INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, precisamente nas últimas quatro, os aspectos relativos à saúde tem melhorado, entretanto se mantém em evidência a importância da aquisição e da manutenção de hábitos saudáveis direcionados à melhoria da qualidade de vida e da saúde. O não comprometimento com a qualidade de vida pode predispor ao aparecimento e ao desenvolvimento de disfunções crônico-degenerativas (GUEDES; GRONDIN, 2002; BUSS et al., 2020). Em vista disso, a política Nacional de Promoção da Saúde apresenta como objetivo diminuir os riscos à saúde da população, aumentando a qualidade de vida através de estratégias de incentivo à atividade física, oferecendo locais que contribuem com ações para Promoção da Saúde (PS) à população (MALTA et al., 2014).
O ingresso na universidade é um momento de grandes exigências e demanda intelectual, entende-se que o ambiente universitário pode prejudicar ou não promover a qualidade de vida dos universitários. Além disso, o aluno pode se deparar com vulnerabilidade pessoal, social e/ou econômica (PIRES et al., 2014; GARCIA JUNIOR et al., 2018). As universidades representam uma oportunidade valiosa para a PS são locais onde a saúde e o bem-estar podem ser aprimorados ou inibidos. Compreender o que influencia a saúde, o bem-estar e a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde dos estudantes universitários pode abrir portas importantes para o desenvolvimento de estratégias eficazes de PS e para uma prevenção de doenças (BACKHAUS et al., 2019). O desenvolvimento de projetos de PS dentro do espaço das universidades tem sido reconhecido como uma alternativa intersetorial viável, que resulta em melhores processos formativos e na melhoria da qualidade de vida de uma importante parcela da população (MELLO; MOYSÉS; MOYSÉS, 2010).
A qualidade de vida dos universitários parece ser menor, resultado das inseguranças da busca da identidade profissional, das exigências educacionais constantes e transitoriedade das relações sociais (ANVERSA et al., 2018). Sendo assim, a implementação de programas que objetivam melhorar a qualidade de vida dos universitários, auxiliando para que suportem todas as adversidades que serão impostas durante a trajetória acadêmica é de grande importância. Ademais, existe uma maior adesão quando participantes de grupos de atividades física são motivados por familiares e profissionais habilitados, visto que apresentam um aumento do sentir-se pertencente a um grupo de convivência e do cuidado com a melhora da própria saúde (FRANKE; KRUG, 2020). No intuito de criar oportunidades para a PS, foi criado, no ano de 2018, o Programa Esporte Universitário com o objetivo de promover práticas esportivas e de lazer aos discentes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio Grande do Sul, Brasil, com o propósito de atender finalidades educativas, esportivas, saúde e qualidade de vida e integração universitária.
Diante desse contexto, este trabalho teve como objetivo verificar se os participantes do Programa Institucional Esporte Universitário da UFSM mudaram seus hábitos de vida; caso tenham alterado os hábitos, se essa mudança, na percepção dos participantes, poderá continuar a ser implementada durante sua vida e se a mesma poderá influenciar a mudança de hábitos de pessoas próximas de seu convívio social/familiar
MATERIAL E MÉTODOS
Local do estudo
A pesquisa foi realizada na UFSM, localizada na cidade de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. A universidade foi criada no ano de 1960, sendo a primeira universidade federal criada no interior, fora de uma capital brasileira. Esse fato representou um marco importante no processo de interiorização do ensino universitário público no Brasil e tornou o Rio Grande do Sul o primeiro Estado da Federação a contar com duas universidades federais (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2020a).
O Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) é uma das oito unidades universitárias da UFSM, e sua criação ocorreu dez anos após a fundação da universidade (1970). O curso de Educação Física da UFSM, na década de 80, foi referência para o país. O segundo mestrado no país foi o da UFSM, iniciado em 1979, e o primeiro doutorado de toda a instituição também nasceu no CEFD, no ano de 1984. No período a seguir, o curso chegou a ter a melhor pós-graduação do país e a segunda melhor graduação (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2020b).
