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Revista Estudos Feministas

versión impresa ISSN 0104-026Xversión On-line ISSN 1806-9584

Rev. Estud. Fem. vol.31 no.3 Florianópolis  2023  Epub 01-Sep-2023

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2023v31n395359 

Dossiê Corpo e Menstruação na Amazônia Indígena

A tríade lunar entre mulheres Tukano Orientais

The lunar triad among Eastern Tukanoan women

La triada lunar entre las mujeres Tukano Orientales

Silvio Sanches Barreto1 
http://orcid.org/0000-0002-4140-7056

Rosiane Lana Pena2 

1Universidade Federal do Amazonas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena, Manaus, AM, Brasil. 69067005 - ppgascoordenacao@ufam.edu.br

2Faculdade Estácio do Amazonas, Manaus, AM, Brasil - 69025-315


Resumo:

O artigo faz referência aos saberes das avós maternas dos autores sobre a tríade lunar e menstruação, sobre o poder transformador do sangue menstrual na roça, e sobre a relação entre as mulheres e a formiga cinzenta (osokãti). A tríade lunar é um princípio de uso feminino para definir tipos de casamento; a narrativa sobre menarca e roça revela práticas de cuidado que a moça deve ter na primeira menstruação; e a associação das mulheres Tukano Orientais à formiga cinzenta indica a formação da mulher hábil e trabalhadora. O artigo é fruto de uma pesquisa baseada em uma metodologia da “escuta dos saberes das avós maternas” que permite entender relações entre primeira menstruação, conselhos e casamento.

Palavras-chave: Tríade lunar; Conselho; Menarca; Casamento; Tukano

Abstract:

The article makes reference to the knowledge of the authors’ maternal grandmothers on the lunar triad and menstruation, on the transforming power of menstrual blood in the garden, and on the relationship between women and the gray ant (osokãti). The lunar triad is a principle used by women to define types of marriage; the narrative about menarche and the garden reveals practices of care that the girl must take during her first menstruation; and the association of the Tukano women with the gray ant, indicates the training of a skilled and hard-working woman. The research is based on a methodology of “listening to maternal grandmothers’ knowledge” that allows the understanding of relationships among first menstruation, advice and marriage.

Keywords: Lunar Triad; Advice; Menarche; Tukano; Marriage

Resumen:

El artículo hace referencia al conocimiento de las abuelas maternas de los autores sobre la tríada lunar y la menstruación, sobre el poder transformador de la sangre menstrual en la chagra y sobre la relación entre la mujer y la hormiga gris (osokãti). La tríada lunar es un principio utilizado por las mujeres para definir tipos de matrimonio; la narración sobre la menarquia y la chagra revela prácticas de cuidado que debe tener la niña durante su primera menstruación; y la asociación de las mujeres Tukano Orientales con la hormiga gris, indica la formación de una mujer hábil y trabajadora. La investigación se basa en una metodología de “escuchar a los saberes de las abuelas maternas” que permite comprender las relaciones entre la primera menstruación, el consejo y el matrimonio.

Palabras clave: Tríada lunar; Consejo; Menarquia; Matrimonio; Tukano

Este artigo versa sobre questões do universo feminino - conselho, menarca e casamento - entre as mulheres Tukano Orientais,1 e foi desenvolvido a partir de uma metodologia da “escuta dos saberes das avós maternas”. Dessa maneira, propomo-nos a enfrentar, a partir do olhar de dois autores, uma mulher Tukano e um homem Bará, que compõem um casal, instigantes perguntas sobre o significado de alguns saberes femininos numa cultura da linhagem patrilinear.2 A forma de compreender estes conhecimentos passa pela condição de um pai e uma mãe de filhas meninas e de um menino. O fato de os autores serem um casal que, na condição de netos, relembram conhecimentos das avós sobre o universo feminino é algo inédito na literatura sobre estes povos.

Este artigo está dividido em três partes complexas, sendo que as duas primeiras abordam o conhecimento da avó de Silvio que foi transmitido para sua mãe e por ela para o autor. A primeira parte trata da narrativa sobre a menarca a caminho da roça e do odor de sangue que tem a força da transformação de seres outros em gente; a segunda trata da relação que as avós Tukano fazem entre a primeira menstruação, as fases da lua e o casamento das netas; a terceira está baseada no conhecimento da avó de Rosiane e versa sobre a analogia entre as habilidades da mulher Tukano Oriental e a formiga cinzenta da roça.

Os saberes das avós são fontes orais para vida dos netos. O objetivo deste artigo é realizar uma reflexividade antropológica indígena, a partir de uma conexão entre o corpo da mulher, como agenciador da vida da mulher Tukano Oriental e narrativas femininas. Nesse sentido todos os espaços construídos e percorridos pelas mulheres - como a roça e seus caminhos - são importantes na vida de um pai e de uma mãe que têm filhas mulheres e filhos homens.

Somos um casal de um “casamento torto” (Silvio Sanches BARRETO, 2019, p. 92-93), que é o casamento considerado conflituoso entre os membros familiares ou o casamento proibido, por não ser realizado segundo a regra dos antigos, que era o casamento entre primos cruzados - do homem com a filha da irmã do pai ou com a filha do irmão da mãe. No nosso caso, no início ninguém aceitava nosso casamento. O pai de Rosiane e a mãe de Silvio eram basukarã (primos): Tukano e Tuyuka, ou seja, pela regra cultural de casamento tinham um casamento padronizado. O nosso casamento torto aos poucos foi aceito e teve consentimento por parte de nossos pais. Atualmente moramos na Comunidade São João, na rodovia da BR-174, km 04, na capital amazonense, Manaus. Somos netos das avós maternas Tukano que são do rio Tiquié, afluente do rio Uaupés, município de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas. Por conta de muitos motivos, deslocamo-nos da Comunidade do Distrito de Taracuá do rio Uaupés para Manaus (Silvio desde 2002 e Rosiane desde 1995). Estamos há mais de dezesseis anos juntos e temos três filhas mulheres e um filho homem. A seguir mencionaremos a abordagem metodológica para produção desta reflexividade antropológica indígena sobre conhecimentos das mulheres.

Abordagem metodológica: escuta dos saberes das avós

Aqui apresentamos o modo da transmissão dos saberes das avós para os netos. A transmissão de conhecimento da mulher Tukano Oriental comumente se dá de avós/mães para netas/filhas, enquanto o conhecimento masculino se transmite de avô/pai para neto/filho. Esta é a forma de pensar do Alto Rio Negro, por isso não se deve perguntar os conhecimentos dos homens para uma mulher e vice-versa. Estes tipos de conhecimento que tratamos aqui foram acessados por Rosiane, desde sua condição de filha/neta de mulheres. No caso de Silvio, em um primeiro momento, dona Francisca, sua mãe, se emocionou profundamente quando foi solicitada a falar sobre estes temas: “Eu sou apenas uma mulher nem sei tudo. Agora, você tem um padrasto que é homem, sabe e conhece. O que couber a mim vou te transmitir, o que souber do que ouvi”. Silvio, como filho homem, jamais quis menosprezar o conhecimento da sua mãe. Seria diferente se tivesse convivido com o seu pai, que perdeu na infância. Esse fato mudou o modo da transmissão de conhecimento do pai para filho, para mãe para filho. Ao longo desses anos, a mãe de Silvio tem assumido o lugar de pai.

