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Revista Brasileira de Política e Administração da Educação

versión impresa ISSN 1678-166Xversión On-line ISSN 2447-4193

Revista Brasileira de Política e Administração da Educação vol.36 no.3 Goiânia set./dic 2020  Epub 20-Ene-2021

https://doi.org/10.21573/vol36n32020.104884 

DOSSIÊ “ÂMBITO ESCOLAR E SUAS COMPREENSÕES: POLÍTICAS PÚBLICAS E SEUS DESDOBRAMENTOS”

O perfil educacional dos estudantes da Educação a distância da Unipampa

The educational profile of unipampa distance education students

El perfil educativo de los estudiantes de educación a distancia de unipampa

1 Universidade Federal do Pampa

2 Universidade Federal do Pampa

3 Universidade Federal do Tocantins


Resumo

A efetivação da educação a distância (EaD) no Brasil não é um fato novo. A educação nesta modalidade vem se solidificando ao longo dos anos, tendo sido regulamentada por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, nº 9.394/96) e do decreto nº 5.622/2005. O ensino a distância, somado ao advento das tecnologias e ao interesse de oferta de cursos à distância por parte dos agentes governamentais, vem tomando novos rumos e ocupando cada vez mais um lugar de destaque no cenário da educação nacional. Logo, esta pesquisa teve por finalidade conhecer e analisar o perfil dos alunos da modalidade da EaD da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), bem como as suas habilidades enquanto seres autônomos nos processos de ensino e de aprendizagem. A metodologia usada para conhecer este perfil baseou-se na aplicação de questionário com perguntas estruturadas e semiestruturadas nos 21 polos comtemplados com cursos implantados à distância pela instituição. Foi realizada a análise dos dados coletados e fundamentados com revisão bibliográfica que tratam deste debate. A pesquisa constatou que grande parte dos estudantes ainda enfrenta problemas relacionados à sua autonomia, uma vez a instituição não disponibiliza suporte exclusivamente para esta modalidade. Tendo por base os resultados deste estudo, a expectativa é de que a universidade propicie condições para que o aluno tenha autonomia e seja um estudante crítico e habilidoso de suas práticas enquanto agente do saber.

Palavras-Chave: Educação a distância; Estudante universitário; Perfil

Abstract

The effectiveness of Distance Education (DE) in Brazil is not a new fact. Education in this modality has been solidifying over the years, and, through the Law of Guidelines and Bases of National Education (LDBEN), Law 9.394 / 96 and Decree No. 5.622 / 2005 was regulated. Distance learning added to the advent of technologies and the interest in offering distance learning courses on the part of government agents has taken new directions and is increasingly occupying a prominent place in the national education scenario. Therefore, this research aimed to know and analyze the profile of students in the distance education modality at the Federal University of Pampa (UNIPAMPA), as well as their skills as autonomous beings in the teaching and learning processes. The methodology used to get to know this profile was the application of a questionnaire with structured and semi-structured questions in the 21 centers contemplated with courses implemented at a distance by the institution. The analysis of the collected and substantiated data with a bibliographic review that deals with this debate was carried out. In the end, it was found that most students still face problems related to their autonomy, since there is no support in the institution focused exclusively on this modality. Based on the results of this study, it is expected that the University will provide conditions for the student to have autonomy and be a critical and skilled student of their practices as an agent of knowledge.

