródico e subversivo. Para tal, é necessário ter atenção à relação construída entre aquele/a que performa - a drag queen - e sua audiência. Desse modo, podemos inferir se aquela performance tem um efeito separativo e de subversão ou de sujeição àquilo que se entende como feminino, o que seria uma “mulher de verdade”.

Contar histórias envolve também investimentos. Somos contadoras/es, assim como espectadoras/es de uma sociedade que vem historicamente selecionando, (re)produzindo, alimentando e administrando “personagens”, imaginários e ficções. Concomitantemente, são engendradas relações, cidadanias, sociedades, culturas, exclusões e saberes. Dessa forma, interessa-nos discutir acerca da potência da cultura, quando esta se propõe contingente, aberta e cambiante, bem como dos investimentos do movimento neoconservador, que busca, por meio do pânico moral, da produção do medo, da vergonha, do desconforto, do assédio e do estigma, enquadrar e demarcar algumas/ns como normais e outras/os como passíveis de correção, diferentes violências, exclusões e não garantia da dignidade. Nós nos perguntamos, dessa maneira, acerca das histórias: quem pode contá-las e quais os seus efeitos que são possíveis?

Posto isso, este artigo está dividido em quatro partes: inicialmente, contextualizamos brevemente, na introdução, o objetivo e a conjuntura que atravessa o texto. Em um segundo momento, discutimos acerca das potencialidades, plasticidades e multiplicidades dos currículos da vida. Na terceira seção, abordamos os investimentos, discursivos e não discursivos, do movimento neoconservador, que busca, por meio de diferentes falácias, cercear e padronizar a educação e formação de pessoas e sociedade, reduzindo, por exemplo, a pluralização de currículos, bem como os deslocamentos e as rupturas pedagógicas no tecido social. Por último, trazemos as considerações finais. Para a análise proposta, partimos de um estudo teórico como abordagem metodológica, produzido mediante um sistema de triangulação dialógica entre as propostas do DQSH, as relações sociais entre normatividades e diferenças de gênero e a crítica teórica sobre o neoliberalismo.

2 “AS DRAG QUEENS ESTÃO SE DIVERTINDO E PARECEM CONFIANTES EM SER QUEM SÃO. SE ALEX QUISER, ELE PODE SER ASSIM TAMBÉM6”: ROMPENDO HIERARQUIAS, IMAGINÁRIOS E (RE)CONSTRUINDO NOVAS POSSIBILIDADES

Como disparador da presente seção, trazemos a fala de Amanda no título. Mãe de Alex, ela o levou para um dos eventos de leitura, com drag queens, em uma biblioteca no sul dos Estados Unidos. A reportagem nos leva a refletir acerca desse cenário de disputas e negociações que vem sendo o campo cultural onde se estabelecem tentativas de cerceamento e invisibilização, mas também de resistências, reconhecimentos, encontros e apoios mútuos das diferenças. A entrevista concedida por Amanda é parte desse movimento, como uma maneira de contestar práticas e a posição - construída e mantida de legitimidade - de sujeitos motivados por pressupostos conservadores.

Ataques conservadores à iniciativa não são casos recentes e tampouco isolados, mas dizem de diferentes aproximações, reiterações e atualizações. A DQSH, que surgiu em 2015, no estado da Califórnia, e vem se espalhando por outros territórios, habitualmente passa por investidas, discursivas e não discursivas, de ódio7, as quais buscam enquadrar o evento como algo perigoso, que supostamente contaminaria a sociedade e as crianças. Entretanto, o que tais violências (re)produzem é o enquadramento, a normatização, o enrijecimento e a demarcação de uma limitada noção de humanidade e das possibilidades de um modelo de sociedade que se matiza como livre e democrática. Segundo Anderson Ferrari (2009), o enquadramento é uma marca de nossa sociedade. Vimos, desde o nosso nascimento, passando por contínuos e múltiplos investimentos a partir do anúncio de uma suposta verdade: o “sexo” como determinante de nossas preferências, características e destinos - investimentos de enquadramento que buscam naturalizar, adentrar as mentes e se materializar nos corpos por meio de diferentes representações.