O filho-homem-pesquisador demonstra interesse em saber o conhecimento do pai através da mãe, numa arte de fazer a companhia de sua mãe para escuta dos saberes dos homens que é reforçado pelo padrasto. A mãe é uma porta de acesso dos saberes da ancestralidade. Nesse sentido se diferencia de outros colegas antropólogos que escutaram e registraram os conhecimentos dos próprios pais, realizando uma certa ‘quebra de tabu’. Mas, então, o filho homem começa a se interessar pelos conhecimentos femininos, comumente passados de avó/mãe para neta/filha, mas que também podem ser transmitidos para aqueles homens que têm filhas mulheres.

Podemos dizer que este é um método da escuta sobre os saberes das avós, que é o fundamento para uma construção de pensamento numa antropologia das “coisas que uma mulher sábia fala”. Fizemos todo esforço de trazer em forma de exercício da memorização dos saberes de nossas avós maternas. As avós são arquitetas dos saberes ancestrais pela via matrilinear, porque constroem em nosso corpo o conhecimento. Para uma boa formação, para sermos bons pais e mães que têm filhas mulheres e filhos homens, precisamos ser conhecedores de pensamento das avós. Em certo período estes conhecimentos já estavam adormecidos em nosso ser, razão pela qual os trouxemos para este espaço de reflexividade antropológica indígena.

A pesquisa de doutorado de Silvio tem nos ajudado a memorizar os conhecimentos de nossas avós maternas. Silvio não sentou nem escutou os conhecimentos do seu pai. Os pesquisadores indígenas do Alto Rio Negro têm se esforçado em pesquisar com seus próprios pais. Quem não tem pai, escuta, ou melhor, pesquisa com outras pessoas sábias. Por causa deste modelo de escuta dos saberes ancestrais, os pesquisadores criam seus modelos de fazer antropologia indígena. No nosso caso, estamos centrando a pesquisa nas memórias de saberes das avós para refletir sobre nossas vidas e a vida dos nossos filhos.

Sabemos narrar de forma oral toda esta ciência do universo feminino. Foi necessário adotar uma abordagem metodológica para construção antropológica do universo feminino do Alto Rio Negro. São conhecimentos raros! Jamais encontraríamos estas linhas de pensamentos axiológicos. Somos conhecedores desta ciência da floresta em nossas vidas. Cada um de nós carrega os saberes de nossas avós, mas foi difícil criar uma lógica a ser trilhada no tempo e no espaço. Cada um ouviu em um tempo diferente, em lugares diferentes.

Os saberes femininos se atualizam constantemente, se transformando em uma nova realidade que constrói a vida. Essas avós são fontes orais de saberes para a vida da nova geração. Enfim, Silvio e Rosiane ficaram sensibilizados pelo saber notório de suas avós maternas e de certa maneira querem prestar homenagem para estas mulheres sábias. As nossas avós estão presentes através de seus conhecimentos. Por isso esses saberes das avós jamais morrem. Os conhecimentos estão vivos em nosso ehêri põ’ra (coração) e nós somos novos agenciadores dessa tríade lunar e da formiga cinzenta. Por ter feito o exercício da memorização, agora pensamos em apresentar essas mulheres construtoras de pensamento feminino.

Aqui apresentamos duas mulheres que nos transmitiram seus conhecimentos. Os saberes ancestrais que não morrem, mas que vêm da linhagem matrilinear. Primeiramente, dona Francisca, que é mãe de Silvio, em segundo lugar, dona Quitéria, que é avó de Rosiane.

Construtoras de saberes femininos pela linhagem matrilinear

Yosokamô na língua do povo Tuyuka, dona Francisca Sanches, 77 anos, Tuyuka, nasceu na Comunidade Trinidade, Alto Rio Tiquié, Colômbia. Cresceu na Comunidade Pari Cachoeira, Município de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil. Foi uma das lideranças antigas e animadora na Comunidade Trinidade na Colômbia e na Comunidade Vila Nova, Médio Rio Tiquié, afluente do rio Uaupés. Foi parteira e é especialista em narrar histórias antigas, especialista de ãha-deé, ãha-deé (cantoria feminina). Sua formação remete à avó de Silvio, dona Maria (in memoriam), Tukano, ao bisavô do mesmo, Francisco Sanches (in memoriam) kumû (pajé) e bayá (mestre cerimonial), Tuyuka, ao pai de Silvio, Paulo Emilio (in memoriam) kumû (pajé) e bayá (mestre cerimonial) e ao seu padrasto (in memoriam) basegí (pajé/xamã).

Dona Quitéria Pena (in memoriam), Tukano, nasceu na Comunidade Bela Vista, médio rio Tiquié pertencente ao Distrito de Pari Cachoeira, no Município de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas. Antiga liderança no Médio Rio Tiquié, afluente do rio Uaupés, especialista em narrar as histórias antigas, especialista em ãha-deé, ãha-deé (cantoria feminina3).

Essas mulheres são construtoras de pensamento feminino da linhagem matrilinear para nova geração. A vida dos netos (filhos) é construída pelos conhecimentos das avós (mulheres). O pensamento da linhagem matrilinear é a memória dos saberes, o bem-estar de todo universo. Para essas mulheres, o conhecimento sobre o universo feminino passa pelos saberes vivenciados, são mulheres de ciências que constroem e reconstroem a vida de seu universo. Contudo, a mulher também constrói o pensamento masculino a partir da linhagem matrilinear.

A primeira menstruação no caminho da roça

Vamos iniciar contando sobre um assunto complexo para os homens,4 em uma sociedade patrilinear, uma vez que é difícil encontrar na literatura relatos de conhecimentos cruzados entre os gêneros. Quando Silvio ouviu o conto da narrativa de sua mãe, sentiu um constrangimento construtivo pela sua família. Essas coisas são simples narrativas para a vida de uma criança. O pai e a mãe que têm filhas mulheres ou homens têm de escutar esses saberes. Esses tipos de conhecimentos são para transmitir para os filhos. Se não ouvirem os saberes dos pais, o que vão transmitir para seus filhos? A partir de uma filosofia amazônica, a mãe de Silvio, dona Francisca, criticava duramente as mulheres da primeira menstruação ou do ciclo menstrual, por estas “não se cuidarem”. Obviamente, Silvio não merecia ouvir isto da sua mãe pelo fato de ser filho homem, mas sim, por ser pai que tem filhas mulheres. Ela estava querendo falar sobre tudo aquilo que envolve o período da primeira menstruação, a questão dos cuidados que se deve ter. As mulheres de hoje não temem os perigos que o corpo carrega neste período, que têm a ver com uma tendência para transformação da natureza ou para adoecimento. Para a mãe de Silvio, a primeira menstruação é momento de alta vulnerabilidade para o corpo e o ehêri põ’ra (coração) de uma mulher. Para a mulher Tuyuka, quando jovem, ninguém sente muitas dores no corpo, nas pernas ou ombros, mas, aos poucos, ou melhor, com certa idade, a mulher começa a sentir dores, por causa da teimosia e das infringências juvenis. Para evitar isso, ela tem que seguir os conselhos da mãe ou da avó para ter uma boa saúde. A mãe de Silvio dizia a ele: “Nós mulheres mesmas buscamos essas dores e as doenças de nosso corpo, porque não seguimos os conselhos de nossos pais nem das avós”.

