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Educação e Filosofia

versão impressa ISSN 0102-6801versão On-line ISSN 1982-596X

Educação e Filosofia vol.36 no.77 Uberlândia maio/ago 2022  Epub 29-Jan-2024

https://doi.org/10.14393/revedfil.v36n77a2022-59936 

Artigos

Universidade Contemporânea: Pressões da Modernidade Líquida*

Contemporary University: Pressures of Liquid Modernity

Universidad Contemporánea: Presiones de la Modernidad Líquida

Lucas Josias Marin** 
http://orcid.org/0000-0003-4900-3854; lattes: 4633794428203845

Regina Célia Linhares Hostins*** 
http://orcid.org/0000-0001-8676-2804; lattes: 3614416302948755

**Doutor em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Mestre em Educação pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). E-mail: lucasjosias@gmail.com

***Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pós-doutora pelo Institute of Education, University of London, Inglaterra. Professora na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).. E-mail: reginalh@univali.br


Resumo

A negação por conceitos sólidos, flexibilidade, neotribalismos e nomadismo são aspectos que influenciam na formação dos sujeitos e das instituições em tempos líquido-modernos. Os sujeitos são estimulados a buscar constantemente o novo e isso impacta na formação de vínculos. Como decorrência da tendência de isolamento social e a demanda pela formação identitária, os indivíduos criaram mecanismos para suprir as necessidades de pertencimento. Um destes mecanismos são as neotribos, agrupamentos de indivíduos, em grande medida jovens, que se reúnem a partir de objetivos e interesses compartilhados. Os jovens, de modo predominante, ocupam os espaços nas universidades, cujos padrões estáveis, fixos e duros também têm se colocado à prova. Os alunos buscam uma formação ágil, conectada com o mundo e personalizada. Para dar conta de tal demanda, um dos caminhos aligeirados propostos pelo mercado é a desagregação. Estes movimentos propiciam o surgimento de características segmentadas e frágeis nas universidades. A forma como se comunicam, a maneira como abordam suas funções, o modo como valorizam as pessoas, são indicadores dos aspectos da cultura acadêmica. Assim, propõe-se debater como a universidade, que tem sua anatomia fundada na solidez moderna, reage a não solidez da cultura contemporânea.

Palavras-chave: Universidade; Sociabilidade; Modernidade líquida; Neotribalismo; Culturas Acadêmicas

Abstract

The denial of solid concepts, flexibility, neotribalism and nomadism are aspects that influence the formation of subjects and institutions in liquid-modern times. The subjects are encouraged to constantly search for the new and this has an impact on the formation of social ties. As a result of the tendency of social isolation and the demand for identity formation, individuals created mechanisms to supply the needs of belonging. One of these mechanisms is the neotribes, groups of individuals, largely young, who come together based on shared goals and interests. Young people, predominantly, occupy spaces in universities, whose stable, fixed and hard standards have also been put to the test. Students seek agile training, connected with the world and personalized. To achieve with such demand, one of the easiest paths proposed by the market is the unbundling. These movements lead to the emergence of segmented and fragile characteristics in universities. The way they communicate, the way they approach their functions, the way they value people, are indicators of aspects of academic culture. Thus, it is proposed to debate how the university, which has its anatomy based on modern solidity, reacts to the non-solidity of contemporary culture.

Keywords: University; Sociability; Liquid modernity; Neotribalism; Academic Cultures

Resumen

La negación de conceptos sólidos, la flexibilidad, el neotribalismo y el nomadismo son aspectos que influyen en la formación de sujetos e instituciones en la época líquida-moderna. Se anima a los sujetos a buscar constantemente lo nuevo y esto repercute en la formación de vínculos. Como resultado de la tendencia al aislamiento social y la demanda de formación de identidad, los individuos crearon mecanismos para suplir las necesidades de pertenencia. Uno de estos son los neotribus, grupos de indivíduos que se unen en base a objetivos e intereses compartidos. Ellos ocupan espacios en las universidades, cuyos estándares estables, fijos y duros también se han puesto a prueba. Los estudiantes buscan una formación ágil, conectada con el mundo y personalizada. Para hacer frente a tal demanda, uno de los caminos más fáciles que propone el mercado es la desagregación. Estos movimientos conducen al surgimiento de características segmentadas y frágiles en las universidades. La forma en que se comunican, la forma en que valoran a las personas, son indicadores de aspectos de la cultura académica. Así, se propone debatir cómo la universidad, que tiene su anatomía basada en la solidez moderna, reacciona a la no solidez de la cultura contemporánea.

Palabras clave: Universidad; Sociabilidad; Modernidad líquida; Neotribalismo; Culturas académicas

Introdução

Vivenciamos um momento de ruptura parcial com o nosso passado. Parcial pois ainda não nos livramos completamente dele e acreditamos que seremos eternos herdeiros. A contemporaneidade, descrita por Bauman (2001) como modernidade líquida, nos mantém presos, de certa maneira, aos ditames modernos, porém com uma realidade mais esfacelada, ou seja, perdeu-se a segurança e a solidez que até então guiavam nossos antepassados. Segurança e solidez que representavam relações sólidas, decisões sólidas e imobilizantes. Tudo era perene, inclusive os modelos estruturados de trabalho e classe social.

Os laços sociais até a modernidade apontavam para a coesão grupal. A entrada ou saída de novos membros era dificultado (Tonnies, 2001). Isto indica que o indivíduo já era algo dado, herdava-se a individualidade (e, em muitos casos, a profissão) da sua família. No contexto contemporâneo isto já não é mais assim. A individualidade não é mais dada e sim a responsabilidade da construção é repassada ao próprio sujeito. Ele é exposto ao discurso que é o responsável pela própria formação, pelos sucessos e também pelos fracassos (Bauman, 2001, 2003).

Estes movimentos de liquidez alteraram as formas como nos relacionamos com as outras pessoas, com o mundo e conosco mesmos (Bauman, 2001, 2005). O indivíduo está em constante transformação (Melucci, 2004), a cada novo contato ou nova experiência, o sujeito altera-se. Além da fluidez do sujeito, os conceitos de espaço e tempo perderam a solidez. A instantaneidade das comunicações globalizadas e a desterritorialização aproximam o indivíduo do mundo, mas os separa do contexto local e dos vínculos ali criados.

Somos seres sociais. Constantemente buscamos o contato com o outro. Desta maneira, como lidar com a busca pelo relacionamento em um ambiente que valoriza a fluidez? Greene (2018) nos aponta um caminho. A própria sociedade moderno-líquida encontrou uma forma para esta reaproximação, as neotribos. Estes agrupamentos, normalmente de jovens, reúnem pessoas com um objetivo comum. Nela os indivíduos compartilham um modo de se comportar, se vestir e consumir culturalmente. A participação não é exclusiva em uma única tribo, isto faz com que os contatos sejam temporários e efêmeros (Castro, 2016). O neotribalismo não deixa de ser uma busca por bem estar e por sentimento de pertença. Os jovens, também são atores destes movimentos. Por estarem na fase de construção identitária, também buscam a presença do outro como meio de sensação de pertencimento e segurança (Pais, 1990).

