INTRODUÇÃO
A escola desempenha diversos e novos papeis na sociedade. Muitas são as informações e mudanças que estão ocorrendo, e a escola participa ativamente no desenvolvimento da formação humana. Há uma grande responsabilidade do professor, pois ele é o profissional envolvido na produção e no processo de apropriação do conhecimento. Sendo assim, sua formação é fundamental.
Tal realidade e responsabilidade são percebidas por Chimentão (2009, p.3), que afirma que “o avanço dos conhecimentos, tecnologias e as novas exigências do meio social e político impõem ao profissional, à escola e às instituições formadoras a continuidade, o aperfeiçoamento da formação profissional.”
Diante dessa situação, há a necessidade de o professor continuar estudando e se atualizando através de um processo que denominamos Formação Continuada, o que permite que o professor desenvolva conteúdos mais atualizados e diversificados com seus alunos, refletindo em uma educação de melhor qualidade.
Uma educação de qualidade está atrelada à boa formação dos professores, e a Formação Continuada possibilita maior conhecimento para os docentes, pois aprofunda e aprimora a formação inicial que tiveram.
Diante de conhecimentos e leituras acerca da formação de alguns professores de Educação Física que atuam em escolas, percebemos muitas dificuldades. Para Altenfelder (2005), em suas experiências com professores1, uma das principais dificuldades encontradas na Formação Continuada é o cansaço e a falta de disposição dos professores para buscar novas possibilidades no processo de construção do saber.
E, ainda, o próprio conteúdo de Educação Física, em muitas realidades escolares, não recebe o verdadeiro reconhecimento. Gomes (2008), falando especificamente da escola pública, diz que:
A função de atualizar os professores para atuarem na escola pública, condição central para que possam lidar com as vicissitudes das realidades escolares, em um contexto onde diferentes culturas se entrecruzam, requer comprometimento com a equidade social e educacional. (GOMES, 2008, p.198).
Ainda nessa perspectiva, Rossi e Hunger (2008) entendem que na Educação Física existem muitas dificuldades ao se discutir formação acadêmica, por se tratar de uma área densa e muito abrangente.
Este estudo, portanto, encontra sua justificativa diante da realidade citada em que perguntamos: O que a produção de conhecimento da área da Educação Física apresenta como entendimento sobre a Formação Continuada?
Tem-se, como objetivo, buscar na produção da área o entendimento de Formação Continuada em Educação Física. Para isso, realizar-se-á uma revisão bibliográfica, em que se procuram informações e conceitos sobre o tema, Formação Continuada para professores de Educação Física. Tal revisão será feita conforme expõe Fonseca (2002, p.32): “a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites”.
Este estudo apresenta como fonte revistas online brasileiras na área da Educação Física, classificadas pelo Qualis2 em Educação Física, conceituadas como A1, A2, B1 e B2. Nessas revistas3 foram buscados todos os artigos que debateram o tema da formação continuada, por meio da palavra-chave Formação Continuada. O tempo de publicação desses artigos foi delimitado em dez (10) anos - de 2006 a 2016.
Entendemos que os últimos dez anos de produção da área da Educação Física expressam um riquíssimo período de mudanças na área, como, por exemplo, 10 anos de diretrizes curriculares que atingem diretamente a formação inicial em Educação Física, e reforma do ensino médio, que atinge diretamente a formação em educação básica4. Esse contexto exige dos professores de Educação Física um processo de Formação Continuada comprometido não somente em acompanhar mudanças, mas, principalmente, em entender as contradições que se apresentam nessas mudanças. Como declaram Gariglio, Júnior e Oliveira (2017, p.64):
Esse desafio apresenta-se mais complexo, uma vez que se torna necessária a produção de argumentos dentro de marcos políticos e ideológicos diferentes aos propagados pela pedagogia liberal burguesa, ainda mais na sua faceta contemporânea neoliberal. (GARIGLIO; JÚNIOR; OLIVEIRA, 2017, p.64)
Somaram-se ao nosso processo de análise as categorias Educação Física e Formação Continuada, por meio das quais abstraímos a relação entre elas, com o fim de atingir o nosso objetivo de forma mais qualificada.
EDUCAÇÃO FÍSICA E FORMAÇÃO CONTINUADA
Depois de a Educação Física ser considerada Ginástica e ter passado por concepções militarista, higienista, tecnicista e desportivista (BRACHT, 2005), a Educação Física na escola também passa a ser conhecida como uma área do conhecimento chamada cultura corporal. Conforme o Coletivo de Autores (1992, p.41), “o homem se apropria da cultura corporal dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o estético ou outros, que são representações, ideias, conceitos produzidos pela consciência social”. Nesse sentido, os conteúdos relacionados à cultura corporal de movimento são: jogos, esportes, ginástica, dança, lutas, entre outros.