Aqui apresentamos uma narrativa que Silvio ouviu da sua mãe sobre a primeira menstruação a caminho à roça. O fato aconteceu com uma jovem que estava prestes a se casar com seu primo cruzado, e estava morando na casa da tia, no rio acima, onde aconteceu a sua primeira menstruação. A mãe de Silvio lhe contava isto para que observasse e acompanhasse a primeira menstruação de nossas filhas. Estes saberes femininos servem para os pais e as mães que têm filhas mulheres. A saúde da mulher está vinculada aos cuidados e conhecimentos dos pais.

Na língua Tukano, a primeira menstruação é a’mô duhîse. Para dona Francisca, o sangue menstrual é o pensamento feminino de gerar a vida humana para funcionamento da estrutura social de seu respectivo povo. Mas, ao mesmo tempo, a menarca é wiose (uma coisa perigosa), para o corpo da mulher e para todas as pessoas de casa. O fluido da menstruação atrai e incomoda outros humanos,5 que através de suas ações podem gerar doenças nos humanos. Por ter esse entendimento, o pajé, com pensamento metafísico, protege o corpo e o ehêri põ’ra (coração) da mulher para não ela não ser atacada. A jovem que está de menarca corre o risco de ter seu coração trocado pelo coração de gente da floresta. Na língua Tukano, a menarca é a’mó nuhase é yã’âse (coisa ruim).

Nem todas as pessoas do Alto Rio Negro conhecem essa narrativa. Quem conta isso, geralmente, sempre é o homem com outra perspectiva de cuidado, que é a das práticas xamânicas; a mãe de Silvio narrou, pensando sobre os cuidados que se deve ter nesse período da menarca. O corpo menstruado tem força da transformação. Dona Francisca estava chamando atenção para o filho que tem filhas mulheres.

Aconteceu com uma moça que ainda não estava na sua primeira menstruação. A irmã do pai havia arranjado o casamento de sua sobrinha com seu filho. A tia dizia que o seu filho era um rapaz muito bonito. Os antigos casamentos dos velhos eram assim, os filhos deveriam se casar entre os primos cruzados, na forma de troca. Os pais da moça já haviam consentido com a filha para casamento. E, chegando lá, acima da aldeia dos pais, a jovem dizia para a tia que queria conhecer o seu marido. A tia sempre dizia que o filho havia viajado em busca dos materiais de trabalhos para casa. Então, o tempo passou e nada. Quando perguntava era a mesma resposta. Ela deixou isto de lado e ia à roça antes da sua tia, sozinha pelo caminho à roça. Na casa da tia não havia sequer um homem, apenas eram duas mulheres nesta casa. Isso era estranho, mas desconfiava da tia. Ela começou a desconfiar que se tratava de um engano da parte da tia. No meio da floresta sem nenhum homem, só as duas mulheres, anoitecia, amanhecia e nada. Havia, no entanto, uma lagarta dentro de casa, pendurada entre as palhas de caranás.

A primeira menstruação (ciclo menstrual) é a alegria do corpo feminino para a produção e para reprodução humana, isso se percebia nos bicos do peito alegres, pretos e durinhos. Entretanto, o sangue menstrual do corpo de uma mulher tem o poder da transformação -

dos pequenos animais (bikîrã6) da roça em gente. A lagarta da roça, Wapu, que é um ser feio, se transforma em um homem muito bonito, e aparece usando cocar, colar e tocando um instrumento musical, a flauta kariçu, usada em contexto de festa para diversão e para seduzir mulheres.7 Para a lagarta da roça, a menstruação é o período propício da transformação da sua natureza em um homem com o objetivo de manter relação íntima com uma mulher humana no caminho à roça. O odor do sangue da primeira menstruação “bate” no ser da lagarta. A mulher que trabalha na roça conhece bem uma lagarta, que é muita feia. No dia seguinte ao que foi seduzida por ela, que se apresenta no seu aspecto humano, a jovem amanhece triste e muito preocupada consigo mesma.

A jovem sabia do perigo que corria e anoiteceu preocupada com a sua primeira menstruação. Diante dessa situação, lembrava de todo conselho da mãe de ficar em casa, num lugar restrito. Lugar de resguardo da primeira menstruação, protegido cercado de paris (esteiras) em reclusão (OLIVEIRA, 2023), seguro e acompanhada pela avó ou pela mãe. Logo que amanheceu foi tomar banho no rio e na volta fez mingau. Neste primeiro dia da menstruação, a tia percebeu que sua sobrinha já estava de menarca, porque via na aparência. Depois do mingau da manhã a sua tia pediu que fosse à roça para arrancar as mandiocas para fazer caxiri, bebida fermentada de mandioca. A moça estava com o pensamento longe, de não querer ir, porém, foi assim mesmo à roça. No silêncio feminino pensava em ficar em casa. Mas ela não podia recusar o pedido da tia e, assim, pegou seu aturá8 e foi embora pelo caminho da roça, mesmo estando de menarca.

Pelo costume local, a moça deveria ficar em reclusão e não poderia ir a nenhum lugar, porque a primeira menstruação é um período de grande agenciamento do corpo, esse é o conceito do Alto Rio Negro. O corpo menstruado é o corpo desprotegido de quaisquer tipos de ações dos seres de outros patamares. Esta é uma ciência do universo feminino, transmitida de mulher para mulher, do noroeste amazônico. Desde a infância a mulher vem sendo aconselhada pelos pais a ficar em casa nesse período. Por um lado, o sangue menstrual é uma agência de atração para o povo da floresta, gente da roça; por outro, o odor da menstruação provoca os wẽhóse (ataques) do povo da floresta, da roça, do rio, das montanhas. O corpo de menarca se assemelha ao corpo bem apetitoso para pessoas de outros patamares. Desse modo acontece ataque, ações de gente como a gente da floresta, do rio, das montanhas ou dos lugares que têm o nome Wa’î-masá yee wẽhóse. Esses ataques são sentidos nos nossos corpos humanos como doenças, mas para os povos da floresta, gente do mundo e wa’í-masa do rio, significa a’mê tarãse (enamorar-se) com a mulher humana.9

Chegando à roça, fez logo o fogo. Ela estava muito pensativa e preocupada consigo mesma. Quando a gente vai à roça no primeiro dia do ciclo menstrual, isso mexe com a cabeça da lagarta Wapu. De repente, bem longe se ouvia o som de um kariçu (flauta-pã) acompanhado de uma boa gargalhada em direção da casa. O tocador de kariçu era Wapu. A lagarta havia se transformado em um homem. Wapu estava tocando kariçu no caminho à roça pela força do sangue da menarca. Ela não acreditava que o homem estivesse tocando kariçu, pois não havia nenhum homem em casa e, ao mesmo tempo, imaginava que o filho da sua tia estivesse retornado da viagem. Outra vez se ouvia o som de surerêêêééé e seeruruuuu!!!, acompanhado por uma boa gargalhada. De longe e de perto se ouvia bem o som de kariçu. Ela começou a sentir um arrepio no corpo. O que ela havia arrancado de mandiocas ajuntou logo em um só lugar, raspou e encheu seu aturá. Naquele tempo, as mulheres antigas carregavam as mandiocas todas raspadas. Cada vez mais o som de kariçu se aproximava. Ela não acreditava nisso, jamais havia imaginado que uma lagarta se transformasse em um homem muito bonito. Outra vez se ouvia o som de surerêêêééé e seeruruuuu!!!! De longe se ouvia bem o som de kariçu contagiante, e ela pensava que o homem estaria vindo para carregar o aturá de mandioca. Por um lado, se alegrava, mas também temia qualquer eventualidade. Bem na entrada a caminho da roça, na direção da casa, e, mais uma vez, ouviu surerêêêééé e seeruruuuu!!!, bem como algo semelhante a uma conversa. Cada vez mais estava se aproximando e a curiosidade havia aumentado.