Key words: Distance Education; University student; Profile

Resumen

La efectividad de la educación a distancia (DE) en Brasil no es un hecho nuevo. La educación en esta modalidad se ha ido consolidando a lo largo de los años y, a través de la Ley de Directrices y Bases de la Educación Nacional (LDBEN), se reguló la Ley 9.394 / 96 y el Decreto No. 5.622 / 2005. El aprendizaje a distancia sumado al advenimiento de las tecnologías y el interés en ofrecer cursos de aprendizaje a distancia por parte de agentes gubernamentales, ha tomado nuevas direcciones y ocupa cada vez más un lugar destacado en el escenario educativo nacional. Por lo tanto, esta investigación tuvo como objetivo conocer y analizar el perfil de los estudiantes en la modalidad de educación a distancia en la Universidad Federal de Pampa (UNIPAMPA), así como sus habilidades como seres autónomos en los procesos de enseñanza y aprendizaje. La metodología utilizada para conocer ese perfil fue la aplicación de un cuestionario con preguntas estructuradas y semiestructuradas en los 21 centros contemplados con cursos implementados a distancia por la institución. Se realizó el análisis de los datos recopilados y corroborados con revisión bibliográfica que abordan ese debate. Al final, se descubrió que la mayoría de los estudiantes aún enfrentan problemas relacionados con su autonomía, ya que no hay apoyo en la institución enfocada exclusivamente en esta modalidad. Con base en los resultados de este estudio, se espera que la Universidad proporcione condiciones para que el estudiante tenga autonomía y sea un estudiante crítico y habilidoso de sus prácticas como agente de conocimiento.

Palabras-clave: educación a distancia; Estudiante Universitario; Perfil

INTRODUÇÃO

A educação a distância (EaD), por meio de sua história, qualifica-se cada vez mais voltada para a construção do saber, no qual o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) é um fator relevante, uma vez que é por meio destas que os estudantes encontram autonomia para os processos de ensino e de aprendizagem. O Ministério da Educação (MEC), por meio do decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, menciona que a EaD caracteriza-se como modalidade de ensino na qual o uso das TICs é o mediador do processo didático-pedagógico, e as interações entre estudantes e professores acontecem e desenvolvem competências educacionais independente do espaço ou do tempo ( BRASIL, 1996 ; LÉVY, 1996 , 2010 ).

Sendo assim, é por meio do avanço e contribuição dos meios midiáticos e tecnológicos que o novo mundo educacional vem sofrendo uma mudança paradigmática. Muitos valores e concepções de ensino e de aprendizagem são revisitados e um novo modo do ensinar e aprender vai se formando e mudando significativamente o perfil do estudante, em meio a uma sociedade totalmente informatizada e/ou digitalizada ( ABRÃO; DEL PINO, 2016 ). Corroborando com o pensamento desses autores, Behar e Silva (2012 , p. 1-2) mencionam que tais mudanças impactam a/na educação em vários aspectos e fatores:

[...] modificando os espaços escolares, os ambientes de aprendizagem e os recursos utilizados para o ensino, bem como o perfil do aluno. Para as autoras, assim como o aluno na sala de aula, precisa de competências que o façam atuar como um estudante, o aluno da EaD também necessita de competências para enfrentar suas dificuldades e descobrir as possibilidades tecnológicas.

Nesse sentido, acreditamos que vivemos em uma sociedade do conhecimento, muitas vezes, rápida, fluida e inconstante do ponto de vista de novos movimentos e conhecimentos ( MORIN, 2005 ). Logo, o novo cenário no qual a EaD está inserida é o maior fomentador da ruptura dos modelos convencionais de ensino e de aprendizagem, surgindo da expansão na oferta de cursos à distância, oferecidos por meio do sistema da Universidade Aberta do Brasil (UAB), em parceria com instituições federais de ensino superior e municípios conveniados (BRASIL, 2007; MORIN, 2004 ). Percebemos a evolução dessa modalidade por meio das matrículas constantes no “Censo da Educação Superior” de 2018 (BRASIL, 2019a).

Fonte: BRASIL, 2019a.

Gráfico 1 – Evolução das matrículas da Educação a Distância 

Em 10 anos, a EaD teve um aumento de 182,5%, quando em 2008 contava com 12,53% do total de matrículas nos cursos de graduação. No último censo, computa-se 24,3% do total dessas matrículas. Esses dados demonstram a consolidação dessa modalidade e que a sociedade está cada vez mais engajada e adepta em usufruir da oferta desta nova forma de ensinar e aprender (BRASIL, 2019a).

Com esta quebra de paradigma, surge um novo aluno. Esse estudante voltado ao mundo virtual em lugar das tradicionais classes/carteiras e salas de aulas físicas, com professores e quadro branco/verde e perfilados em uma sala de aula ( BELLONI, 2003 ).