A DQSH nos mostra a potência das culturas, dos currículos da vida, assim como as possibilidades de resistência, enfrentamento e de se esquivar do enquadramento binário e cis-heteropatriarcal8 como única forma de existência e de organização do mundo. Danilo Araújo de Oliveira, Anderson Ferrari e Érika Kelmer Mathias (2022) nos ajudam com suas contribuições ao defenderem que o currículo é algo que escapa, não se controla e não se prevê, pois ele também é um território em que a disputa é constante. Ainda que diferentes grupos e discursos neoconservadores, como o antigênero, por exemplo, busquem paralisar, desqualificar e eliminar a discussão por meio da produção do medo e do estigma, há sempre frestas para que se possa florescer e inventar modos de (re)existência até então não pensados, legitimados e fomentados de forma hegemônica.

Ao refletirmos ainda sobre as potencialidades da cultura mediante ações como a DQSH, atentamos também para a existência de uma pedagogia drag, responsável não somente por contribuir com a diferença e a diversidade em currículos não formais, como também incorporar as possibilidades de existências outras que estão em constante devir. José Esteban Muñoz (2009) nos ajuda a pensar em uma utopia queer, uma possibilidade de potência performativa ao propor algo para e em direção ao futuro. Entre o imaginário de realidade e fantasia, presente no universo das drag queens, a dimensão lúdica parece operar de forma combativa em relação aos discursos neoconservadores vigentes. Embora em curso em locais de cultura e educação, a DQSH é uma atividade que extrapola a experiência educativa em seu formato tradicional, ao passo que a própria existência drag já desafia os cânones formais.

A despeito das críticas acerca da DQSH, que em sua maioria são utilizadas como ferramentas atuais das guerras culturais, muitas são as aproximações feitas entre artistas e o público infantil durante a ação de contação de histórias. Harper Keenan e Lil Miss Hot Mess (2020) apontam para o uso do desafio estratégico das artistas drag, que “[...] se engajam de forma mais afinada ao tipo de resistência que muitas crianças praticam o tempo todo” (p. 452, tradução nossa)9. Além disso, a autora e o autor também identificam a utilização deste espaço como campo possível de exploração das próprias normas sociais, cujos questionamentos desafiam os currículos presentes na vida do público. Durante a DQSH, é comum o diálogo entre os artistas e as crianças, permitindo que essas pessoas elaborem questionamentos antes não experimentados na escola. O estranhamento inicial causado pela presença colorida passa a ser trabalhado de forma a aproximar questões como as da diversidade de gênero em um ambiente lúdico e performático, um ambiente característico da temática drag.

Durante momentos de estranhamento das/os participantes, perguntas como “Você é um menino ou uma menina?” ou “Por que você está vestido dessa maneira?” surgem, sendo que, em vez da repressão e/ou respostas autoritárias, é possível estabelecer um ambiente e práticas críticos através de questionamentos como “Por que importa se eu sou um menino ou uma menina?” e “Por que eu não deveria usar lantejoulas, plumas e muita maquiagem?” (KEENAN; MESS, 2020, p. 452, tradução nossa)10. Assim, são engendrados investimentos que buscam desconstruir visões universalizadas, binárias e enquadramentos. São produzidos deslocamentos, em que o que era rejeitado, sem fundamentação ou lógica, passa a ser uma possibilidade, de descoberta, aproximação e convivência. O investimento em um mundo em que a diferença não é sinônimo de desigualdades e hierarquias, mas de reconhecer que o conhecimento e nós somos contingentes, podendo ser (re)construídos em diálogo, em relação e constantemente. Para tal, é preciso ter atenção a quais modos de subjetivação11 estamos em contato nesses cenários tão disputados, os quais são os campos educacional e cultural, e que buscam constituir e manter práticas, lógicas, imaginários, currículos, relações e saberes hegemônicos/tradicionais como a única forma de ser, fazer e existir.