Dessa forma, a Educação Física é uma área do conhecimento vinculada às práticas corporais, historicamente produzidas pela humanidade. Os conteúdos que a Educação Física propõe para os alunos na escola devem expressar um significado para eles, com o objetivo de tornarem alunos críticos perante os problemas da sociedade. Para tanto, o professor deve estar constantemente se apropriando da relação teoria e prática e buscando melhorar sua forma de disseminar os conhecimentos da área a seus alunos. Com isso, destacamos a Formação Continuada para melhorar a docência dos professores, ampliando ainda mais seu conhecimento no âmbito educacional.
A Formação Continuada inicia historicamente a partir da década de 1970, com o processo de industrialização. Conforme Ferreira, Santos e Costa (2015, p.291), “os processos de formação continuada visavam à preparação do professor para uma escola produtiva, capaz de formar pessoas para o mercado de trabalho”. Nessa época, o objetivo do professor era preparar os alunos para o trabalho, sem se importar com os conteúdos ensinados e de ajudar a desenvolver no aluno uma opinião pessoal.
Nos anos 1980, a Formação Continuada foi importante devido à tendência crítica de sua época, em que a escola estava propícia às transformações sociais. Para Ferreira, Santos e Costa (2015):
Os seus efeitos nas políticas de formação continuada são evidentes ao valorizar o conhecimento dos conteúdos de forma crítica, contextualizado à realidade da escola e do aprendiz, concebendo o professor como mediador entre o saber construído em um espaço-tempo histórico, político e social e o aluno. (FERREIRA; SANTOS; COSTA, 2015, p.291).
Nos anos 1990, conforme Altenfelder (2005, p.52), são ampliados os debates a favor da Formação Continuada para os professores, “concentrada no trabalho docente, nas relações que se estabelecem dentro da escola e na importância da vinculação entre a formação docente e as práticas escolares como o currículo, a didática, a avaliação e a gestão de sala.”
Constatamos que a Formação Continuada passou por uma grande mudança ao longo dos anos. Antes, seu objetivo era somente produção, de modo que os alunos fossem diretamente para o mercado de trabalho, passando, depois, por uma valorização do conhecimento e, por fim, reconhecendo a sua importância frente aos professores e a escola.
Concordamos com Luiz et al. (2015), quando relatam que:
Construir um sentido de formação continuada que não esteja imbricada à ideia de que o professor vivencia esses lugares para se capacitar, mas entendê-la como mais um dos múltiplos contextos de formação que permitem ao professor problematizar o sentido que atribui à sua prática, entendo-a como produtora de teoria. (LUIZ et al. 2015, p.101).
Nessa perspectiva, Saviani (2001) afirma que a Formação Continuada não deve se restringir à resolução de problemas específicos de sala de aula, mas contribuir para que o professor ultrapasse a visão compartimentada da atividade escolar e passe a analisar os acontecimentos sociais, contribuindo para sua transformação.
Assim, a Formação Continuada deve ser orientada por uma teoria, mas sem deixar a prática de lado. É preciso que o professor consiga fazer uma reflexão do seu trabalho e se abrir a novas possibilidades pela busca de conhecimentos, explorando tanto o ambiente escolar como também a sociedade.
Branco (2007) ressalta que estudos e ações governamentais devem apontar caminhos para a construção de uma formação continuada que possa, ao mesmo tempo, realizar-se no tempo e espaço escolares, alcançar o professor nos seus projetos de ascensão profissional e fundamentar teoricamente sua práxis educativa.
Sendo a Formação Continuada importante para o conhecimento dos professores, um dos responsáveis por esse processo é o Estado, o qual tem o compromisso de oferecer auxílio e incentivo para esse processo. Conforme o Ministério da Educação, com a Lei n. 9.394/96, parágrafo único:
Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1996)
Porém, essa realidade não está ocorrendo. Em seu estudo de mestrado, Baccin (2010) relata que:
Em relação aos cursos de aperfeiçoamento ou cursos de formação continuada, podemos constatar nas entrevistas5, que não há estímulo por parte do Estado. Os professores de Educação Física consideraram que não existe este tipo de formação e para aqueles que desejam realizar uma pós-graduação, dificilmente conseguem liberação. (BACCIN, 2010, p.96).