O Programa Institucional Esporte Universitário, proposto e realizado pelo CEFD e com o apoio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), objetiva levar mais saúde, qualidade de vida e lazer para os alunos da UFSM. São oferecidas mais de 30 modalidades semestralmente, entre esportes coletivos e individuais, danças, lutas, atividades recreativas e de lazer. Todas as atividades são gratuitas e acontecem na sua grande maioria nos intervalos das aulas (11h às 13h ou 17h30min às 19h). Os responsáveis pelas atividades são monitores, na grande maioria acadêmicos da educação física, que são supervisionados por professores do curso de Educação Física ou técnicos em assuntos educacionais da instituição. A predominância dos acadêmicos do curso de Educação Física é um fator relevante, visto que a universidade deve ser uma escola de formação para os alunos da graduação. Programas como esse são oportunidades ímpares para que os acadêmicos do curso de Educação Física tenham possibilidades de pôr em prática os conhecimentos obtidos no ensino.
População de Estudo
Para a realização deste estudo, optou-se pelo estudo descritivo quanti-qualitativo (GIL, 2019; PÁDUA, 2019), cuja amostra foi composta por estudantes da UFSM, de vários cursos e de ambos os sexos. Os participantes da pesquisa foram contatados através das mídias sociais do Programa Esporte Universitário (facebook, instagram e grupos de WhatsApp das modalidades que participaram) e/ou através do e-mail (informado na inscrição do projeto) para responder a um questionário on-line. Ressalta-se que possivelmente alguns alunos podem não ter recebido o convite para responder o questionário on-line, pois os pesquisadores não controlaram para quais grupos de WhatsApp os questionários foram enviados e nem para quais e-mails. Os convites contendo o questionário on-line foram enviados para os estudantes participantes do projeto Esporte Universitário em maio de 2020. Um mês após o convite, foi realizada a análise dos dados obtidos.
Instrumento de Avaliação
O instrumento utilizado foi uma adaptação do questionário do Projeto Educação, Saúde e Inclusão, da professora doutora Sílvia Maria de Oliveira Pavão (UFSM) “Questões norteadoras da entrevista com estudantes do Ensino Superior”. Na adaptação para o presente estudo foi acrescentado o termo de consentimento livre e esclarecido e questões referentes à participação do Projeto Esporte Universitário. O questionário abrangeu questões discursivas e de múltipla escolha, foi previamente testado com cinco indivíduos para realizar os ajustes necessários, tais como evitar a interpretação errônea das questões e a análise de dados enviesados.
O questionário foi aplicado em uma plataforma gratuita de formulários on-line do Google, o que o tornou mais dinâmico e simples de ser respondido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo teve como objetivo verificar se os participantes do Programa Esporte Universitário mudaram seus hábitos de vida, caso tenham alterado os hábitos, se essa mudança, na percepção dos participantes, poderá continuar a ser implementada durante sua vida e se a mesma poderá repercutir a mudança de hábitos de pessoas próximas de seu convívio social/familiar. A amostra total desta pesquisa foi constituída por 136 estudantes da UFSM, sendo 60,3% (82) do sexo feminino e 39,7% (54) do masculino.
Quando questionados se alteraram seus hábitos, na busca de melhor saúde e/ou qualidade de vida após ingressar/participar na modalidade escolhida, 81,62 % (111) dos participantes responderam que sim e, entre os hábitos alterados, os mais mencionados foram: atividade física (seja aumentar ou continuar/seguir fazendo) 54,05% (60); cuidados com a alimentação 32,43% (36); cuidados relacionados à Saúde Mental (SM) 9 % (10) e conseguiram ter mais foco 9,9% (11). Aqueles que não alteraram seus hábitos representam 15,44% (21) e 2,94% (4) responderam que alteraram em parte.
Segundo Tsouros et al. (1998), de modo amplo, a universidade caracteriza-se como um ambiente em que alunos deveriam desenvolver independência e aprender habilidades para toda a vida mediante vivências de experimentação e exploração. As mudanças na educação superior têm oportunizado que as universidades se tornem ambientes onde profissionais maduros também possam passar por processos de aprendizagem e esses influenciar na qualidade de vida deles.