Em contraponto com o currículo escolar institucionalizado, uma proposta fora do sistema cisgênero e heteronormativo não necessariamente busca por respostas, já que a produção de novos questionamentos também encoraja a reflexão do público que participa da DQSH. A relação dialógica travada entre as artistas drag e as crianças pode oferecer contribuições pedagógicas significativas no que diz respeito às formas de (re)interpretar as normas ou currículos já estabelecidos em locais institucionalizados e de poder. Keenan e Mess (2020) têm posições semelhantes no que concerne às potencialidades desses lugares, em que perguntas podem ser respondidas por outros questionamentos, com o intuito de problematizar certos conceitos em torno das questões de gênero.

Nascemos em uma sociedade que é resultado de disputas e processos violentos, complexos, contraditórios e excludentes para muitas/os. O sociólogo Richard Miskolci (2012) percebeu, em “O desejo da nação: masculinidade e branquitude no Brasil de fins do XIX”, ao analisar três romances, “O Ateneu”, “O Cortiço” e “Dom Casmurro”, uma pedagogia apoiada no medo. A sexologia, à época, preocupava-se na produção e regulação da homossexualidade como forma de distinguir comportamentos aceitáveis - dentro de um código moral - e inaceitáveis - “impuros”, “imorais”, “degenerativos”. Estabeleciam-se caminhos, práticas que levariam homens e mulheres ao seu falacioso destino natural:

[...] o casamento, a constituição da família, um ideal de domesticidade assentado no controle masculino da unidade doméstica, o que se associava à capacidade de homens dominarem esposas e filhos como prova de sua masculinidade. (MISKOLCI, 2012, p. 30).

Em uma nação conservadora, aquelas/es que não se enquadram nesse arquétipo ainda muito naturalizado e, portanto, desejável são comumente alvos de violências físicas e simbólicas - vistas e justificadas de forma falaciosa, como “piadas”, “nada sério” ou que se deva “dar importância”. É importante dizer que há múltiplas e contingentes maneiras de ser/estar no mundo, não sendo, portanto, possível abarcar uma pretensa totalidade de sujeitos e questões. Kimberlé Crenshaw (2002) e Sirma Bilge (2009) nos possibilitam pensar acerca da complexidade das identidades e desigualdades sociais ao proporem o conceito de interseccionalidade. O conceito nos ajuda a compreender a forma como diferentes marcadores de diferença - como raça, classe, gênero, sexualidade, geração, nacionalidade, dentre outros - interferem nas relações sociais reproduzindo desigualdades e injustiças sociais. Tais ações não dizem, entretanto, de uma ausência de saber. A ignorância e as violências físicas e simbólicas surgem como efeito de tipos de conhecimento, não de uma suposta “neutralidade”. Surgem da criação de uma norma - comumente o homem branco, cisgênero, heterossexual, monogâmico, cristão e neoliberal - e de processos que ensinam e enquadram aquela/e que se distancia dessa como a/o “anormal”, a/o inferior, passível de violências, assim como a criação, perpetuação e administração de saberes, sujeitos, espaços e relações.

Como pensar então em estratégias que desestabilizem o status quo das atuais políticas de gênero em meio à nova onda conservadora que insiste em vilipendiar os avanços ocorridos nas últimas décadas? Não há uma resposta fácil, única e direta para tal questionamento. Uma das formas de escapar da dispneia do atual momento é mirar o futuro e as potencialidades de ações do agora, que podem vir a produzir resultados na sociedade que está por vir. Nesse sentido, José Esteban Muñoz (2009, p 28, tradução nossa)12 aponta para o otimismo da potencialidade no horizonte, em um “sentimento queer de esperança em frente aos mapas heteronormativos da desesperança, onde a futuridade é de fato a província da reprodução normativa”, elaborando, assim, um poder de existência àqueles/as que não estão enquadrados em normas sociais cis-heteropatriarcais ou nos padrões de gênero excludentes.