Diferentemente da modalidade presencial, o aluno EaD passa a ser o sujeito da sua própria aprendizagem e o professor é o coadjuvante e mediador do saber, nesta cadeia ou rede que se constrói. Contudo, faz-se necessário que o aluno agregue competências para atingir o fim e o sucesso almejado. Para Litto e Formiga (2009 , p. 126), “o aluno deve ser capaz de construir o edifício de seu próprio conhecimento.” Para isso, precisamos entender que para o aluno EaD não existe um padrão educacional a ser considerado correto, e sim uma construção de saberes, embasados nas peculiaridades individuais, em seus objetivos e na sua forma de estabelecer o conhecimento.

Para uma educação que pretende se distanciar da tradicional, se faz necessário entender que não existe uma fórmula de aluno, e sim indivíduos que são complexos. Para isso, essa educação deve caminhar para diálogos com a interdisciplinaridade e com a transdisciplinaridade. ( MORIN, 1997 , p. 48).

Em vista disso, a metodologia a ser usada deve ter um caráter multidirecional, na qual o ensino e a aprendizagem sejam interligados pela consciência da proposta pedagógica e o aluno, pois esse é o objetivo-fim de todo e qualquer processo educacional ( BELLONI, 2009 ). “O novo aprendente aponta para algumas das mudanças profundas que estão acontecendo, seja no modo como as pessoas aprendem no que é preciso que aprendam ou na necessidade de aprender para toda a vida, de maneira cada vez mais autônoma.” ( LITTO; FORMIGA, 2009 , p. 126).

Esse conjunto de habilidades contribui e interfere para a interconexão no desenvolvimento dos saberes, no qual cada um exerce seu papel de forma que os objetivos do ensino e da aprendizagem sejam alcançados.

As características fundamentais do aluno, e consequentemente do futuro profissional moderno são, a inovação, criatividade, com maior mobilidade, exigindo um trabalhador multicompetente, multiqualificado, capaz de administrar atividades em equipe, de se adaptar a situações novas, sempre prontas a aprender. Resumindo, um estudante mais informado e autônomo, e capaz para gerir seus estudos e realização dos seus objetivos. ( BELLONI, 2003 , p. 36).

O aluno, por sua vez, para se adaptar a este novo contexto de educação deve apresentar algumas características descritas por Pallof e Pratt (2004 , p. 34), como: “a familiaridade e acesso ao computador, motivação e autodisciplina, mente aberta para compartilhar experiências pessoais, trabalhos e experiências educacionais, não deve se sentir prejudicado pela ausência de sinais auditivos ou visuais no processo de comunicação.” Além disso, os autores mencionam que é preciso ter responsabilidade e liberdade de construir/organizar o seu horário de estudos para resolver todas as questões propostas; dedicar quantidade significativa de seu tempo semanal a seus estudos ( PALLOF; PRATT, 2004 ). O processo de aprender está ligado diretamente à forma de como o ensino é realizado. Nesse sentido, cabe ao estudante a construção de paradigmas necessários para a codificação das responsabilidades e aquisição do conhecimento, fazendo destes um significado para a aprendizagem ( ABRÃO; DEL PINO, 2016 ).

A Educação a Distância na Federal do Pampa

Em 2017, com o pensamento de expandir, democratizar e levar o ensino superior a pessoas com dificuldade de acesso ao modo presencial e para colaborar com o desenvolvimento de várias regiões do estado do Rio Grande do Sul, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) firmou convênio com a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Atualmente, a instituição oferece quatro cursos de graduação (Administração/bacharelado e licenciatura em Letras-Português, Pedagogia e Geografia) distribuídos em 21 polos de apoio presencial em municípios espalhados por todo Rio Grande do Sul, conforme o Mapa 1 .

Fonte: https://sites.unipampa.edu.br/ead/polos-uab/

Mapa 1 Polos UAB em parceria com a Unipampa 

A universidade se faz presente nas mais diversas regiões do estado, vindo ao encontro de seus objetivos em 2007, conforme consta em seus documentos institucionais, de se firmar em todo o Rio Grande do Sul.

