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Série-Estudos

versión impresa ISSN 1414-5138versión On-line ISSN 2318-1982

Sér.-Estud. vol.28 no.64 Campo Grande set./dic 2023  Epub 05-Ene-2024

https://doi.org/10.20435/serieestudos.v28i64.1668 

Article

O potencial educativo dos memes como recurso pedagógico

The educational potential of memes as a pedagogical resource

El potencial educativo de los memes como recurso pedagógico

Marcia Gorett Ribeiro Grossi1 
http://orcid.org/0000-0002-3550-6680

Débora Cristina Cordeiro Campos Leal1 
http://orcid.org/0000-0003-4969-9855

Shirley Doweslei Bernardes Borja1 
http://orcid.org/0000-0001-9894-586X

1Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.


Resumo

O objetivo deste artigo foi apresentar as possibilidades de uso dos memes como recurso pedagógico, mostrando seu potencial educativo. Assim, foi feita uma pesquisa de abordagem qualitativa e descritiva. Quanto ao procedimento técnico, optou-se pela pesquisa bibliográfica. Os resultados revelaram que os memes, por trazerem temas relacionados a situações corriqueiras da vida das pessoas de uma forma divertida e por estarem fortemente presentes no mundo digital, têm despertado a curiosidade e o interesse, os quais têm um papel fundamental na aprendizagem, dos alunos da geração internet. A pesquisa mostrou os elementos que devem estar presentes nos memes (humor, crítica, fixação de conteúdo, reflexão, despertar o interesse pela disciplina, contexto histórico), que devem ser considerados pelos professores, ao usarem esse gênero nas salas de aula. Também foram apresentadas as possibilidades e os exemplos concretos do uso dos memes como recursos pedagógicos que facilitam a aprendizagem.

Palavras-chave: memes; aprendizagem; recurso pedagógico

Abstract

The objective of this article was to present the possibilities of using memes as a pedagogical resource, showing its educational potential. Thus, a qualitative and descriptive research was carried out. As for the technical procedure, it was opted for bibliographic research. The results revealed that memes, because they bring themes related to everyday situations in people’s lives in a fun way, and because they are strongly present in the digital world, have aroused curiosity and interest, which have a fundamental role in the learning of students from the nternet generation. The research showed the elements that must be present in memes (humor, criticism, content fixation, reflection, awakening interest in the discipline, historical context), which must be considered by teachers when using this genre in classrooms. The possibilities and concrete examples of the use of memes as pedagogical resources that facilitate learning were also presented.

Keywords: memes; learning; pedagogical resource

Resumen

El objetivo de este artículo fue presentar las posibilidades del uso de los memes como recurso pedagógico, mostrando su potencial educativo. Así, se realizó una investigación cualitativa y descriptiva. En cuanto al procedimiento técnico, si optó por la investigación bibliográfica. Los resultados revelaron que los memes, por traer temas relacionados con situaciones cotidianas de la vida de las personas de manera divertida y por estar fuertemente presentes en el mundo digital, han despertado la curiosidad y el interés, los cualestienen un papel fundamental en el aprendizaje de los estudiantes de la generación de internet. La investigación mostró los elementos que deben estar presentes en los memes (humor, crítica, fijación de contenido, reflexión, despertar el interés por la disciplina, contexto histórico), que deben ser considerados por los docentes, al momento de utilizar este género en el aula. También se presentaron las posibilidades y ejemplos concretos del uso de los memes como recursos pedagógicos que facilitan el aprendizaje.

Palabras clave: memes; aprendizaje; recurso pedagógico

1 INTRODUÇÃO

O mundo atual é digital. Vive-se o que pode ser chamada a era digital ou a sociedade da informação. Um dos fenômenos em destaque dessa sociedade é a crescente dependência do uso das tecnologias digitais no cotidiano das pessoas (Moretto; Dametto, 2018), e a educação não fica de fora dessa influência, pois ela “[...] necessita caminhar em conjunto com a evolução da sociedade, dirige-se ao campo educacional uma deman da por adaptar-se ao uso das novas tecnolo gias digitais” (Moretto; Dametto, 2018, p. 78).

Assim, as tecnologias digitais trazem a oportunidade de uma ressignificação no processo de ensino e aprendizagem, principalmente devido ao fato de que os alunos da era digital, os nativos digitais da geração internet, possuem um pensamento estruturado para o uso de tecnologias e gostam de atividades dinâmicas (Grossi; Chamon, 2020). As autoras complementam que, no ambiente escolar, esses alunos preferem uma participação ativa e são ávidos por novidades. Para Mattar (2013, p. 10), os nativos digitais “são pessoas que incorporam mídias digitais em seu cotidiano de maneira significativa e têm novas expectativas em relação à aprendizagem, ao trabalho e à diversão”.

Portanto, para motivar e estimular os alunos da era digital, é preciso usar a criatividade, práticas pedagógicas nas quais eles participam ativamente, bem como o uso de tecnologias digitais. Vale lembrar que o aluno desmotivado perde o interesse, e a falta de interesse é o primeiro obstáculo à aprendizagem. Reforçando esse entendimento, Gómez (2015, p. 39) explica que o fracasso na escola nem sempre é devido ao “[...] nível de dificuldade de uma alta exigência escolar, mas pelo tédio e falta de interesse”.

