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Revista Brasileira de Política e Administração da Educação

versión impresa ISSN 1678-166Xversión On-line ISSN 2447-4193

Revista Brasileira de Política e Administração da Educação vol.34 no.1 Goiânia ene./abr 2018

https://doi.org/10.21573/vol34n12018.75323 

Resenhas

Cooperação como elemento essencial para o alcance da sustentabilidade

MARIA LAÍS DOS SANTOS LEITE1 

SUELY SALGUEIRO CHACON2 

1 - Coordenadora de Integração e Articulação com a Comunidade da Pró-Reitoria de Extensão da UFCA . Brasil

2 - Professora e pesquisadora do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC). Brasil

Sennett, Richard. Juntos: os rituais, os prazeres e a política da cooperação. Rio de Janeiro: Record, 2012. 378p. Marques, Clóvis. ISBN: 9788501098085.


Em seu site 1 Richard Sennett reúne informações sobre sua biografia e currículo, bem como sobre suas obras e palestras. Sennett é graduado em sociologia (1964) pela University of Chicago e doutor pela Harvard University (1969). Foi professor e pesquisador da Yale University de 1967 a 1968.

Sennett estudou como sujeitos e grupos constroem sentido social e cultural para fatos relevantes – especialmente sobre as cidades em que vivem e o trabalho que fazem. Dentre outras obras já publicadas pelo autor, destacamos The Craftsman (2008), The Culture of the New Capitalism (2005) e The Corrosion of Character: The Personal Consequences of Work in the New Capitalism (1998). Essas obras foram traduzidas para o português com os seguintes títulos: O Artífice (2009), A Cultura do novo capitalismo (2006), A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo (2004).

Juntos foi publicado, inicialmente em língua inglesa, sob o título Together: The Rituals, Pleasures, and Politics of Cooperation, em 2012, e pode ser classificado como pertencente ao campo das ciências sociais, especificamente da sociologia. Sennett explica no prefácio do livro que a decisão de escrever o “ Projeto homo faber” , do qual faz parte o livro aqui resenhado, deu-se pela procura de falar sobre as habilidades de que precisamos na vida cotidiana , saindo da teorização e buscando “pensar melhor sobre as coisas comuns” (p. 9).

O Projeto Homo Faber, uma trilogia de livros que o autor pretende construir, será formada por O Artífice ( The Craftsman, 2008 ), “um estudo da artesania, o empenho de fazer bem as coisas materiais (p. 9)”; o segundo livro, que é objeto da presente resenha, versa sobre “[...] as habilidades de que precisamos na vida cotidiana” (p. 10). O terceiro, ainda não publicado, será “um livro sobre a construção de cidades” (p. 11).

Em Juntos, o autor escolhe como tema central a cooperação humana, trazendo exemplos de como esta se apresenta desde a infância até a idade adulta. O autor compreende que a cooperação é, na verdade, uma habilidade, expressa na capacidade de entender e de se mostrar receptivo para agir em conjunto. Mas ressalta que a cooperação é bem mais complexa e também pode trazer consequências danosas; afinal, nem sempre a cooperação se dá entre todos os integrantes de um grupo e, ainda, pode-se colaborar para objetivos nocivos como cometer crimes.

Sennett acredita que a sociedade moderna está desabilitando as pessoas da prática da cooperação, processo que ocorre desde a substituição de pessoas por máquinas no século XIX. Esse processo passa pela perda da capacidade das pessoas de lidarem com as suas diferenças mútuas. Passa também pelo isolamento causado pela lógica material geradora de desigualdade, pelo emprego temporário, pelos contatos sociais superficiais que geram medo e ansiedade em relação aos outros, pela violência demasiada. Tudo isso vem contribuindo para a destruição das habilidades de cooperação necessárias para vivermos numa sociedade complexa como a atual.

O autor afirma que a capacidade de cooperar está enraizada nas etapas iniciais da vida humana e não desaparece quando na vida adulta. Porém, ao invés de ser estimulada para que ocorra a cooperação dialógica, essa capacidade é, muitas vezes, desencorajada pela sociedade contemporânea, que procura neutralizar a diferença por meio de processos como a “homogeneização cultural” (p.20).