A importância de alterar hábitos de vida na busca de uma melhor qualidade de vida e saúde é muito benéfica para os universitários, já que, segundo Santos, Teodoro e Queiroz (2016), a maioria das doenças transmissíveis são resultantes de comportamentos de risco, sendo que a escola constitui um ambiente favorável para se estabelecerem mudanças comportamentais, pois nessa fase o jovem está em sua plena formação e aberto à apreensão de novos hábitos de vida favoráveis à prevenção e manutenção da saúde; daí a importância da estruturação e posterior avaliação de programas e projetos educativos no ambiente escolar.
Corroborando com o exposto, Mello, Moysés e Moysés (2010) destaca que as universidades possuem potencial para contribuir com a saúde em três áreas distintas: a) criando ambientes de trabalho, aprendizagem e vivências saudáveis para estudantes e funcionários; b) ampliando a importância da saúde, promoção da saúde e da saúde pública no ensino e na pesquisa; c) desenvolvendo alianças e parcerias para a promoção da saúde e atuação comunitária.
Ao analisar as respostas sobre os cuidados com sua saúde atualmente, grande parte dos participantes desta pesquisa respondeu ter cuidados com a SM 75,7% (103), alimentação 69,9% (95) e saúde física 62,5% (85). Também se obteve uma resposta referente ao cuidado com o meio ambiente e dois participantes que responderam não estar cuidando de sua saúde atualmente.
Segundo Coulon (2017) a passagem do ensino médio ao superior é acompanhada por mudanças importantes em sua relação com o saber: as regras não são as mesmas, elas são mais sofisticadas, complexas, simbólicas e devem ser rapidamente assimiladas pelos novos estudantes. O ingresso na universidade significa uma transição entre fases do desenvolvimento, sendo um grande desafio para a maioria dos indivíduos, o que pode gerar ansiedade, medo e estresse. No estudo de Pinheiro et al. (2020) mostrou que acadêmicos de Enfermagem apresentaram elevada prevalência de sintomas depressivos, indicando a importância da implantação de ações para promoção e prevenção da saúde mental.
Em situações menos graves, o aluno universitário pode não entrar em depressão, mas viver constantemente em estados de tensão oriundos da própria situação acadêmica (FIGUEIREDO; OLIVEIRA, 1995). Isso pode justificar o fato de a grande maioria dos estudantes relatar estar cuidando de sua SM.
Acredita-se que esse resultado também se deva principalmente ao fato de estarmos em meio a uma pandemia (COVID 19). Nesse sentido se destaca a importância da atividade física, pois existe uma discussão em torno de que “discurso científico-político-midiático constrói e repete a narrativa de que há necessidade de se acumular minutos de atividade física na perspectiva da saúde” (CROCHEMORE-SILVA et al., 2020). Nesse cenário, o medo intensifica os níveis de estresse e ansiedade em pessoas saudáveis e aumenta os sintomas daquelas com transtornos mentais pré-existentes (RAMÍREZ-ORTIZ et al., 2020). Também convém salientar que o rápido avanço da doença e o excesso de informações disponíveis, algumas vezes discordantes, criam um âmbito favorável para alterações comportamentais impulsionadoras de adoecimento psicológico, que podem gerar consequências graves na SM do indivíduo (LIMA et al., 2020).
A pandemia de COVID-19 tem posto em pauta a saúde física dos indivíduos e também a SM, visto que, para além de pensar nos efeitos psicológicos do IS, pesquisadores têm discutido sobre as estratégias de enfrentamento para tornar o período de distanciamento social menos adoecedor (WANG et al., 2020). Uma dessas estratégias é a prática de atividade física regular, a qual pode auxiliar no controle da ansiedade e na regularização do sono (WHO, 2020; WANG et al., 2020).
Já, ao serem questionados sobre “se a mudança de hábitos pode influenciar pessoas ou ser influenciada por hábitos adotados durante a graduação”, tivemos as seguintes respostas, apresentadas nas figuras 1 e 2:
Em contrapartida aos hábitos saudáveis adotados durante a graduação, o estudo de Precioso (2003 apud PRECIOSO, 2004), que entrevistou cerca de 400 estudantes universitários, revelou que, embora a maioria dos estudantes tenha começado a fumar no ensino básico e no ensino secundário (portanto na adolescência), uma percentagem elevada de estudantes (cerca de 30%), particularmente de alunas (34%) começaram a fumar na universidade, o que confirma que a universidade é também um local em que muitos alunos adquirem hábitos não saudáveis.