Dentro do cenário contemporâneo, a modernidade líquida também tem impactado nas instituições. Frente a isto, o ensino superior tem sido foco de numerosas pesquisas, ensaios e debates (Cescon, 2011; Gadotti, 1995; Goergen, 2008; McCowan, 2016). Nestes debates encontram-se pontos de vista e diferentes defesas sobre qual é o papel da universidade na sociedade contemporânea.

A origem das universidades europeias remonta ao século XII. A sua fundação está intimamente ligada aos movimentos de comunidades de estudantes e estudiosos. Estes almejavam uma instituição voltada à manutenção e à transmissão do conhecimento (McCowan, 2016). Passaram-se mais de seis séculos e diversas mudanças sociais para que a pesquisa e a extensão fossem incorporadas ativamente por estas instituições. Foi com o relatório referente à Universidade de Berlim que Humboldt (2003) indicou a necessidade de renovação e aprofundamento constante do saber. Além disso, também apontou a necessidade de aproximação com a comunidade, adaptando o conhecimento teórico em busca de soluções para as necessidades sociais.

As demandas por mudanças nas universidades perduram até hoje. Um exemplo é a disseminação de faculdades e centros universitários que disponibilizam cursos de graduação na modalidade de Educação à Distância (EaD). Esta modalidade levou acesso e desenvolveu regiões e pessoas que até então estavam à margem deste nível de ensino (Lima Paniago Lopes et al., 2010). No entanto, este movimento de alargamento é também decorrente de impactos na lógica de funcionamento da sociedade e, por consequência, na universidade.

A universidade já foi impactada e continua em constante mudança. Desde seu surgimento na Idade Média, a sua função principal, os valores que defendem e a interação com a sociedade mudaram consideravelmente (McCowan, 2016). A universidade é vista como um espaço de debate e resolução de problemas, frente a isto, ela sofre pressões externas e internas (Pereira, 2009) e reage de diferentes formas.

Em decorrência deste cenário, este ensaio propõe-se a debater como a universidade, que tem sua anatomia fundada na solidez moderna, reage a não solidez da cultura contemporânea. Para tanto, contextualiza brevemente a modernidade líquida (Bauman, 2001, 2003), como se dão as relações sociais, os neotribalismos, a juventude, público que em maioria, frequenta a instituição, como a universidade é caracterizada e quais caminhos toma.

Modernidade Líquida e os impactos no indivíduo contemporâneo

Contemporaneamente observam-se particularidades na sociedade e nos modos de vida cotidianos. A era do grande irmão apresentado por George Orwell no livro 1984 já não é mais dominante. A centralidade do controle dos indivíduos, a solidez como os corpos eram determinados, tanto no espaço como no tempo, passou por grandes flexibilizações. Atualmente, o controle da sociedade não é mais centralizado, ele está enraizado e distribuído na própria sociedade

Bauman (2001, 2003, 2005) traz à discussão essa nova configuração da sociedade e a nomeia de modernidade líquida. A escolha deste conceito não é aleatória. Ele defende que a modernidade ainda não foi completamente superada e que somos herdeiros dos seus costumes. O aspecto líquido representa a fluidez da matéria. Ele adapta-se ao ambiente em que é colocado e, ao mesmo tempo, é fugidio ao controle. O que era estável no passado agora é escorregadio e moldável.

Ao referir-se àquela modernidade do passado destaca-a como modernidade sólida1. As pessoas e as relações naquele período eram mais ligadas ao espaço e os vínculos mais estáveis.

Se a modernidade sólida punha a duração eterna como principal motivo e princípio da ação, a modernidade ‘fluida’ não tem função para a duração eterna. O ‘curto prazo’ substituiu o ‘longo prazo’ e fez da instantaneidade seu ideal último (Bauman, 2001, p. 145).

Para os fluidos, o tempo é essencial na análise. A posição que um fluido ocupa é diretamente ligada ao tempo. Como ele não tem forma estável se faz necessário analisá-lo constantemente, pois a cada novo instante ele poderá ter uma nova forma. Isto traz à discussão a instantaneidade, a efemeridade e a fugacidade. Elas são o aspecto fluido do tempo e impactam transversalmente na vida dos indivíduos.

Juntamente com a valorização do flexível, a instantaneidade não permite planejamentos de longo prazo, pois tudo muda com muita frequência. Os indivíduos não projetam o futuro, querem antecipá-lo e desfrutá-lo no presente. Assim, nada é durável. Os estímulos precisam ser renovados constantemente para que as pessoas se mantenham ativas.

O indivíduo, para se manter ativo, expõe-se constantemente a novos estímulos. No entanto, a multiplicidade de opções a que está exposto dificulta a escolha. A impressão que se tem é que a escolha não realizada teria sido melhor que a opção escolhida. Este movimento dificulta o real aproveitamento do presente, a ansiedade se eleva e busca-se incessantemente algo novo, algo que complete a experiência vivida (Melucci, 1997).

A situação atual da sociedade é pós-panóptica2. Não depende mais do espaço. O indivíduo pode estar em qualquer lugar, poderá ser alcançado e não precisa ser vigiado fisicamente (Bauman, 2001, 2003). A mobilidade que os celulares causaram no passado revolucionou a forma como as pessoas puderam manter-se ativas, não importando o local em que estivessem. Revolução tamanha é a era que o smartphone e os aplicativos estão criando.

A mobilidade abriu espaço para o nomadismo, indivíduos destituídos de território. Esta destituição foi autoaplicada por estes sujeitos, pois a facilidade em deslocar-se no espaço permite que pessoas e grupos estejam em constante movimento. “Fixar-se ao solo não é tão importante se o solo pode ser alcançado e abandonado à vontade, imediatamente ou em pouquíssimo tempo” (Bauman, 2001, p. 21).

A facilidade na mobilidade espacial leva a diminuição da importância de fixar-se no território. Ela permite desprender-se rapidamente em direção a um novo e posteriormente voltar ao original. Além da facilitação do nomadismo, a ausência de posse de um território alivia a pressão pela manutenção daquele espaço, isto é, um sujeito que não se prende não tem a obrigação de cuidar.

Não se vincular ao espaço pode trazer consequências também sociais aos indivíduos. Ao pensar sobre as relações sociais neste formato de modernidade líquida observa-se que elas de alguma maneira atrapalham a fluidez. “Qualquer rede densa de laços sociais, e em particular uma que esteja territorialmente enraizada, é um obstáculo a ser eliminado” (Bauman, 2001, p. 22). Desta maneira, criar vínculos sociais amarra o indivíduo e dificulta seguir o fluxo de oportunidades que podem surgir em outros espaços.

