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Motrivivência

versión On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.33 no.64 Florianópolis  2021  Epub 28-Sep-2021

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2021.e80680 

Artigo Original

A Educação Física no modelo remoto em face à pandemia da COVID-19: reflexões de estudantes e professores sobre o ensino-aprendizagem

Physical Education in the remote model in the face of the COVID-19 pandemic: reflections by students and teachers on teaching-learning

Educación Física en el modelo remoto ante la pandemia COVID-19: reflexiones de estudiantes y docentes sobre la enseñanza-aprendizaje

Juliana Daniele de Araújo Silva1 
http://orcid.org/0000-0002-3610-0754

Tereza Luiza de França1 
http://orcid.org/0000-0003-4168-2258

1Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Educação Física, Recife, PE, Brasil


RESUMO

O objetivo deste artigo foi descrever e analisar as opiniões de estudantes e professores da graduação em Educação Física sobre as suas vivências no primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial e implicações no ensino-aprendizagem. Trate-se de uma pesquisa descritiva quali-quantitativa com delineamento transversal. Foi feita uma pesquisa por questionário e uma análise de conteúdo das reflexões apontadas por 48 discentes e 6 docentes. Foram apontados benefícios como retomada das atividades de forma flexível, sem custos com locomoção e à facilidade das tecnologias e promoção de novas habilidades e metodologias educacionais. Foi observado pelos relatos que o Ensino Remoto Emergencial apresentou muitas dificuldades a nível de ensino-aprendizagem apesar das vantagens tecnológicas, como a pouca adesão e participação de docentes e discentes nas aulas, problemas com acesso à internet, além de demanda alta de atividades e carência de metodologias de avaliações satisfatórias, e que o ensino híbrido é uma possibilidade futura, desde que bem estruturado.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino remoto emergencial; Aprendizagem; Educação superior

ABSTRACT

The aim of this article was to describe and analyze the opinions of undergraduate students and teachers in Physical Education about their experiences in the first semester of Remote Emergency Teaching and its implications for teaching-learning. This is a descriptive, qualitative-quantitative research with a cross-sectional design. A survey was carried out through a questionnaire and a content analysis of the reflections pointed out by 48 students and 6 professors. Benefits such as flexible resumption of activities, without travel costs and the ease of technology and the promotion of new skills and educational methodologies were pointed out. It was observed by the reports that the Emergency Remote Teaching presented many difficulties at the teaching-learning level despite the technological advantages, such as the low adherence and participation of teachers and students in classes, problems with internet access, in addition to high demand for activities and lack of satisfactory assessment methodologies, and that hybrid teaching is a future possibility, provided it is well structured.

KEYWORDS: Emergency remote teaching; Apprenticeship; University education

RESUMEN

El objetivo de este artículo fue describir y analizar las opiniones de estudiantes de pregrado y docentes de Educación Física sobre sus experiencias en el primer semestre de Enseñanza de Emergencia Remota y sus implicaciones para la enseñanza-aprendizaje. Se trata de una investigación descriptiva, cualitativo-cuantitativa con un diseño transversal. Se realizó una encuesta a través de un cuestionario y un análisis de contenido de las reflexiones señaladas por 48 estudiantes y 6 profesores. Se destacaron beneficios como la reanudación flexible de actividades, sin costos de viaje y la facilidad de la tecnología y la promoción de nuevas habilidades y metodologías educativas. Se observó por los reportes que la Enseñanza Remota de Emergencia presentó muchas dificultades a nivel de enseñanza-aprendizaje a pesar de las ventajas tecnológicas, como la baja adherencia y participación de docentes y estudiantes en las clases, problemas con el acceso a internet, además de alta demanda de actividades y falta de metodologías de evaluación satisfactorias, y que la enseñanza híbrida es una posibilidad futura, siempre que esté bien estructurada.

PALABRAS-CLAVE: Enseñanza remota de emergencia; Aprendizaje; Educación universitaria

INTRODUÇÃO

Ocasionalmente o mundo enfrenta pandemias, a mais atual foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, a pandemia da doença do novo coronavírus (COVID-19), uma doença infecciosa causada pelo novo coronavírus (BEZERRA, DE LIMA, DANTAS, 2020). A pandemia da COVID-19 transformou de forma radical o cotidiano de estudantes e professores que, diante da suspensão das aulas e com a indicação do isolamento social para frear a disseminação do vírus, tiveram as aulas suspensas temporariamente (LEITE, LIMA, CARVALHO, 2021).