Surge, então, um novo desafio para os professores: adotar práticas pedagógicas de maneira criativa, fazendo uso das tecnologias digitais, como a internet, a favor da construção do conhecimento do seu aluno. Existem várias formas de vencer esse desafio. Aqui nesta pesquisa, escolheu-se usar os memes para tal. Embora esses não sejam novidade, eles ganharam visibilidade com o mundo virtual, sendo considerados como uma “[...] manifestação cultural que tem ganhado destaque na internet nas duas últimas décadas” (Horta, 2015, p. 13).

Os memes têm provocado o interesse dos alunos, por expressarem “[...] sentimentos, posicionamento político, indignações, desejos, ironias, pode [sic] apresentar informes, denúncias”, conforme explicam Santos e Souza (2019, p. 80). Para essas autoras, os memes podem estar em diferentes gêneros textuais, tais como charges, citações, cartas, e existem infinitas possibilidades para seu uso. Com este enfoque, Lopes (2017) explica:

Conhecidos por apresentarem imagens legendadas, vídeos ou expressões que se espalham pela internet rapidamente, os memes chegaram a ser apontados por pesquisadores como um novo gênero textual da era digital. Apesar de ainda existir pouco conhecimento sobre esse universo, não dá para negar que ele se popularizou entre adolescentes, jovens e até mesmo adultos (Lopes, 2017).

Em vista disso, os memes têm sido muito usados na internet, principalmente nas redes sociais, e se referem a um fenômeno de viralização de uma informação em diferentes formatos. Por isso, atualmente, o meme pode ser considerado “uma linguagem da internet” e está entendido “como um meio de comunicação” (Horta, 2015, p. 165). Cabe aqui dizer que os memes podem ser uma imagem, uma imagem com uma frase, um fragmento de vídeo ou uma frase viral. Eles trazem, geralmente, a característica do humor e da ironia e podem também trazer embutida uma crítica ou uma reflexão de determinado assunto, comumente pauta de discussão atual. Todos possuem a mesma característica de se espalharem pela rede com facilidade, podendo ser recriados pelos seus receptores, com alteração ou atualização do contexto.

Os memes têm uma finalidade mais importante do que apenas divertir . Conforme Oliveira (2019), eles “[...] possuem uma função essencial na sociedade: muitas mensagens e reflexões trazem à tona temas recorrentes de grande relevância”. Para o autor, o meme é um “fenômeno de linguagem da nossa sociedade e veio para ficar”, e o uso dos memes ainda atualiza e moderniza os conteúdos que se deseja disseminar.

Diante desse cenário e do fato de que “[...] o que afeta a ação educativa do professor é a forma de aprender do aluno e a necessidade de uma constante readaptação dos métodos e estratégias empregados no processo de ensino e aprendizagem” (Grossi et al., 2020, p. 287) para promover a motivação no ambiente escolar, surgiu a questão norteadora desta pesquisa: o meme pode ser utilizado no contexto educacional a fim de motivar os alunos da geração internet, os quais adoram novidades? Para responder a essa questão, o objetivo deste artigo foi apresentar as possibilidades de uso dos memes como recurso pedagógico, mostrando seu potencial educativo.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Meme: origem e intenções

Meme vem do termo mimeme, de origem grega, que significa imitação. Segundo Tabajara (2021), constitui um campo de estudo da Memética, que se aplica ao produto da evolução biológica, somado à evolução cultural humana. Conforme citado por Brodie (2010), o meme equivale a um código secreto do comportamento humano, que permite entender sobre a criação dos padrões culturais, levando as pessoas a se reconhecerem, assumirem e se apropriarem de determinados valores e crenças, tendo como benefício o senso de pertencimento. Esse termo foi criado pelo biólogo e escritor britânico Richard Dawkins, em 1976, em seu livro The Selfish Gene (O Gene Egoísta), no qual explica como nomeou o conceito:

Precisamos de um nome para o novo replicador, um substantivo que transmita a ideia de uma unidade de transmissão cultural, ou uma unidade de imitação. ‘Mimeme’ provém de uma raiz grega adequada, mas quero um monossílabo que soe um pouco como ‘gene’. Espero que meus amigos helenistas me perdoem se eu abreviar mimeme para meme. Se servir como consolo, pode-se, alternativamente, pensar que a palavra está relacionada com ‘memória’, ou à palavra francesa même (Dawkins, 2007, p. 214).

Quanto à analogia feita por Dawkins (2007) a respeito de gene e meme, por apresentarem semelhança de imitação e replicação viral, é necessário atentar-se a suas diferenças, uma vez que, ao contrário dos genes, que possuem transmissão aleatória, os memes permitem transmissão voluntária, sendo ainda consentida aos memes a possibilidade de alteração conforme a criatividade humana.