Conforme as autoras Righi, Marin e Souza (2012), no estudo6 realizado com professores da Rede Pública do Estado do Rio Grande do Sul (RS), tem-se que:
Na gestão 2007/2010, o governo estadual do RS, na esteira das práticas do desenvolvimentismo neoliberal, desviou seu foco para outros objetivos que não os da educação, com profundos resultados prejudiciais ao processo da educação continuada, sobretudo na educação física. (RIGHI; MARIN; SOUZA, 2012, p.879).
Portanto, é direito do professor ter uma boa Formação Continuada; sendo assim, o Estado deve ter essa responsabilidade de oferecer cursos e dar apoio para os professores. Nesse sentido, o Coletivo de Autores (1992) elenca características específicas sobre a reflexão pedagógica do professor, que são: diagnóstica, judicativa e teleológica.
Diagnóstica, porque remete à constatação e leitura dos dados da realidade (...) judicativa, porque julga a partir de uma ética que representa os interesses de determinada classe social (...) teleológica, porque determina um alvo onde se quer chegar, busca uma direção. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.14).
As características que os autores destacam sobre a Formação Continuada devem servir como base para o professor, para qualificação no seu trabalho. A qualificação do professor é continuada porque, no processo de aprendizagem, o sujeito dá saltos qualitativos, e, em específico, no caso do professor, isso ocorre na relação do professor com seus alunos, mediados pelo conhecimento e os determinantes históricos sociais que fundamentam essa relação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A palavra-chave Formação Continuada foi pesquisada em revistas online. Foram encontrados dez (10) artigos, sendo nove (09) da Revista Motrivivência, com os anos de publicação de 2006, 2008 (2 artigos), 2013, 2014 (2 artigos) e 2015 (2 artigos), e um (01) artigo da Revista Brasileira Ciências do Esporte do ano de 2015. Os referidos artigos foram analisados e serão apresentados em forma de conceituações e entendimentos sobre o tema Formação Continuada para professores.
Sobre o conceito de Formação Continuada, o artigo “Formação Continuada do Professor de Educação Física e a Construção de Práticas Pedagógicas Multiculturalmente Orientadas”, de Joe Gomes (2008), visa analisar a articulação dos estudos de formação continuada de professores e, em particular, dos professores de Educação Física, a partir da teoria multicultural crítica.
Gomes (2008 apud CANEN, 2008), em relação à conceituação da Formação Continuada:
Entende a formação continuada como espaço de construção de práticas pedagógicas pelos professores que atuam nas escolas, visando discutir questões que geram os preconceitos e discriminações étnicas, de gênero e sexo, e procurando romper “uma relativa independência com que ambos os campos têm sido pensados”. (CANEN, 2008, p.18).
Luiz et al. (2014), em seu artigo “Práticas de apropriação dos professores de educação física nas formações continuadas: trilhando a produção de sentidos”, concorda com Nóvoa (2002) sobre o conceito de Formação Continuada. Para este, os conceitos de Formação Continuada problematizam uma perspectiva de formação em processo, agregando conhecimento ao docente. O professor e a escola são considerados como elementos indissociáveis na formação continuada, bem como suas iniciativas de gestão dos próprios momentos formativos.
No artigo “A Produção Científica no CBCE7/CONBRACE8: a formação continuada de 2007 a 2013 em foco”, Batista et al. (2015) analisa a produção científica sobre formação continuada nos trabalhos apresentados no CBCE no período de 2007 a 2013. O autor, outrossim, concorda com a ANFOPE (2010) no que tange à conceituação de Formação Continuada, acreditando que a expressão “formação continuada” é um processo de construção permanente do conhecimento, que proporciona novas reflexões acerca da ação profissional, desenvolvimento e aprimoramento do trabalho pedagógico.
No artigo “Narrativas de Formação Continuada: sentidos produzidos por professores de Educação Física”, Luiz et al. (2015) discutem as compreensões atribuídas a catorze (14) professores de Educação Física sobre suas experiências com os processos de formações continuadas.
Conforme Luiz et al. (2015):
A formação continuada determina e é determinada pelo modelo de organização da escola e do currículo, pelos usos do espaço e do tempo, pelas práticas de planejamento e gestão, pela forma como as aulas são distribuídas, ou seja, por muitos fatores que incidem sobre a qualidade da educação, do trabalho docente e da própria profissão. (LUIZ et al. 2015, p.94).