As suspensões das aulas presenciais aconteceram em 17 de março de 2020, quando o Ministério da Educação (MEC) publicou a Portaria 343, determinando que, durante a pandemia, as aulas presenciais fossem substituídas por aulas mediadas por tecnologias digitais (BRASIL, 2020). Isso fez com que em poucos dias mudanças consideráveis acontecessem no processo ensino-aprendizagem, e professores e alunos matriculados em cursos de natureza presencial tiveram que se conectar, literalmente, em ambientes digitais, onde, em tese, são usadas metodologias repensadas de formas ativas, onde professores não só produzem e distribuem conteúdos, mas também acompanham, orientam, avaliam e estimulam seus alunos com interações crescentes (COUTO, COUTO, CRUZ, 2020).

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especificamente, anunciou em 10 de julho de 2020 a decisão de retomada das aulas com a adesão do Ensino Remoto Emergencial. O Ensino Remoto Emergencial descreve a prática decorrente da primeira fase de enfrentamento da pandemia da COVID-19, e enfatiza-se que o mesmo não se trata de Ensino à Distância (EaD), mas à construção de respostas emergenciais para a suspensão presencial de diversas atividades institucionais, com a necessidade de criação de novos planos e protocolos para as demandas acadêmicas (CASTIONI et al., 2021).

O Ensino Remoto Emergencial é marcado por uma inovadora experiência no ensino diante o isolamento social, com o uso de tecnologias para a mescla de atividades síncronas e assíncronas, onde nas síncronas acontece, em tempo real e on-line, a interação entre participantes (professores, tutores e alunos), e assíncronas, onde o aluno tem liberdade para acessar os materiais e atividades em horários flexíveis para conclusão das tarefas, sem necessidade de alunos e professores estarem conectados ao mesmo tempo (JUNIOR E MONTEIRO, 2020).

Diante do aspecto inovador e aplicação abrupta ao ensino remoto emergencial, gera-se dúvidas sobre quais os impactos da condição de ensino-remoto em face ao cenário pandêmico tanto na formação dos estudantes como no desempenho profissional dos docentes, e de como deve ser elaborado o planejamento do ensino remoto para garantir de forma mais efetiva o processo de ensino-aprendizagem. Assim, também considerando as incertezas nas implicações tanto no cenário pandêmico como no futuro próximo ao ensino superior da Educação Física, o objetivo do presente estudo foi descrever e analisar as opiniões de estudantes e professores do curso de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco sobre a aplicação do modelo remoto de ensino devido à pandemia da COVID-19, com base em suas vivências no primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial.

MÉTODOS

Esta pesquisa possui um delineamento transversal de caráter descritivo com abordagem mista. Com base em Sampieri, Collado e Lucio (2013), o enfoque qualitativo foi usado quando buscou-se compreender e apresentar a perspectiva dos participantes, fontes internas de dados, sobre os fenômenos que vivenciam, e aprofundar sobre a forma como percebem sua realidade a partir de suas experiências e opiniões, já a análise quantitativa foi usada na coleta de dados por questionário e na análise e representação dos dados numéricos.

O universo amostral foi composto por 54 indivíduos vinculados aos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco (DEF/UFPE), sendo 48 discentes (88,9%) e 6 docentes (11,1%). Foi solicitado ao Colegiado e à Secretaria do Departamento, bem como ao Diretório Acadêmico de Educação Física, o contato dos discentes com vínculo ativo com a instituição durante os meses de agosto a dezembro de 2020, primeiro período de implementação do ensino remoto na instituição, para que fossem realizadas a divulgação da pesquisa e a participação dos interessados. A pesquisa foi feita de forma totalmente remota.

Como técnica de investigação principal para obter as opiniões da amostra foi usado um questionário, meio na pesquisa descritiva onde as informações são obtidas pedindo-se aos participantes que respondam às questões, em vez de observar o seu comportamento (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). O questionário foi adaptado no formato de formulário on-line criado na plataforma “Formulários do Google” com a apresentação do estudo, o esclarecimento sobre a participação anônima e voluntária na pesquisa, e foi composto por 16 perguntas totais, objetivas e discursivas, onde nenhuma tinha caráter obrigatório.

Os participantes foram identificados como “Aluno” ou “Professor” e com um número, conforme ordem de resposta ao questionário. Para análise dos dados obtidos nas formas de respostas discursivas foi utilizada a análise de conteúdo. A análise de conteúdo se estrutura em três fases: 1) pré-análise; 2) exploração do material, categorização ou codificação; 3) tratamento dos resultados, inferências e interpretação, e visa analisar diferentes aportes de conteúdo, sejam eles verbais ou não-verbais, por meio de uma sistematização de métodos empregados numa análise de dados, fazendo-se descrição do conteúdo das mensagens e uso opcional de indicadores quantitativos que permitem as inferências de conhecimentos relativos das variáveis inferidas nas mensagens (DE SOUZA; DOS SANTOS, 2020).