Além disso, aproximar a cultura drag à discussão de gênero, aliada à potencialidade de confiança em um futuro mais diverso, configura em novas formas de reagir às políticas de exclusão e silenciamento, mesmo que no presente essas políticas ainda contribuam de forma a negar determinados espaços e identidades. Uma atividade como a DQSH não somente concilia espaço, indivíduos e diferentes existências, mas também enfrenta as criaturas que insistem em esmorecer o caminho daqueles que almejam travar um debate pautado pela igualdade e diversidade, já que, ao falarmos sobre “monstros”, Preciado (2011, p. 7) nos recorda que “estas diferenças não são ‘representáveis’, uma vez que são ‘monstruosas’ e põem em questão, por isso mesmo, não apenas os regimes de representação política, mas também os sistemas de produção de saber científico dos “normais”. E o que pode ser mais ameaçador do que a existência e a celebração de “monstros” que assombram a manutenção dos valores normativos?

Podemos pensar que não há uma cultura pura, superior à outra, natural e imutável. Elas são atravessadas por relações de saber, poder e resistência. Essa proposição coloca a possibilidade de romper as supostas hierarquias e ver as coisas de um outro lugar, assumindo a contingência, a provisoriedade e o caráter histórico e político do processo de (re)construção das identidades, dos saberes, das instituições e de nós mesmas/os. Os estudos de gênero e sexualidade vêm promovendo debates e encontros que nos deslocam para suspeitas acerca de discursos e práticas naturalizadas, tal como sobre a produção das sexualidades. Assim, distanciamo-nos de naturalizações, universalizações e essencialismos ao pensar que “no interior de diferentes processos culturais, os indivíduos e seus corpos são transformados em - aprendem a reconhecer-se como - sujeitos femininos e masculinos” (DAL’IGNA et al., 2019, p. 4).

Roberto da Silva, Letícia Nascimento e Marcio Caetano (2021) defendem que a população LGBTTI+, a partir de produções discursivas sobre o cis-heteropatriarcalismo como regime de verdade, tem sua dignidade e humanidade negadas historicamente. Estas são conquistadas, ainda que não suficientes, a partir das rupturas de silêncios e também das políticas de reconhecimento. Torna-se necessário, então, colocar sob suspeita os saberes que os currículos da vida vêm (re)produzindo, suas intencionalidades e efeitos em nossa sociedade, assim como quais rupturas se tornam possíveis a partir dessas análises. Tais acontecimentos não são neutros, dizem de perspectivas históricas, culturais, políticas, tecnológicas, econômicas e se encontram em constante tensionamento, disputa e transformação, um “[...] conjunto sempre finito e efetivamente limitado das únicas sequências linguísticas que tenham sido formuladas” (FOUCAULT, 2008, p. 30).

3 “ELES ESTÃO ATIVAMENTE PROMOVENDO O PECADO E O QUE É ERRADO, E ESTÃO FAZENDO ISSO COM CRIANÇAS”: A (RE)PRODUÇÃO DE DISCURSOS FICCIONAIS E NOCIVOS ÀS/AOS COLOCADAS/OS À MARGEM