Dizer que o nomadismo vai na contramão dos laços sociais pode ser um pouco arriscado. Antes de seguir a discussão se faz necessário o esclarecimento de que tipo de laços sociais está-se referindo. Bauman (2003), assim como Ferdinand Tönnies (1855-1936), também debate as relações sociais no período pré-moderno. Tönnies (2001) aponta que, genericamente, as pessoas se relacionavam dentro de comunidades. Essas dividiam-se em três níveis distintos: a casa (the home), a vizinhança (neighbourdhood) e amizade (friendship).

Cada uma destas categorias é formada por pessoas com diferentes níveis de proximidade entre si. A casa representa maior vínculo entre os membros e a amizade um vínculo menos emaranhado. Na instância da casa a autoridade, a idade, a força e a sabedoria criam e demarcam os vínculos sociais. Na vizinhança, a vida em comum é determinada pelo compartilhamento de hábitos, conhecimento e tradições. E, na amizade, a semelhança de interesses, formas de pensar, similaridade das atividades e os encontros frequentes mantém os indivíduos vinculados (Tonnies, 2001).

Nas três categorias da comunidade, o grupo é coeso e os movimentos são feitos em conjunto. Indivíduos não conseguem se mover de maneira independente dos demais pois tem uma forte dependência uns com os outros (Tonnies, 2001). A comunidade representa semelhança e compartilhamento de visões de mundo, pressupõe a complementação dos indivíduos e ajuda mútua. Isto a faz estável e tende à imutabilidade, pois é homogênea e a saída ou entrada de membros é dificultada (Bauman, 2003). Desta maneira, quando Bauman (2001) levanta a problematização do afrouxamento dos laços sociais, refere-se ao laço social típico da comunidade.

Ao passo que os laços sociais da comunidade foram afrouxados e o nomadismo entrou em cena abriu-se a possibilidade de relacionar-se com pessoas de todo o mundo. Relacionamento este baseado nos princípios da modernidade líquida, ou seja, na instantaneidade e na maleabilidade. É neste contexto que se insere o indivíduo da modernidade líquida. Ele, já distanciado da comunidade, volta-se aos próprios anseios e organiza-se para buscar seus objetivos e diferenciar-se dos demais.

Contemporaneamente ser um indivíduo não é algo dado. Na sociedade líquido-moderna, é necessário construir-se. A responsabilidade do processo de individualização é exigida do próprio sujeito, ou seja, ele é encarregado desta tarefa. Ele, deve autodeterminar-se e carrega sozinho o peso do resultado alcançado, incluindo aí a possibilidade de fracasso. No entanto, tanto as derrotas quanto as vitórias são temporárias. Logo se desfazem quando foca-se em outro projeto (Bauman, 2001, 2005) ou busca-se um novo estímulo (Melucci, 1997).

O resultado da individualização indica um constante devir, porém é um devir sádico. Os indivíduos atuam para chegar no objetivo, mas quando chegam àquele lugar almejado, ele já não existe mais. Na prática, o esforço diário não é para a ascensão, mas sim para a mera manutenção do que se é e o que se tem. Desta maneira, os indivíduos se veem frente a necessidade de constantemente procurar o seu lugar, porém nunca alcançado.

Este constante devir, criado pela possibilidade de escolha e os resultados destas, pode gerar uma sensação de incerteza de onde se quer chegar. A liberdade traz o incômodo da dúvida, tira a confiança do indivíduo, o que pode acarretar em processos de ansiedade (Bauman, 2001, 2003). O mundo alargado pelo nomadismo e ao alcance dos olhos pelas novas tecnologias é um mundo de possibilidades, infinitas possibilidades. Certamente há muito mais oportunidades que possibilidades de alcançá-las no curso de uma vida.

Com a globalização e a expansão das tecnologias digitais a experiência do tempo está cada vez mais particular. Os indivíduos experimentam um percurso muito diferente uns dos outros. Além disso, há diferentes dimensões de tempo, o tempo interior é representado pelas experiências e emoções de quem as vivencia. Já o tempo exterior, é demarcado pela coletividade e pelas diferentes instâncias a que o indivíduo se insere. O distanciamento entre estas dimensões de tempo indica a separação dos indivíduos (Melucci, 1997).

Mesmo com a imposição de autodeterminação, a individualidade é cada vez menos produção do sujeito e mais obra da influência social, pois os projetos, objetivos e relações não são estáveis e as escolhas dos outros indivíduos impactam diretamente nos demais. Isto é, o curso de vida do sujeito é mais determinado pelo externo do que por si mesmo (Bauman, 2001, 2005).

O paradoxo foi criado, de um lado o percurso de vida do indivíduo é cada vez mais particular devido às experiências interiores de tempo, de outro lado há a pressão social que arrasta o indivíduo. A partir disso, pode-se observar em consultórios psiquiátricos, consultórios psicológicos e gastos com psicofármacos, o preço emocional do sentimento de impotência que o indivíduo paga pelo duplo vínculo gerado pela sociedade.

Ao pensar sobre a individualização dos sujeitos e a influência que o meio externo impõe, vem-nos à mente a cena de um lago com águas calmas onde cada sujeito está sozinho em um barco e é responsável pelo controle do remo. O objetivo é chegar ao outro lado da margem, porém com a soma dos movimentos gerados por todos os remos a água já não é tão calma e acaba influenciando na direção que os outros barcos tomam, causando turbulências, desvios ou até impulsos.

A estruturação individualizada dos sujeitos a partir da fatalidade externa (Bauman, 2001, 2005) e a partir da experiência de tempo interior (Melucci, 1997) afasta cada vez mais as pessoas entre si. Além disso, a sociedade incentiva o esforço individual e os resultados só são providos e valorizados se forem decorrência do caminho trilhado por cada um. O outro sujeito é visto como aquele que dificulta (ou rouba) os projetos e corporifica o conceito de concorrência. Somando-se a isto, este Outro, composto por experiências tão diferentes, nem sempre é reconhecido como sujeito.

Assim, o mito do alcance da felicidade e da liberdade e sua responsabilidade no processo são inculcados no indivíduo. Para ele alcançar esse estágio emocional depende dele mesmo, denotando uma estrutura social individualista. É neste sentido que Bauman (2001, p. 195, grifo do autor) destaca que “a fragilidade e a transitoriedade dos laços pode ser um preço inevitável do direito de os indivíduos perseguirem seus objetivos individuais”.

Este tipo de dinâmica social, com vínculos esmaecidos e voltada ao indivíduo, são também características do modelo de sociedade descrito por Simmel (2006). No final do século XIX, o autor percebeu que a conjuntura da época já indicava a tendência de liquefação das relações sociais. A partir da análise desta tendência de liquefação Simmel (2006) cunhou dois conceitos que serão caros para entender como se dão as dinâmicas do cotidiano social ainda hoje, são eles, a sociação e a sociabilidade.