Para compreender significados iniciais desta política pública embrionária, a partir da visão dos estudantes, foi aplicado um questionário para conhecer o perfil do aluno EaD da Unipampa e sua autonomia enquanto agente do próprio saber. O universo dos discentes foi constituído pelos 1.371 alunos pertencentes aos cursos oferecidos nos polos, conforme demonstra o quadro a seguir. Por meio da plataforma Moodle foi enviado um questionário a todos os alunos matriculados, com o objetivo de conhecer o perfil dos estudantes EaD da Unipampa:

Quadro 1 – Distribuição dos polos e cursos 

Município/Cursos Administração Letras Geografia Pedagogia
Agudo   X X  
Arroio dos Ratos     X  
Cacequi     X X
Cachoeira do Sul     X  
Camargo   X X X
Cruz Alta X X    
Esteio X   X  
Faxinal do Soturno   X X  
Gramado   X X X
Hulha Negra X   X X
Itaqui   X X X
Panambi     X X
Quaraí   X X  
Restinga Seca     X  
Rosário do Sul X     X
São Francisco de Paula     X  
São Sepé     X X
Sapucaia do Sul     X  
Sobradinho     X  
Três de Maio     X  
Vila Flores     X  

Fonte: UNIPAMPA, dados de julho de 2019.

Neste contexto, descrevemos o perfil do aluno matriculado na modalidade EaD, considerando o gênero: o feminino se sobressai sobre o masculino, sendo 74,1% mulheres; como hipótese, podemos considerar que a maioria dos cursos ofertados é de licenciatura. O “Censo da Educação Superior” de 2018 vem corroborar com esse índice quando informa que 71,3% das matrículas em cursos de licenciatura são de pessoas do sexo feminino, enquanto 28,7% são do sexo masculino (BRASIL, 2018). A faixa etária predominantemente entre os alunos está entre 30 e 36 anos, perfazendo um total de 30,4%:

Fonte: Dados primários dos autores.

Gráfico 1 – Idade dos alunos 

Observamos, também, que 11,8% dos alunos têm mais de 50 anos, o que nos leva a acreditar que é uma parte da sociedade que não teve oportunidade de concluir seus estudos em período “regular”, ou que está em busca de qualificação para o mercado de trabalho. Outro fator que colabora com esses dados, é a possibilidade de professores que atuam na rede de ensino retornarem à universidade para se qualificarem em sua área de atuação – um dos objetivos principais do programa da UAB. Esses dados corroboram com que encontramos a seguir:

Também em 2010, nos cursos a distância metade dos alunos tem 32 anos [...] e os 25% mais velhos tem mais de 40 anos. Os alunos dos cursos a distância possuem em média 33 anos, este dados indicam que os cursos a distância atendem a um público com idade avançada. (BRASIL, 2010, p. 45).

Belloni (2009) corrobora afirmando que a EaD visa, prioritariamente, as populações adultas que não têm possibilidade de frequentar uma instituição de ensino convencional, presencial e que têm pouco tempo disponível para dedicar aos estudos. Em vista disso, a EaD veio preencher a lacuna educacional dessa parte da sociedade ( ABRÃO; DEL PINO, 2016 ).

O gráfico demonstra que os alunos com menos de 30 anos preenchem o percentual em torno de 26%, mostrando que os cursos na modalidade a distância não concorrem com os cursos presenciais que, em sua massiva quantidade de alunos, atende pessoas entre 25-30 anos. O acesso em zonas mais desprovidas de universidades ou da oferta da educação superior talvez seja a grande justificativa para que se tenha um público que oscila entre 18 e mais de 50 anos nas vagas ofertadas nos cursos.

A maioria dos alunos (60,7%), conforme aponta o Gráfico 2 , é de trabalhadores e empregados com carteira assinada ou funcionários públicos, demonstrando mais uma vez a necessidade da continuidade dos estudos ou a busca do conhecimento para aprimorar sua prática.

Fonte: Dados primários dos autores.