Pecado, doença, pavoroso, apocalíptico, ameaçador, vitimistas, dentre outros, são palavras comumente atribuídas a diferentes grupos, como, por exemplo, a população LGBTTI+, uma atribuição feita por sujeitos conservadores. Para que consigam demarcar e manter suas concepções de humanidade - baseada no arquétipo limitado do homem branco, cisgênero, heterossexual, monogâmico, cristão e neoliberal -, torna-se necessário, também, construir tais ficções como a ameaça e o perigo para que diferentes violências sejam vistas por muitas/os como proteção, medidas justificáveis. Tais relações se encontram espalhadas pelo tecido social, suas múltiplas, plásticas e contingentes expressões culturais nas escolas e outras instâncias, como a mídia, a igreja, a justiça, os museus, as bibliotecas, dentre outras (LOURO, 2000). Esses espaços vêm construindo discursos, pedagogias da sexualidade em que alguns sujeitos são legitimados, vistos como “naturais” - portanto, não questionáveis -, enquanto outros são marginalizados, silenciados e patologizados. Dessa maneira, (re)afirmar a existência como sujeito LGBTTI+ diz de “[...] um ato político e, nas atuais condições, um ato que ainda pode cobrar o alto preço da estigmatização” (LOURO, 2000, p. 31).

Em sua obra intitulada “Pode o subalterno falar?”, Gayatri Spivak (2010) nos leva a refletir sobre os silêncios quebrados, as potências sobre tais denúncias, movimentos que elas podem causar e seus deslocamentos. Para a pensadora indiana, alguns sujeitos são colocados à margem, como não humanos, não sendo, portanto, conferido a essas pessoas um espaço de legitimidade. Assim, nesse jogo simbólico, a voz do subalterno teria alcances distintos da voz legitimada culturalmente, politicamente e economicamente. Dessa forma, produz-se um abismo na relação entre o falante e aquela/e que escuta por meio de diferentes meios, entre eles, o médico e o jurídico. Sendo assim, ela também defende que seria necessário uma ressignificação da história para que a consciência da nação fosse transformada.

Considerar o conhecimento dos outros perpassa também por um exercício de fala e de escuta. Segundo Sara Wagner York, Megg Rayara Gomes Oliveira e Bruna Benevides (2020), vivenciamos um transepistemicídio ao não realizar o exercício de escuta da “voz” travesti. Isso se produz e administra, atualmente, por meio de estratégias discursivas, como, por exemplo, o uso de palavras como vitimismo, coitadismo e denuncismo. A utilização desses termos leva à construção de um muro na escuta da “voz” travesti, assim como à reiteração e naturalização da transfobia. As autoras também argumentam sobre a urgência de pensar caminhos alternativos, epistemologias outras que desfaçam falaciosas hierarquias e valores sociais. A legitimação de um terceiro ou quarto gênero poderia ser uma alternativa para aquelas/es que não coincidam com uma norma cis-heteropatriarcal. Dessa forma, são criadas possibilidades humanas de conquista e (re)descobertas sobre si mesmas/os.

Wendy Brown (2019), em sua obra “Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente”, destaca o mantra “Deus, família, nação e livre iniciativa” (p. 109) como um mote em que se balizam e harmonizam elementos essenciais para a sociedade neoliberal. Enquanto o mercado supostamente promove ideais como inovação, liberdade, progresso e entusiasmo, a família, a religião e o patriotismo atuariam na manutenção e produção da tradição, autoridade e moderação. “Aquele inova e perturba; esta assegura e sustenta” (BROWN, 2019, p. 110). A manutenção de valores e códigos morais, de um passado ainda tão presente, torna-se uma necessidade estratégica ou ferramenta, uma vez que, a partir do momento que perdem seu peso, sua relevância social - ou seja, sua inteligibilidade -, eles não apresentam mais relevância. “A liberdade, mais do que limitada pela tradição moral, é em parte constituída por ela” (BROWN, 2019, p. 120). Dessa forma, assim como não há um masculino, feminino, homossexual, heterossexual, dentre outros, a priori, e que seja universal, também não há uma moral e/ou código de valores “naturais” a que deveríamos nos ater, mas sim uma organização de determinados valores e condutas que sirvam à lógica neoliberal.