Segundo Mello, Moysés e Moysés (2010) uma abordagem de PS em ambientes sociais tem o potencial de ampliar a contribuição das universidades de várias formas, sendo uma delas através dos estudantes que são ou serão profissionais e formuladores de políticas com o potencial de influenciar as condições que afetam a qualidade de vida de pessoas. Mediante o desenvolvimento do projeto político-pedagógico e de pesquisa, universidades podem ampliar o conhecimento e o comprometimento com a PS de um vasto número de sujeitos capacitados e educados em várias áreas de atuação. Isso inclui, portanto, o comprometimento não apenas de profissionais da área de saúde, mas também daqueles dos cursos das áreas sociais, tecnológicas e humanas. Tal afirmação vai ao encontro do que 98,5 % dos pesquisados acreditam, exposto na figura 2.
As questões relacionadas à saúde estão apresentadas nos gráficos das figuras 3, 4, 5 e 6.
Percebe-se que os pesquisados têm um conceito amplo sobre saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. Essa definição encontra-se como uma das opções mais assinaladas, quando questionados “o que é saúde para você hoje?” (Figura 4).
Tal definição de saúde pela OMS vem sofrendo críticas, sendo considerada irreal e inatingível. Trata-se de uma definição irreal porque, aludindo ao “perfeito bem estar”, estabelece uma utopia. O que é “perfeito bem estar?” É por acaso possível caracterizar-se a “perfeição”? (SEGRE; FERRAZ, 1997)
O processo de viver com ou sem saúde não se reduz, portanto, a uma evidência orgânica, natural e objetiva e nem como um estado de equilíbrio, mas está intimamente relacionada às características de cada contexto sociocultural e aos significados que cada indivíduo atribui ao seu processo de viver (DALMOLIN et al., 2011).
O conceito de saúde como um direito à cidadania foi expresso na Constituição Brasileira de 1988, seção II, nos artigos 196, 197, 198 e 199. Os referidos artigos abordaram o conceito de saúde na perspectiva política, econômica e social. Ampliou-se o direito do cidadão à saúde no direito previdenciário, e foi dada relevância pública aos serviços de saúde como descritos no artigo 196: A saúde é um direito de todos e dever do estado, garantido mediante medidas políticas, sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, p. 118).
Na VIII Conferência Nacional de Saúde, grandes avanços favoreceram a base conceitual de saúde, graças à participação ativa da sociedade, a qual impulsionou o Movimento da Reforma Sanitária, possibilitando a reformulação do sistema de saúde brasileiro, bem como o entendimento de saúde enquanto produto de múltiplos determinantes, como educação, trabalho, alimentação, acesso aos serviços de saúde, dentre outros (FLEURY, 2009).
Em sentido amplo, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde (BRASIL, 1988).
Santos et al. (2014) relata que a necessidade de orientação dos discentes para um estilo de vida saudável e estímulo às atividades físicas é uma forma de melhorar o sedentarismo e suas repercussões à saúde. Em estudo realizado por Vieira et al. (2002) observou-se que o hábito de praticar esportes em universidades brasileiras é deficiente e necessita de incentivo para evitar o sedentarismo, pois menos da metade dos adolescentes pesquisados tinha o hábito de praticar atividade física e a maioria dos praticantes não ultrapassava 4 horas e meia semanais. Já no estudo de Tassini et al. (2017) observou-se que 67% dos estudantes de Fisioterapia eram vigorosamente ativos, pelo menos 30 minutos por dia menos de uma vez por semana, e 25% dos estudantes de Medicina eram vigorosamente ativos, pelo menos 30 minutos por dia durante cinco vezes ou mais por semana. O incentivo aos esportes é capaz de melhorar, de forma indireta, outros domínios como: estresse, álcool, cigarros e drogas e, somado à alimentação adequada, melhora o risco de doenças crônicas, o que mostra a importância da atividade física (TASSINI, 2017).
