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Linguagens, Educação e Sociedade (LES)

versão impressa ISSN 1518-0743versão On-line ISSN 2526-8449

Revista LES vol.28 no.56 Teresina  2024  Epub 21-Mar-2025

https://doi.org/10.26694/rles.v28i56.4345 

Artigo

VIOLÊNCIA ESCOLAR E PRÁTICA PEDAGÓGICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

SCHOOL VIOLENCE AND PEDAGOGICAL PRACTICE: AN INTEGRATIVE REVIEW

VIOLENCIA ESCOLAR Y PRÁCTICA PEDAGÓGICA: UNA REVISIÓN INTEGRADORA

Enizete Andrade Ferreira Estumano1 

Mestra em Educação, Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora, Secretaria de Educação (SEDUC), Belém, Pará, Brasil.


http://orcid.org/0000-0002-5665-1254

Maély Ferreira Holanda Ramos1 

Doutora em Teoria e Pesquisa do Comportamento - Psicologia, Universidade Federal do Pará (UFPA); Professora, Universidade Federal do Pará (UFPA).


http://orcid.org/0000-0001-6150-6345

Emmanuelle Pantoja Silva1 

Doutora em Educação, Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Pará, Brasil.


http://orcid.org/0000-0003-0134-4350

1Universidade Federal do Pará


RESUMO

A violência é um fenômeno visível socialmente, e a escola é uma instituição onde se desenvolve de diferentes formas, denotando a sua relevância no ambiente educacional. Neste contexto, objetiva-se descrever os estudos publicados, entre os anos de 2013 a 2022, acerca da violência escolar, tendo como parâmetro a prática pedagógica dos professores na Educação Básica. O estudo é de natureza quanti-qualitativa de cunho exploratório e descritivo, desenvolvido a partir de estatísticas básicas, análise de similitude e de conteúdo. A partir do corpus textual em análise, emergiram três categorias: i) violência, que apresentou conexão com os termos escola, prática docente e pesquisa; ii) professor, que interagiu com aluno, estudo e ensino; e, iii) escolar, que se interligou com contexto social. Os resultados indicam que a violência escolar tem forte impacto sobre o comportamento dos docentes e discentes, o que resulta em adoecimento e desmotivação pela profissão entre os professores e provoca evasão escolar, medo e danos psicológicos nos alunos. Conclui-se que a violência escolar é uma variável que precisa ser mais estudada e discutida pelos profissionais da educação e pela sociedade, a fim de construir soluções que, por um lado, combatam atitudes danosas ao ambiente escolar e, por outro, evitem danos físicos e psicológicos, particularmente, aos principais sujeitos do processo ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: violência; escola; prática pedagógica; docente

ABSTRACT

Violence is a socially visible phenomenon, and the school is an institution where it develops in different ways, denoting its relevance in the educational environment. In this context, the aim is to describe the studies published between 2013 and 2022 on school violence, using the pedagogical practice of teachers in basic education as a parameter. This is a quantitative-qualitative study of an exploratory and descriptive nature, based on basic statistics, similarity analysis and content analysis. Three categories emerged from the textual corpus under analysis: i) violence, which was linked to the terms school, teaching practice and research; ii) teacher, which interacted with student, study and teaching; and iii) school, which was linked to the social context. The results indicate that school violence has a strong impact on the behavior of teachers and students, which results in teachers becoming ill and demotivated by the profession, and causes school dropout, fear and psychological damage to students. The conclusion is that school violence is a variable that needs to be studied and discussed more by education professionals and society, in order to build solutions that, on the one hand, combat harmful attitudes in the school environment and, on the other, prevent physical and psychological damage, particularly to the main subjects of the teaching-learning process.

Keywords: violence; school; pedagogical practice; teacher

RESUMEN

La violencia es un fenómeno socialmente visible, y la escuela es una institución donde se desarrolla de diferentes maneras, denotando su relevancia en el ámbito educativo. En este contexto, se pretende describir los estudios publicados entre 2013 y 2022 sobre violencia escolar, tomando como parámetro la práctica pedagógica de los docentes de educación básica. Se trata de un estudio cuantitativo-cualitativo de carácter exploratorio y descriptivo, basado en estadística básica, análisis de similitud y análisis de contenido. Del corpus textual analizado surgieron tres categorías: i) violencia, vinculada a los términos escuela, práctica pedagógica e investigación; ii) profesor, que interactuó con alumno, estudio y enseñanza; y iii) escuela, vinculada al contexto social. Los resultados indican que la violencia escolar tiene un fuerte impacto en el comportamiento de profesores y alumnos, lo que provoca que los profesores enfermen y se desmotiven por la profesión, y causa abandono escolar, miedo y daños psicológicos a los alumnos. La conclusión es que la violencia escolar es una variable que necesita ser más estudiada y discutida por los profesionales de la educación y por la sociedad para construir soluciones que, por un lado, combatan actitudes nocivas en el ambiente escolar y, por otro, prevengan daños físicos y psicológicos, en especial a los principales sujetos del proceso de enseñanza-aprendizaje.