Apesar de esse termo ser bastante conhecido e utilizado atualmente, principalmente no meio digital, o sentido de compartilhamento de ideias e comportamentos não é novidade e teve seu início bem antes da internet. De acordo com a Mufson (2018), em 1921, uma revista satírica da Universidade de Iowa, chamada Judge Magazine, publicou o O Primeiro Meme, que era uma postagem com o tema o que você pensa que parece versus o que você realmente se parece (Figura 1). Atualmente, existem muitos memes com essa intenção, os denominados: Expectativa versus Realidade.

Fonte: Mufson (2018).

Figura 1 O primeiro meme 

A partir dos anos 1990, devido à internet, o meme como transmissor de conteúdo para alcance público acabou se adaptando ao mundo digital dinâmico, como pode ser visualizado no Quadro 1, e tem se alastrado como um vírus, criando, até mesmo, uma epidemia.

Quadro 1 Aparições do termo “memes” 

Ano Descrição das principais exibições do termo “meme”
1976 Criação do termo “meme” por Richard Dawkins, para nomear uma unidade de informação cultural, fazendo analogia ao gene, que é uma unidade de informação genética.
1998 Resgate do nome “meme” pelo site Memeppol, que é um portal que apontava o alcance de público de determinados conteúdos. Ressalta-se que este site se encontra indisponível desde dezembro de 2013.
1999 Atualização do termo “meme” e publicação do livro The Meme Machine, cuja autora é a psicóloga Susan Blackmore. Um livro que pensa os humanos como máquinas de memes.
2000 Adoção do termo “meme” pela plataforma Contagious Media, de experimentos para testar o alcance de conteúdo na web.
2009 Lançamento, pela YOUPIX, da Memepedia, considerada a primeira enciclopédia de memes do Brasil, que mapeava tudo que estava viralizando na internet.
2017 Criação do #MUSEUdeMEMES, um projeto da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Fonte: Elaborado pelas autoras (2022), baseado em Consumoteca (2019).

Com relação ao Quadro 1, destaca-se a criação do museu de memes, em 2017. Vale dizer que se trata de um webmuseu, ou seja, um museu disponibilizado em plataforma digital, disponível no endereço https://museudememes.com.br. Foi criado por um grupo de pesquisadores da UFF, com o objetivo de apresentar a história do papel dos memes na cultura contemporânea. O projeto, além de possuir um grande acervo de memes do ponto de vista político e histórico, disponibiliza estudos sobre o tema, organiza cursos, palestras e seminários para a sociedade em geral.

Faz-se necessário destacar que os memes apresentam uma intenção humorística; porém, cumprem também outras funções, como política, de questionamento, promovendo identificações, impulsionando espaços para reflexões e discussões sobre temas que cercam a sociedade e produzem impacto na comunicação. E, sabendo como surgiu o meme e o que ele significa, dá-se início ao uso dessa cultura no ambiente virtual.

2.2 Memes e suas aplicações na educação

Por se tratar de um elemento da cultura digital, os memes vêm sendo utilizados em diversos setores da sociedade; dentre esses, destacam-se a publicidade, o marketing e a educação. No caso da publicidade e do marketing, esses fazem uso dos memes como estratégia de vendas - divulgação de marcas, produtos, serviços - criando uma conexão com o cliente. É possível citar diversos casos que exemplificam estes usos.

Uma frase que ficou famosa em 2014 e virou slogan da empresa de classificados OLX, associando a frase à sua marca, foi “Sabe de nada, inocente”, do cantor Compadre Washington. Por ter uma dose de humor, a frase viralizou, e as pessoas a utilizavam no dia a dia. Isso prova que o meme também pode ser um jargão. Até mesmo um imprevisto pode se tornar meme, como aconteceu com a jornalista Sandra Annenberg, da Rede Globo: ela estava apresentando uma matéria ao vivo, no Jornal Hoje, e outra repórter foi empurrada por três homens. Na mesma hora, Sandra Annenberg disse a frase: “Que deselegante!”. A cena do imprevisto foi muito comentada, virou um meme e rapidamente viralizou na internet, e o jargão entrou, inclusive, para os Trending Topics (assuntos mais falados no momento no Twitter, e são um espelho do que está acontecendo no mundo ou na região) mundiais da rede social. Em se tratando de intencionalidade, o meme na publicidade geralmente objetiva persuadir o seu público-alvo e faz uso do humor para tal.

Essa linguagem de humor, como colocado por Figueiredo (2005), pode ser facilmente levada para o contexto educacional. Isto porque o humor cativa e chama atenção do aluno. O professor, quando utiliza a linguagem do humor em sua ação pedagógica, traz para perto de si, e do conteúdo, o aluno, que muitas vezes se distrai com outros assuntos do meio cibernético. O professor, especialmente no ensino remoto ou na modalidade de educação a distância, concorre diretamente com essas distrações, que são mais prazerosas aos olhos dos alunos. Sobre esse aspecto, Gómez (2015) ressalta que:

Nós, docentes, devemos nos dar conta de que nã o é aconselhá vel apenas fornecer informaç ã o aos alunos, temos que ensiná-los como utilizar de forma eficaz essa informaç ã o que rodeia e enche as suas vidas, como acessá -la e avaliá-la criticamente, analisá -la, organizá -la, recriá -la e compartilhá -la. As escolas devem se transformar em poderosos cená rios de aprendizagem, onde os alunos investigam, compartilham, aplicam e refletem (Gómez, 2015, p. 29).