A sociação caracteriza-se pela relação social focada na realização dos interesses pessoais de um, ou mais, dos indivíduos envolvidos. Ela tem como conteúdo os benefícios que os outros indivíduos podem oferecer ou os benefícios que se podem oferecer aos demais. Ponto importante a ser destacado é que estes interesses não vêm da sociedade, eles são produto do indivíduo (Simmel, 2006). Seguindo este raciocínio, nas relações sociais baseadas neste tipo de dinâmica não há desejo em conhecer e relacionar-se genuinamente com outras pessoas. Os outros indivíduos passam a ser encarados como meios ou ferramentas.

A sociabilidade, diferentemente da sociação, para existir, não pode buscar resultados, nem focar fins materiais e objetiváveis. Não tem conteúdo, nem objetivo. Ela tem fim em si mesma e preenche, simbolicamente, a vida das pessoas. Ela se dá como energia, é percebida somente no ato do encontro e somente pelos atores envolvidos na relação (Simmel, 2006).

Em outras palavras, a sociabilidade é a forma lúdica das relações sociais e, para existir, precisa tocar mutuamente os agentes da interação. Visa dar ao outro alegria, momentos vivazes e liberdade. Como é um processo recíproco, também é necessário que os outros indivíduos almejem o encontro pelo encontro. Importante destacar que a sociabilidade não é a fuga da vida cotidiana. A sociabilidade faz parte dela (Simmel, 2006).

Por ter caráter de pureza na relação, a sociabilidade ignora toda e qualquer significação objetiva da personalidade incluindo profissão exercida, posses, classe social, nível de esclarecimento ou reconhecimento popular. Aquilo que é mais pessoal também não tem espaço na sociabilidade. O encontro interessa apenas aos outros indivíduos envolvidos e a si mesmo (Simmel, 2006).

A conversa pode tanto ser um exemplo de sociação quanto de sociabilidade. Quando observada no viés de debate de temas ou com o objetivo de algum entendimento, é tomada como sociação. Quando o discurso é tomado como um fim em si mesmo e é um estímulo para o estar junto prazerosamente, entretendo-se, a sociabilidade está em jogo. Neste caso, o conteúdo não pode ser a finalidade da conversa (Simmel, 2006).

Este movimento que apresentamos até agora (fluidez nas relações, desterritorialização, flexibilidade e a instantaneidade) também acarreta consequências nas instituições. A universidade contemporaneamente é colocada em um dilema (Pereira, 2009). Ela, berço de inovações e espaço de erudição, está calcada no discurso da solidez moderna, ou seja, disciplinas compartimentalizadas, saber especializado, neutralidade e currículo formatado (Goergen, 1998). Como então administrar as sociações e sociabilidades tão necessárias ao processo de produção e compartilhamento do conhecimento?

O indivíduo, diferente do que no século XIX, já não mais espera um percurso formativo pré-estabelecido. Ele procura algo mais voltado aos seus interesses, por vezes momentâneos, demandando uma formação personalizada e “sem enrolação”, ou seja, formação rápida e focada nas práticas cotidianas daquela profissão. Fica visível o descompasso. Para dar conta da sociedade líquido-moderna, a universidade se vê pressionada a reinventar-se na sua estrutura, nas suas formas de atuar, nas relações com seu público, na maioria jovens, nas relações com a comunidade interna e externa e nas relações com o conhecimento. Esse é um dos aspectos que se pretende aprofundar nos próximos itens do ensaio.

Neotribalismos: a juventude como objeto de desejo

Em resposta ao distanciamento dos indivíduos na sociedade, a própria sociedade encontrou mecanismos de reaproximá-los. Um exemplo são os neotribalismos. Grupos de pessoas com um mesmo alinhamento de discurso ou busca por cooperação. As neotribos são, normalmente, associadas a grupos juvenis, mas não exclusivamente. Esses grupos podem formar-se tanto para fins positivos, tais como atividades solidárias, lazer, consumo cultural, quanto negativos: violência ou depredação (Castro, 2016).

Dentro das tribos, os indivíduos apresentam certas semelhanças e, a partir delas, cria-se a homogeneidade grupal. Isto leva a um sentimento de pertencimento e responsabilidade para com os outros indivíduos da mesma tribo (Greene, 2018). Estes grupos não são gerados pela soma de individualidades, mas sim de fragmentos individuais que coincidem com os fragmentos dos demais sujeitos pertencentes ao grupo (Simmel, 2006).

Isto se deve ao fato de os indivíduos não participarem apenas de um grupamento. No contexto da modernidade líquida a facilidade na entrada e saída de grupos facilita o nomadismo (Bauman, 2001, 2003). Além disso, as tribos são múltiplas e se inserem em diferentes associações humanas. Isto leva a um tribalismo parcial, ou seja, os indivíduos não se dedicam e não se doam integralmente a um grupo exclusivo (Castro, 2016).

Entendemos que nas neotribos há tanto a sociação como a sociabilidade. Quando afirmamos isto baseamo-nos nas relações estabelecidas e nos interesses ali presentes. As neotribos são temáticas, ou seja, reúnem-se a partir de um objeto compartilhado. Tendo como premissa a abertura e o não direcionamento do assunto do encontro, a sociabilidade já não se enquadraria nas neotribos. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas reúnem-se para apreciar a companhia uma das outras, neste sentido, a sociabilidade fica em voga.

Para além da sociedade, Greene (2018) aponta que nós humanos temos uma programação biológica para organizar as nossas relações sociais em grupos de pertencimento. Ele diz que “dividimos o mundo em ‘nós’ e ‘eles’ e favorecemos o ‘nós’” (p. 58). Bauman (2001) também aborda este sentimento de pertencimento, orgulho e defesa do grupo do qual se faz parte. Para ele, estes sentimentos podem ser expressos em modos de nacionalismo e patriotismo. Os dois representam o cuidado ao grupo do qual se pertence, porém se diferenciam na forma e na intensidade. Enquanto o nacionalismo não aceita os outros grupos e tenta subvertê-los, incluindo meios violentos, o patriotismo exalta o próprio grupo, porém tolera os demais e respeita as diferenças. Importante mencionar é que no contexto líquido-moderno o indivíduo está focado em atender aos próprios anseios e interesses.

Fato importante é que essas reuniões de pessoas influenciam na formação identitária do sujeito, pois elas carregam consigo um código moral particular (Greene, 2018). Nos neotribalismos “a lógica da identidade é substituída pela lógica da identificação” (Castro, 2016, p. 86). A ideia de identidade formada e constante já não é a corrente na sociedade líquido-moderna (Bauman, 2005). No lugar dela abre-se espaço para a constante construção da identidade, este processo, a identificação, dá-se socialmente.

Quando pensa-se na dinâmica de interação social na sociedade líquido-moderna vê-se a pressão pela rápida resposta, pela fugacidade das emoções experienciadas e pelo foco presenteísta (Bauman, 2003). Esta efemeridade também é encontrada nas dinâmicas que formam as neotribos. Pode-se dizer que elas são dionisíacas, pois visam o encontro dos seus membros para o prazer, para o desfrute do momento presente compartilhado. Desta maneira, o tribalismo típico do momento atual é “efêmero, rápido, circunstancial, fluído, movediço” (Castro, 2016, p. 83). Muito embora, a fugacidade não permite o real aproveitamento do presente (Melucci, 1997).