Palabras clave: violencia; escuela; práctica pedagógica; profesor

INTRODUÇÃO

O universo educacional é complexo e dinâmico posto que compõe o quadro social mais amplo e acompanha as transformações no mundo. Por isso, a cada época estudos voltados aos sistemas educativos ganham novos elementos que precisam ser compreendidos, especialmente por considerar que o comportamento humano, ao passo que recebe influência do meio, também o influencia (Bandura, 2008). Em se tratando de educação, cujo fenômeno é orientado pela ação social, as mudanças são frenéticas no atual momento histórico do mundo globalizado (Maués; Bastos, 2016). Desse modo, a cada época, surgem novos elementos, tais como o advento da tecnologia, intensificado nos últimos anos, como suporte pedagógico (Mattia, 2018) e precisam ser analisados.

Desde a década de mil novecentos e noventa, professores perceberam maior agressividade e violência nos comportamentos dos alunos (Silva Neto; Barreto, 2018), os quais nem sempre são seguidos de culpa ou arrependimento. Desse modo, desenvolver um estudo sobre violência escolar e prática pedagógica dos professores é importante para a compreensão sobre as nuances do processo educativo tendo em vista a repercussão educacional e social, imediata e mediata, da ação docente na formação de pessoas e, reciprocamente, da ação discente, na atuação dos professores (Bandura, 2008). Entende-se a partir dessas considerações que quem forma se forma na relação de troca de conhecimentos (Freire, 1996).

A escola é um espaço que proporciona a interação entre pessoas diferentes e com diferentes visões de mundo. Essa interação pode construir dinâmicas e também reproduzir as já existentes, por isso, ações preconceituosas e discriminatórias podem ser repetidas na escola (Abramovay, 2012) e gerar violência. Outro fator que pode ser desencadeado nas interações, entre os alunos, são as constantes conversas e falta de atenção aos trabalhos desenvolvidos em sala, que também podem causar, até mesmo, violência física. Desse modo, os professores devem adotar uma postura de “autoridade liberal”, aquela que impede que o professor seja “repressivo, como um professor autoritário, mas também não deixa ele ser conivente com a indisciplina do aluno, como um professor licencioso” (Ruckstadter; Ruckstadter; Souza, 2021, p. 09) e, desse modo, fazer-se respeitar pelos alunos (Silva Neto; Barreto, 2018) para que o processo educativo seja desenvolvido com qualidade.

É importante considerar que a violência se apresenta de diferentes formas a depender do contexto, da situação e dos atores envolvidos, por isso faz-se necessário entender sobre seu conceito de modo geral, para então, adentrar em situações particulares que ganham forma a depender de como e do local onde se desenvolvem (Unesco, 2003). Com isso considera-se a violência escolar uma dessas particularidades que precisam ser apresentadas.

A VIOLÊNCIA ESCOLAR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

A violência é um fenômeno que acompanha o desenvolvimento da humanidade e a cada época apresenta novos desafios que precisam ser enfrentados devido a sua ação devastadora (Priotto; Boneti, 2009). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência se dá quando se impõe o poder ou força física contra alguém, contra si mesmo ou contra um grupo, e que, essa ação provoque danos físicos ou psicológicos (WHO, 2002). A conceituação da OMS abrange os atos violentos físicos tanto quanto os psicológicos que afetam as pessoas, por isso, a noção deve ser entendida como “violências” (no plural) (Unesco, 2003). Diante da diversidade de noções sobre o assunto, somam-se outras especificidades como a que se qualifica de violência escolar. “A violência na escola é aquela que se produz dentro do espaço escolar, sem estar ligada à natureza e às atividades da instituição escolar” (Charlot, 2002, p.434).

A violência escolar aparece no cenário nacional e internacional como um desafio a ser combatido, o que a torna tema recorrente nas mídias sociais e conversas cotidianas. É uma situação conflitante e nada simples, pois, há uma variedade de ações que podem desencadeá-la no espaço escolar. Em decorrência dessas dimensões, alguns conceitos foram desenvolvidos a partir do tipo de abuso promovido ao paciente (Unesco, 2003).

No Brasil, a violência tornou-se uma situação social grave por influenciar o desenvolvimento do trabalho nas escolas, pois eleva o nível de estresse dos docentes, implicando em sua prática (Santana; Almeida, 2021). Vale ressaltar que o aumento da violência escolar não se restringe ao Brasil, pois se trata de um fenômeno mundial. O debate sobre violência nas escolas tornou-se um tema público posto que é um entre tantos elementos que viabilizam um contexto de insegurança e desconfiança, aumentando a preocupação social sobre a temática (Fernandes; Prado, 2019).

A violência escolar vai tomando novas nuances a depender da época e do contexto. Charlot (2002) apresenta alguns episódios que apontam a novidade para essa problemática. O primeiro, diz respeito ao surgimento de violências mais graves como homicídio, estupro e agressões com armas; o segundo, aponta para a idade dos envolvidos que são cada vez mais jovens, com idade entre 8 e 13 anos; o terceiro chama de “intrusões externas”, que são fatos que ocorrem entre os jovens no bairro, e eles usam a escola pra acertar as contas (Charlot, 2002, p. 433); o quarto diz respeito à situações que ocorrem no cotidiano de professores e demais funcionários da escola e responsáveis de alunos, que apesar de não parecerem atos violentos, o acúmulo dessas situações pode produzir um estado de sobressalto e de ameaça permanente (Charlot, 2002).