Ela pensava consigo mesma, quem deveria de ser homem tão maluco que estava tocando a flauta-pã no caminho da roça. Bem longe avistou um homem que estava vindo em sua direção, com o seu kariçu, com o cocar na cabeça e com toda pintura facial, ele vinha ao seu encontro. De longe sentiu uma sensação de arrepio e se escondeu atrás de uma grande árvore para espiar. Muito perto dela, tocou um surerêêêééé e seeruruuuu. “Chegou o dia que vou me encontrar com a minha esposa humana”, disse a lagarta. Ele veio andando com os passos largos. Com os olhos da primeira menstruação, era um homem muito bonito. No entanto, quando ela olhou direito, apenas viu que era uma lagarta muito feia. Ele parou bem à sua frente e, aí mesmo, ela “deu o fim” e, sua tia que estava em outra roça gritou: “Ai!!! Alguém está matando o meu filho”.

O caminho da roça é o caminho de saberes femininos e de relações sociais, do bem-estar de todo universo, da rotatividade e da memória à gestão cosmopolítica. O sangue da menstruação no caminho da roça é o próprio caminho da transformação do corpo.

O caminho é construído e desconstruído, é o lugar onde se atualiza o novo pensar feminino no contemporâneo da mulher, a partir da linhagem matrilinear que tem o nome de uma ancestral. O caminho tem donas, de acordo com uma onomástica Tukano, que são antecessoras para transitoriedade neste caminho. A mulher recebe o nome de uma pessoa para circulação em outros caminhos. O caminho é o próprio caminho metafísico de saberes que se intercruzam nas vidas das pessoas. Existe caminho principal que se constrói ou se desconstrói que se amplia as relações sociais. Nestes caminhos os pensamentos viajam em lugares longínquos e desconhecidos.

O caminho da roça é o caminho associado como os braços de um rio que desemboca no principal caminho, que é o rio. O rio é o próprio caminho da formação e da transformação humana do povo Tukano. O caminho da roça é o caminho feminino que forma a rede de caminhos que se intercruzam permanentemente. Só donos conhecem bem estes caminhos construídos pela linhagem matrilinear. As mulheres sábias são assertivas ao dizerem que existe um só rio como caminho principal e, ao longo do caminho, entram riachos, igarapés, ou melhor, pequenos caminhos que levam outras roças. O caminho da roça é um lugar de nascimento de uma criança para fortalecimento de seu grupo. Ora, é o caminho da troca de saberes da linhagem matrilinear sobre os cuidados, para diálogo com as manivas, uma relação sinérgica humana-vegetal. O caminho não é só aberto para ir a derrubar as árvores para fazer a roça, mas, também, para construção de uma boa pessoa. Para a mulher Tukano, o caminho da roça é o caminho da produção de alimentos para alimentação do corpo e ehêri põ’ra (coração). Em toda comunidade ou aldeia Tukano, existe o caminho principal que leva a vários lugares. Nesse caminho se descobrem outros caminhos pequenos que têm a vida, porque esses caminhos têm o nome de uma ancestral, outros pequenos caminhos que levam para diversas finalidades: o caminho dos humanos, caminho dos animais, caminhos dos pássaros, caminhos dos wa’î-masa, caminhos das formigas, caminhos visíveis e invisíveis.

Para o povo Tukano, estes caminhos diversos e específicos se cruzam e intercruzam para a circulação do homem e da mulher Tukano para ir e trazer os alimentos para casa. O caminho da roça também é o caminho do rapto de mulheres. No caso narrado, a lagarta-homem foi a esse caminho da roça para encontrar a mulher humana no período da menarca. O caminho da roça tem seu perigo para a jovem na sua primeira menstruação. Mas, pelo caminho da roça, os velhos Tukano raptavam as mulheres para o casamento. Essas mulheres raptadas (à força, ou com briga violenta) fugiam à noite pelo caminho ou pelo rio, enganando-os ao dizer que iriam à roça, carregar água ou que precisam realizar suas necessidades, e sumiam, não voltando mais à casa de seus sogros. A mulher raptada sempre fugia e voltava às suas origens. Às vezes, as mulheres fugiam pelo caminho da roça de um casamento sem consentimento, mas atualmente não existe mais essa prática.

O caminho da roça também é caminho da beleza. Existem umas frutinhas que ficam à beira do caminho da roça e que tem usos e significados especiais para as mulheres. As folhas de kã’rá e da embaúba são apanhadas pelas mulheres Tukano, Tuyuka, Bará, Barasana, Desana, e usadas para limpeza da estética facial. No passado, ao fazer a limpeza facial com essas folhas de buiuiu, seus rostos ficavam bem limpos para pintura facial do pó de carajuru. Estas jovens também costumavam extrair casca de um osô diîgi10 para pintura facial com a seiva destas árvores e limpavam o rosto das manchas do “pano preto”.

Os kã’rá pũ (pés de buiuiu) ficam ao longo do caminho da roça carregados de muitas frutinhas bem adocicadas e cheias de espuma; quando vão à roça, de tanto comer estas frutinhas as crianças ficam com as bocas pretas. Nós colhíamos muito com uma folha convexa frutinhas de kã’rá e os brincávamos de ofertar com outros meninos. Mas, quando as mulheres comem essas frutinhas de buiuiu roxinhas pretinhas no período da gestação, seus filhos nascem cheios de pelos no corpo, característica que remete à aparência dessas frutinhas.

Silvio aprendeu com seu padrasto Benedito, que era basegí,11 que nas fórmulas de basese, conjunto de ações xamânicas, efetivadas no período da menarca, o pai ou avô oferece alimento metafísico, o alimento do corpo e do ehêri põ’ra (coração) para a moça, transformado no leite e na espuma dessas frutinhas doces, para que a jovem se torne bem corada, forte e cheia da vitalidade, uma jovem muito feliz.12

Para Silvio, foi desafiante como filho-homem pesquisador ter escutado estes saberes femininos de sua mãe. Como pai de uma família, teve que demonstrar muito interesse. Não foi nada fácil para um homem refletir sobre o corpo menstruado que é uma agência transformadora (Luisa Elvira BELAUNDE, 2006; 2008). Os baserã (xamãs) entendem que, em todos os patamares da terra, existem gente como a gente. Nós, pessoas humanas, temos corpos visíveis para viver neste mundo humano. Pessoas de outros patamares possuem corpos invisíveis, mas que vivem conforme os seus status sociais. O odor do sangue da primeira menstruação tem o poder da transformação desses seres em masá (gente) e isso coloca as jovens menstruadas e outras pessoas que vivem ao redor dela em vulnerabilidade, por isso a importância de se ouvir conselhos e em se ter cuidado.