Chama-nos atenção para como o neoliberalismo busca homogeneizar e universalizar normas, práticas e a sociedade a partir de uma única referência. Estruturas - como a LGBTTI+fobia, o machismo e o racismo - vêm se espalhando estrategicamente em nossa sociedade, relações e diferentes instituições, por meio de leis e/ou práticas. Essas não são recentes nem agem isoladamente. Vêm por meio de processos de disputas, negociações, resistências e violências, sendo (re)construídas com base em supostas racionalidades e universalidades inquestionáveis. Apagamentos e silenciamentos de diferentes sujeitos e saberes também objetivam naturalizar a experiência, ou seja, as percepções daquelas/es envolvidas/os. Ao compreender tais classificações sociais como dadas, estas não seriam passíveis aos questionamentos e às mudanças. Como exemplo disso, Walter Mignolo (2014) debate, numa entrevista, acerca da estrutura atual da universidade e como ela também deve se repensar, atuar na reconstrução dos saberes e dela mesma - visto que também é produtora desse sistema mundo-vida. A partir da segunda metade do século XX, as universidades começaram a passar por um processo de corporativização, fazendo com que determinados valores, no sentido corporativo, como eficiência e excelência, passassem a ser naturalizados e adotados em considerar a diversidade social/institucional.

Todavia, é justamente pelo viés do discurso da moralidade que forças conservadoras fortalecem suas bases, ao mesmo passo em que conquistam novos aliados em uma política antidemocrática que, pouco a pouco, tomou conta da sociedade norte-americana. O neoliberalismo, operando a partir do desmantelamento da ideia do social para executar seu projeto de controle e exploração, necessita dos seus conceitos morais para validar a subalternização de quem é visto como imoral, como imigrantes e as minorias religiosas ou sexuais. Wendy Brown (2006), ao analisar o debate recente e as origens e evolução do fenômeno do neoconservadorismo, observa um paralelo entre as relações do neoliberalismo e do neoconservadorismo na criação do pesadelo americano. De acordo com a autora, o neoconservadorismo “como uma racionalidade política emergente tanto extrai quanto produz uma política cultural particular e um sujeito político” (p. 696, tradução nossa)13. Sendo assim, percebem-se as instâncias da moral e do capital alinhavando um novo projeto político social, cujo combate à social democracia também encontra, nas guerras culturais, uma de suas ferramentas mais potentes entre os que pertencem à nova ou direita alternativa estadunidense.

As guerras culturais, embora um conceito de contexto estadunidense até recentemente, assumiram contornos globais nos últimos anos, encontrando na figura de Jair Bolsonaro o protótipo necessário para o início do projeto de destruição dos valores sociais e das liberdades individuais. Como não se lembrar dos episódios de falácias em torno do fantasioso Kit Gay, do mito da ideologia de gênero ou da vacina contra a covid-19, que transforma alguém em jacaré? Ainda nesse viés de construção de narrativas culturais, utilizamos James Davison Hunter (1991, p. 42, tradução nossa)14 e sua definição de conflito cultural como “[...] uma hostilidade política e social enraizada nos diferentes sistemas de compreensão moral” para compreender de que formas esses movimentos de discórdia e polêmica, cujo objetivo é devolver a moralidade ao povo, criam a noção de que pessoas supostamente devassas tomaram o lugar de quem seria validado/a pelo sistema neoliberal que dita quem merece ou se respalda pela crença na meritocracia.

Ademais, é importante não perder de vista de que maneira essas disputas culturais foram engendradas, instaurando novos pânicos morais com o auxílio das redes sociais e deslocando, assim, as pautas da agenda neoconservadora para um território sem dono, cuja réplica em massa de postagens e discursos acaba sendo o suficiente para transformar fake news em verdades absolutas. Identificamos aqui o uso das redes sociais como uma ferramenta que contribui de forma a ampliar a propagação dos discursos de pânico moral, tendo em vista que há uma relação significativa entre os “empreendedores morais” e a esfera midiática, que, de acordo com Stanley Cohen (2011, p. 10), parece “[...] devotar um grande espaço para o desvio: crimes sensacionalistas, escândalos, eventos bizarros e estranhos acontecimentos”. Desse modo, percebe-se o campo digital como mais um dispositivo atual utilizado na construção desses pânicos morais, auxiliando nos discursos excludentes e acusatórios contra os indivíduos que não estão inseridos no jogo político do projeto conservador neoliberal.