Ainda segundo Luiz et al. (2015):
A valorização desse tipo de formação parece ser aos docentes uma necessidade, que sinaliza a urgência de repensar os processos de formação continuada e a especificidade do saber que trata a Educação Física como componente curricular. (LUIZ et al. 2015, p.96).
Batista et al. (2015 apud AGUIAR; SCHEIBE, 2010) afirmam que para que um programa de formação continuada seja significativo, é necessário que os profissionais tenham tempo para trabalho coletivo e para a criação de novos projetos pedagógicos. Devem envolver os sujeitos da ação educativa na escola e na comunidade em que está inserida, além de garantia de financiamento público para a formação continuada, como pós-graduação, grupos de estudos, programas de formação, entre outros.
Percebemos que a Formação Continuada não pode ter sua prática desassociada da realidade escolar. É a escola e a sociedade que precisam dar o suporte para o professor investir cada vez mais na sua carreira. Essa qualificação reflete na relação com os seus alunos. Sendo assim, a Formação Continuada auxilia na abordagem de questões que ocorrem diariamente na nossa sociedade, como as greves dos professores, seus salários parcelados, a desvalorização do educador e o seu desinvestimento pedagógico. Assim, é fundamental que os professores de Educação Física tenham acesso a tal formação.
O artigo “Desafios na Formação Continuada: lidando com a complexidade da rede de ensino”, de Damiani e Melo (2006), trata-se de uma pesquisa no âmbito da formação continuada realizada com os professores de Educação Física da rede pública estadual de ensino de Florianópolis/SC, relatando que “a formação continuada é um processo de conhecimento reflexivo contínuo, aliado aos conhecimentos e experiências, tanto da vida profissional quanto pessoal do professor/a” (DAMIANI; MELO, 2006, p.144).
A Formação Continuada consiste em um processo, passando por cada aula que o professor desenvolve com sua turma, até os cursos dos quais ele participa. Essa formação não pode ser separada da prática do professor, pois ele é o responsável pela partilha dos conhecimentos para com seus alunos.
O artigo “Formação Continuada em Educação Física: algumas reflexões” apresenta como objetivo principal discutir sobre a compreensão de formação continuada no campo da Educação Física. Os autores Sichelero e Rezer (2013) entendem que:
A formação continuada mediante a atuação profissional constitui um espaço relevante de valorização, ressignificação e construção de uma práxis desafiadora e mais qualificada, de uma aproximação dialética entre teoria e prática e de uma concepção do papel docente que sustente a prática pedagógica no cotidiano do trabalho docente. (SICHELERO; REZER, 2013, p.38).
A atuação do professor está diretamente ligada à formação que ele possui. Com isso, acreditamos que a Formação Continuada auxiliará ainda mais nesse processo, e por isso trazemos aqui alguns autores que mostram em que essa Formação pode ajudar os docentes.
No artigo “Proposta Curricular para a Educação Física: uma experiência a partir da formação continuada”, Antunes, Amaral e Luiz (2008) apresentam uma proposta de organização curricular para o ensino da Educação Física na escola. Essa é resultante de um trabalho de formação continuada, desenvolvido por professores da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia, com professores da Rede Municipal de Ensino dessa cidade.
Os referidos autores concordam com Freire (1997), quando afirmam que o momento fundamental da formação continuada está exatamente no movimento dinâmico e dialético que envolve o fazer e o pensar sobre o fazer. É nesse ponto que se dá a reflexão consciente e crítica sobre a prática.
Luiz et al. (2014, p.75) afirmam que “a formação continuada, como o lugar e espaço de compartilhamento de experiências, fortalece o reconhecimento dos professores como autores desse processo”. Os autores enfocam na experiência de cada professor, além de seu especial lugar no processo.
O artigo “A BNCC9 em discussão na Formação Continuada de Professores de Educação Física: Um relato de Experiência - Natal/RN”, de autoria de Sena et al. (2016), traz contribuições ao atual debate da construção da Base Nacional Comum Curricular - BNCC, no tocante ao componente curricular Educação Física. Sena et al. (2016) apontam sobre a grande importância da Formação Continuada para os professores de Educação Física, em que os encontros privilegiam a socialização e conhecimento para eles.
Entendemos que grande parte dos professores busca a Formação Continuada como forma de pensar e repensar os conteúdos trabalhados nas aulas, conforme supracitado. Tal atitude é fundamental na área da Educação Física, pois cada turma discente apresenta características próprias, além de abordarem questões do contexto atual. O professor precisa acompanhar essa realidade, e o processo de Formação Continuada auxilia nessa dinâmica.