No estudo de Salvi, Mendes e Martino (2020) que analisou a qualidade do sono, qualidade de vida e hábitos alimentares dos estudantes de enfermagem, observou que os maus hábitos de vida, destacando a falta de prática de atividade física e a rotina estressante de trabalhar e cursar uma graduação no turno noturno, podem contribuir para a prevalência de sobrepeso nessa população. Sabe-se que a prática de atividade física traz benefícios para a saúde em geral. Referente a esse item, uma grande parcela dos participantes relatou não praticar atividade física em relação aos que praticavam. Resultado semelhante foi encontrado em outro estudo com estudantes de Enfermagem da Universidade de Natal (UFRN) (COSTA, 2017).
Dentro dos motivos que levaram os estudantes a procurar o Esporte Universitário e consequentemente realizar uma atividade física foi aprender uma nova atividade (48,5%), ou seja, tinham interesse por uma modalidade específica oferecida pelo Programa. No estudo de Ferreira et al. (2019) destaca-se a grande proporção de indivíduos que não possui interesse pelas atividades propostas nos programas, o que demonstra a necessidade de analisar os interesses e a cultura local para a proposição das mesmas, somente desta forma podemos realmente colocar a atividade física em uma posição de destaque dentro do cenário de promoção da saúde populacional.
Em relação à procura das atividades para a melhora psicológica e da saúde mental, segundo Tao, et al. (2020) e Ghrouz et al. (2019) a atividade física (AF) desempenha um papel importante na melhoria da saúde mental. Indivíduos que relatam um nível mais alto de AF podem ter um nível mais baixo de depressão. Um estudo transversal mostrou uma associação significativa entre AF e depressão para aqueles que eram fisicamente ativos em um clube esportivo e outras atividades físicas organizadas, por exemplo, dança, artes marciais entre adolescentes noruegueses (KLEPPANG et al., 2018).
Um participante da pesquisa, citou que o motivo para procurar as atividades foi já ter participado do Programa Segundo Tempo, que foi criado pela Secretaria Nacional do Esporte, Educação, Lazer e Inclusão social (SNELIS)/Ministério do Esporte, a fim de assegurar a prática de esporte no ensino e em formas assistemáticas de educação (esporte educacional) como preceituado na lei no 9.615/98. Pautando-se nos princípios da inclusão, participação, cooperação, coeducação e corresponsabilidade, a SNELIS implantou-o em caráter experimental em 2009 e efetivou em 2011, ano que foi ofertado na UFSM o “Programa Segundo Tempo Universitário”. O programa tem como objetivo geral democratizar a prática esportiva no âmbito universitário e seus objetivos específicos são ofertar o esporte com cunho recreativo e de lazer, o qual promove a elevação da cultura corporal do movimento dos beneficiados, desenvolve a integração entre a comunidade universitária e promove o estilo de vida fisicamente ativo, tendo como público-alvo a comunidade acadêmica de instituições públicas de ensino superior, prioritariamente discentes (BRASIL, 2016). Destaca-se que o fim desse programa, que teve duração de 2 anos, gerou uma demanda pelos alunos que estavam participando do mesmo, o que forçou a universidade a criar programas para suprir a lacuna surgida.
Em específico ao esporte escolar, no qual o universitário se enquadra, a criação de políticas públicas por intermédio de programas que atendam à comunidade universitária se constitui em importante estratégia de democratização do acesso e formação de uma cultura esportiva, pois segundo dados levantados pelo Ministério do Esporte, 48% da população brasileira começa a praticar esportes na escola e/ou na universidade (BRASIL, 2015).
Quando questionados sobre a universidade oferecer possibilidades para a melhora e/ou manutenção da sua qualidade de vida e/ou saúde, 75% (102) responderam que a universidade oferece possibilidades, 0,73% (1) respondeu que não oferece possibilidades e 24,26 % (33) responderam que oferece possibilidades, porém em parte. Para os participantes que responderam que a universidade oferece em parte possibilidades para a melhora e/ou manutenção da sua qualidade de vida e/ou saúde, foram três os motivos relatados para não oferecer em totalidade, os quais foram:
- Falta ou há poucas vagas para as atividades e/ou atendimentos ou eles são em horários difíceis de participar;
- Falta atividades e/ou atendimentos voltados à SM, atividades dentro da sala de aula voltadas para SM;
- Dificuldade de conciliar os horários e/ou muita pressão das atividades acadêmicas e/ou sobrecarga de atividades.