Em relação à representação numérica dos dados, foram analisados a frequência absoluta e relativa com que cada resposta foi observada. Como cada participante poderia expor em um único diálogo mais de uma possibilidade de categoria de resposta, como também optar por não responder, a somatória das respostas não corresponde exatamente a 100% do total de participantes que responderam às questões específicas, e sim ao número total de respostas após à etapa de categorização. Em face do número pequeno de docentes participantes, optou-se por não fazer a separação dos resultados quanto docentes e discentes em todas as questões. Os dados foram inseridos e analisados no Software Microsoft Excel® para cálculos e construção de tabelas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para apresentação dos resultados, evidenciamos os principais pontos levantados pelos participantes e buscamos sustentá-los e/ou confrontá-los na literatura. É importante a ressalva de que o período ao qual esta pesquisa se refere foi o primeiro semestre com o Ensino Remoto Emergencial na instituição-alvo do nosso estudo, e que o Ensino Remoto Emergencial não foi uniforme em todo o Brasil. Na instituição do nosso estudo houveram algumas peculiaridades como: ser um semestre suplementar totalmente remoto de caráter facultativo tanto para professores e alunos, onde os professores delimitaram o número de vagas em suas disciplinas ofertadas; a carga horária das disciplinas foi dividida em síncrona (aulas em tempo real) e assíncrona em 2 horas por dia (produção de atividades); e não contabilização de reprovações no histórico curricular. Os impactos das peculiaridades do primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial incorporadas pela instituição-alvo do nosso estudo também são apresentados e/ou discutidos nas reflexões dos participantes, de forma que as análises tentam direcionar possíveis considerações às outras instituições no planejamento de suas atividades no modelo remoto.

Aspectos positivos e negativos do Ensino Remoto Emergencial na Educação Física

Dentre os aspectos positivos, 35 alunos e 5 professores contribuíram com suas opiniões, que foram separadas em categorias, permitindo a contabilização de 66 respostas (Tabela 1).

Tabela 1-Aspectos positivos do primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial 

Respostas Quantidade %
Permissão do andamento do curso e retomada das atividades da Universidade 14 21,2%
Aprendizagem de novas habilidades e uso de novas metodologias 8 12,1%
Facilidade da tecnologia on-line 8 12,1%
Flexibilização de horários 6 9,1%
Sem prejuízos quanto locomoção e trânsito 6 9,1%
Menor exposição à COVID-19 e mais segurança 4 6,1%
Organização 3 4,5%
Aulas mais dinâmicas e criativas 3 4,5%
Participação de professores externos 2 3,0%
Maior comunicação entre coordenação, professores e alunos 2 3,0%
Comodidade 2 3,0%
Mais descanso 2 3,0%
Estímulo devido à alta demandas de atividades 1 1,5%
Possibilidade de assistir aulas gravadas 1 1,5%
Acesso a eventos, minicursos externos de forma gratuita sem gastos com transporte e hospedagem 1 1,5%
Não contabilização de reprovações 1 1,5%
Aumento da participação dos alunos nas aulas 1 1,5%
Oferta de treinamentos e cursos de formação continuada 1 1,5%

Fonte: Os autores (2021)

No total 38 participantes (33 alunos e 5 professores) expuseram suas críticas quanto os aspectos negativos do ensino remoto, obtendo 63 respostas para as categorias identificadas (Tabela 2).

Tabela 2-Aspectos negativos do primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial 

Respostas Quantidade %
Quantidade reduzida de disciplinas e vagas ofertadas 14 22,2%
Problemas com acesso à internet 8 12,7%
Demanda alta de atividades 6 9,5%
Dificuldade de organização e/ou flexibilidade 5 7,9%
Avaliações e/ou atividades não satisfatórias 5 7,9%
Inexperiência no manuseio das plataformas 3 4,8%
Dificuldades para concentração e absorção do conteúdo 3 4,8%
Carga horária de trabalho maior do que presencialmente 2 3,2%
Ausência da presença direta de um facilitador e falta de contato direto entre alunos e professores 2 3,2%
Desmotivação e falta de dedicação 2 3,2%
Problemas com barulhos dos ambientes externos 2 3,2%
Pouca interação durante as aulas 2 3,2%
Comunicação insatisfatória com a Coordenação 2 3,2%
Ausência de aulas práticas 2 3,2%
Aumento do comportamento sedentário 1 1,6%
Aumento do tempo de tela 1 1,6%
Dificuldades para realizar disciplina de Estágio 1 1,6%
Desconforto em ligar câmeras 1 1,6%
Problemas quanto às normas do semestre remoto 1 1,6%

Fonte: Os autores (2021)

Em relação às sugestões para melhor funcionalidade e qualidade do ensino remoto, mediante os aspectos positivos e negativos levantados, 26 alunos e 4 professores opinaram. Foram obtidas 39 respostas divididas em 16 categorias, como mostra a Tabela 3.