Sennett afirma que o trabalho moderno tende cada vez mais a ser de curto prazo - empregos temporários ou abertos pela substituição daqueles que permanecem muito tempo na mesma instituição. Dentro das organizações, as relações sociais também são de curto prazo, reforçando o “efeito de silo” (p.19), As pessoas ficam reservadas, buscando não se envolver em problemas que não as afetem diretamente.

Sobre a simpatia e a empatia, o autor explica que elas “são necessárias em momentos diferentes e de formas diferentes para a prática da cooperação” (p. 35). Tanto a simpatia quanto a empatia transmitem reconhecimento e ambas forjam um vínculo. A Simpatia leva à superação das divergências a partir de atos imaginativos de identificação ( Ibidem) ). E a Empatia enseja que se perceba a outra pessoa em seus próprios termos, é uma prática mais exigente, pelo menos na escuta, já que o ouvinte precisa sair de si mesmo ( Ibidem ). Diz ainda que, do “estado de espírito subjuntivo”, evidencia-se certo tipo de “prazer sociável: estar com os outros, dando-lhes atenção e aprendendo sobre eles, sem nos obrigar a ser como eles” (p. 37).

Sennett conclui tratando da comunicação por meio dos canais modernos, que transformaram de maneira irreversível o modo de difusão de informações, trazendo o conceito de cooperação online”. O autor tece reflexões sobre os efeitos políticos do uso de ferramentas da internet, como as redes sociais, para convidar pessoas para manifestações. Sobre esta questão ele cita o Jaron Lanier, técnico responsável pelos primeiros programas para simular a realidade em três dimensões na tela: “Quando meus amigos e eu construímos as primeiras máquinas de realidade virtual, a ideia era fazer esse mundo mais criativo, expressivo, empático e interessante [...] e não fugir a ele” (p.42)

Todas as reflexões trazidas pelo autor demostram a necessidade urgente de revermos o modo de nos relacionarmos. A organização social tem sido historicamente subjugada pela organização produtiva. A ciência e a própria prática política vêm-se moldando em função da legitimação do sistema produtivo e das relações de poder que a forjam e que dela emanam. Dessa realidade emana uma sociedade cada vez mais complexa, inclusive pelo uso cada vez mais intenso das novas tecnologias da informação. As consequências desse cenário são globais e vêm pondo em risco a vida na terra. A emergência do conceito de desenvolvimento sustentável traz essas preocupações em seu bojo. O alcance de um processo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável para a humanidade exige o cuidado harmônico com as diferentes dimensões desse processo, quais sejam: social, ambiental, econômica e política-institucional. É uma proposta tão complexa quanto os problemas que se propõe resolver. E esse processo precisa partir da vontade e da ação das pessoas, na medida em que a disposição de cooperar que trazemos intrínseca desde a infância, é essencial para o alcance da sustentabilidade. No entanto, as relações humanas têm-se distanciado dessa essência, levando as pessoas a competir e a se isolar cada vez mais.

Assim, o livro traz um alerta. A humanidade precisa rever suas prioridades e estimular a cooperação; não o isolamento e a competição. De outra forma, perderá sua própria essência e não alcançará um processo sustentável de desenvolvimento.

As discussões presentes no livro podem contribuir, ainda, para estudos de profissionais, pesquisadores e estudantes de políticas públicas, desenvolvimento sustentável, psicologia, desenvolvimento territorial, dentre outras áreas.

REFERÊNCIAS

Sennett, Richard. Juntos: os rituais, os prazeres e a política da cooperação. Rio de Janeiro: Record, 2012. 378 p. [ Links ]

1Site Richard Sennett. Disponível em: http://www.richardsennett.com . Consultado em: 08 jul. 2016.

Recebido: 01 de Julho de 2017; Aceito: 01 de Outubro de 2017

MARIA LAÍS DOS SANTOS LEITE é Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável – PRODER, da Universidade Federal do Cariri – UFCA (2014-2016); Coordenadora de Integração e Articulação com a Comunidade da Pró-Reitoria de Extensão da UFCA. E-mail: lais.leite@ufca.edu.br

SUELY SALGUEIRO CHACON é Doutora em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (2005). Professora e pesquisadora do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: suelychacon@gmail.com

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