Cabe, portanto, dizer que a construção da educação acontece por meio da realidade, por meio de desafios e informações sobre as coisas do mundo. Deste modo, citam-se quatro razões para que o professor utilize o meme em sua prática pedagógica:

1ª razão: indicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o uso de práticas pedagógicas mais envolventes, garantindo “[...] que as juventudes se reconheçam em suas pertenças culturais” (Brasil, 2018, p. 487), valorizando novos gêneros que surgem, como os memes. Assim, a BNCC sugere que este gênero seja trabalhado nas ações educativas. Em algumas áreas do conhecimento, ela faz essa sugestão do uso de textos multimodais, indicando os memes de forma explícita, e em outras, de forma subjetiva. Na área de linguagens, a BNCC cita as seguintes habilidades:

inferir e justificar, em textos multissemióticos -tirinhas, charges, memes, gifs etc. -, o efeito de humor, ironia e/ou crítica pelo uso ambíguo de palavras, expressões ou imagens ambíguas, de clichês, de recursos iconográficos, de pontuação etc. (Brasil, 2018, p. 141).

Esta é uma habilidade relacionada à leitura e escrita, muito associada à correta interpretação de qualquer texto. Apesar de estar relacionada com linguagens, esta habilidade não deve ser utilizada apenas na língua portuguesa, mas em qualquer disciplina ou conteúdo. Salienta-se que as áreas da BNCC são interdisciplinares. Ainda sobre memes, a BNCC também cita a habilidade de: “[...] entender a crítica ou o humor de um meme, partindo do conhecimento prévio o fato ou assunto criticado ou humorizado” (Consed; Undime GO, 2019, p. 327).

Para compreender o humor ou a ironia, o aluno deve partir do seu conhecimento prévio sobre o fato; por consequência, essa habilidade também está diretamente relacionada com a correta interpretação de um fato. Outra habilidade que a BNCC coloca é:

Analisar diferentes práticas (curtir, compartilhar, comentar, curar, etc.) e textos pertencentes a diferentes gêneros da cultura digital (meme, gif, comentário, charge digital, etc.) envolvidos no trato com a informação e opinião, de forma a possibilitar uma presença mais crítica e ética nas redes (Brasil, 2018, p. 177).

2ª razão: trabalho com os diferentes gêneros discursivos, pois esses viabilizam a exploração de diferentes usos da linguagem. São os inúmeros tipos de textos usados no cotidiano, desde receitas de bolo até as publicações em redes sociais. Cada gênero possui sua própria estrutura textual, seu próprio contexto, sua própria linguagem e função social. O meme é considerado um gênero discursivo textual e é uma forma de comunicação multimodal, isto é, que utiliza variadas formas semióticas para transmitir a mensagem, como imagem, textos, vídeos.

A partir deste gênero, o professor pode trabalhar seu conteúdo de diversas formas, inclusive fazendo com que os alunos compreendam questões ligadas aos memes, como, por exemplo, a real intencionalidade de quem produziu, quem é o sujeito que está sendo retratado naquele meme ou que está ligado àquele conteúdo.

3ª razão: descontração. Além de o meme ser um gênero de linguagem divertido por si só, configura-se como uma boa estratégia para prender a atenção do aluno, para que esse esteja em seu estado ativo de aprendizagem. Na maioria das vezes, as aulas possuem uma carga horária densa, um contexto tradicional maçante, e muito conteúdo é despejado sobre o aluno. Fazer uso de estratégias como o meme em sala de aula, pode tornar o processo de aprendizagem um momento mais leve, prazeroso e de descontração.

4ª razão: emoção e motivação. Grossi et al. (2020, p. 284) explicam que “neurobiologicamente, a motivação acontece a partir da comunicação entre áreas distintas do cérebro e a liberação de substâncias como o neurotransmissor dopamina”, o qual está envolvido com vários fenômenos, tais como: atenção, memória de trabalho, humor, aprendizado. E o que desperta a motivação é a emoção positiva, a qual gera curiosidade, seu interesse e, como consequência, ativa a atenção, provocando um controle executivo e um processamento das memórias de curto e de longo prazo. Isso tudo está ligado ao processo de aprendizagem (Fonseca, 2016; Lima, 2005).

De acordo com Seligman (2019), as emoções positivas, como a alegria, a esperança, o afeto e a gratidão, têm a função de nos fazer sentir bem. Conforme esse autor, essas emoções também aumentam nossos recursos intelectuais, físicos e sociais. Ficamos mais criativos, abertos a novas experiências, e conseguimos tomar melhores decisões. Por isso, o professor precisa emocionar positivamente seu aluno. Isso pode ser conseguido, por exemplo, por meio de: uso de palavras agradáveis, contação de histórias bonitas, uso de músicas, uso de atividades que envolvem o humor e a criatividade (como os memes - foco desta pesquisa). Dessa forma, o aluno será motivado.

