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Educação & Formação

versão On-line ISSN 2448-3583

Educ. Form. vol.6 no.2 Fortaleza maio/ago 2021  Epub 28-Ago-2021

https://doi.org/10.25053/redufor.v6i2.5512 

Apresentação

Educação do corpo e do gênero: histórias, discursos e práticas

Avelino Aldo de Lima Netoi 
http://orcid.org/0000-0003-4810-8742; lattes: 3231870235953025

Azemar dos Santos Soares Juniorii 
http://orcid.org/0000-0003-0015-415X; lattes: 5548182860228173

Lucélia de Moraes Braga Bassaloiii 
http://orcid.org/0000-0002-0412-6052; lattes: 6941089571024585

iIFRN, Natal, RN, Brasil. E-mail: ave.neto@hotmail.com

iiUFRN, Natal, RN, Brasil. E-mail: azemarsoares@hotmail.com

iiiUEPA, Belém, PA, Brasil. E-mail: lucelia.bassalo@uepa.br


1 Apresentação

Como a educação é atravessada pelos conceitos de corpo e gênero? Ou como a educação atravessa os corpos? A resposta a essas questões são amplas já que a educação é um processo social que se delineia a partir das relações que se estabelecem entre os indivíduos no decurso de suas vidas materiais. É ao longo de aprendizagens sociais sobre ser, sentir e fazer, enquanto sujeitos em um determinado contexto, que a educação se inscreve, constrói ou pode desconstruir, sentidos e significados do feminino, do masculino e seus atravessamentos. Revelar nas tramas dos conceitos de corpo e de gênero as linhas educativas dos modos de aprender a estar no mundo como corpo generificado move a iniciativa de reunir pesquisadores de áreas, recortes teóricos e metodológicos distintos para refletir em oito artigos sobre a educação do corpo, a educação do gênero nesse dossiê, intitulado Educação do corpo e do gênero: histórias, discursos e práticas.

Partimos do pressuposto segundo o qual a dispersão do corpo no interior das Ciências Humanas e Sociais (ANDRIEU, 1993) permite uma miríade de abordagens teórico-metodológicas que tentam, sem cessar, dar conta da polissemia da existência incorporada. O presente dossiê traz à tona essa experiência multifacetada, pensando-a a partir dos processos sociohistóricos por meio dos quais o sujeito opera sobre si, enquanto corpo, variadas técnicas com vistas a se inserir numa dada cultura (MAUSS, 2003). A esse fenômeno chamamos de educação, seja ela formal ou informal, escolar ou não-escolar.

Inscrita no corpo, a educação altera e produz sensibilidades (CORBIN, 1987), adestra gestos e posturas, organiza espaços e tempos (VIGARELLO, 2018), bem como racionaliza e instrumentaliza o corpo (GLEYSE, 2018). Ela pode também proporcionar ao indivíduo organizar o conhecimento do mundo a partir do sentir mesmo, isto é, de uma estesiologia (NÓBREGA, 2018). A educação, nesse sentido, está profundamente imbricada com a fabricação social do corpo na estesia da vida cotidiana (LE BRETON, 2016), a qual, evidentemente, não está desvinculada das operações de generificação da corporeidade. Ser homem ou mulher implica ocupar uma posição na ordem do discurso, na referência ao sexo enquanto norma/prática regulatória produtora dos corpos por ela controlada (BUTLER, 2019). A construção das identidades reflete diretamente no e sobre o corpo (FOUCAULT, 2009). São formas de poder responsáveis por atribuir sentido aquilo que historicamente foi legado à condição de estranhamento. O corpo torna-se aquilo que a identidade sonha, deseja, se constrói.

À maneira foucaultiana, diagnosticamos a emergência dessas experiências - compreendidas enquanto “alguma coisa da qual saímos transformados” (FOUCAULT, 2001, p. 860) - de ser corpo generificado, por meio da conjunção de histórias, discursos e práticas. Os artigos que compõem o presente dossiê testemunham esse entrelaçamento, numa escansão histórica cujo arquivo abarca experiências vividas de fins do século XIX aos nossos dias, imagens de um “corpo educado” (LOURO, 2010), abordado a partir de diferentes olhares disciplinares.