Gráfico 2 – Fonte de sustento 

Podemos observar que a maioria dos estudantes (83,1%), tem renda fixa, com condições financeiras para contribuir de alguma forma com a economia e/ou sustento familiar. Podemos considerar que a EaD veio como uma opção de qualificação, expectativa de melhores salários e, consequentemente, melhorias da qualidade de vida ( ALMEIDA, 2012 ). Acreditamos que ao término do curso, os 16,9% sem atividade remunerada consigam se inserir e/ou introduzir-se no mercado de trabalho conforme sua qualificação.

Em relação à conclusão do ensino médio, constatamos que 92,2% dos ingressantes são egressos da escola pública.

Fonte: Dados primários dos autores.

Gráfico 3 – Conclusão do ensino médio 

Tendo por base esses dados, podemos inferir que esta opção se dá pela oferta do ensino público e gratuito, oferecido pelas esferas governamentais nos municípios da federação. Entre os respondentes, 61,2% concluíram seus estudos de nível médio com nomenclaturas diferenciadas, conforme a época de conclusão. Esses dados nos levam a acreditar que o fator da oferta do ensino público e gratuito, juntamente com o baixo poder aquisitivo dos respondentes, a conclusão do ensino médio, foi a forma encontrada pelos participantes da pesquisa para a conclusão dos seus estudos. Apenas 16,2 % dos respondentes concluíram seus estudos na modalidade da educação de jovens e adultos (EJA). Este percentual nos leva a concluir que a maioria dos discentes teve oportunidade de realizar seus estudos em regime de ensino regular, isto é, frequentar os níveis de ensino dentro das faixas etárias estabelecidas pela legislação vigente da época. Também pesquisamos sobre o domínio de língua estrangeira moderna. Os dados apontam que os alunos da EaD da Unipampa, em sua maioria (65,2%), não têm conhecimento de uma língua estrangeira. Outro indicador se deu sobre o hábito da leitura, em que a maioria dos alunos podem ser considerados leitores assíduos:

Fonte: Dados primários dos autores.

Gráfico 04 – Hábito de leitura 

Dos respondentes, 64,9% dizem ter o hábito de leitura. Este é um percentual relevante na modalidade à distância, uma vez que a maior parte dos componentes curriculares é embasada em textos e suas interpretações, para o entendimento e aprendizagem. Sobre o conhecimento da informática percebemos o domínio desta pela maioria do universo estudado: mais de 80% dizem ter acesso e conhecimentos básicos de informática. Além disso, 99,2% dos alunos têm acesso à internet fora do polo de apoio presencial nos municípios em que são ofertados. Esse percentual nos remete a pensar que eles têm autonomia em realizar seus estudos no tempo que for mais conveniente. Para acesso, os participantes da pesquisa indicaram usar como ferramentas: computador, notebooks, tablets e até mesmo o telefone.

Fonte: Dados primários dos autores.

Gráfico 05 – Ferramenta de acesso a internet. 

Isso significa que os avanços dos recursos tecnológicos estão contribuindo para o acesso e disseminação do conhecimento por meio do uso das TICs. Entre os respondentes, 41,2% não realizaram nenhum curso a distância antes da graduação cursada. Assim, concluímos que mais da metade dos alunos não tem experiência na modalidade EaD. Tais dados nos levam a crer que mesmo com a grande oferta de cursos nessa modalidade, os discentes não tiveram, até então, oportunidade de qualificação. Entre os fatores para este impedimento, citam a falta interesse pelas áreas ofertadas, problemas econômicos, dificuldades de locomoção. A Unipampa através desses dados está sendo uma condutora do saber e oportunizando a qualificação desta parte da sociedade em várias regiões que sua oferta presencial não atendia.

Considerando as dificuldades tanto técnicas como humanas ( Gráfico 06 ), os alunos destacaram que para seu melhor desempenho necessitam de maior atenção dos professores (31,5%), seguida de orientações sobre: fluxos acadêmicos (19,5%); sistema Guri – sistema de dados relacionados à vida acadêmica e institucional (18,2%); plataforma Moodle (14,2%); e técnicas 16,6%.

Fonte: Dados primários dos autores.