Diante disso, Santos e Souza (2019) afirmam que os memes podem ser utilizados como instrumento de ensino inovador e percuciente. A partir disso, os memes podem ser usados no contexto escolar para:

Trabalhar os componentes curriculares das disciplinas: o professor deverá escolher qual conteúdo será trabalhado, independentemente da área do conhecimento ou do nível de ensino, dado que os memes podem ser utilizados em qualquer disciplina e é possível escolher ou criar os memes que serão utilizados em sala de aula.

Entretanto, deve-se considerar que, nos memes, estejam presentes seis elementos principais: humor, crítica, fixação de conteúdo, reflexão, despertar o interesse pela disciplina e contexto histórico. E, ao mesmo tempo, é importante frisar que o professor não pode utilizar memes que tenham discursos ofensivos e violentos, tais como: sexismo, racismo, bullying, intolerância religiosa e homofobia.

Também deve ser evitado o uso das fake news. Essa premissa é válida para os professores e para os alunos, tendo em vista que, ao utilizar o meme em sua ação pedagógica, o professor deve trabalhar estes pontos com os alunos, especialmente pelo elevado índice de bullying que acontece entre os jovens.

Ao elaborar um meme, o ponto-chave que se deve ter em mente é a intencionalidade. É refletir sobre a real intenção por trás da produção de determinado meme. Quem é a pessoa, como o meme foi feito, por que foi feito? Existem memes com boas intenções e memes com más intenções. É importante que o aluno saiba fazer essa diferenciação, compreendendo como determinado meme foi produzido, qual a intenção por trás do humor.

No Quadro 2, há exemplos da aplicação dos memes em algumas disciplinas.

Quadro 2 Exemplos de memes para uso na educação 

Memes Disciplinas Componente Curricular Fontes

Matemática Equações Meme Droid (2013)

Português Gramática Meme Droid (2013)

Biologia Microbiologia Meme Droid (2013)

Filosofia Filosofia Contemporânea Memes [...] (2015)

Física Dinâmica 14 Memes (2016)

Fonte: Elaborado pelas autoras (2022).

Fazer uma chamada ou um lembrete: os memes podem ser usados para fazer chamadas ou lembretes do que o professor precisa informar aos seus alunos, como fez a professora Márcia Gorett, uma das autoras deste artigo, durante suas aulas remotas ofertadas via internet, com as suas turmas do Mestrado em Educação Tecnológica do CEFET-MG (Figura 2). Os memes eram enviados para os alunos por meio do grupo de WhatsApp da turma. Vale informar que, para tal, a professora usou software gratuito gerador de memes, como o Gerador de memes online, suas fotos de arquivo pessoal e seus avatares.

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Figura 2 Memes usados para chamadinhas para as aulas síncronas 

A professora resolveu fazer essas chamadinhas (nome dado carinhosamente pelos seus alunos) porque as aulas síncronas, durante o ensino remoto, aconteciam de 15 em 15 dias, e alguns alunos estavam confundindo as datas dessas aulas. Dessa maneira, eles eram lembrados dos dias das aulas síncronas de uma forma divertida. Além disso, as chamadinhas começaram a provocar a curiosidade nos alunos, fazendo com que eles sempre criassem expectativas para saber como seriam as próximas. Com isso, a professora também conseguiu se aproximar mais afetivamente dos alunos, fortalecendo sua relação com eles, levando-os a chegarem mais animados para a aula. Sobre esse aspecto, Figueredo (2005, p. 65) enfatiza que “[...] fazer rir é uma grande maneira de conquistar antecipadamente a aprovação e a atenção do público-alvo. Faça rir, com isso, quebra as barreiras, derrube o muro de proteção que construímos ao nosso redor para nos proteger”.

Fazer encerramentos: é possível também usar os memes nos últimos dias de aula, para fazer a despedida da turma. Na Figura 3, tem-se dois exemplos de memes que a professora Márcia Gorett enviou para seus alunos: um deles, um dia antes do término da aula (usando o seu avatar), e o outro, no final da última aula (usando sua foto).

Fonte: Arquivo pessoal (2022).

Figura 3 Memes usados para despedida de uma turma 

Destarte, o uso dos memes torna a aula mais interessante para os alunos e melhora a relação desses com seus professores, pois os alunos gostam de professores criativos, animados, que tenham senso de humor e gostem de ensinar (Cunha, 1992).

Quando o professor não restringe o processo de ensino e aprendizagem apenas à dimensão cognitiva, ou seja, quando ele é capaz de reconhecer seu aluno em sua integralidade, como um ser afetivo, social e intelectual, que pensa e sente ao mesmo tempo, a afetividade torna-se parte integrante do processo de construção do conhecimento. Assim, a escola contribui para o desenvolvimento de ser humano criativo e inventivo, como preconiza Piaget (1970).

3 METODOLOGIA

Nesta pesquisa, realizada em 2022, optou-se por uma pesquisa de abordagem qualitativa. De acordo com o objetivo traçado, o tipo de pesquisa foi a descritiva. Quanto ao procedimento técnico, optou-se pela pesquisa bibliográfica.