No estudo conduzido por Souza, Silva e Silva (2019) onde verificou-se que a maior parte das atividades físicas e de lazer oferecidas para universitários eram disponibilizadas a partir das 17 horas, os participantes também relataram dificuldade de participar das atividades em virtude dos horários em que as atividades eram oferecidas. Para suprir essa demanda apontada pelos estudantes, os autores sugerem oferecer possibilidades de práticas esportivas e exercícios físicos antes do início da jornada acadêmica (6h) e durante o dia letivo (7h às 17h), o que ampliaria as chances de participação de um maior número de estudantes, pois estes poderiam otimizar seu tempo, indo um pouco mais cedo para a universidade e participarem das ações ou para os alunos que dispõem de tempo vagos entre um período e outro.
Também podemos notar um desejo dos estudantes em ter ações voltadas para a saúde mental dentro da universidade. A SM é primordial para nossa habilidade coletiva e individual, pois as pessoas pensam, se emocionam, interagem entre si, ganham e desfrutam a vida. Desse modo, a promoção, proteção e restauração da saúde mental são consideradas vitais aos indivíduos, comunidades e sociedades ao redor do mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018). A preocupação com a SM da população aumenta no decorrer de uma difícil crise no âmbito social, como é o caso da pandemia da COVID-19, que vem se afirmando como um dos grandes problemas de saúde pública do Brasil e do mundo nas últimas décadas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020).
CONCLUSÕES
A universidade pode influenciar nos hábitos dos estudantes e é de extrema importância que a mesma oportunize locais e atividades voltadas aos hábitos de saúde e qualidade de vida. Essas ações não irão influenciar somente o corpo discente da instituição e sim toda a comunidade.
A criação de projetos institucionais com ações de promoção de saúde voltadas para estudantes favorece uma formação integral, estimulando a prática profissional responsável, engajada com a realidade social, assim como a formação de profissionais que buscam uma maior qualidade de vida e um cuidado com sua saúde física e mental.
Mudanças duradouras e profundas somente serão construídas através de políticas públicas de saúde e de educação que favoreçam, apoiem e estimulem os processos de transformação das práticas, no sentido da adoção dos referenciais amplos da promoção da saúde, para que essas ações não fiquem na dependência de uma “boa vontade” da instituição e sim façam parte da formação obrigatória dos estudantes.
Também, em virtude da pandemia de COVID-19, a população está mais vulnerável a problemas relacionados à SM, vulnerabilidade evidenciada pela abrupta interrupção das atividades sociais. Considera-se que a inserção de cuidados de SM dentro da universidade será de extrema importância para suprir a grande demanda que, pressupõe-se, será maior em virtude da pandemia. Dessa forma, a universidade conseguirá atender um número bem maior de estudantes, trazendo maior qualidade de vida e saúde a esses e às pessoas que com eles convivem, pela reverberação de hábitos da prática esportiva adquirida no ambiente universitário.
Por fim, a partir desse estudo, originam-se algumas possibilidades de novas pesquisas, pois a complexidade em torno da saúde, da qualidade de vida, da prática desportiva, implica na necessidade de ampliar e aprofundar o conhecimento científico, favorecendo o encontro de algumas pistas para melhor compreender esses processos. A pesquisa científica com os resultados que elas devem invariavelmente apresentar, são alentos aos problemas de saúde enfrentados pela população humana.
Muitos investimentos nesse campo, ao longo dos tempos, foram empenhados, mas a dinamicidade com que são modificadas as demandas da saúde, à exemplo da Covid-19, torna urgente a continuidade dos estudos. Tal entendimento leva em conta as limitações que esse estudo apresenta, o número de participantes, o local único de investigação e o arsenal teórico. Entretanto, tornam-se as principais motivações para novas pesquisas, continuidade e aprofundamento investigativo