Gráfico 06 Da necessidade de orientações 

As respostas a este questionamento retratam a necessidade da interação entre os recursos humanos da instituição (professores, tutores e coordenadores de curso) e os alunos. Em vista disso, sentimos a necessidade da busca de estratégias com o objetivo da quebra de paradigmas da modalidade à distância, como forma de contribuir e amenizar o distanciamento humano imposto pelo sistema educacional ora estudado. Em relação à plataforma Moodle, 58,3% dos alunos dizem ter conhecimento prévio. Tendo em vista esses percentuais informados, concluímos que um pouco mais da metade dos respondentes tem facilidade de realizar seus estudos nessa plataforma, pois já conheciam o ambiente de aprendizagem, o que facilita a compreensão e execução das suas atividades acadêmicas. Porém, 41,7% não tinham esse conhecimento no momento em que iniciaram o curso ora executado. É um percentual bastante expressivo, e cabe uma reflexão por parte da instituição para gerir a qualificação do aluno no momento de sua investidura nos cursos ofertados.

Em relação à escolha do curso, 73,5% ( Gráfico 07 ) dos alunos destacaram que, o curso veio a atender suas aptidões. Essa escolha também se deu de maneira significativa pela viabilidade de conciliação de horários, inserção no mercado de trabalho e a possibilidade de aumento salarial.

Fonte: Dados primários dos autores.

Gráfico 07 – Escolha do curso 

Os dados acima, mais uma vez, atestam a importância da presença da universidade nas cidades contempladas por polos UAB. Além da perspectiva de levar e produzir o conhecimento, a Unipampa está realizando um trabalho de inserção social, atendendo principalmente a demanda dos alunos e da região.

Entre as perguntas abertas, os discentes foram questionados sobre o relacionamento com os atores que fazem parte dos processos de ensino e aprendizagem; sua satisfação com o curso; e quais os aspectos negativos que consideram relevantes e que deveriam ser melhorados. A maioria destaca que não há problemas de relacionamentos, apenas fazem referência à demora das respostas às suas demandas.

Quanto ao grau de satisfação, a maioria dos alunos considera relevante a oferta dos cursos e tecem elogios. Relatam que o curso e a modalidade à distância são extremamente facilitadores, por atingirem uma camada social com condições financeiras precárias e cuja cidade ou região que residem não oportunizar ensino superior gratuito. Na visão dos discentes, a EaD possibilita trabalhar e estudar, gerir suas vidas, garantir uma formação de qualidade e, com isso, elevar o conhecimento, contribuindo para torna-lhes um ser humano crítico e atuante na sociedade ( ALMEIDA, 2012 ).

Sobre os aspectos negativos, os respondentes fazem referência à quantidade de conteúdo disponibilizada nos componentes curriculares e ao sistema operacional da universidade (Guri), ao qual afirmam ter dificuldades de acesso, citando a instabilidade na plataforma de aprendizagem (Moodle). Muitos dizem que as orientações se encontram fragmentadas no site da universidade e, portanto, há dificuldade de acesso às informações e interação com o curso, pró-reitorias e com a própria universidade.

Ainda relatam que os tutores também encontram dificuldade em auxiliá-los nessa interação com o Guri, tendo em vista não conhecerem do sistema. Os discentes alegam que esse problema acarreta prejuízos, tais como: perda de tempo e prazos na realização de suas atividades e/ou tarefas, pois pela falta de conhecimento dos tutores, eles necessitam recorrer a instâncias internas da universidade como forma de sanar seus problemas.

ALGUMAS CONSIDERAÇOES FINAIS

O perfil principal do aluno EaD, ligado ao sistema UAB da Unipampa é, em sua maioria, feminino, com idade oscilando entre 30 a 36 anos, com expressivo número de alunos em torno de 50 anos; 63% são casados ou possuem união estável e mais da metade tem filhos(as), consolidando um aluno de família pequena, mas já consolidada. Quase metade relata que não apresenta problemas de saúde.