Richard Miskolci (2007, p. 114) percebe que “todo pânico moral esconde algo diverso e, ao invés de aceitar um temor social como dado, o pesquisador precisa desvelar o que reside por trás do medo”. Nesse sentido, se todo pânico moral esconde determinada intenção em sua ação, podemos inferir que as manifestações contrárias ao projeto de leitura DQSH enquadram-se, na verdade, como uma das formas de cerceamento e silenciamento da pauta de gênero. Em meio ao projeto de nação que visa à unificação das identidades em torno de um indivíduo coerente e amparado pelos valores da pátria, não há espaço para o inesperado e percebido como marginal. Nesse sentido, toda a diferença deve ser combatida, aliada às micropolíticas que determinam de que forma esses sujeitos se constituem como cidadãs/os, principalmente no contexto das políticas identitárias e de gênero, visto que uma posição como a do movimento LGBTTI+ se “[...] chocaria com a concepção comunitária de sexualidade religiosa pautada em uma hierarquia entre homens e mulheres, assim como na centralidade da reprodução” (MISKOLCI; CAMPANA, 2017, p. 733).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolvemos, neste artigo, uma discussão acerca da atividade literária Drag Queen Story Hour (DQSH) e das potencialidades de uma formação/educação que ultrapassa as propostas de um currículo escolar hegemônico e mediante uma pedagogia drag, considerando o enfrentamento da crescente onda neoconservadora que, articulada ao senso comum de moral e bons costumes, objetiva o silenciamento das pautas de gênero e da população LGBTTI+. Em meio a essa nova conjuntura política em formação, acreditamos que uma ação como a DQSH possa contribuir para o desenvolvimento de outras narrativas identitárias e, portanto, pedagógicas na constituição de sujeitos em meio ao clima de retrocesso dos direitos às liberdades individuais, sociais e culturais. A contação de histórias que sai do lugar comum e apresenta novas janelas de realidades é também um falar de si por parte da população LGBTTI+, cujas narrativas carecem de oportunidades em lugares de destaque, sejam esses em espaços culturais ou educativos.

O projeto neoliberal em curso tem coincidido com a violência sobre a pluralidade do tecido social, enfraquecendo o Estado democrático, arquitetando, de maneira magistral, a celebração e imposição de uma sociedade do individualismo, aliado a uma “moral cristã”, que, muitas vezes, decidirá quem tem a legitimidade para falar ou deve ser silenciado/a, quem é incluído/a ou excluído/a, quem vive ou morre. Assim, lutar por uma pedagogia outra, como a drag, uma pedagogia deslocada para a diversidade/pluralidade de ser, fazer e existir no mundo, é trazer a gramática do social de volta ao debate, reconhecendo o mérito dos efeitos da pluralização dos indivíduos no que chamamos de sociedade. Como aponta Wendy Brown (2019), é neste espaço do social que projetamos novas possibilidades de futuro ou, talvez, logo ali, onde as condições para a existência de todas as diferenças estejam disponíveis no horizonte.

2A DQSH foi criada por Michelle Tea e a RADAR Productions, sob o comando de Julián Delgado Lopera e Virgie Tovar. Para saber mais, acesse: https://www.dragqueenstoryhour.org/about/. Acesso em: 5 set. 2022.

3Paulo Reis é formado em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de Artes e integrante do Grupo Rosas Periféricas. O ator e produtor defende o convívio com a literatura e a diversidade como forma de estimular a imaginação, a capacidade de sonhar e ocupar espaços por meio da literatura e do diálogo. Para saber mais, acesse: https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,mamae-tem-uma-drag-queen-contando-historias-volta-as-casas-de-cultura-de-sao-paulo,70004060233. Acesso em: 5 set. 2022.