Segundo Luiz et al. (2014, p.71), “algumas universidades se empenham em produzir formações continuadas que assumem como referência o diálogo com as práticas de atuação profissional, em um movimento produzido com os docentes, e não para eles.”
A Universidade também precisa incentivar e mobilizar os acadêmicos a continuarem após a formação inicial, no caminho da Formação Continuada, pois, além de propiciar uma melhor docência, a formação continuada poderá ajudar também financeiramente. Com base nisso, Luiz et al. (2014) concordam com Bartolozzi, Coco e Ventorim (2012) quando dizem que a busca por Formação Continuada como forma de progredir na carreira e, consequentemente, por melhores salários, é o que impulsiona a participação em programas de formação.
No entanto, mesmo com os benefícios que a Formação Continuada pode trazer na vida dos professores de Educação Física, tanto profissional como pessoalmente, muitos professores não a procuram. Muitos são os motivos apresentados: falta de valorização dos outros pela profissão, baixos salários, carga horária excessiva, entre outros. Essa perspectiva é presentada por Damiani e Melo (2006):
Muitos professores atuam na escola há longos anos; há excessiva carga-horária de atividades deles exigida, bem como os baixos salários comprometem, sobremaneira, suas possibilidades de buscar qualquer tipo de formação continuada para atualizar, refletir seus conhecimentos. No mundo de hoje, formação contínua ou permanente é fundamental, principalmente, no âmbito educacional. (DAMIANI; MELO, 2006, p.151).
Outros autores criticam a maneira de como acorre a Formação Continuada para os professores. Luiz et al. (2014) destacam que:
A formação continuada deve permitir ao professor problematizar suas práticas, entendo-a como produtora de teoria, em um movimento constante de releitura provocado por outras teorizações oferecidas na própria formação. Isso implica uma mudança nas relações estabelecidas, em que os professores passam de expectadores a autores, corresponsáveis pelo processo de formação. (LUIZ et al. 2014, p.80).
Luiz et al. (2015), em outro momento, continuam nessa perspectiva, defendendo:
A necessidade de construir um sentido de formação continuada que não esteja imbricada à ideia de que o professor vivencia esses lugares para se capacitar, mas entendê-la como mais um dos múltiplos contextos de formação que permitem ao professor problematizar o sentido que atribui à sua prática, entendo-a como produtora de teoria. (LUIZ et al. 2015, p.101).
Ainda segundo os autores:
Nos domínios da formação continuada, embates discursivos se sucedem no Brasil e entram na roda diferentes vozes, como a dos professores chamados a comunicar suas práticas, as dos pesquisadores das entidades científicas e das instituições de Ensino Superior, do poder institucionalizado, fomentador de políticas públicas, com suas representações nas distintas esferas do Poder Público, de entidades privadas e outras, problematizando as tensões de um descompasso histórico da formação de professores (LUIZ et al. 2015, p.94).
Percebe-se que, na verdade, o que falta para se ter uma boa Formação Continuada é o seu sentido perante os professores. Essa formação também deve ser uma troca de conhecimento entre eles, partindo do que realmente acontece na prática.
A Formação Continuada também deve possibilitar ao professor a partilha de suas dúvidas mais frequentes com os colegas - pois isso também ajuda na resolução dos problemas -, além de incentivar a possibilidade de diálogo entre a teoria e a prática, mesmo que haja dificuldades.
Nessa ótica, podemos citar o artigo “Proposta Curricular de Santa Catarina e a Formação Continuada na GERED10 de Criciúma/SC: a continuidade da descontinuidade”, dos autores Ortigara, Silva e Vitório (2014). Tal bibliografia tem como enfoque observar os cursos de Formação Continuada realizados durante os anos 2003 a 2010 na 21ª GERED, situada no município de Criciúma/SC. Os autores do artigo relatam:
Ao atuarmos com formação continuada de docentes das redes públicas de ensino é comum a manifestação de que na teoria tudo parece ser bom, que atende à necessidade e, mais do que isso, a vontade dos docentes de realizarem uma ação pedagógica não conservadora em uma formação crítica dos alunos (ORTIGARA; SILVA; VITÓRIO, 2014, p.178).