Para o autor a violência precisa ser vista a partir de três ângulos: violência na escola, à escola e da escola. Segundo ele a violência na escola é quando atos violentos ocorrem nesse espaço, que podem estar relacionados aos profissionais que ali atuam e/ou com os estudantes; a violência à escola acontece quando o espaço escolar, incluindo servidores que ali trabalham, são as vítimas; e por fim, violência da escola quando o quadro de servidores violenta a integridade dos seus alunos com várias atitudes inadequadas dentre estas as ofensas. Essas formas de violência podem influenciar o objetivo principal das instituições (Charlot, 2002).

É imprescindível conhecer para compreender o comportamento humano em situações de violência, para tanto é válido fazer referência às diferenças entre agressão, agressividade e violência. Em seu estudo, Rodrigues (2019) distingue esses termos, definindo a agressão como um ato cruel e a violência é efetivada por atos agressivos que podem ser físicos, psicológicos ou de ameaça com a intenção de provocar sofrimento ou dominação. Já a agressividade é pessoal, ou seja, está relacionado a elementos biopsíquicos (Rodrigues, 2019). Entender as causas de determinado comportamento pode ser o começo para identificar essas diferenças e a partir disso, buscar alternativas para combater a violência, especialmente nas escolas, local onde esses atos têm se tornado cada vez mais comuns. De modo resumido, a violência escolar para Priotto e Bonetti (2009) é qualquer ato ou ação de violência praticados entre a comunidade escolar (professores, alunos, funcionários, familiares e outros autores sociais) no ambiente escolar.

Atos violentos têm sido evidenciados tanto em escolas públicas quanto em escolas privadas, o que têm influenciado negativamente o estado emocional de grande parte dos docentes e, preocupado a sociedade de um modo geral (Yamane, 2020). As atitudes de muitos alunos têm sido apontadas como consequência por exposição direta a episódios violentos pelos meios midiáticos, resultantes “de violências estruturais e culturais, as quais influenciam diretamente o ambiente escolar [e] estão se tornando cada vez mais uma grande preocupação para a escola” (Patrinhani; Américo, 2020, p. 1992). São eventos que podem afetar os docentes e discentes e, consequentemente, o processo de ensino-aprendizagem. Esse assunto remete ao principal mediador do conhecimento (professor) que pode ter sua prática prejudicada diante de situações que causam desconforto, pois o estado emocional é resultado de “situações que vivencia em seu cotidiano laboral” (Ferreira, 2020, p.338) e as consequências podem ser desastrosas para saúde (adoecimento) e profissão (abandono) (Penteado; Souza Neto, 2019; Couto; Ramos; Garcia, 2019).

Vale ressaltar que neste estudo se considera a prática pedagógica como “uma ação consciente e participativa, que emerge da multidimensionalidade que cerca o ato educativo” (Franco, 2016, p.536). É ação à qual subjaz intencionalidade, orientada pelo conhecimento pedagógico construído pelo professor, em seu processo formativo, implicando o saber conceitual e suas relações com as suas experiências de vida. A educação impacta a vida das pessoas de modo amplo e imprevisível e, na busca de sua organização, a pedagogia filtra as informações para compreender e transformar as práticas educativas, a fim de subsidiar e direcionar os seus rumos a determinado ideal de formação humana (Franco, 2016). Neste sentido, a prática pedagógica depende, em parte, do processo formativo dos docentes e da percepção deles sobre o mundo, isto é, de suas crenças pessoais (Morais; Nascimento; Magalhães, 2016).

Algumas pesquisas têm sido desenvolvidas ao longo dos anos verificando a importância dos estudos acerca da violência no contexto escolar. Pereira e Zuin (2019) estudaram o contexto da educação básica com o objetivo de analisar as ligações entre desautorização e violência escolar contra professores para identificar seus possíveis efeitos no trabalho docente; Lira e Medeiros (2015) estudaram uma escola em Brasília para saber qual a relação das situações de conflitos, violências e indisciplina do dia a dia com o adoecimento e desestímulo docente; Mello e Campos (2018) pesquisaram dois professores de Educação Física de uma escola de Ensino Fundamental com o objetivo identificar situações de violência nas aulas de Educação Física, bem como os possíveis motivos para tais ocorrências, e discutir aspectos da prática pedagógica do professor que se relacionam com o surgimento dessas situações. Esses, são alguns exemplos, dentre tantos que buscam respostas sobre a violência e suas consequências no contexto educativo.

Diante do exposto, este artigo tem como objetivo investigar o panorama das pesquisas publicadas entre os anos de 2013 a 2022, acerca da violência escolar tendo, como parâmetro a prática pedagógica dos professores no contexto escolar na Educação Básica.

MÉTODO

Para esta pesquisa optou-se por um estudo de Revisão de Literatura, a fim de obter dados acerca do tema no cenário nacional e internacional. No que diz respeito ao objetivou, tratou-se de modo exploratório e descritivo. Exploratório, pois objetiva familiarizar-se com o problema, deixá-lo mais explícito, além de aperfeiçoar ideias. E, descritivo por promover a caracterização do objeto estudado ou estabelece a ligação entre as variáveis, descrevendo suas especificidades (Gil, 2022). Quanto à abordagem do problema se caracteriza por ser quanti-qualitativa, ou seja mista, por utilizar técnicas quantitativas para dimensionar e mensurar os resultados da pesquisas qualitativas ao interpretar de modo subjetivo os dados coletados (Gil, 2022).