4Drag queen é uma expressão artística que envolve a criação de personagens com performances de gênero que, habitualmente, mas não exclusivamente, diferem-se do gênero de quem performa essas personagens. É importante considerar que tais personagens não têm a ver com a identidade das pessoas travestis e transexuais, visto que estas são identidades de gênero, e não uma produção artística.

5A sigla LGBTTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais) será adotada para dar visibilidade às identidades de gênero e orientações sexuais. O sinal de + é utilizado como forma de incluir pessoas que não se sintam representadas pelas outras letras e indicar de que o processo de (re)construção da sigla não se finda.

6Para saber mais, acesse: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47319841. Acesso em: 25 ago. 2022.

7No Reino Unido, em um dos casos mais recentes, a drag queen Aida H Dee’s sofreu ameaças da extrema direita que a acusava de pedofilia e de sexualizar crianças. Após ter seu endereço vazado, ameaças foram enviadas diretamente para sua casa. Para saber mais, acesse: https://www.pinknews.co.uk/2022/07/09/aida-h-dee-drag-queen-story-hour-uk-doxxed-threats/ . Acesso em: 2 de set. 2022.

8A categoria surge a partir da “[...] junção dos conceitos de cisgeneridade (refere-se ao sujeito que se identifica com o gênero atribuído no nascimento), heteronormatividade (sistema político que determina a dicotomia complementar e assimétrica entre sexos/gêneros, instituindo a heterossexualidade como norma) e o patriarcado (sistema político-social em que o homem adulto detém o controle nas relações de poder)” (SILVA; NASCIMENTO; CAETANO, 2021, p. 195).

9“[…] engage in a more finely tuned kind of resistance that many children practice all the time”.

10“[…] why does it matter if I’m a boy or a girl?” or “why shouldn’t I wear sequins and feathers and lots of makeup?

11Compreendemos os modos de subjetivação a partir da contribuição de Michel Foucault (1979), que procura desessencializar a noção de sujeito. Dessa forma, buscamos discutir possíveis maneiras pelas quais somos assujeitados em meio a diferentes práticas, leis e instituições.

12“[…] a queer feeling of hope in the face of hopeless heteronormative maps of the presente where futurity is indeed the province of normative reproduction”.

13“[…] as an emergent political rationality that both draws from and produces a particular political culture and political subject”.

14"[...] a political and social hostility rooted in different systems of moral understanding”.

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Recebido: 07 de Setembro de 2022; Aceito: 02 de Janeiro de 2023

José Rodolfo Lopes da Silva: Doutorando em Educação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Especialista em Relações de Gênero e Sexualidades pela UFJF. Membro do grupo de estudos e pesquisa Políticas do Corpo e Diferenças (POCs), da UFPel, coordenado pelo Prof. Dr. Marcio Caetano. E-mail:jrodolfolopes@hotmail.com, Orcid:https://orcid.org/0000-0002-8719-202X

Rodrigo da Silva Vital: Doutorando em Educação em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Mestre em Educação e Tecnologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense (IFSUL). Membro do grupo de estudos e pesquisa Políticas do Corpo e Diferenças (POCs) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Terapeuta ocupacional do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão e chefe do Núcleo de Gênero e Diversidade da UFPel. E-mail:rodrigosvital@yahoo.com.br, Orcid:https://orcid.org/0000-0002-0774-7735

Maria Waleska Peil: Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas (FAE/UFPel). Bacharela em Museologia pela UFPel. Também integra o grupo de pesquisa Políticas dos Corpos, Cotidianos e Currículos (POCs) da UFPel. E-mail:mwalpeil@gmail.com, Orcid:https://orcid.org/0000-0001-5021-3379

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