Alguns autores apresentam propostas e modelos de como funciona a Formação Continuada. Conforme Damiani e Melo (2006 apud GADOTTI 1991). Uma proposta de Formação Continuada requer que pensemos e reflitamos sobre o próprio significado do processo educativo:
Um verdadeiro processo educativo não se restringe à aquisição de habilidades e conhecimentos, mas pressupõe o desenvolvimento do indivíduo, para que lhe seja assegurado o direito de participar ativamente no seio da sociedade, no trabalho, no lazer, na cultura, etc. (GADOTTI, 1991, p.4).
No artigo “Perfil de formação continuada de professores de Educação Física: modelos, modalidades e contributos para a prática pedagógica”, de Ferreira, Santos e Costa (2015), são descritas as modalidades de formação continuada frequentadas por professores de Educação Física iniciantes e experientes nas áreas técnico-biológica e pedagógica.
Ferreira, Santos e Costa (2015), e também Garcia (2002), defendem quatro modelos de aprendizagem na formação continuada:
“Aprender de outros”, como nos cursos;
“Aprender com os outros’’, baseado no princípio de aprendizagem grupal, com perfil colaborativo;
“Aprender sozinho”, como a autoformação;
“Aprendizagem informal”, que ocorre pela busca ocasional de informações e de experiências entre pares.
Os autores sugerem uma proposta de Formação Continuada, em que o objetivo não é somente a busca de conhecimentos, mas, sim, para que o professor se sinta seguro em desempenhar a sua profissão. Os modelos de Formação Continuada revelam que os professores possuem opções para a sua prática, porém, parte de cada professor escolher o que deseja.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Formação Continuada é toda a formação que o professor possui após a sua formação inicial, que proporciona um conhecimento acerca da sua ação profissional, como o aprimoramento do seu trabalho pedagógico. Ela se relaciona com a qualificação pedagógica do professor, fazendo com que, por meio dessa, consiga desenvolver um trabalho coletivo.
Muitos autores defendem a Formação Continuada, mostrando que essa é uma prática indissociável da escola e que deve dar suporte aos professores, ajudando-os no processo de apropriação dos conhecimentos para seus alunos. A escola é o local onde ocorrem propostas para mudanças que devem ser levantadas, discutidas e concretizadas pelos professores; porém, para que a escola possa dar esse suporte, deve-se envolver uma série de muitas relações comprometidas com a Formação Continuada, para além dos professores e gestores.
A busca pela Formação Continuada pode ser vista como uma forma de valorização do professor. Sabemos que com baixo salário, carga excessiva de trabalho e, muitas vezes, com sua desvalorização, essa formação, além de proporcionar uma melhora na docência, pode ajudar financeiramente o professor.
Porém, alguns autores não concordam com a forma sobre como a Formação Continuada vem sendo desenvolvida pelos professores, pois, na maioria das vezes, ela não possui qualidade. Em muitos casos, a formação serve para o professor somente vivenciar esses lugares para se capacitar, mas sem problematizar a sua prática. A Formação Continuada deve ser um lugar, outrossim, para o professor problematizar questões relacionadas ao seu dia a dia, à sua realidade escolar e aos determinantes históricos e sociais que refletem essa realidade.
Diante dos resultados do presente estudo, percebemos alguns limites. Nos artigos, os autores questionam os resultados da atual execução da Formação Continuada, porém não descrevem como essa formação está sendo desenvolvida aos professores. É necessário compreender melhor a realidade para, assim, transformá-la.
Outro limite está na abrangência dos artigos. Eles surgem a partir de várias realidades, pois os estudos partem de autores de diversas cidades e Estados. Por exemplo, o Estado do Rio Grande do Sul, muitas vezes, não demonstra grande apoio aos professores para tal formação, dificultando-a. A pesquisa de Righi, Marin e Souza (2012):
Explicita a inexistência de uma Política de Estado e, mais, a inexistência de uma política pública no Estado do Rio Grande do Sul que reconheça a importância da formação continuada de modo a atender aos interesses e necessidades dos professores em geral e dos de EF [Educação Física] em particular. (RIGHI; MARIN; SOUZA, 2012, p.888).
Os limites da pesquisa apresentados, entre outros, poderão ser mais bem desenvolvidos em pesquisas vindouras. No entanto, o atual estudo corrobora que os professores da área da Educação Física não podem estar alienados nem excluídos do processo de Formação Continuada, devido à importância da disciplina, pois ela trata da cultura corporal, o que, cada vez mais, vem crescendo em assuntos e conteúdos para serem discutidos com seus alunos, bem como diante das políticas educacionais que surgem. O professor precisa, sempre mais, dar saltos qualitativos em seu processo de ensino.