Tabela 3 Principais sugestões para o modelo de ensino remoto 

Respostas Quantidade %
Maior oferta de disciplinas e vagas 7 17,9%
Conscientizar professores da quantidade alta de atividades e diminui-las 6 15,4%
Adequar métodos de avaliação e/ou acompanhar avanços tecnológicos 6 15,4%
Oferta de treinamentos e cursos de formação continuada para o modelo remoto 4 10,3%
Continuar com modelo remoto tanto para aulas quanto para Coordenação 3 7,7%
Fornecer suporte para problemas de manuseio às plataformas e às aulas remotas 2 5,1%
Aprimorar didáticas utilizadas 2 5,1%
Aumentar adesão de professores ao ensino remoto 1 2,6%
Promover auxílio financeiro a alunos para maior adesão no ensino remoto 1 2,6%
Promover mais acesso a artigos digitais 1 2,6%
Aumentar disponibilidade de aulas gravadas e apresentações 1 2,6%
Fornecer internet a alunos 1 2,6%
Melhorar comunicação entre instituição e aluno 1 2,6%
Consolidar parcerias com clubes e academias para Estágio remoto 1 2,6%
Liberação de laboratórios de forma segura e responsável 1 2,6%
Realização de aulas híbridas 1 2,6%

Fonte: Os autores (2021)

Quando questionados sobre os aspectos positivos da inserção da implementação do Ensino Remoto Emergencial seguindo às diretrizes implementadas pela instituição do estudo, a maior parte das respostas destacou que o fato de poder dar continuidade às atividades acadêmicas foi o maior benefício, evitando não só atrasos maiores para obtenção do diploma de graduação e formação profissional, mas problemas quanto à saúde mental. Estes aspectos reforçam que o ensino remoto é a melhor saída para minimizar o atraso no retorno às aulas presenciais e na conclusão de cursos de diferentes níveis, algumas das principais preocupações apontadas estudantes durante o isolamento social (FERNANDES, 2021).

São pontuadas também as vantagens de, diante às medidas de isolamento social, a implementação do modelo remoto não requer gastos com locomoção e oferece o conforto de assistir às aulas em casa. Um aspecto importante é a segurança quanto à exposição à COVID-19, visto que o isolamento no ambiente residencial foi uma das principais medidas de restrição adotadas para diminuição da progressão e disseminação do novo coronavírus, visando a redução das chances de contaminações e da procura pelos serviços hospitalares (PEREIRA et al., 2020a). As perspectivas seguintes retratam as informações citadas:

“(Vejo como aspectos positivos) Conseguir continuar o Curso sem me arriscar, nem arriscar a família; cabeça ocupada ‘deixa de lado’ a depressão; desenvolver novas habilidades; remotamente conseguimos assistir aulas por mais tempo e mais confortavelmente, já que não existe a perda de tempo no trânsito; (e) não atrasar tanto o semestre” (Aluno 35).

“(Para mim o ensino remoto teve como benefícios:) Poder dar continuidade às atividades que estavam atrasadas; voltar a ter uma interação rotineira com os colegas e professores; economia de tempo de deslocamento e recursos para algumas atividades; realização de cursos e palestras on-line com instituições e convidados de diferentes lugares e de forma gratuita; flexibilização de algumas atividades; (e) maior conhecimento sobre o uso de tecnologias no processo de ensino-aprendizagem” (Aluno 45).

“(Vejo como ponto positivo) Poder exercer a docência com segurança” (Professor 2).

Como levantado pelos participantes acima, a tecnologia oferece novas possibilidades para o ensino-aprendizagem, colaborando com a difusão do conhecimento e da democratização do saber como ressalta Neto (2020), que descreve o domínio dos recursos tecnológicos atualmente como um determinante para o sucesso das aulas remotas, em face de que a experiência de interações neste modelo de ensino é mediada imprescindivelmente pela tecnologia. Do ponto de vista docente, também foi identificada a possibilidade de desenvolvimento profissional:

“A oferta de treinamentos e cursos de formação continuada; aprendizado de novas técnicas e uso de utilização de outras estratégias de ensino e aprendizagem (são aspectos positivos do ensino remoto)” (Professor 6).