Para fazer o levantamento bibliográfico, foram selecionados os seguintes autores/temas: Fonseca (2016), Grossi et al. (2020), Lima (2005) e Seligman (2019), que se dedicaram aos estudos sobre motivação e emoção; Cunha (1992), que se dedicou ao estudo da prática docente; Gómez (2015) e Moretto e Dametto (2018), que se dedicaram aos estudos sobre a educação na era digital; Dawkins (2007), Lopes (2017), Horta (2015), Mufson (2018), Oliveira (2019), Santos e Souza (2019) e Tabajara (2021), que se dedicaram aos estudos sobre os memes; Figueiredo (2005), que se dedicou aos estudos sobre linguagens; Grossi e Chamon (2020), que se dedicaram aos estudos da geração internet e as tecnologias digitais; e Grossi (2017), que se dedicou aos estudos sobre o lúdico na educação.

4 RESULTADOS E ANÁLISES

Este artigo apresenta quatro exemplos de possibilidades de atividades pedagógicas que utilizam memes em formatos de imagem, mostrando seu potencial educativo:

1º exemplo: o professor apresenta um meme para uma determinada prática pedagógica (Quadro 3). É preciso lembrar ao professor a necessidade de, antes de apresentar os memes dessas atividades, esclarecer, para seus alunos, que o objetivo dos memes utilizados não é apenas fazer rir, mas que eles têm a função de ensinar uma parte de um conteúdo de uma disciplina ou chamar atenção para algum fato acadêmico importante.

Quadro 3 Exemplos de atividades pedagógicas que utilizam memes em formatos de imagem 

Atividades Memes Descrição da atividade Elementos do meme utilizado
1ª) Fazer uma problematização referente ao tema de uma determinada disciplina

O professor apresenta o meme e pede para os alunos refletirem sobre esse meme em forma de debate. O professor pode dividir a turma em duas equipes: uma vai apresentar argumentos contra, e a outra, argumentos a favor.

*Elemento de humor.

*Crítica.

*Reflexão.

2ª) Para lembrar a turma de uma data específica

O professor usa o meme para lembrar divertidamente os alunos de uma atividade mportante.

*Humor.

*Despertar o interesse pela disciplina.

3ª) Ensinar determinado ponto do conteúdo

Fonte: Ifunny (2018).

Numa aula de química, o professor pode ensinar ligações covalentes utilizando este meme. O professor apresenta o meme e pede para os alunos comentarem sobre a informação que ele traz.

*Humor.

*Fixação do conteúdo.

*Despertar o interesse pela disciplina.

4ª) Utilizar em questões avaliativas ou exercícios de fixação

Fonte: Brainly (2020).

Em um exercício ou uma prova, o professor pode usar este meme com o enunciado e suas opções de respostas:

*Sobre a 2ª Lei de Newton: “A força resultante que atua sobre um corpo é proporcional ao produto da massa pela aceleração por ele adquirida”.

*Quando a força resultante que atua sobre um corpo é nula, pode-se afirmar que:

a)sua aceleração será constante e diferente de zero.

b)sua velocidade será constante.

c)seu movimento será uniformemente variado.

d) seu deslocamento será nulo.

e) sua velocidade será nula. Fonte:Brainly (2020)

*Humor.

*Fixação do conteúdo.

Fonte: Elaborada pelas autoras (2022).

Nas atividades apresentadas no Quadro 3, percebe-se que, em um meme, podem existir diversos elementos e, também, que um meme não precisa necessariamente ter, em sua composição, a presença dos seus elementos. Essas atividades poderão deixar as aulas mais animadas, o que favorece o processo de ensino e aprendizagem, pois, à luz dos conhecimentos de Santos e Souza (2019, p. 85), “[...] alunos são atraídos pelo que lhes são agradáveis e interessantes”.

Continuando as observações das atividades do Quadro 3, percebe-se que, no caso da 1ª atividade, que trabalha os elementos crítica e reflexão, o professor está indo ao encontro do que propõe a BNCC na sua 7ª competência (argumentação): que os alunos participem de práticas que o ajudem a desenvolver sua criticidade, ajudando-o a entender o humor e a crítica (Brasil, 2018).

Na 2ª atividade, o professor está chamando atenção dos alunos de uma forma divertida, para um evento, motivando-os a participarem; e, assim ele pode conseguir a participação de todos os alunos.

Já na 3ª atividade, ao trabalhar os elementos humor, fixação do conteúdo e despertar o interesse pela disciplina, o professor usa o meme para chamar atenção do seu aluno e “aumentar a sensibilidade perceptual para a descriminação do alvo” (Lima, 2005, p. 114), ou seja, conseguir a atenção dos alunos no conteúdo que ele quer passar, tentando diminuir os estímulos distratores que possam estar presentes na sala de aula.

Na 4ª atividade, quando um aluno recebe uma prova que tem presente o elemento humor, isso ativa seu estado mental positivo e, como resultado, ele ficará mais alegre e terá mais condições de resolver assertivamente a questão da prova, pois, “[...] quando se trata de tomar decisões importantes, pessoas felizes são mais hábeis do que as infelizes” (Seligman, 2019, p. 52).