Quantos aos procedimentos técnicos trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura. Este tipo de estudo permite que seja realizada uma síntese sobre determinado assunto, o que pode reduzir dúvidas sobre o processo de pesquisa e consente o uso dos resultados para afirmações generalizadas sobre o que foi estudado, no entanto, possui determinado rigor metodológico, por meio de suas etapas, com o intuito de diminuir vieses (Silva et al., 2020). A revisão integrativa envolve determinados procedimentos em seu percurso, quais sejam: “(1) Identificação do problema; (2) Seleção dos artigos; (3) Categorização dos estudos; (4) Interpretação dos resultados e (5) Síntese do conhecimento” (Carlos et al., 2017, p. 134).

LEVANTAMENTO E REFINAMENTO DA LITERATURA

Tratar sobre violência requer atenção devido a amplitude desse conteúdo, por isso restringiu-se o estudo à violência escolar relacionando-a à prática pedagógica do professor na Educação Básica. Ao definir a temática, formulou-se a seguinte problemática: “Como se constitui a produção científica sobre “violência escolar e a prática pedagógica no contexto escolar da educação básica?”. Com vistas à coleta do material optou-se por utilizar as bases de dados: Scielo, Redalyc, Capes Periódicos, Mendeley e a ferramenta Connected Papers. Estas plataformas são espaços online que têm um número bastante expressivo de estudos nacionais e internacionais.

Dentre as bases selecionadas a ferramenta Connected Papers é a única que não permite o uso de filtros automáticos. Com isso, as buscas iniciais são feitas com o cruzamento e avaliadas manualmente pelo período estipulado para as buscas, quando são descartados os estudos que não contemplam esse critério. Em seguida, são avaliados os títulos e novamente há o descarte dos que não se encaixam para o estudo. Adiante, são feitos os downloads dos artigos a partir do título e do período estipulado. A partir daí os resumos são lidos e classifica-se os que estejam de acordo com o critério de inclusão.

Antes de iniciar a coleta foi realizada consulta ao DeCS, a fim de aumentar e validar o repertório de descritores para filtrar termos de busca que melhor auxiliassem esse processo. O DeCS/MeSH faz parte da metodologia Lilacs e é um componente integrador da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os vocabulários são usados como uma espécie de filtro entre a linguagem utilizada pelo autor e a terminologia da área e também podem ser considerados como assistentes de pesquisa ajudando o usuário a refinar, expandir ou enriquecer suas pesquisas proporcionando resultados mais objetivos.

Desse modo, utilizaram-se para a coleta os descritores: “violência escolar”; “comportamento violento”, “prática pedagógica” e “professores”. Esses descritores foram cruzados com o auxílio do operador booleano AND, para busca de artigos organizados da seguinte forma: “comportamento violento AND professores”, “comportamento violento AND docentes”, “comportamento violento AND prática pedagógica”, “violência escolar AND professores”, “violência escolar AND docentes” e “violência escolar AND prática pedagógica”.

Para refinar os dados utilizou-se como critério de inclusão: artigos científicos de pesquisa empíricos; publicados no período de 2013 a 2022; que tratam de violência nas escolas de educação básica; que as variáveis apareçam no resumo ou no título; que estejam disponíveis na íntegra; relacionados à violência entre alunos-alunos, alunos-professores, alunos-funcionários; e, somente artigo. Como critério de exclusão considerou-se os estudos que trataram de violência no entorno da escola, violência entre funcionários-professores e professores-professores; estudos de revisão da literatura; os que estejam relacionados a outros contextos; e, com análise psicológica (Quadro 1).

Quadro 1 Processo de busca nas bases de dados Scielo, Redalyc, Capes, Mendeley e Connected Papers nos anos de 2021 e 2022. 

REGISTROS IDENTIFICADOS APÓS A BUSCA NAS BASES DE DADOS
IDENTIFICAÇÃO DADOS INICIAIS SEM FILTROS SCIELO 88 REDALYC 6.827.842 CAPES 1.243 MENDELEY 126 CONNECTED PAPERS 11.035
DADOS APÓS FILTRO 30 10.525 35 28 45
TRIAGEM REGISTRO APÓS REFINAMENTO (CRITÉRIOS DE INCLUSÃO): 105
ARTIGOS EXCLUÍDOS POR ESTAREM REPETIDOS E APÓS ANÁLISE DE TÍTULOS E RESUMOS: 52
ELEGIBILIDADE ARTIGOS COMPLETOS PARA AVALIAR: 53
ARTIGOS EXCLUÍDOS APÓS LEITURA NA ÍNTEGRA ARTIGOS RELACIONADOS A OUTROS CONTEXTO: 26 OUTRAS POPULAÇÕES: 11
INCLUSÃO ESTUDOS INCLUÍDOS PARA SÍNTESE: 16

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base no fluxograma de Prisma (2023).