Sobre os aspectos negativos, a maior queixa ao Ensino Remoto Emergencial com base no planejamento da instituição do estudo foi à quantidade reduzida de disciplinas ofertadas bem como ao número de vagas, o que prejudicou grande parte dos estudantes. Isso reflete a triste necessidade de vários docentes em não optar a dar aulas no período de Ensino Remoto Emergencial ou de limitar seu número de vagas em disciplinas por dificuldades além do despreparo para essa modalidade de educação, como a desigualdade social, a falta de acesso à internet e a equipamentos para realização e acompanhamento das atividades, também sentida por alunos, e o fato de que nem todos os alunos e professores possuem dentro de suas casas um ambiente adequado para os estudos (TELES et al., 2020). As transcrições seguintes apontam tais dificuldades:

“(São aspectos negativos as) Poucas disciplinas ofertadas, nem todos os professores aderiram o ensino remoto, (e) isso está prejudicando muitos estudantes” (Aluno 1).

“(São pontos negativos os) Problemas com conexão de internet e muita atividade assíncrona” (Aluno 31).

Para os estudantes da nossa pesquisa, no Ensino Remoto Emergencial as avaliações e metodologias empregadas foram insatisfatórias assim como os achados de pesquisas similares, onde a grande quantidade de atividades exigidas pelos professores aparece como uma das maiores complicações citadas pelos educandos em relação ao ensino remoto (ANDREZA et al., 2020). Pereira et al. (2020b) ressaltam o despreparo dos docentes em relação aos modelos avaliativos aplicados às mudanças do modo de ensino-aprendizagem durante o isolamento social pela COVID-19, já que o ensino remoto exige uma mudança de postura do professor, de maneira dinâmica, que instigue a participação dos alunos, com avaliações objetivas em vez do uso de trabalhos em grupo, resenhas e análises de materiais que geram maiores demandas aos estudantes para cumprir os prazos de entregas das tarefas solicitadas.

“[...] (Os) métodos de avaliação poderiam ser mais simplificados visto que vivemos em um novo modelo de ensino[...]” (Aluno 26).

“Sinceramente ainda não vi nada positivo, a maior parte dos professores acredita que por estamos em casa temos todo tempo do mundo e solicita muitas atividades que acabamos ‘não dando conta’, estou mais estressada (do) que nas aulas presenciais. Sei que não é fácil para nenhum dos lados, mas o exagero está tornando a situação insuportável” (Aluno 3).

A ausência de aulas práticas foi um dos pontos mais negativos, considerando que aulas práticas são importantes facilitadores do processo de ensino-aprendizagem, ao possibilitarem aliar teoria à prática, transformando o estudante em sujeito da aprendizagem, desenvolvendo habilidades e competências específicas (PERUZZI E FOFONKA, 2021).

“(Vejo como negativo) A ausência das aulas práticas, onde em meu curso é essencial a aplicação das teorias nas aulas, bem como a ‘consciência pesada’ por não está cursando todas as cadeiras do meu período e a incerteza de quanto isso irá atrasar minha formação” (Aluno 15).

“A impossibilidade de realização de aulas híbridas/aulas práticas presenciais nos laboratórios/espaços da UFPE, mesmo que em pequenos grupos (é um ponto negativo para mim)” (Professor 5).

Os docentes entrevistados também relataram que estão se sentido mais exaustos em relação às demandas profissionais e enfatizaram a pouca interação dos alunos no meio remoto. Também foi comentado que o trabalho dos professores no ensino remoto foi alvo de crítica constante por fatores extrínsecos, evidenciando que os docentes estão com dificuldades no ensino remoto tão quanto os alunos.

“(Tenho) Trabalhado muito mais do que o habitual” (Professor 1).

“Pouca interação dos alunos nas aulas e dificuldade de conexão (são pontos negativos para mim)” (Professor 2).

“(Vejo a) Baixa participação dos discentes como aspecto negativo” (Professor 6).

“(Considero como ponto negativo a)[...]Demora na resolução e tomada de decisão, com isso viramos alvo da sociedade com críticas que colocam em xeque o (nosso) trabalho” (Professor 4).

O sentimento de exaustão também foi identificado em uma pesquisa com docentes de Ciências e/ou Biologia que tiveram a percepção de que as suas cargas horárias de trabalho estavam maiores no ensino remoto durante o isolamento social, o que possivelmente tem relação com o despreparo para as aulas remotas e o cuidado simultâneo com questões familiares e pessoais (BORBA et al., 2020). Já Silva e Peixoto (2020) explicam que a participação insuficiente dos alunos nas aulas remotas envolve não só a desmotivação, mas também pelos fatos do ambiente domiciliar não ser tranquilo para o acompanhamento das aulas, das dificuldades dos alunos de sanar dúvidas com professores sem contato presencial, e dos próprios professores para ministrar aulas remotas, fazendo uso de equipamentos tecnológicos não totalmente adequados.