Conseguimos perceber que 83% dos alunos possui renda fixa e mais da metade tem ganhos acima de cinco salários-mínimos, garantindo que o aluno busque a qualificação ou desejos pessoais, não inferindo como justificativa melhorias salariais para o ingresso na graduação à distância. Sobre as mulheres destas famílias gaúchas, podemos inferir que tenham interesses em continuar seus estudos, na busca de melhores condições de qualificação (ou formação em serviço) ou, ainda, para adentrarem em um curso superior, visando contribuírem com renda per capita da família, ou até mesmo uma forma de independência financeira ou social.

Concluímos que 92% dos alunos concluíram ensino médio em escola pública, de forma regular/normal (dos três anos regulares de estudo). Destes, marcamos que quase 60% dos alunos terminaram o ensino médio há mais de 12 anos, caracterizando mais uma vez que a educação na modalidade a distância não concorre com a modalidade presencial, pois se trata de um outro público e/ou perfil. Ainda conseguimos captar que 65% dos alunos demonstraram hábito de leitura – fator importante para o aluno EaD. Também registramos que 80% desses alunos têm conhecimento básico em informática e 17% possuem conhecimento avançado nas tecnologias, aproximando o aluno da escolha da modalidade. Quase que a totalidade tem acesso à internet, caracterizando uma familiaridade com as tecnologias. Eles relataram que usam diversas ferramentas e/ou mecanismos de estudos, tais como computadores de mesa, notebooks, tablets e telefones celulares.

Observamos que os alunos não têm autonomia quanto aos fluxos acadêmicos, expondo a necessidade de orientações objetivas que contribuam para o desenvolvimento de suas práticas acadêmicas. Analisando o site da Unipampa, constatamos que não há informações compiladas em um só documento, mas de forma fragmentada. Ao acessar a primeira página do site , reservada à EaD, está disponível o “Manual do Aluno”, apresentado como um tutorial. Porém, o documento apresenta apenas dicas e sugestões para iniciar os estudos, não fazendo referência alguma de como o aluno deve gerir suas atividades acadêmicas. Também há disponibilizado um manual na página do curso de Letras, um pouco mais ampliado do que o citado acima. Os demais cursos ainda estão em construção (BRASIL, 2018b).

Os alunos indicam como referência principal de dificuldade: os procedimentos técnicos, tais como acesso ao portal do aluno Guri, resgate de senha, rematrículas entre outras poucas funções. Essas orientações encontram-se na página da Diretoria de Tecnologia de Informação da universidade, porém o aluno do EaD não tem conhecimento da estrutura organizacional da Unipampa, trazendo insegurança e angústia aos discentes frente aos problemas para gerirem suas demandas acadêmicas.

Em vista disso, compreendemos que é função da universidade e dos atores envolvidos repensarem suas práticas, como forma de contribuir não somente para o progresso do ensino e da aprendizagem, mas também proporcionar ao aluno sua autonomia acadêmica.

Referências

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Recebido: 28 de Junho de 2020; Aceito: 14 de Outubro de 2020

MAURICIO AIRES VIEIRA

Doutor em Educação (PUC/RS, 2009). Mestre em Educação (FURG, 2002). Licenciado em Física (UFPEL, 1999). Especialista em Psicopedagogia Institucional pela Portal Faculdades. Atualmente é Assessor Especial do Núcleo Estruturante da Política de Inovação (NEPI) do Instituto Federal Goiano/SETEC/MEC. E-mail: airesvieria@unipampa.edu.br

MARILICE CORTES

Mestre em Políticas Públicas na Universidade Federal do Pampa - Campus São Borja. Possui Licenciatura Plena em Letras - Português/Inglês pela Universidade de Cruz Alta e Pós Graduação Latu Sensu em Informática Instrumental para Professores da Educação Básica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011). E-mail: marilicecortes@unipampa.edu.br

RUHENA KELBER ABRAO

Graduado em Educação Física (FURG). Mestre em Educação Física (UFPel) e Doutor em Educação em Ciências e Saúde (UFRGS). Pós Doutorando em Políticas Públicas (UMC), na linha em Práticas de Saúde e Desenvolvimento. Professor Adjunto II da Universidade Federal do Tocantins (UFT).Docente do curso de Educação Física e professor Permanente no Programa de Ensino em Ciências e Saúde (PPGECS). E-mail: kelberabrao@gmail.com

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