A menarca e a tríade lunar Tukano

No ano de 2022, os pais de Silvio estavam de passagem conosco, aqui em Manaus. Na cozinha de casa estávamos conversando, e Silvio e a mãe falavam sobre o plantio de manivas e sobre a menstruação. De repente, Silvio puxou a conversa sobre vênus e a lua, e a sua relação com o casamento, algo que ele havia escutado em outro momento. Então, a mãe de Silvio começou a dizer: “Você quer saber o conhecimento de sua avó sobre a menarca na tríade lunar? A sua avó assim me contou na minha infância”, disse dona Francisca. A mãe de Silvio dizia que ele deveria ouvir mesmo, porque era pai que tem filhas mulheres: “- Vou te contar o que ouvi de sua avó. Nem toda mulher conhece essa história. É conhecimento de sua avó!”

Ao observar a fase lunar na primeira menstruação as avós já sabiam como seria o casamento das netas. Cada fase lunar indicava certa a faixa etária dos homens com quem elas casariam. A tríade lunar mais conhecida pelas mulheres era: 1. Muhî-pũu ma’má masagika (lua muita nova); 2. Muhî-pũu ma’mî (lua nova) e, 3. Muhî-pũu bikihó (lua muita velha).

Essas são as fases lunares mais conhecidas pelas avós Tukano e têm relação com a vida das suas netas. Silvio nunca havia escutado sobre a primeira menstruação na fase lunar Tukano e se não fosse pela sua insistência esse assunto não seria trazido para esta reflexividade antropológica indígena. A sua mãe lhe contou pelo fato de ter filhas mulheres, pois seria importante acompanhar a fase lunar na primeira menstruação das filhas. Segue a leitura da avó para a neta sobre fase lunar e casamento:

1ª Fase: A’tó muhî-pũu mihâtikã, a’mogó, koô tohô weegó ma’ma masagí me’ra tohagosamó. Se a moça ficasse de menarca quando a lua nova estivesse subindo bem sob as árvores, acompanhada de uma estrelinha, isso mostraria que ela se casaria muito cedo com um rapaz muito novo. Este estado lunar só é visto na boca da noite de céu bem limpo. Aquela lua nova grande que vem surgindo entre as árvores. Muhî-pũu ma’mîakã, lua muita nova, correspondia a imí ma’masagí, rapazinho. Isto corresponderia à fase da lua crescente.

2ª Fase: A’tó imîkoho dekô, a’mogó, toho weegó koô ma’mí me’ra tohagosamó. Aqui, quando a lua estivesse subindo na metade da noite e a moça tivesse a primeira menstruação, quando uma estrelinha estivesse junto à lua cheia no meio dia, isso significava que a moça se casaria um pouco mais tarde com um jovem adulto. As avós dominavam o calendário Tukano para a vida de suas netas, e de acordo com as fases lunares até ficavam felizes ou ficavam preocupados com a primeira menstruação das filhas. Isto envolvia o casamento da neta com um rapaz adulto nas proximidades. Muhî-pũu ma’mî, Lua nova, tem a ver com imí niîri bikî, homem adulto. Isso corresponde à fase da lua cheia.

3ª Fase: Sõ’ópi muhî-pũu dihakã, a’mogó, toho weegó bikihô me’ra tohagosamó. Quando a lua estivesse sumindo entre as árvores e a jovem ficasse de menarca, ou seja, quando a lua e a estrelinha estivessem quase atrás das árvores, tinha sentido de que a jovem que estava em menarca nesta fase da lua casaria com um bikihó (homem velho). As avós indo tomar banho viam esta fase lunar, uma estrelinha, pouco afastada da lua, ao amanhecer. As avós paternas ou maternas, vendo sua neta, já entristeciam, porque a neta não mereceria ficar com o homem velho. Muhî-pũu bikihó, lua muita velha, refere-se a um imí bikihó-homem velho. Isso corresponde à fase da lua minguante.

Essas três fases lunares são conhecidas e articuladas pelas mulheres Tukano. Cada fase lunar é uma forma de saber a idade do homem com quem a moça casará, mas indica além disso, sua origem (onde ele mora) e quais os aportes que ele vai trazer para a família. De certo modo é interessante que a filha case com quem lhe possibilite trazer muitos artefatos de trabalhos ou mercadorias para os pais. Os pais acreditavam e preferiam que a filha casasse com o homem de longe, pois enquanto o casamento com homem de perto sempre criava conflitos entre familiares, o casamento da filha com o homem de longe era uma das formas da ampliação de parentesco e do território.

O casamento com o homem do rio abaixo: A’tó muhî-pũu mihâtikã niîkã, a’mokã, sirorikĩ me’ra tohagosamó. Aqui, a moça que ficasse de menarca quando a lua viesse subindo entre as árvores, acompanhada de uma estrelinha, na fase correspondente à lua crescente, se casaria com o homem do rio do abaixo, que seria o homem da mercadoria. Portanto, a neta moraria nas grandes cidades e, assim, traria muitos apeká (mercadorias) para os familiares.

O casamento com o homem da região. A’tó yamí dekô, a’mokã, a’to wateroki me’ra tohagosamó. Se a moça tivesse a menarca à meia-noite, na fase correspondente à lua cheia, significa que a moça se casaria com o rapaz maduro que é da região das proximidades. A neta se casaria com o rapaz conhecido dos pais, provavelmente rapaz das proximidades ou da própria aldeia, que traria problemas para a família.

O casamento com homem do rio acima. Sõ’ópi muhî-pũu dihakã, a’mokã, buikĩ me’ra tohase. Se a lua estivesse sumindo entre as árvores na menarca, na fase correspondente à lua minguante, a moça se casaria com um homem lá do rio acima que é o homem velho. Os pais da moça não aceitavam muito por causa da idade, e também temiam muito esse homem, porque os pais do rapaz podem “assoprar” (ação maléfica do basegí). Contudo, havia consentimento dos pais porque a filha traria muita caça, muitas cestarias, muitas mochivas (larvas) e muitas frutas da floresta, canoas, muitos artefatos de trabalhos para seus sogros.

Outro ponto de observação diz respeito às avós, diz respeito à mulher mais velha que ainda não casou. Quando as pessoas veem na fase correspondente à lua cheia uma estrelinha muito perto da lua, era sinal do casamento de uma numiô iâri13moogó (mulher que não tem nenhuma atração para casamento), que fica por muito tempo com os pais, sem se casar com nenhum homem. Com esse sinal as outras pessoas ficavam atentas para saber com quem essa mulher se casaria. Quanto mais cedo da noite fosse vista uma estrelinha muito perto da lua cheia, mais rápido ocorreria o casamento.

Na linguagem da ecologia da avó na tríade lunar

Muhî-pũuri a’mosé significa que a primeira menstruação de uma mulher está ligada às fases da lua, exatamente indicando como será o casamento das filhas. Mas além disso, as avós eram especialistas nas fases lunares como agenciadoras da vida cotidiana. Uma coisa extraordinária das fases lunares é a construção de universo feminino, e, não só para casamento e, sim, para ser uma mulher da fartura de alimentos.