Quando questionados sobre o que sugerem para melhor funcionalidade e qualidade do ensino remoto, boa parte dos alunos sugeriu o aumento na oferta de disciplinas e de vagas para cursá-las, um entrave do primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial na instituição do estudo, bem como o emprego de metodologias adequadas e uso estratégico de avaliações no modelo remoto.

“(Sugiro) Optar por atividades em grupo e optar por não colocar prova nesse novo modelo de ensino. É antiquado, ineficiente e não avalia nenhum aluno. Acho importante tentar ser mais dinâmico nas aulas síncronas, utilizar mais vídeos, imagens, slides mais simples” (Aluno 27).

Apesar das dificuldades, os participantes visualizam o ensino remoto como pioneiro para novas possibilidades pedagógicas. Outras pesquisas já apontam que a manutenção do formato remoto pode permitir, com a devida capacitação de professores, que no futuro próximo aconteçam abordagens híbridas de ensino sem prejuízos para os alunos e professores (CÓ, AMORIM E FINARDI, 2020).

“(Espero) Que esse modo de ensino possa continuar quando as aulas presenciais retornarem. Pois algumas matérias não precisam necessariamente serem presenciais. E que a faculdade possa acompanhar os avanços tecnológicos na área educacional” (Aluno 11).

“Agora que já estamos em nova fase de reabertura, sugiro a realização de aulas híbridas, onde as aulas teóricas são realizadas de forma remota e as aulas práticas presenciais são realizadas nos laboratórios/espaços da instituição com pequenos grupos, como está sendo feito em outras instituições de Ensino Superior” (Professor 5).

Participação de docentes e discentes de Educação Física no Ensino Remoto Emergencial

Em relação aos professores, 6 responderam à pergunta “A participação/frequência dos alunos atendeu às suas expectativas?”, e 50% responderam “sim”, e 50% “não”. 4 professores justificaram suas respostas, que foram divididas em apenas 3 categorias: “Alunos pouco participativos” (50%), “Problemas com internet” (25%), e “Frequência satisfatória dos alunos” (25%). Já sobre os alunos, 45 alunos responderam à mesma pergunta anterior, onde 88,9% responderam “sim”, e 11,1% “não”. 17 alunos se sentiram à vontade para justificar suas respostas, que aparecem categorizadas na Tabela 4.

Tabela 4 Principais considerações dos alunos sobre a participação docente no primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial 

Respostas Quantidade %
Professores são assíduos 4 23,5%
Metodologias aplicadas não são satisfatórias 4 23,5%
Planos de ensino são cumpridos 2 11,8%
Metodologia aplicada é satisfatória para o aprendizado 2 11,8%
Professores lançam diversas atividades 1 5,9%
Aulas síncronas em demasiado 1 5,9%
Conteúdo é apresentado com mais dinamismo 1 5,9%
Alunos monitores assumem muitas funções 1 5,9%
Pouca oferta de vagas 1 5,9%

Fonte: Os autores (2021)

As avaliações dos professores são unânimes quanto à satisfatória frequência dos alunos durante as aulas remotas, porém todos elencaram as dificuldades dos alunos para participarem ativamente das discussões propostas.

“Alunos (são) poucos participativos e com problemas de conexão” (Professor 2).

“Os alunos têm comprometimento com a presença, mesmo com a gravação das aulas” (Professor 5).

“Apesar da frequência da maioria dos discentes, poucos participam das discussões” (Professor 6).

É compreensível que no primeiro semestre de implementação do ensino remoto os docentes não tenham o domínio de estratégias que podem solucionar dificuldades como a baixa interação discente. Para melhorar a participação dos estudantes nas aulas remotas durante a pandemia da COVID-19, o estudo de Bao (2020) identificou 5 estratégias baseadas em princípios, são eles:

1) Princípio da relevância apropriada: A quantidade, dificuldade e a duração do conteúdo de ensino devem corresponder à prontidão acadêmica e às características de comportamento de aprendizagem on-line dos alunos; 2) Princípio da entrega eficaz: Devido às características dos alunos de baixa concentração na aprendizagem on-line, é essencial ajustar a velocidade de ensino para garantir a entrega eficaz de informação de ensino; 3) Princípio do suporte suficiente: Professores e assistentes de ensino precisam fornecer aos alunos feedbacks oportunos, incluindo mentorias em vídeo on-line e orientação por e-mail depois da aula; 4) Princípio da participação de alta qualidade: É necessário adotar algumas medidas para melhorar o grau e profundidade da participação dos alunos nas aulas; e 5) Princípio da preparação do plano de contingência: Em vista da escala extraordinariamente grande da educação on-line, é necessário fazer planos de contingência ou alternativos em avanço no tratamento de possíveis problemas como a questão da sobrecarga de tráfego da plataforma de educação on-line. Além disso, uma vez que esta “migração” do ensino on-line foi implementada rapidamente durante o surto de COVID-19, a ansiedade dos alunos precisa ser aliviada em várias maneiras para garantir que eles possam se envolver de forma ativa e eficaz na aprendizagem on-line. (BAO, 2020, p. 113-115).

Os alunos, no entanto, são divergentes quando argumentam sobre a participação dos docentes e criticam demasiadamente as metodologias pedagógicas empregadas. Pode-se interpretar, então, que segundo os alunos entrevistados os professores são assíduos, porém uma parcela significativa do corpo docente precisa reajustar suas aplicações de ensino no modelo remoto.

“Eles (os professores) estão sempre pontuais e entusiasmados em passar o conhecimento” (Aluno 11).

“(Os professores) Estão trazendo de formas diferentes o conteúdo e assim nos ajudando a ter melhor entendimento” (Aluno 17).

“Alguns professores deixam a desejar em relação a certas metodologias aplicadas[...]” (Aluno 16).

Diante do exposto, a sociedade precisa compreender que, apesar de estudos sobre o uso de tecnologias na educação como recursos pedagógicos para melhorar a qualidade do processo de ensino e de aprendizagem ser discuto desde a década de 90 (PEIXOTO; ARAÚJO, 2012), o Brasil lida atualmente com a carência de formação pedagógica que possibilite a transição dos professores do modelo tradicional para um modelo mais ativo e dinâmico de ensino a partir das tecnologias digitais, como ressaltam Oliveira, Silva e Silva (2020). Os mesmos autores discutem que as tecnologias digitais precisam ser usadas para ressignificar as teorias e práticas do ensino e aprendizagem, porém, sem uma formação continuada, com as adaptações para o ensino remoto em um curto intervalo de tempo, e sem ações de órgãos públicos responsáveis através de políticas de incentivo de financiamento e de fomento, as práticas pedagógicas são prejudicadas.

Os planos de ensino de Educação Física no Ensino Remoto Emergencial

Quando questionados se foi possível garantir o proposto no plano de ensino, 6 professores opinaram e 100% responderam que “sim”. Apenas 2 professores justificaram suas respostas, que também foram categorizadas em 2 opções: “Alunos estiveram com dificuldade para acompanhar” (50%) e “Qualidade de ensino foi prejudicada” (50%). Em relação aos alunos, quando perguntados se o plano de ensino proposto atendeu às suas expectativas, 73,3% responderam “sim” e 26,7% responderam “não”. Ao todo 16 alunos justificaram suas respostas, que foram divididas em 5 categorias: “Planos continham atividades insatisfatórias e/ou em excesso” (37,5%), “A maioria das disciplinas atendeu às expectativas”, “Plano de ensino foi menos dinâmico do que o proposto/esperado” e “Planos de ensino foram equivalentes ao modelo presencial, não adaptados às condições remotas” (com 18,8% cada) e “Planos estiveram com carga horária maior do que no modelo presencial” (6,3%).

No cenário de pandemia, muitas instituições se depararam com a necessidade de reavaliar, com urgência, os planos de ensino para atender às atividades remotas. Em nosso estudo os professores relataram dificuldades quanto às adaptações do plano de ensino para o modelo remoto e quanto à compreensão e aprendizagem dos discentes, onde a adesão ao ensino híbrido, com atividades à distância e presenciais, foi ressaltada como uma possibilidade para melhorar a qualidade de ensino.

“Foi possível garantir o plano proposto, no entanto, percebo que alguns alunos estão tendo dificuldade de acompanhar” (Professor 2).

“(Foi possível garantir o plano proposto) Mesmo assim, se houvesse a possibilidade de alguns encontros práticos presenciais para pequenos grupos, a qualidade de ensino seria muito maior” (Professor 5).