O Quadro 1 apresenta um levantamento inicial com mais de 6 milhões de estudos, somando-se as buscas nas 5 bases de dados. É um número expressivo, no entanto, são dados referentes a buscas gerais sem o uso de filtros. A subtração de dados vai ocorrendo especialmente após o uso de filtros como período de buscas e tipo de materiais (artigos). Na etapa da triagem, novos refinamentos foram realizados, quais sejam artigos repetidos e excluídos depois da leitura do título e resumo, em que se excluíram 52 artigos, por não envolver a área de interesse. No critério de elegibilidade 53 estudos foram avaliados na íntegra. Na fase de leitura integral dos textos, foram aplicados os critérios de exclusão, 26 estudos foram excluídos por se relacionarem a outros contextos teóricos ou temáticos e 11 por se direcionarem ao estudo de outras populações, o que resultou em 16 artigos válidos para análise.

É importante mencionar que em estudos de revisão da literatura é comum que haja um grande contingente de exclusões (Ramos, 2015). No caso desta revisão o número de exclusões se justifica por concentrar apenas os estudos empíricos sobre violência escolar com perspectiva na prática pedagógica dos professores na educação básica (Ramos, 2015), verificando-se que estudos dessa natureza se mostram escassos no período estipulado para busca.

ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados utilizaram-se técnicas de frequência e categorização que é o método das categorias, espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivas da mensagem das palavras, que compõem a Análise de Conteúdo (AC) (Bardin, 2011; Silva et al., 2020). A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações das palavras (análise dos significados), que busca atribuir interpretação e descrição dos resultados (Bardin, 2011; Silva et al., 2020). Para isto, foram utilizados os resumos dos 16 artigos selecionados para o estudo em questão, que constituíram o corpus textual. Em seguida foi submetido a um software chamado Iramuteq (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), que se trata de uma “interface visual ancorada no software R a fim de produzir análise de texto” (Silva, 2019).

Para a exploração dos resultados foi utilizada a Análise de Similitude, disponível no Iramuteq, por meio da qual pode-se representar, graficamente, a ligação entre as palavras do corpus textual, a fim de analisar a estrutura do texto e os temas que emergem em seu grau de importância, além dos termos que se correlacionam. A base desta técnica é a Teoria dos Grafos, preconizada pelo matemático suíço Leonard Euler, que tem sido desenvolvida em diversas áreas, como a psicologia, a educação e outras, proporcionando o estudo da relação entre as categorias ou objetos (Ramos; Silva; Pontes, 2015; Silva, 2019; Silva et al., 2020).

O grafo é um conjunto de elementos que se conectam por métricas computacionais matemáticas e não permite cruzamentos como acontece em outras plataformas de busca. Um grafo trabalha pelas conexões e utiliza duas bases que buscam pesquisas anteriores e derivadas, sem recorte temporal. Sua execução se dá por conglomerado e meta de similaridade. “Um grafo G = (V, E) é um diagrama que representa um conjunto finito e não vazio V de vértices e um conjunto E de arestas, formado por pares de elementos distintos de V” (Couto et al., 2019, p. 683). Além disso, os grafos proporcionam maior compreensão das variáveis estudadas, pois dão uma visão ampla e transparente sobre conceitos e objetos estudados nas ciências humanas e sociais (Ramos; Silva; Pontes, 2015; Silva, 2019; Silva et al., 2020). Para melhor visualização dos resultados utilizou-se como suporte o “Excel” e o “Pro Word Cloud”. O Pró Word Cloud é uma extensão para Windows que cria nuvem de palavras no Microsoft Word — o programa faz parte do Pacote Office.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos artigos

Nesta seção, foram descritos aspectos das pesquisas publicadas no período estipulado para as buscas, quais sejam: estudos por ano de publicação, local de publicação, natureza da pesquisa, foco dos estudos e tipos de violência mencionados nos estudos.

O resultado das buscas mostrou um total de 16 artigos que correspondem aos critérios estabelecidos para esta revisão, os quais foram publicados entre os anos de 2013 a 2020, observa-se na Figura 1.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023)

Figura 1 Número de artigos encontrados nas plataformas da Scielo, Redalyc, Capes Periódicos, Mendeley e Connected Papers, por publicação entre 2013 a 2022. 

Conforme a Figura 1 é possível observar que em 2013 e 2018, houve maior propensão de publicações, indicando 3 para cada ano referido (19%), seguido dos anos de 2014, 2015, 2017 e 2020 com 2 artigos por ano (13%), enquanto que em 2015 e 2019 obtiveram 1 publicação cada (6 %). Não foram encontradas publicações em 2021 e 2022 pelos critérios estabelecidos para esta pesquisa.

Quanto ao local, foram encontradas 11 publicações no Brasil, sendo a região

Sudeste (f=4), Centro-oeste (f=3), Nordeste (f=3), Sul (f=1), apenas a região Norte não apresentou publicação. Em outros países somou-se um total de 05, quais sejam: Espanha (f=1), Venezuela (f=1), Chile (f=1), Uruguai (f=1), Colômbia (f =1). Quanto à natureza, revelou-se pesquisa de natureza qualitativa, quantitativa e mista (quantitativa e qualitativa), conforme a Figura 2.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023)

Figura 2 Percentual da natureza metodológica dos artigos encontrados nas plataformas Scielo, Redalyc, Capes Periódicos, Mendeley e Connected Papers, publicados entre os anos de 2013 a 2020. 