Ao estimular as emoções positivas, por meio das atividades apresentadas no Quadro 3, o professor estará proporcionando no ambiente acadêmico uma sensação de bem-estar e fortalecendo os recursos intelectuais de seus alunos. Nesta direção Fonseca (2016, p. 368) enfatiza: para que “a aprendizagem ocorra, pela importância que tem a emoção na cognição”, “é necessário que se crie à volta das situações ou desafios (tarefas, propostas, atividades, etc.) de aprendizagem um clima de segurança, de cuidado e de conforto”.

2º exemplo: o professor apresenta um tema de sua disciplina, e os alunos têm de criar um meme usando, por exemplo, um software gratuito gerador de memes, como o Gerador de memes online (https://www.gerarmemes.com.br/). E os alunos precisam explicar quais são os elementos dos memes presentes nas suas criações, com base nas teorias de determinada disciplina. Essa atividade vai possibilitar uma participação ativa dos alunos, reforçando a ideia de Freire (1996, p. 47) de que “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

Além disso, ressaltar que, quando o professor solicita que os próprios alunos produzam o meme dentro de determinado conteúdo da disciplina, eles estão trabalhando, além da matéria, habilidades como criatividade, produção de mídias, capacidade de síntese, dentre outras. Desse jeito, os alunos alcançarão o maior grau de complexidade (o criar) da taxinomia de Bloom (taxonomia dos objetivos educacionais) no seu domínio cognitivo. Ao criar memes, os alunos estarão produzindo, investigando e gerando novas ideias.

3º exemplo: o uso de jogos. Aqui as autoras desse artigo apresentam o Jogo da memória - Os cinco lobos do cérebro humano, criado por elas (Figura 4). Este jogo é feito com cinco pares de cartas, sendo que, em cada par, uma das cartas refere-se ao nome de um lobo cerebral, em forma de meme, e em outra carta há o conceito correspondente. O professor pode imprimir (para as aulas presenciais) ou utilizar as cartas no computador (para aulas a distância via internet). Trata-se de um jogo na área de neurociências, que pode ser utilizado desde o ensino médio, nas aulas de Biologia, com a finalidade de memorizar as partes do cérebro e suas funcionalidades, quanto numa aula de Psicologia, por exemplo, no ensino superior. É possível que o professor adapte o material conforme sua necessidade de uso e objetivo pedagógico.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2022), adaptado de Manual online MSD. Figuras dos memes: Pixabay (2010).

Figura 4 Jogo da memória: os cinco lobos do cérebro humano, com memes 

Pode-se notar que, neste jogo, estão presentes cinco elementos dos memes: humor, crítica, fixação de conteúdo, reflexão e despertar o interesse pela disciplina. Dessa forma, o jogo se transforma em “[...] um recurso dinâmico que pode conduzir a uma prática pedagógica prazerosa” (Grossi, 2017, p. 1690-1693). Para a autora, “[...] a escola pode ser um ambiente prazeroso, onde o ato de ensinar e o de aprender seja cercado de zelo e de alegria, cujas metodologias de ensino sejam pautadas por estratégias lúdicas”.

Trazer estratégias lúdicas e jogos com elementos que fazem parte de seu cotidiano, fora do ambiente formal da escola, proporciona, aos jovens, experiências de aprendizagem reais e efetivas. Mattar (2013, p. 12) coloca que “a retenção do conhecimento é naturalmente baixa quando os alunos sentam para passivamente assistir às aulas sobre algo que não faz sentido para eles”. Para o autor, “o aprendizado necessita de motivação para um envolvimento intenso” (p. 12), o que pode ser conseguido pelas atividades apresentadas neste presente artigo, que são alguns exemplos de possibilidades de uso dos memes como recurso pedagógico, mostrando seu potencial educativo.

4º exemplo: Meme: só uma brincadeirinha? Nesta atividade, o professor apresenta três memes de teor positivo (com elementos de humor, reflexão ou crítica) e três memes com teor negativos (com imagem de pessoas desconhecidas, bullying e racismo). O professor mostra para a turma, um a um, de forma aleatória. Diante disso, faz algumas questões norteadoras:

  • Quem é a pessoa que está sendo representada na cena?

  • Em qual contexto está essa pessoa? Em filme, em uma sala de aula?

  • Quais são as atitudes que devemos ter ao receber um meme do qual não se sabe a origem e a intencionalidade?

  • Como e por que você acredita que este meme tenha viralizado?

  • Você já compartilhou algum meme que não sabia a origem da imagem ou a fonte da informação?

  • Para você, o que viraliza mais: uma notícia ou um meme?

  • Quais características você considera que um meme deva ter para viralizar?