O homem Tukano conhece bem o ki’marí (calendário anual), registrado na literatura antropológica, guiado pelas constelações, que demarca as épocas de inverno e de verão e um calendário que orienta a vida cotidiana (Melissa Santana de OLIVEIRA, 2017; Justino Sarmento REZENDE, 2021a). Para os velhos, cada tempo ou cada época define a realização das atividades de fazer a roça, da caça, da pesca, da colheita de frutas da floresta, e ainda de limpeza estomacal, be’tise (dietas alimentares) e as abstinências sexuais (antes e depois) para tomar a bebida enteogênica, caxiri (bebida fermentada de mandioca) e dançar de kapiwaya ou danças dos velhos, usando cocares. Esses elementos do calendário dinamizavam a vida Tuyuka, Tukano, Desana, Barasana, Bará etc. Os velhos conheciam cada tempo ou cada época de doenças, por isso faziam basese (encantações xamânicas) da proteção as pessoas, onde defumavam os seus corpos e ehêri põ’ra (coração), para proteção das aldeias, das florestas, das plantações dos quintais e das roças e dos rios, mas também para casamento, o nascimento de uma criança. E tudo isto faz parte do ciclo da vida Tukano nos seus territórios.

No entanto, muito pouco se fala da tríade lunar entre a mãe e o filho. Para mulher Tukano, as fases lunares são importantes na sua vida. As fases lunares são o calendário feminino, que orienta sobre como planejar o trabalho da roça, como fazer o plantio de maniva, capinar, arrancar as raízes de mandioca, torrar a farinha, extrair goma, fazer bebida fermentada para a festa da oferta e até saber sobre o nascimento de uma criança. De acordo com a fase da lua, no nascimento de uma criança já se sabe o futuro desta criança, se será bom pescador, caçador e coletor de frutas da floresta e uma boa pessoa para fortalecimento de seu respectivo povo.

Esses saberes femininos da mãe de Silvio nos fizeram repensar o conceito de vida em que estamos inseridos na cidade de Manaus. O calendário e as fases lunares constroem a vida tukana. Por isso, a tríade lunar tem sua importância na vida de uma mulher Tukano (outras mulheres de outros povos) e também para o pai que tem filhas mulheres. Para a mãe de Silvio, a tríade lunar é o próprio calendário feminino, assim ela ouviu de sua própria mãe. Como Silvio é pai que tem filhas mulheres, sua mãe lhe solicitava que ele pudesse acompanhar as fases lunares da primeira menstruação das nossas filhas. “Sendo homem tem de saber as coisas das mulheres, não é você que vai se casar, pensar nas filhas”. Escutando isto da mãe, Silvio ficou muito sensibilizado. Os conhecimentos têm de ser compartilhados entre a mulher e o homem para a vida dos filhos. A proximidade entre uma estrelinha e a lua tem a ver com a vida da mulher para casamento. A lua não erra sobre uma mulher que não tem atração para casamento. Por esse motivo, as mães, vendo isto, essa proximidade da lua com a estrela, que significava um namoro entre ambas, já se preocupavam com quem a filha iria se casar, e isso se refletia na vida de suas filhas. Essas observações astronômicas servem para que o pai e a mãe que têm filhas mulheres saibam isto para a vida das filhas. A tríade lunar é de conhecimento feminino, e isso tem a ver com a observação das fases lunares para o planejamento familiar. Por fim, a vida, a saúde, o trabalho, o casamento, a gestação, o nascimento e a reprodução humana se baseiam nas fases lunares da vida do grupo Tukano oriental.

A mulher Tukano é associada a uma formiga Osokãti

Agora veremos o conhecimento da dona Quitéria Pena, Tukano, que associa a mulher Tukano a um tipo de uma formiga cinzenta da roça. A dona Quitéria contou essa história de Osokãti, formiga cinzenta da roça, na fase de adolescência da sua neta, Rosiane. Então, calcula-se o ano de 1997, quando Rosiane tinha entre 11 e 12 anos, e estava morando no alojamento da Fazenda São Pedro, BR-174, km 02, Manaus-Amazonas.

Essa história da mulher Tukano ser associada à Osokãti é algo inédito que foi relembrado pela autora deste artigo. Enquanto casal, não apenas contamos para nossos filhos, mas socializamos para que os bisnetos saibam sobre o conhecimento de sua bisavó. Uma coisa inovadora na antropologia da mulher indígena do Alto Rio Negro. Por isso fizemos todo esforço trazendo isso para o espaço do pensar o pensamento da mulher. As avós maternas usam muito a linguagem da ecologia humana. Na língua Tukano oriental, diz-se que uma mulher é da’rase ĩ’yo duagó quando é uma mulher que mostra sua atividade técnica, habilidade, rapidez e muita discrição nas suas atividades cotidianas. De acordo com a filosofia da mulher experiente, dona Quitéria, a mulher Tukano era vista pelos outros como uma mulher que não trabalhava. Por isso, quando Rosiane estava na fase de adolescência para a puberdade recebeu o Werese (conselho) da avó para que a neta não carregasse má impressão dos familiares do marido, de que não seria trabalhadora. Nesta perspectiva, dona Quitéria trouxe um dos elementos do próprio espaço feminino da roça, Osokãti, formiga conhecida por ferrar as crianças na roça.

As avós associavam suas “netas [como se fossem] as formigas, na linguagem da ecologia, a vida da mulher era associada a uma formiga, pois que a mulher tem de ser hábil, rápida e muita discreta em seus trabalhos cotidianos” (BARRETO, 2019, p. 89.). Osokãti é uma formiga pequena, cinzenta, que a gente encontra muito na roça, no caminho da roça ou no pátio de nossos povoados. Osokãti é uma metáfora acerca da mulher Tukano para que esta se assemelhe à formiga, e seja apontada como da’rase ĩ’yo duase (mulher hábil para o trabalho). De acordo com Dona Quitéria, essa formiga nunca fica parada, como se o seu trabalho não tivesse fim. “Essa formiga é de ferroada!” Essa ferroada é para fazer despertar logo para exercer o trabalho da roça.

Podemos destacar que, em alguns momentos, os conteúdos são importantes na transmissão de conhecimento da mãe para a filha ou da avó para sua neta. Para a avó, a questão da transmissão de conhecimento está relacionada com o sentido de querer o bem-estar da neta. Por isso, levar em conta a associação que a avó faz entre as mulheres e essas formigas da roça significa considerar os sentimentos afetivos da avó, sobretudo, levar estes conhecimentos para a vida. Muitas vezes, as avós afirmam que as netas são suas filhas. Na língua Tukano existe uma expressão comum usada pelas avós: mi’îre ma’ígo werêgo weé, makó! (eu te sovino tanto que te ensino [aconselho], filha). Esse termo de ‘sovinar’ na língua Tukano tem sentido mais profundo, que vai além do ato de avareza, mas significa o amor incondicional da avó pela sua neta (neto). Tudo aquilo que uma avó sabe é transmitido para suas netas.