O encontro destes sujeitos com tribo é demarcado por um campo, um território. Ele é criado socialmente, isso quer dizer que, por si só, não dá sensações, mas ele propicia encontros. “Desse modo, a experiência do lugar, a experiência de estar, passa a ser correlata à experiência do grupo, da tribo.” (Castro, 2016, p. 91). O local em si não é mais o fim, a locadora não é mais o espaço exclusivo de locação de filmes, mas um espaço de sociabilidade, um espaço de encontro de indivíduos que compartilham interesses a fim de compartilhar o presente.

Ao escolherem partilhar o presente os indivíduos apontam a intencionalidade da relação grupal. O sujeito não nasce em uma neotribo, ele escolhe fazer parte dela. Assim, as neotribos existem por consequência da vontade de estar com outros sujeitos. É o interesse em compartilhar o momento presente a partir de uma atividade comum. É o caráter lúdico que aglutina as pessoas.

De maneira geral estes agrupamentos humanos tiveram origem nos movimentos juvenis. Juventude é um conceito debatido por diferentes autores e em diferentes perspectivas (Kehl, 2007; Melucci, 1997; Pais, 1990, 2009; Peralva, 1997; Takeuti, 2012), porém ainda não há um consenso em relação a sua definição e modos de ser.

Importante ressaltar que a juventude não é uma categoria universal (Takeuti, 2012) nem contínua (Peralva, 1997). Ela é composta por diferentes subgrupos influenciados pelo contexto em que os jovens estão inseridos. Mesmo vivendo no mesmo período histórico e tendo idades aproximadas não há garantias que se forme um grupo homogêneo de jovens. As diferentes classes sociais, grupos ideológicos e iniciação no mundo do trabalho já tendem a cindir a massa jovem em infindáveis outros agrupamentos menores (Pais, 1990).

Quando Pais (1990) se refere a dificuldade de nomear uma juventude, ele está se referindo à multiplicidade de grupamentos diferentes. Mesma justificativa é dada por Castro (2016), “o termo [tribos urbanas ou neotribalismo] deseja explicar um universo fragmentário difícil de compreender” (p. 83).

Visto desta forma, a juventude representa, ao mesmo tempo, homogeneidade e heterogeneidade. É homogênea no aspecto de agrupar uma mesma geração, em oposição a gerações mais velhas e mais novas. É heterogênea quando observada de dentro, ou seja, há diversidade de grupos sociais que compõe a mesma geração.

Mesmo com esta heterogeneidade, historicamente a juventude foi caracterizada como uma fase de irresponsabilidade e desinteresse. Jovem é aquele que, de alguma maneira, se contrapõe ao instituído, “aquele que se integra mal, que resiste à ação socializadora, que se desvia em relação a um certo padrão normativo” (Peralva, 1997, p. 18).

Ao dizer-se isto, por lógica contrária, cria-se a possibilidade de existência de um grupo responsável, interessado, integrado à sociedade e que segue o padrão normativo, ou seja, os adultos. Dentro da conceituação proposta por Pais (2009) a passagem da juventude para a adultez é um processo de responsabilização e é marcada por ritos de passagem. Ao assumir responsabilidades com o trabalho, com uma família, com uma moradia, o jovem torna-se adulto.

Hoje a mudança nas divisões clássicas da vida, sejam elas: juventude, adultez e velhice, está no sentido de que não estão mais vinculadas exclusivamente a idade cronológica do indivíduo. “Passa-se de referências cronológicas a referências funcionais para balizar os limites entre uma idade e outra” (Peralva, 1997, p. 22). Isso traz consequências, uma delas é a falta de clareza e segurança de onde começa e onde termina cada uma dessas etapas.

Essas referências funcionais, ou ritos de passagem, deixam implícito que as idades da vida não têm relação única com o tempo cronológico que os sujeitos já viveram. Por cada trajetória de vida ser singular, o momento em que esses ritos de passagem são vivenciados muda de pessoa para pessoa, permitindo assim um alargamento da juventude. Assim, a fase da vida é constructo social e histórico.

Todos querem ser jovens, pois ser jovem significa ser saudável, inteligente, forte e detentor de bom gosto (Pais, 1990). A juventude é um modo de ser e se comportar. A pessoa que entra em modo jovem sente-se sem limites, ou, sem freios. Estar em modo juventude representa a quebra de paradigmas, rebeldia com o instituído, fuga do previsível. Flexível e sem medo da mudança. Ser quem quiser, sem imposições sociais (Box 1824 & K-Hole, 2013).

Paradoxalmente aos dias atuais, no século XVIII, os jovens se vestiam e se comportavam querendo parecer mais velhos. Hoje, ao contrário, os mais velhos querem se parecer com os mais jovens. Para se manterem jovens, os adultos recorrem a manipulação de seu modo de ser, fazem cirurgias estéticas, mudam seus hábitos de consumo cultural e de vestuário. Desta forma, os jovens são modelos de referência social (Pais, 2009).

Também frente a isto, o conceito de juventude vem se estendendo cada vez mais. Hoje, genericamente, entende-se que o jovem é aquele entre 18-40 anos. Muito mais que um simples pertencimento a uma faixa etária, jovem é um modo de ser enaltecido e patrocinado pela indústria cultural (Kehl, 2007).

A juventude valorizada pelos meios culturais somente é vista pelo viés positivo. As dificuldades típicas desta fase da vida são deixadas de lado. O adolescente e o adulto jovem sofrem com a falta de emprego, com as incertezas e inseguranças que seu futuro reserva, além da ansiedade que tudo isso gera.

É também característica da sociedade moderno-líquida esta incerteza e indefinição quanto ao momento de vida que se está. A sociedade impõe esta flexibilidade e esta relação distanciada com o tempo cronológico, mas ainda assim, também cobra a organização da vida diária e suas demandas de acordo com o relógio.

Dentro desta sociedade a pluralidade de redes e tribos em que os jovens estão inseridos é cada vez maior. Em contrapartida, o tempo dedicado a cada uma dessas redes e grupos é menor. Isto também indica que o volume de informações que os sujeitos estão recebendo é cada vez maior, porém com menos profundidade. Além disso, os vínculos sociais tendem a ser transitórios e superficiais (Melucci, 1997).

Este estilo de vida jovem, que agrupa os indivíduos por características e interesses em comum, se coloca como instituinte. A juventude é posta como uma quebra de paradigma. O jeito de ser rebelde e inusitado vai na contramão do que está posto. Mesmo assim, o jovem está imerso na sociedade e nas demandas que o cotidiano exige, sejam elas, um emprego, renda e, principalmente, apelo do consumo de bens e serviços.