Ao final, o professor pede aos alunos para produzirem um meme e disponibilizá-lo em algum ambiente colaborativo, como padlet ou google slides. Como produtores de conteúdo, incluindo os memes, os estudantes precisam refletir sobre quais imagens e frases eles podem utilizar na produção de memes. O professor pode levar à sala de aula algum caso concreto que já tenha ocorrido, a fim de debater e mostrar as consequências do mau uso desses materiais fora das redes. Fazendo este gancho, o professor pode explicar o potencial que um meme possui e pode ressaltar responsabilidade que o aluno deve ter ao criar, produzir e compartilhar um meme.

O objetivo dessa atividade é promover uma discussão sobre o uso indevido de imagens de uma pessoa, que pode ter sua reputação comprometida, na maioria das vezes de forma injusta e dolorosa. Também, sobre os riscos que envolvem espalhar desinformação. Um meme pode comprometer não apenas a imagem de uma pessoa como também de uma empresa, de uma marca ou de um grupo. Isso é uma maneira de desenvolver a criticidade nos alunos, para que eles não se tornem cidadãos passivos ou meros reprodutores. Logo, o professor deve “levar o aluno a reinventar aquilo de que é capaz, ao invés de se limitar a ouvir e repetir [...]” (Piaget, 1970, p. 17).

Todas estas discussões estão relacionadas com questões de cidadania, tudo que é vivido fora e também dentro das redes. Confirmando esta afirmativa, a BNCC estabelece o “[...] uso qualificado e ético” das Tecnologias Digitas da informação e Comunicação (TDIC) - “necessário para o mundo do trabalho, para estudar, para a vida cotidiana etc.” (Brasil, 2018, p. 69).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No final deste artigo, foi possível responder à pergunta que o originou: o meme pode ser utilizado no contexto educacional a fim de motivar os alunos da geração internet, os quais adoram novidades? A resposta é que sim. Os resultados revelaram que os memes, por trazerem temas relacionados a situações corriqueiras da vida das pessoas de uma forma divertida e por estarem fortemente presentes no mundo digital, têm despertando a curiosidade e o interesse, os quais têm um papel fundamental na aprendizagem dos alunos da geração internet.

A pesquisa mostrou quatro razões para que o professor utilize o meme em sua prática pedagógica: a 1ª razão se refere à indicação da BNCC, a qual sugere que este gênero seja trabalhado nas ações educativas, levando os alunos a desenvolverem as capacidades de crítica e criatividade. A 2ª razão diz respeito ao trabalho com os diferentes gêneros discursivos, pois viabilizam a exploração de diferentes usos da linguagem. A 3ª razão relaciona-se com a descontração, pois o meme é um gênero de linguagem divertido, o que configura uma boa estratégia para prender a atenção do aluno. Já a 4ª razão destaca a importância de o professor emocionar positivamente seus alunos, uma vez que essas “[...] emoções podem transformar experiências, situações e desafios difíceis e complexos, em algo de agradável e de interessante” (Fonseca, 2016, p. 369), o que acarreta na motivação.

A pesquisa também apresentou os principais elementos que devem estar presentes nos memes (humor, crítica, fixação de conteúdo, reflexão, despertar o interesse pela disciplina, contexto histórico), os quais devem ser considerados pelos professores ao usarem esse gênero nas suas ações pedagógicas.

Ressalta-se que, ao longo do artigo, foram citadas várias possibilidades de uso dos memes como recursos pedagógicos, e, no final, foram apresentados quatro exemplos concretos para serem utilizados em salas de aulas presenciais ou a distância, saindo da teoria e buscando auxiliar os professores na prática.

Enfim, esta pesquisa mostra que é preciso fazer da escola um lugar atraente e motivador para os alunos e que, para os alunos atuais (pertencentes à geração internet) que estão imersos no mundo digital e na linguagem tecnológica, os memes podem ser um caminho para isso, pois são recursos pedagógicos facilitadores da aprendizagem e, ao mesmo tempo, de ensino inovador.

REFERÊNCIAS

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Recebido: 16 de Março de 2023; Aceito: 10 de Outubro de 2023

Marcia Gorett Ribeiro Grossi: Doutora em Ciências da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Tecnologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Especialista em Neurociências pela Nova Faculdade. Graduada em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Graduada no Programa Especial de Formação de Docente pelo CEFET-MG. Professora titular do CEFET-MG, lotada no departamento de Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica. Líder do grupo de pesquisa AVACEFETMG. E-mail:marciagrossi@terra.com.br, Orcid: http://orcid.org/0000-0002-3550-6680

Débora Cristina Cordeiro Campos Leal: Mestre em Educação Tecnológica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Especialista em Design Instrucional para EaD virtual pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Pedagoga/designer instrucional na Escola de Contas e Capacitação Professor Pedro Aleixo, do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Membro do Grupo de Pesquisa AVACEFETMG. E-mail:deboracristinaleal@hotmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4969-9855

Shirley Doweslei Bernardes Borja: Mestre em Educação Tecnológica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Especialista em Psicopedagogia pela Universidade FUMEC. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graduada em Letras pela Faculdade Anhanguera. Tem experiência em organização e realização de palestras sobre educação tecnológica e estratégias de ensinos e aprendizagem. Membro do Grupo de Pesquisa AVACEFETMG. E-mail:shirley@bhsol.de, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9894-586X

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