Então, ser uma avó não é apenas uma questão de parentesco, mas a de ser a raiz da vida da neta, a avó é uma pessoa fundamental na linhagem da ancestralidade feminina. A neta é o elo do passado para o presente, sendo novo fluxo de pensamento da avó. Esse ma’î (amor) das avós é algo específico na formação de uma mulher. Neste sentido, a avó pode ser considerada um “paneiro de saberes” (REZENDE, 2021b). Uma pessoa se torna semelhante a um paneiro que transborda muitas reflexividades ou um novo aturá que carrega os saberes femininos para a vida. Neste sentido, pode ser considerada como um desses caminhos adequados e próprios deste universo, que é o caminho da roça. Os saberes ancestrais têm caminhos nas vidas das pessoas.

O caminho da roça é o caminho da relacionalidade entre os humanos, outros humanos, gente do mundo, bem-estar de todo universo. É o caminho da reprodução, do nascimento e do trabalho da mulher. Ao longo do caminho da roça as mulheres vão falando as coisas de mulher para mulher, que são contadas entre piadas e gargalhadas sobre o trabalho da roça, enquanto as mais velhas vão mostrando que tudo está relacionado ao cuidado do plantio de maniva, ao preparo do solo, à forma adequada de consumir os produtos da roça. Então, a neta tem de ser semelhante à formiga cinzenta que nunca fica parada no caminho da roça, na própria roça e no pátio da aldeia, como se o seu trabalho não tivesse fim, sendo hábil, rápida e discreta em seus trabalhos cotidianos. Uma preocupação das mães é que nem sempre o homem se casa com uma mulher trabalhadora e nem sempre a mulher se casa com um homem trabalhador. Não ser uma boa trabalhadora é uma desonra e desprestígio para as avós. Através das netas, os ensinamentos das avós continuam presentes pelo modo do trabalho da neta. Na filosofia das avós, as coisas têm de ser feitas nas atividades cotidianas. Rosiane, em sua vida de casada, faz todo esforço para seguir os saberes da sua avó, dona Quitéria. Mas não é fácil ao morar fora de seu ambiente de convívio, onde estes saberes parecem não ter importância.

O caminho da roça é o percurso da mulher, o momento em que a mãe forma a sua filha para que esta seja uma boa pessoa e feliz. Esses ensinamentos envolvem coisas complexas que parecem tão simples, triviais, como carregar a lenha. A mulher não carrega qualquer lenha, mas a lenha de qualidade. Na ida à roça queimada para carregar a lenha, a mãe ou avó transmite o conhecimento sobre qualidade da lenha. Na roça queimada, ajunta-se uma lenha para cada utilidade, para cozer peixes, manicoera (líquido extraído da mandioca fervido), para moquear, fazer beiju, no preparo da quinhapira (caldo de pimenta com peixe) e do mingau. Cada tipo de lenha se ajusta melhor para determinado tipo de alimento. No interior do município de São Gabriel da Cachoeira, as mulheres ainda carregam a lenha. Em companhia com sua mãe, a filha sabe identificar a qualidade da lenha e desde pequena aprende sobre isso. No entanto, as avós são as primeiras a darem informações melhores e mais elaboradas. Para outros cozimentos, é o homem quem carrega a lenha para fazer caxiri, torrar a farinha, cozer pupunha.

A formação da mulher Tukano, Tuyuka, Bará, Miriti Tapuia, Desana, é baseada, na língua Tukano, na marî pakó, marî yẽkó werese ti’os (escuta dos conselhos de nossas mães e das nossas avós), nos saberes matrilineares que envolvem muitos outros aspectos da vida e revelam no conjunto o modo de pensar e fazer a vida da mulher. Saberes que revelam o ethos dos antepassados, o modo de ser dos antepassados e passam por atividades como carregar água no rio, i’iá seeró (catar piolho), Kii-boó pã’reró (extração da mandioca mole). O que quisemos mostrar aqui foi o processo da transmissão de conhecimento da formação de uma mulher com ênfase no universo feminino. O companheirismo entre mãe e filha e/ou avó e neta complementa a formação da mulher, que perpassa fortemente a escuta das experiências da mãe e da avó. A vida de uma mulher se constrói pelas atividades cotidianas, sendo muito hábil, rápida e discreta para a produção do alimento do corpo e do ehêri põ’ra (coração). A vida da mulher é o próprio caminho construído através dos saberes das avós maternas/paternas. É neste sentido que afirmamos que os saberes das avós jamais morrem; os netos e os bisnetos, as netas e as bisnetas se atualizam constantemente para evidenciá-los no contexto em que estão inseridos.

Considerações finais

Todo esforço do ensinamento da avó através do werese (conselho) diz respeito ao querer bem, ao amor incondicional da avó por sua neta. Porém, a neta tem obrigação de escutar bem as experiências vividas pela avó, que associa a neta, por meio de uma linguagem ecológica, com a Osokãti (formiga cinzenta), para quem o trabalho não tem fim.

Somos um casal que ouviu os conhecimentos de nossas avós maternas. Cada uma de nossas avós está presente em nossas vidas: enquanto uma está presente no conhecimento sobre as fases lunares e na sua relação com o casamento e, ainda, nos cuidados que a moça em menarca deve ter em relação à roça, outra está presente no trabalho cotidiano, na questão da habilidade, rapidez e discrição, nas atividades cotidianas que remetem ao comportamento da formiga cinzenta. Fizemos todo esforço de trazer esta reflexividade antropológica indígena sobre o universo feminino. O filho homem, Silvio, apenas ouviu o conto sobre a lagarta, que naquele momento não tinha nenhum sentido, porque era um adolescente e não pensava em formar família e ter filhos. Para Rosiane, como neta, os saberes da avó materna sobre Osokãti sempre foram importantes. A tríade lunar e a Osokãti não são conhecidas pela nova geração. Portanto, nos debruçamos cuidadosamente sobre o material obtido, que é o patrimônio material e imaterial das avós Tukano.

A principal agenciadora de seu corpo é a mulher e ela mesma é agenciadora do corpo social. Estes saberes femininos são importantes na vida de todas as mulheres e de uma mãe e de um pai que têm filhas. A primeira menstruação constrói o corpo da mulher e abre espaço para o casamento que amplia o novo território de parentela. Para avós maternas, a primeira menstruação indicava o casamento da neta com um rapaz, um adulto ou com um homem mais velho, e ainda com um homem do rio abaixo, um homem da mercadoria, com um homem da redondeza ou com um homem da cabeceira dos rios, um homem dos artefatos de trabalhos femininos.