A Figura 2 apresenta prevalência de estudos de natureza qualitativa com 63% (f=10), os quantitativos seguem com 25% (f=4) e os mistos com 12% (f=2). Estudos cujo contexto seja a educação podem apresentar dados mais robustos a depender do tipo de estudo a ser desenvolvido. Diante da representação da Figura 3, sobre pesquisa qualitativa é importante considerar a sua importância para a educação, que sua preponderância pode ser explicada em Zanette (2017), ao considerar que este tipo de pesquisa proporciona postura investigativa mais flexível e revela aspectos que permanecem ocultos quando se tem apenas dados quantitativos. É um tipo de estudo que exige tratamentos multidimensionais para interpretação das questões e possibilita voltar sempre que precisar à perspectiva dos sujeitos sobre o fenômeno estudado (Zanette, 2017).

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).

Figura 3 Percentual do foco (participantes) dos artigos encontrados nas plataformas da Scielo, Redalyc, Capes Periódicos, Mendeley e Connected Papers, publicados entre os anos de 2013 a 2020. 

Os pesquisadores, geralmente, tentam compreender elementos de maior importância envolvidos em determinado contexto. Assim, buscou-se representar por imagem o foco dos artigos analisados para este trabalho; evidenciou-se “professores”, “alunos” e simultaneamente “professores e alunos” (Figura 3).

A Figura 3 demonstra que os professores possuem destaque na participação destas pesquisas, o que sugere o grau de importância do docente no processo ensinoaprendizagem e a forte influência nas relações professor-aluno-prática docente. Segundo Bandura (2008, 2020), o comportamento humano corresponde a fatores pessoais, ambientais e comportamentais, portanto, a configuração das relações sociais no espaço de sala de aula pode resultar em mudanças comportamentais significativas.

A Figura 3 destaca os docentes tendo maior foco pelos achados, no entanto, é preciso acrescentar que não existe docência sem a discência (Freire, 1996) e, também, que a prática pedagógica do docente pode desencadear climas favoráveis ou desagradáveis na sala de aula e, portanto, o tipo de relação entre professores e alunos está associado à forma como os docentes desenvolvem sua prática. Nessa perspectiva, a prática democrática pode desenvolver uma relação de confiança entre esses atores no espaço escolar e evitar indisciplina e possíveis casos de violência nesse contexto (Valdés-Cuervo et al., 2018).

Para maior transparência sobre os achados foram retirados trechos que mencionam alguns tipos de violências. Os trechos foram organizados em um único texto e submetido ao “Pro Word Cloud” que gerou uma nuvem de palavras onde se evidenciam as de maior destaque (Figura 4).

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).

Figura 4 Tipos de violências abordadas nos artigos selecionados para este estudo de publicações entre os anos de 2013 a 2020. 

Para maior transparência sobre os achados foram retirados trechos que mencionam alguns tipos de violências. Os trechos foram organizados em um único texto e submetido ao “pro word cloud” que gerou uma árvore de palavras onde se evidenciam as de maior destaque (Figura 5).

Fonte: Elaborado pelas autoras, com o auxílio do Iramuteq (2023).

Figura 5 Grafo de conexão entre os termos do corpus textual, elaborado a partir dos 16 resumos dos artigos entre 2013 a 2020, válidos para análise. 

A nuvem de palavras (Figura 4) é um dos meios de ilustrar o que aparece no corpo do texto, bem como as palavras com maior frequência. Assim, quanto maior o tamanho do termo na nuvem, maior sua frequência no corpus textual. Portanto, os cinco termos com maior evidência são: violência física (f=8), verbal (f=7), ameaças e agressão (f=4), psicológica (f=3), bullying e roubo (f=2). Há pela apresentação dos resultados a violência física e a psicológica. A violência física é caracterizada por brigas ou situações em que os envolvidos têm confronto físico, enquanto que a violência psicológica se apresenta na forma de ameaças e bullying. Vale ressaltar que a agressão pode ser expressa na forma

física ou verbal; entre as formas de violência, o roubo ainda representa ameaça e, portanto, pode causar medo à vítima. Essas são violências que quando compõem o ambiente escolar, segundo Becker e Kassouf (2016), podem influenciar o comportamento das pessoas e que um aluno inserido em uma escola violenta, pode vir a tornar-se violento também.

O bullying é uma prática violenta, pouco evidente nos estudos, que pode estar relacionada tanto à violência física quanto à psicológica. Segundo Sales e Sousa (2012), o bullying possui como principal característica a intenção de agredir física ou verbalmente o outro com frequência. A essa informação Rodrigues, Ramos e Silva (2021) acrescentam que é um tipo de violência que afeta sobremaneira crianças e adolescentes e como resultado reduz o desempenho nas atividades escolares e o nível de aprendizagem. A saúde física e mental também pode ser afetada como consequência desse tipo de violência (Lopes; Silveira, 2017).

ANÁLISE DE CONTEÚDO A PARTIR DOS RESUMOS DOS ARTIGOS

Para melhor compreensão, entende-se que o corpus textual foi formado por apenas 1 texto, considerando o agrupamento dos 16 resumos dos artigos encontrados e selecionados para esta revisão, sem fins de análise comparativa. Portanto, o texto foi separado em 70 segmentos de texto (ST), com aproveitamento de 70,99% dos segmentos de texto. Destaca-se que é recomendado o número mínimo de 70% dos segmentos para que as análises possam ser consideradas pelo software (Silva, 2019; Rodrigues, 2019).