Pomos em tela, assim, os seguintes temas: a generificação das punições escolares em instituições francesas; as pedagogias feministas em grupos de humanização do parto em Belém/PA; uma abordagem filosófica sobre educação sexual; discursos sobre a assim chamada “ideologia de gênero” em municípios paraibanos; processos de subjetivação de homens docentes; compreensões sobre o corpo na formação docente; a maternidade no Ceará oitocentista; igualdade entre os gêneros na educação francesa; práticas de masturbação e as pedagogias em torno do prazer em uma instituição socioeducativa de Salvador/BA. Também tivemos a satisfação de incluir no dossiê a tradução de um texto inédito de Judith Butler no Brasil. Nessa ocasião, a filósofa estadunidense estuda a análise de Luce Irigaray sobre certos aspectos da fenomenologia de Merleau-Ponty. Portanto, de modo arbitrariamente heterogêneo, entra em cena o próprio corpo em seus jogos políticos, no “circuito dos afetos” (SAFATLE, 2016) sem o qual organizar-se socialmente seria impossível, dada a economia libidinal do vínculo societal das democracias contemporâneas.

Por fim, ressaltamos que o presente dossiê é manifestação de intensas parcerias internacionais entre pesquisadores(as) e grupos de pesquisa de Instituições de Ensino Superior brasileiras e francesas ao longo dos últimos anos, fruto de acordo de cooperação celebrado entre o IFRN, a UFRN e a Universidade de Montpellier. Mais recentemente, integra-se a essa iniciativa a Universidade do Estado do Pará, através do PROCAD-Amazônia do qual os Programas de Pós-Graduação em Educação da UFRN e da UEPA fazem parte. Espera-se contribuir, com a presente iniciativa, na difusão dos investimentos em torno das múltiplas maneiras de dizer, ver e sentir o corpo.

2 Referências

ANDRIEU, Bernard. Le corps dispersé : histoire du corps au XXe siècle. Paris : L’Harmattan, 1993. [ Links ]

BUTLER, Judith. Corpos que importam: os limites discursivos do sexo. Tradução de Verônica Daminelli e Daniel Yago Françoli. S]o Paulo: N-1 edições, Crocodilo, 2019. [ Links ]

CORBIN, Alain. Saberes e Odores: o olfato e o imaginário social nos séculos XVIII e XIX. Tradução de Lígia Watanabe. São Paulo: Cia. das Letras, 1987. [ Links ]

FOUCAULT, Michel. Entretien avec Michel Foucault. In : FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits II: 1976-1988. Paris: Gallimard, 2001. [ Links ]

GLEYSE, Jacques. A instrumentalização do corpo: uma arqueologia da racionalização instrumental do corpo, da Idade Clássica à Época Hipermoderna. Tradução de Avelino Aldo de Lima Neto, Cláudia Emília Aguiar Moraes e Fábio Luís Santos Teixeira. São Paulo: LiberArs, 2018. [ Links ]

LE BRETON, David. Antropologia do Corpo. Tradução de Fábio dos Santos Creder Lopes. Petrópolis: Vozes, 2016. [ Links ]

LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. [ Links ]

MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Cosac Naif, 2003. [ Links ]

NÓBREGA, Terezinha Petrucia. Uma estesiologia do corpo... In: NÓBREGA, Terezinha Petrucia (org.). Estesia: corpo, fenomenologia e movimento. São Paulo: LiberArs, 2018. [ Links ]

SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. [ Links ]

VIGARELLO, Georges. Le Corps redressé : Histoire d’un pouvoir pédagogique. Paris : Félin, 2018. [ Links ]

i

Avelino Aldo de Lima Neto, ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4810-8742

IFRN, Programas de Pós-Graduação em Educação Profissional (PPGEP/IFRN) e em Educação (PPGEd/UFRN), Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Paul Valéry - Montpellier III e pela UFRN

Contribuição de autoria: escrita coletiva do texto.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3231870235953025

E-mail: ave.neto@hotmail.com

ii

Azemar dos Santos Soares Junior, ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0015-415X

UFRN, Programas de Pós-Graduação em Educação (PPGEd/UFRN) e em História (PPGH/UFCG)

Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), Doutor em Educação pela Universidade Federal da Paraíba

Contribuição de autoria: escrita coletiva do texto.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/5548182860228173

E-mail: azemarsoares@hotmail.com

iii

Lucélia de Moraes Braga Bassalo, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0412-6052

Universidade do Estado do Pará (UEPA), Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/UEPA), Doutora em Educação pela Universidade de Brasília

Contribuição de autoria: escrita coletiva do texto.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/6941089571024585.

E-mail: lucelia.bassalo@uepa.br

Editora responsável:

Lia Machado Fiuza Fialho

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