Enfim, na linguagem das avós, a vida da mulher é o próprio caminho construído pela tríade lunar que brilha para trilhar pelos caminhos dos rios por meio de casamento, no Alto Rio Negro. Nestes caminhos, os saberes das avós maternas jamais morrem, porque sempre se perpetuam de geração a geração. Por essa razão, fizemos todo esforço de trazer a memória sobre os conhecimentos de nossas avós maternas Tukano, lembrando dos saberes que a mãe de Silvio ouviu da sua avó, e ele da sua mãe, e Rosiane da sua avó. Morando em Manaus, apropriamo-nos de uma abordagem metodológica de “escuta sobre os saberes das avós” do passado para o presente, ou melhor, os saberes das avós maternas foram escutados e estão presentes em nossas vidas, porque somos mãe e pai que têm um filho homem e filhas mulheres, nossa família, na grande capital amazonense

Referências

BARRETO, Silvio Sanches. Transformações pelos basese nas práticas tukano sobre concepção, gestação e nascimento da criança. 2019. Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social) - Universidade Federal do Amazonas, Amazonas, Brasil. [ Links ]

BELAUNDE, Luisa Elvira. “A força dos pensamentos, o fedor do sangue. Hematologia e gênero na Amazônia”. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 1, p. 206-243, 2006. [ Links ]

BELAUNDE, Luisa Elvira. El recuerdo de Luna. Género, sangre y memoria entre los pueblos amazónico. Lima, Peru: Universidade Nacional Mayor de San Marcos. Segunda edición. Revisada y ampliada. 2008. [ Links ]

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OLIVEIRA, Melissa Santana de. “Narrativas sobre menstruação e suas transformações no Noroeste amazônico”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 31, n. 3, e95384, 2023. (Dossiê Corpo e Menstruação na Amazônia Indígena) [ Links ]

REZENDE, Justino Sarmento. A festa das frutas: uma abordagem antropológica das cerimônias rituais entre os Utãpinopona (Tuyuka) do alto rio Negro. 2021a. Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social) - Universidade Federal do Amazonas, Amazonas, Brasil. [ Links ]

REZENDE, Justino Sarmento (Org.). Paneiro de saberes: transbordando reflexividades Indígenas. Brasília, DF: Mil Folhas, 2021b. [ Links ]

1Os povos mencionados neste artigo - Tukano, Bará, Tuyuka, entre outros - pertencem à família linguística Tukano Oriental, que tem como território a Terra Indígena Alto Rio Negro, região do Noroeste amazônico e cidades como São Gabriel da Cachoeira e Manaus, Amazonas.

2Em que nomes, pertencimento de grupo/clã, objetos e conhecimentos são transmitidos aos filhos através da linhagem do pai.

3Existem poucas informações sobre a avó de Rosiane, dona Quitéria Pena. Ela faleceu com seus 92 anos de idade no hospital Adriano Jorge, Manaus.

4Silvio toma liberdade de trazer o sentimento que teve quando foi questionado por uma professora da banca de seleção do mestrado em 2016, PPGAS-UFAM, porque como homem estava pesquisando tema de mulher. Enquanto homem e filho homem, Silvio, desde a infância já foi instruído pela sua mãe. Claro que há alguns pontos sigilosos. Aquilo que é coisa de mulher e deve ser respeitado. Hoje nossa primeira filha já teve a sua primeira menstruação. Atualmente, como esposo e pai de família Silvio acompanha o parto de Rosiane nas maternidades de Manaus. Rosiane teve aborto natural dentro de ônibus. Esses momentos fortes e tristes fizeram Silvio acreditar ser necessário conhecer o mundo feminino para ter respeito e ser sensibilizado.

5A mãe de Silvio não usa o termo ‘não-humanos’. Apêrãnoho masá significa outros humanos, que são gente como a gente, mas de outros patamares.

6Bikîrã pode ser entendido como fungos, insetos nocivos, bactérias, lagartas, moscas etc.

7Este instrumento é tocado pelos homens do Alto Rio Negro nas festas da oferta ou da retribuição de fruta, da caça e da pesca. Kariçu é feito de tubos, como flautas-pã, de uma planta que se encontra à beira do rio ou na capoeira.

8O aturá é um artefato tecido com cipó onde se carrega os alimentos da roça, da caça ou pesca e das frutas da floresta.

9Além disso, o sangue da menstruação corta o pensamento metafísico para ações xamânicas, de modo que nenhum homem pode cheirar o fedor da menstruação, nem pode andar atrás de uma mulher que estivesse com a “coisa de mulher”. Ao mesmo tempo, o corpo menstruado tem potência de agenciamento, tornando ineficientes os artefatos de trabalhos masculinos e os femininos.

10Uma árvore que fica na capoeira tem a seiva vermelha. A jovem passa essa seiva no seu rosto para limpeza. A jovem (mulher) Tukano cuidava de seu rosto com a seiva vegetal. Estas coisas não são informações obtidas pela roda de conversa com a mãe, mas uma teoria-prática na vida de uma mulher.

11Estamos usando Basegí, que faz parte da categoria de especialista dos xamãs do Alto Rio Negro, ao invés de chamar de benzedor. O nosso pajé não dá bênção, no sentido religioso. Essa categoria xamânica não benze, mas quem benze é o padre. Nós pesquisadores indígenas do Alto Rio Negro queremos fortalecer e manter os termos usados pelos nossos pais, sendo íntegros com as palavras originais na língua Tukano. Essas palavras escritas na língua Tukano têm seus sentidos e na escrita têm os seus lugares adequados que dão ênfases nos seus significados para falantes da língua Ye’pâ-masa/Tukano.

12Kã’rá koo weta, kã’rá koo sopori (O leite e a espuma de buiuiu), alimento do corpo e do coração da pessoa, é uma fórmula muito usada nas ações xamânicas. Trata-se de uma metafísica de frutas; uma metáfora, um protótipo e a essência da vida do ser humano para o povo Tukano. É uma fórmula imprescindível que transmuta o leite e a espuma de kã’rá para ser o alimento do corpo e do ehêri põ’ra. Para os pajés, essas kã’rápa, frutinhas buiuiu estão carregadas de uma eficiência simbólica para basero, acionar, ofertar, substâncias saudáveis e descontaminar e abrandar, substâncias nocivas. É um princípio ativador e a essência para vida humana. Na linguagem do kumû (pajé) toda comida e a bebida são transformadas no leite e a espuma de buiuiu, ou melhor, em alimentos metafísicos bem saudáveis.

13Iari tem o significado de atração ou de ser atraente.

Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista: BARRETO, Silvio Sanchez; LANA PENA, Rosiane. “A tríade lunar entre mulheres Tukano Orientais”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 31, n. 3, e95359, 2023

Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas

Consentimento de uso de imagem: Não se aplica

Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica

Recebido: 07 de Julho de 2023; Revisado: 10 de Julho de 2023; Aceito: 13 de Julho de 2023

barasilviosb@gmail.com; barasilviosbo@gmail.com

rosianelanapena@gmail.com; rosianelanapena@gmail.com

Silvio Sanches Barreto ou Silvio Bará (barasilviosb@gmail.com; barasilviosbo@gmail.com) é do povo Bará. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Salesiana Dom Bosco/Manaus, com Especialização em Gestão Escolar pela Faculdade Educacional da Lapa/Paraná. É mestre e doutorando (qualificado) em Antropologia Social (Universidade Federal do Amazonas - PPGAS/UFAM). Pesquisador Membro do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígenas/NEAI e membro do Colegiado Indígena do PPGAS-UFAM

Rosiane Lana Pena (rosianelanapena@gmail.com; rosianelanapena@gmail.com) é do povo Tukano. Liderança da Comunidade indígena Bayaroa, Professora Indígena no Centro Cultural Bayaroá, situado no Lago Azul II. Técnica em enfermagem pelo Centro Literatus Educação Profissional/Manaus. Acadêmica do curso de pedagogia (andamento) pela Faculdade Estácio do Amazonas, Manaus, AM, Brasil. Tem interesse de pesquisa sobre: língua Tukano, modos de produção de conhecimentos indígenas, conhecimentos femininos indígenas

Contribuição de autoria: As autoras contribuíram igualmente

Conflito de interesses: Não se aplica

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