Ademais, foram identificadas 2.883 ocorrências que são formas, palavras e vocabulários válidos, e desse total, 744 foram termos distintos que houve repetição e 445 palavras com apenas 1 ocorrência, conhecidas como hapax. Assim, após a submissão ao Iramuteq, o resultado da Análise de Similitude gerou um grafo. O grafo, representado na Figura 6, teve como função identificar a conexidade dos termos entre si, com fins de identificar a estrutura do corpus textual, sem diferenciá-los por classes, por meio da métrica de centralidade de Intermediação (Betweenness Centrality), “para verificar o grau de participação de um vértice nos caminhos mais curtos de um grafo” (Ramos, 2015; Silva, 2019; Silva et al., 2020) (Figura 5).

Para compreensão da Figura 5, é necessário interpretá-la da seguinte forma: o texto foi separado e organizado pelo próprio Iramuteq por grupos temáticos (categorias), nos quais emergiram as palavras com maior frequência (f), as que possuem maior destaque no grafo, que são violência (f = 55), professor (f = 47) e escolar (f =32). Percebe-se que as categorias se relacionam, ao passo que possuem ligações fortes (linhas cinza mais largas) e fracas (linhas cinza mais fracas), denotando que quanto mais larga for a linha maior é a sua conexão com o termo e categoria.

O termo “violência” apareceu 55 vezes associado a outras subcategorias sendo as mais frequentes: escola (f=29), prático (f=18), docente (f=17), pesquisa (f=16) e analisar (f=10), seguidos de outras com menos destaques, mas não menos importantes como violento (f=7), conflito (f=4), instituição (f=4), saúde (f=3), jovem (f=1), etc. São elementos que reúnem importantes teias de relações que se desenvolvem na escola, lugar onde se encontram jovens em meio a situações de violência e no qual a prática pedagógica pode se converter em ação de prevenção ou de provocação aos comportamentos agressivos entre alunos e de alunos contra professores, como sinaliza Mello e Campos (2018). Essas afirmativas se coadunam com Ferreira e Cunha (2013), quando indicam que a violência afeta o trabalho do professor e, portanto, sua prática pedagógica. A violência entre alunos e contra professores, também são eventos que trazem consigo prejuízos emocionais ao agredido (Souza; Fialho, 2017) e podem provocar mal-estar nos docentes e desencadear problemas de saúde (Oliveira; Silva, 2018), por isso a importância de pesquisas para compreensão e intervenção em questões relacionadas a ações violentas.

A palavra “professor”, 47 vezes mencionada no corpus textual, possui conexão direta com as subcategorias: aluno (f=25), estudo (f=14), ensino (f=12), necessidade (f=8), sofrer (f=7) com maior frequência, além de outras como problema de comportamento (f=5), sofrimento (f=4), ensino fundamental (f=7), formação inicial (f=2), etc. A partir desse resultado é possível notar a inter-relação entre as subcategorias mais frequentes que indicam a necessidade de formação aos professores, como sugere Gómez-Nashiki (2016), para fortalecer suas crenças em sua capacidade para desenvolver uma prática criativa. A crença em sua capacidade para desenvolver determinada tarefa é denominada de autoeficácia (Bandura inBandura, 2008; Ferreira; Pereira; Ramos, 2020). E a crença de autoeficácia determina e influencia as ações docentes de forma positiva e está relacionada ao desempenho do aluno (Ferreira, 2014). O professor que acredita em suas capacidades consegue envolver os alunos, evitando ações violentas entre eles (Ramos, 2015). A falta de conhecimentos que auxilie a criação de estratégias metodológicas é um problema que conduz a várias questões e entre elas o sofrimento docente, mencionado por Gómez-Nashiki (2016). Sobre saberes específicos essenciais para se combater violências (buillying, agressões físicas, insultos, etc.) também são tratados por Lopes e Silveira (2017) e Morales et al. (2014). Já o estudo de Lira e Medeiros (2015) acrescenta sobre a urgência em se rever os cursos de formação inicial de futuros professores, que ficam, em muitos casos sem saber como agir em situações de conflitos, o que provoca uma relação conturbada entre docentes e discentes e compromete a qualidade da aula, ou seja a prática do docente.

“Escolar” foi o termo que aparece 32 vezes e possui conexão com as subcategorias: contexto (f=11) social (f=8), vítima (f=8), meio (f=7), fenômeno (f=7) que apresentaram maior frequência seguidos de outros como clima (f=5), assédio (f=5), buillying (f=5), consequência (f=4), vitimização (f=4), intervenção (f=3), estudante (f=3), desautorização docente (f=3), grave (f=3), relato (f=3), etc. São termos que sugerem que o espaço escolar é um contexto social em que acontecem violências diversas, no entanto, mesmo que não sejam instauradas agressões contra docentes, considera-se o espaço violento devido ao estereótipo criado pelo fato de a escola ser localizada em local considerado de risco. Nesse sentido Pereira e Zuin (2019) mostra que a insegurança e o medo instaurado nos docentes fazem com que se coloquem na condição de vítima mesmo não sendo. Segundo Lopes e Silveira (2017) há a necessidade de enfrentamento dos problemas sobre violência, mas há dificuldade de implementar uma ação desse nível. Patrinhani e Américo (2020) indica a necessidade de intervenção para construção de uma Cultura de Paz baseada na filosofia e no método Freiriano para promoção de espaços de reflexão sobre as causas da violência e possíveis soluções para mudanças na sociedade. Uma Cultura de Paz na escola em conjunto com a família, a comunidade e a área da saúde para combater o bullying, causador de grandes prejuízos físicos e psicológicos (Lopes; Silveira, 2017; Pereira; Zuin, 2019).