Neste cenário, a universidade se apresenta como um marco no ciclo de vida dos sujeitos. A formação em nível superior possibilita a habilitação para exercer uma profissão. No entanto, como afirma Santos (2011), dentro da crise de hegemonia, a universidade compete com outras fontes de informação e conhecimento. Além disso, também recebe a pressão dos jovens que expõem a transitoriedade dos seus interesses e dedicação. Ela, historicamente, constituiu-se como um espaço de saberes especializados e, por consequência, mais profundos, os quais exigem foco e persistência. Frente a esta contraposição, como a universidade tem reagido? E, para além disso, a universidade tem dado espaço para que os indivíduos se agrupem e se constituam como tribos acadêmicas?

Universidade na contemporaneidade

O surgimento da universidade remonta à Idade Média. Naquele período, um movimento de estudiosos e clérigos criou uma instituição para aprofundar os estudos dos textos clássicos e textos sagrados com fins na conservação e transmissão do conhecimento (Goergen, 2014; McCowan, 2016; Paini & Costa, 2016). Com o passar dos séculos, o movimento iluminista e humanista impôs mudanças na sociedade com tal magnitude que exigiu uma reinvenção da universidade (Pereira, 2009).

Foi com o relatório sobre a universidade de Berlim que Humboldt (2003) estruturou a pesquisa como a base da universidade moderna. Esta configuração proposta apresentava as características da sociedade sólida moderna. A instituição colocava-se como neutra e isenta, o conhecimento científico puro e despretensioso, as áreas do conhecimento departamentalizadas e especializadas. Esta forma apontava para a pouca interação com a sociedade, as movimentações de pessoas e ideias eram limitadas (McCowan, 2016).

O autor(2016), ao analisar a anatomia da universidade ao longo da história, traz cinco modelos de universidade ao debate, a medieval, a humboldtiana, de desenvolvimento, a multiversidade e a corporativa. Ele considera cada modelo a partir do seu valor, sua função e do nível de interação.

Ao analisar estes modelos, McCowan (2016) no item valor discorre sobre o aspecto fundamental da universidade, ou seja, para que ela existe. Ele é analisado entre os extremos que são o valor intrínseco e o valor instrumental. Como valor intrínseco se entende como aquele que a universidade e o conhecimento têm valor por si só. Enquanto o valor instrumental é visto como aquele que tem um propósito de contribuir para alcançar os objetivos de um indivíduo e da sociedade. Neste nível, também podem entrar os interesses econômicos, políticos e culturais.

A função analisa o que a universidade faz. Qual é o espectro de suas atividades e os papéis que assume. De maneira geral, universidades posicionam-se como espaços de armazenamento do conhecimento, manutenção, interpretação, classificação e seleção dos textos e teorias aceitas pela comunidade científica. Além do foco no ensino e na pesquisa, também é um espaço de disponibilização de outros serviços, como tratamentos médicos, espaços de convívio social, eventos, etc. (McCowan, 2016). Assim formando o tripé básico das universidades: ensino, pesquisa e extensão (Mazzilli, 2011).

Como terceiro ponto de análise, a interação debate como se dá a relação com a sociedade. Como as ideias e pessoas se movimentam para dentro e para fora da instituição, ou seja, quanto ela é porosa em disseminar seus saberes e absorver conhecimentos da sociedade (McCowan, 2016).

Estes três aspectos não são visualizados de forma pura nas instituições. Isto quer dizer que há sempre um jogo de tensionamento entre o valor intrínseco e o valor instrumental, a função principal, a alta porosidade e a baixa porosidade. Mesmo sendo características da universidade, elas também não representam o todo. É possível, e provável, que algumas áreas de conhecimento destoem dos demais.

Na percepção popular a universidade é comumente colocada como deslocada da sociedade e que a sua formação oferecida não é adequada.

Distintamente retratadas como sendo fora de contato, arcaicas, burocráticas e despreocupadas com as necessidades da sociedade, as universidades são comumente criticadas pelo seu desempenho na prática - particularmente em termos de preparação de graduados para o local de trabalho (McCowan, 2018, p. 465).

Nos dias atuais, os modelos de universidade precisaram ser revistos para dar conta das demandas da sociedade líquido-moderna. Como característica da própria modernidade líquida, estes modelos não estão estanques, ou seja, continuam a adaptar-se e flexibilizar-se.

Esta flexibilização impacta a universidade como um todo. A desterritorialização e a fugacidade dos relacionamentos sociais são também possíveis justificativas para o processo de internacionalização das universidades, tanto em voga hoje em dia (Morosini, 2017). Oliveira e Freitas (2016) apontam que a mobilidade acadêmica, neste caso, tanto de alunos quando dos docentes, disponibiliza acesso aos mais diversos destinos. Este movimento é justificado por interesses pessoais, acadêmicos e profissionais.

Outra demanda que é imposta à universidade é o ajuste dos currículos dos seus cursos e constante atualização. O aluno, criado e criador da sociedade líquido-moderna, procura uma formação que esteja alinhada com suas perspectivas de vida, exige um processo formativo que permita uma personalização. Isto aponta para uma construção conjunta entre sujeito e universidade, ou seja, que haja espaços vazios onde o aluno possa preencher com conhecimentos do seu interesse. Além disso, a incessante busca pelo resultado final e a consequente ansiedade daí gerada, criam um ambiente em que a formação rápida é a mais cobiçada.

Uma das reações da universidade à demanda por personalização e formação rápida é a desagregação (unbundling) dos seus fazeres. Este método de trabalho consiste em vender separadamente produtos/serviços que até então eram entregues de maneira conjunta (Mccowan, 2016; Mccowan, 2018).

O modelo permite que o aluno-cliente adquira o que lhe interessa. É resultado do desmembramento da instituição, dos institutos e das faculdades em detrimento ao crescimento de formas de ensino alternativas, tais como os Cursos Online Abertos e Massivos (Massive Open Online Course (MOOC)). Além disso, para enfrentar as demandas mercadológicas, algumas universidades estão dividindo seus serviços em módulos para oferecer ao aluno soluções mais rápidas e mais baratas. Em alguns casos, o modelo é inverso, são ofertadas opções de combos, onde o aluno é induzido a adquirir serviços que não são do seu interesse (McCowan, 2016).

O resultado qualitativo deste movimento não é consensual (McCowan, 2018). De um lado, possibilita a adequação e entrega de um serviço mais adaptado à realidade e necessidade do aluno-cliente. De outro lado, há a perda das características tradicionais que fazem parte da essência da universidade, quais sejam, a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão.

As universidades sofrem pressões para serem desagregadas e, ao mesmo tempo, pressões para serem tradicionais, isto é, buscar um alto padrão de pesquisa e reconhecimento internacional. Por isso, as universidades de alto nível ainda conseguem permanecer mais integradas por sua força simbólica no imaginário popular e pela força de seu quadro de colaboradores (McCowan, 2018), já as menores são mais suscetíveis às forças externas.

A universidade, palco de revoluções culturais e científicas, hoje se comporta como mais uma instituição formatada pela estrutura social contemporânea. Mesmo sofrendo estas pressões, a instituição não pode negar o fato dela mesma ser um agente de transformação social.