Além disso, há a necessidade de preparar os docentes para lidar com o novo tipo de aluno presente nas salas de aula, já que não é possível utilizar uma prática tradicional e confundir autoridade com autoritarismo (Freire, 1996). Pois, a prática autoritária como tentativa de se sair do cenário de conflito entre os alunos, leva a perda de autoridade do professor (Lira; Medeiros, 2015). Por isso, é preciso acreditar que é possível trabalhar em um clima de paz se houver respeito entre professores e alunos.

A violência ganha diferentes formas e configurações a depender do contexto e dos atores envolvidos, por isso alguns dos artigos apresentados neste estudo mostram violências de alunos contra professores (Pereira; Zuin, 2019; Sousa; Fialho, 2017; Pinheiro et al., 2020), violência escolar como resultado das condições de trabalho (Ferreira; Cunha, 2013; Melanda et al., 2018), de práticas docentes autoritárias (Mello; Campos, 2018; Bravo, 2013), por exemplo. Isso deixou claro o quão complexo é esse tema e que pode se efetivar em qualquer espaço social, seja público, privado, geral ou particular. De acordo com as pesquisas, a violência influencia o comportamento de professores, alunos e outros atores que fazem parte da rotina escolar, ou seja, transformam a dinâmica escolar como um todo.

Também, mostrou o quão impotente o professor se sente diante de algumas situações caso não tenha suporte teórico, prático e psicológico para lidar com as demandas do dia a dia (Zuin, 2019; Lyra et al., 2013). O adoecimento pode ser resultado, também, das pressões do sistema, mas também das pressões presentes nas relações inflamáveis pela falta de apoio e do saber-fazer nesse momento. Por outro lado, as práticas docentes de intervenção direta têm sido bem-sucedidas no combate contra assédio entre os alunos (Valdés-Cuervo et al., 2018). Sobre as consequências negativas de atos violentos na escola, Becker e Kassouf (2016) apontam que diminui as chances de os alunos concluírem o ensino médio e de ingressarem no ensino superior. Além disso, muitas escolas públicas são localizadas em locais dominados pela violência e pelo tráfico, o que pode influenciar no comportamento violento no espaço escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi descrever o que as pesquisas publicadas, entre os anos de 2013 a 2022, pesquisaram acerca da violência escolar tendo como parâmetro a prática pedagógica dos professores no contexto da Educação Básica.

Os estudos mostraram que o professor é considerado essencial no processo ensino-aprendizagem, mediador do conhecimento e das relações que se estabelecem no espaço escolar, pois, o docente pode ter grande ascendência sobre os alunos. Por isso, precisam de suporte técnico, estrutural e formativo ao longo de sua carreira para lidar com as dificuldades que se apresentarem.

Evidenciou-se, também, que a violência pode provocar adoecimento e desestímulo pela profissão docente, bem como a evasão escolar do aluno. Apesar de a maioria das investigações não apresentarem relação direta entre violência escolar e prática pedagógica de professores, apontam indícios do influxo bidirecional sobre o comportamento de professores e alunos no âmbito do processo educativo.

Há pertinência em se investigar essa relação posto que pode influenciar e alterar o sentido educativo formativo no espaço escolar. Além disso, a violência é um problema social evidenciado pelas mídias por meio de campanhas e precisam ser combatidas especialmente no espaço escolar. O estudo que relaciona diretamente violência escolar e prática pedagógica ainda apresentou escassez nas buscas do período supracitado. Outro fator considerado relevante foi a falta de publicação na região norte do Brasil.

O estudo limitou-se a artigos entre os anos 2013 a 2022, em cinco bases de dados, apenas estudos empíricos e com foco na violência escolar relacionando-a à prática pedagógica de professores na Educação Básica. Diante das múltiplas facetas da violência, outros contextos e relações provocadoras precisam ser analisadas particularmente e comparadas aos comportamentos violentos. Assim, pode-se estudar por exemplo “violência e comunidade escolar”, “violência escolar e corpo administrativo e técnico”, “violência escolar e sistema educativo”, “violência escolar e violência simbólica” entre outras que possam ampliar discussões e desencadear novas formas de ver a realidade de forma crítica e contextual.

Este artigo pode contribuir para uma visão geral sobre a violência escolar, a prática pedagógica de professores e as limitações que o corpo docente possui diante da responsabilidade instaurada pelo sistema educativo que delega aos professores cada vez mais tarefas. É, no entanto, uma reflexão para estimular novos estudos na busca pela compreensão dos fatores que levam às violências que se instauram no espaço escolar a fim de perspectivar meios de inibir atitudes que provoquem danos às pessoas no espaço escolar.

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Recebido: 26 de Maio de 2023; Aceito: 07 de Janeiro de 2024; Publicado: 17 de Janeiro de 2024

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