Tendo como ponto de partida a análise dos modelos de universidade descrito por McCowan (2016) e a temática da sociedade líquido-moderna aqui apresentada, podemos levantar a hipótese que as universidades encontram-se em um momento de enfrentamento de dilemas. Qual é o seu valor? A que fim está servindo? Está deixando que a comunicação e as pessoas fluam para a sociedade e para dentro de si? Ainda há uma identidade da universidade?

Pressão social e formação de culturas acadêmicas

O espaço acadêmico é um ambiente de efervescência de ideias que só se dá pois é constituído por uma população jovem e letrada. Aqui o conceito de jovem é aquele de estilo jovem, não se refere apenas a faixa etária. Ao lado desta conotação mais romantizada, desde o século XIX, a imagem de estudante universitário vem incorporada à aspectos transgressivos e de contraposição aos costumes instituídos. Naquele século, as transgressões tinham como conteúdo a boemia, a algazarra, o obsceno. Até hoje os locais de encontro de estudantes geram essa percepção de transgressão na sociedade e foco instituinte (Estanque, 2007). Normalmente esta imagem de estudante é tida como grupo e não de indivíduos isolados.

Não podemos perder de vista que as universidades são geridas por pessoas e atendem pessoas, todas elas estão inseridas na sociedade e sofrem pressões das mais diversas. Assim, está sujeita à influência do meio que a circunda. Da mesma maneira, o inverso também é válido e esperado, ou seja, a universidade gera mudanças no ambiente em que atua (Brito & Cunha, 2007).

No século XX,

assistiu-se à emergência de todo um conjunto de novas dinâmicas e formas de mobilidade social e territorial, à intensificação dos fluxos globais de todos os tipos, à presença crescente das novas tecnologias da informação, ao aumento da concentração urbana etc., o que conduziu a mudanças drásticas nos modos de vida em sociedade e a uma maior individualização das relações sociais (Estanque, 2007, p. 25).

A facilidade na mobilidade e a desterritorialização (Bauman, 2001) impactam no ambiente universitário de várias formas, como citamos, o nomadismo. Para além daqueles nômades internacionais, também há os nômades regionais, aqueles que se deslocam diariamente para trabalhar ou para estudar. Estanque (2007), ao analisar os ritos de passagem da Universidade de Coimbra, encontrou que muitos estudantes voltam para sua cidade de origem diariamente ou, em alguns casos, passam a semana na universidade estudando e aos finais de semana voltam para a casa dos pais.

O fato de não morar na mesma cidade em que se estuda, ou residir somente durante o período de aulas (e voltar aos finais de semana para a casa dos pais), reduz a possibilidade de relacionamentos sociais entre os estudantes. “Isto retira logo algum sentido à capacidade de reforço das identidades de grupo e à promoção de actividades de índole intelectual e associativa” (Estanque, 2007, p. 26).

Até décadas atrás, quando a mobilidade era mais restrita, as repúblicas estudantis eram espaços mais valorizados e mais disputados. As pessoas vinculavam-se mais à cidade e os laços sociais eram mais fortes. Estes dois fatores levavam à mais mobilizações estudantis e associações. Em sua pesquisa, Estanque (2007) observou que as relações sociais estabelecidas atualmente são mais frágeis e mais voláteis.

Por ter esta característica de constante mutação, pessoas chegando e saindo, pressões sociais, mudanças ao longo do tempo, a universidade gera um estilo de ser, uma característica identitária. Dentro do ambiente universitário, o contexto social, o modelo de gestão, as expectativas e limitações dos alunos propiciam o surgimento de culturas acadêmicas. Isto é, as culturas acadêmicas são fruto de um processo dialético. São formadas a partir da interação direta entre a instituição e a sociedade. É uma constante negociação entre os agentes envolvidos (Schugurensky & Naidorf, 2004).

Podemos entender as culturas acadêmicas como manifestações de valores, comportamentos e normas compartilhadas pelas pessoas que, de alguma forma, fazem parte da universidade (Shen & Tian, 2012), para além disso, são os “discursos, as representações, as motivações, as normas éticas, as concepções, as visões, e as práticas institucionais dos atores universitários” (Schugurensky & Naidorf, 2004, p. 998).

As tradições acadêmicas também são reflexo e resultado da ação da universidade e de como ela se relaciona com a sociedade. Nessas tradições encontram-se alguns ritos de passagem que apontam as culturas acadêmicas em prática. Podemos citar o trote e a colação de grau como momentos em que são enaltecidas a entrada e a saída do ambiente acadêmico e suas consequências na vida do sujeito (Estanque, 2007).

As universidades apresentam culturas que se diferenciam entre as demais da sociedade. Isto acontece pois é um ambiente diferente, com demandas diferentes. O ambiente acadêmico é direcionado aos estudos e à pesquisa científica. A pessoas quando entram nesta instituição já tem uma ideia de qual é o escopo geral do que é realizado naquele espaço e do que é esperado de cada ator envolvido (Shen & Tian, 2012).

Entendemos que a diversidade das interações e a tensão das negociações não gera apenas uma cultura, mas sim uma pluralidade, por isto, culturas acadêmicas. No entanto, uma, ou um grupo delas, pode se expressar como hegemônica num determinado período de tempo (Schugurensky & Naidorf, 2004). As culturas não são algo cristalizado, estão sempre em transformação. Ora há pessoas seguindo seus costumes, ora os transgredindo, por isso a constante tensão (Brito & Cunha, 2007). Isto também se dá por conta do trânsito de pessoas, da formação e rupturas de tribos acadêmicas.

Estes movimentos de acomodação das culturas nem sempre são pacíficos. Os indivíduos que vivenciaram a hegemonia de uma outra cultura acadêmica têm mais facilidade para identificar as nuances e mudanças da atual cultura acadêmica hegemônica. Esta nova cultura acadêmica hegemônica é por vezes celebrada, por vezes combatida (Schugurensky & Naidorf, 2004).

Mesmo com estas incertezas, Shen e Tian (2012) defendem que a diversidade favorece e potencializa as cultura acadêmicas. O intercâmbio com diferentes nacionalidades e experiências propicia a formação plural e acomodação de novas culturas acadêmicas. Desta maneira, as culturas acadêmicas representam a inovação e a inconformidade com a realidade instituída.

A formação da cultura acadêmica perpassa pela cultura do campus. Ela é o resultado da interação de várias culturas e é criada em conjunto com todas as pessoas e acumulada/adaptada ao longo da existência da instituição. Para melhor entendê-la é possível dividi-la em três categorias: cultura material (material culture), cultura institucional (institutional culture) e espírito cultural (spiritual culture). A primeira é mais próxima à estrutura física da universidade; a segunda se refere às normas, regras; a terceira é como as pessoas se inserem na cultura. A partir do espírito cultural é possível observar a ideologia, valores, consciência estética, entre outros aspectos compartilhados. O espírito cultural é o núcleo da cultura do campus (Shen & Tian, 2012).

Da mesma forma como é observado o processo dialético entre a universidade e sociedade, isto acontece também dentro da própria instituição. A cultura acadêmica favorece a construção da cultura do campus, enquanto esta dá condições e influencia o desenvolvimento da cultura acadêmica, assim retroalimentando-se, mas sempre com possibilidade de mudanças.

Nas culturas estudantis, especialmente nas juvenis, a linguagem carrega um papel significativo, pois há metaforização da língua (Pais, 1990; Peralva, 1997). Por isso, as culturas estudantis também são fragmentadas e caleidoscópicas (Shen & Tian, 2012). A análise delas dirige o pesquisador na direção de observar em quais ambientes o aluno circula, quais cursos realiza, em que semestre está e o que recebe de informações externas à universidade sobre a universidade (Certeau, 1995).

A perspectiva de múltiplas culturas aponta para a fluidez da modernidade líquida debatida por Bauman (2001). A dificuldade em nomear e definir um conceito representa a dimensão e complexidade do tema. Acreditamos que as culturas acadêmicas estão sendo fortemente direcionadas pelo modelo líquido-moderno da sociedade. Elas apontam para mais distanciamento entre as pessoas e menos vínculo com a universidade. Busca-se passar o menor tempo possível no processo de formação, pois ele precisa ser rápido e focado na prática, pois a seleção profissional do mercado de trabalho acaba sendo um balizador se a formação foi boa ou não.

As culturas acadêmicas, sendo assim, tendem mais a performatividade do que necessariamente a formação humana. Voltando aos conceitos de Simmel (2006), sociação e sociabilidade, o contexto apresentado demonstra mais tendência à sociação, ou seja, os sujeitos no ambiente acadêmico tendem a relacionar-se com os outros com vistas à interesses e objetivos tangíveis, ou seja, resultados mais concretos.

Considerações finais

Este ensaio se propôs a debater como a universidade, que tem sua anatomia fundada na solidez moderna, reage a não solidez da cultura contemporânea. Portanto perpassou pela discussão da modernidade líquida (Bauman, 2001), modo como entendemos ser a mecânica social do nosso tempo e as reações que geram nos indivíduos, além do impacto ocasionado no modus operandi das universidades.

Discutimos que, na contemporaneidade, as pessoas não estão mais fixadas em conceitos sólidos e territorializadas. O nomadismo e a incerteza atravessam o cotidiano dos indivíduos (Bauman, 2001, 2003). Isto acarreta distanciamento e transitoriedade também nas relações sociais, dificultando a criação de laços duradouros. Simmel (2006) nos auxiliou a identificar dois modos que as pessoas socializam. A sociação, relação focada em um objetivo e a sociabilidade, o encontro pelo encontro, sem um fim determinado.

Os neotribalismos se mostram como uma reação ao distanciamento e isolamento social líquido-moderno (Greene, 2018), muito embora não se caracterizam como comunidades clássicas (Simmel, 2006). Mesmo os indivíduos não fazendo parte unicamente daquele grupo e havendo transitoriedade, eles aproximam-se pelas similaridades ou interesses e criam laços afetivos entre si.

Os neotribalismos são uma válvula de escape da individualidade construída no período moderno. Estes grupamentos são espaços de fuga da pressão e do isolamento. Os indivíduos intencionalmente aproximam-se e criam um território delimitado e temporário, um espaço onde busca-se o bem estar (Castro, 2016).

Estes territórios são temporários, também em decorrência da efemeridade das relações. Importa o presente, o qual impulsiona o nomadismo. Quando não há demarcações, não há limites, isto facilita a mobilidade criando territórios e os desfazendo, de acordo com os interesses e o momento. Enquanto se está inserido em uma neotribo não se está presente nas demais, mas poderá estar em alguma no momento seguinte. As neotribos são espaços de chegada e não permanência, ninguém nasce em uma delas e ali permanece (Castro, 2016).

Entre os membros integrantes destas neotribos em geral encontram-se os jovens. Juventude é uma fase da vida recentemente enaltecida pela jovialidade, força, beleza e liberdade (Pais, 2009). Importante ressaltar que atualmente os jovens compõem parcela significativa do número de matrículas no ensino superior.

A universidade está envolvida em todo o turbilhão de mudanças sociais e é um espaço de encontro. Encontro muitas vezes de interesses e opiniões que divergem. Este espaço de embate, influenciado pelo ambiente da sociedade, acaba por gerar culturas acadêmicas. Estas culturas são a forma como as instituições reagem e se comportam frente às diversas pressões a que é submetida. Sendo assim, identificar as culturas acadêmicas e, consequentemente, os modos de agrupamento social em que os indivíduos estão inseridos se mostra importante, pois esses grupos influenciam diretamente na maneira como o indivíduo é formado e como se comporta (SIMMEL, 2006).

As universidades, mais que nunca, estão sendo influenciadas pelo ambiente global. A informação é transmitida globalmente quase que de maneira instantânea, além da influência da presença alunos e professores estrangeiros no campus e de alunos que regressaram de intercâmbios. Tudo isso pressiona a cultura acadêmica. Uma das críticas da globalização é a planificação dos estilos de ser e sobreposição dos costumes locais (Marin, 2009). Será que a cultura acadêmica também pode sofrer deste mesmo mal?

A modernidade líquida e sua falta de solidez exigem da universidade um plano de ação que de conta da demanda de instantaneidade que os alunos exigem. Um dos caminhos trilhados é a desagregação (McCowan, 2018). Ela é uma estratégia que permite o corte de custos na instituição em busca da eficiência administrativa e apresenta um discurso de personalização. Com este modelo, o aluno tem possibilidade de desenhar o seu percurso formativo de acordo com seus interesses e planos.

A instantaneidade e agilidade na formação, tão em alta no modelo de sociedade líquido-moderna, podem ser fatores importantes no distanciamento social. A isto alia-se a facilidade no deslocamento espacial e a temporalidade das tribos que possam ser criadas entre os alunos enquanto estão inseridos no contexto universitário. Passar menos tempo na universidade e estar imerso em outras tantas tribos paralelamente indica menos tempo de contato com os colegas e menos possibilidade de vínculos sociais que ultrapassem o período de formação.

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* O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001

1O conceito de modernidade líquida foi utilizado pela primeira vez no Manifesto Comunista publicado por Karl Marx em 1848. Marshall Berman retomou essa questão e, em 1986 (tradução brasileira), publicou uma obra crítica em relação a era moderna. Apontou que “ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’” (1986, p. 15).

2Panóptico foi uma estrutura utilizada em prisões no período moderno em que um único guarda teria condições de vigiar um grande número de detentos ao mesmo tempo. Isso se devia ao fato desta estrutura ficar no centro da prisão e por ter visibilidade em todas as direções. Posteriormente o conceito de panóptico foi utilizado por Foucault para designar a sociedade de poder a partir da vigilância e disciplina (Strathern, 2003).

Recebido: 20 de Março de 2021; Aceito: 17 de Maio de 2022

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