Especificamente sobre o ensino híbrido, trata-se de uma abordagem pedagógica que combina atividades presenciais e atividades realizadas por meio das tecnologias digitais de informação e comunicação, sem se restringir às metodologias ativas ou à inserção de equipamentos eletrônicos em salas de aula, marcada pela fase de exploração do estudante em um campo de conhecimento onde ele é o centro do processo de ensino-aprendizagem (SOUZA; CHAGAS; DOS ANJOS, 2019). De acordo com Silveira (2021), durante a evolução do Ensino Superior no cenário pandêmico. o ensino híbrido pretende consolidar os modelos de ensino presencial e remoto, reunindo as vantagens e potencialidades de cada um dos modelos e minimizando ou evitando as desvantagens e fragilidades individuais, sucedendo o Ensino Remoto Emergencial na fase em que as instituições estejam preparadas para o retorno parcial às atividades presenciais enquanto simultaneamente algumas atividades remotas permanecem, até chegar a fase em que todos os processos de aprendizagem onde a execução presencial não agreguem valor sejam convertidos para o modelo remoto, e aulas remotas síncronas até então com interação insuficiente sejam substituídas por conteúdos assíncronos.

Apesar de a maior parte dos estudantes responder que os planos de ensinos propostos atenderam às suas expectativas, quando analisamos as justificativas notamos um número maior de visões negativas.

“No plano de aula parece se tudo bem dinâmico, mas (na prática, durante as aulas remotas) não acontece dessa forma” (Aluno 3).

“Basicamente (os planos de ensino do modelo remoto) são os mesmos dos modelos presenciais” (Aluno 11).

“Planos de ensino (do modelo remoto são) fracos e com pouca interação entre alunos e professores” (Aluno 18).

O modelo remoto e o uso de tecnologias trouxeram para os estudantes muita expectativa sobre metodologias dinâmicas, com uma interação significativa. Essa expectativa se dá porque a adoção do emprego do ensino híbrido, das metodologias ativas e do modelo remoto no ensino-aprendizagem atualmente teve como missão melhorar a dinamização das aulas com possibilidade também de melhorar as práticas usadas no ensino tradicional (BARBOSA, VIEGA E BATISTA, 2020). Além disso, o emprego das tecnologias no ensino remoto pode ser usado para favorecer o processo de ensino e aprendizagem de forma autônoma e reflexiva, com foco em abordagens para a realidade atual, além de aprimorar possibilidades de interações e de acesso ao conhecimento, com o desenvolvimento de uma gama diversificada de atividades que estreitam o contato entre as pessoas, transpondo as barreiras físicas (PIFFERO et al., 2020).

Considerações finais sobre o Ensino Remoto Emergencial

Por último, 19 participantes (18 alunos e 1 professor) comentaram suas considerações finais sobre o primeiro semestre de realização remota em face à pandemia da COVID-19, permitindo a categorização de 22 respostas em 13 categorias (Tabela 5). O intuito era entender quais as limitações do ensino remoto e quais as necessidades para a implementação de um ensino remoto mais efetivo.

Tabela 5 Considerações finais sobre o primeiro semestre de Ensino Remoto Emergencial 

Respostas Quantidade %
Necessidade de aumentar oferta de disciplinas e número de vagas 5 22,7%
Necessidade de diminuição de atividades solicitadas 4 18,2%
Necessidade de desenvolver métodos avaliativos adequados 3 13,6%
Necessidade de acompanhar os avanços da tecnologia na educação 2 9,1%
Apoio à permanência do modo de ensino remoto 1 4,5%
Sugestão de produção de palestras e congressos on-line 1 4,5%
Precisa-se criar atividades relacionadas aos conteúdos tratados na disciplina 1 4,5%
Precisa-se promover capacitação de professores 1 4,5%
Precisa-se melhorar diálogo com as coordenações e alunos 1 4,5%
Precisa-se contratar mais professores 1 4,5%
Precisa-se promover aulas de Estágio no período remoto 1 4,5%
Precisa-se melhorar comunicação da Coordenação com os estudantes 1 4,5%

Fonte: Os autores (2021)

Foi observado que a delimitação no Ensino Remoto Emergencial no número de disciplinas e vagas na instituição do estudo precisa ser ajustada para uma melhor viabilização do ensino remoto futuramente, e que o volume alto de atividades solicitadas necessita ser repensado considerando o momento crítico de pandemia e a capacidade de os estudantes de atendê-las de forma satisfatória dentro dos prazos estabelecidos.

“Em relação à análise: (concluo que existe) alta demanda de trabalhos e atividades quando comparamos às aulas presenciais convencionais, que (acontecem) em virtude de a instituição só permitir 2 horas de aula, então (as horas assíncronas) têm que ser compensadas de alguma maneira. No entanto há pessoas que trabalham ou fazem estágios, e em alguns casos tiveram que aumentar essa carga de trabalho para poder ajudar em casa, pois nem todos saíram sem prejuízo durante a pandemia” (Aluno 25).

Foi observado que os métodos didáticos e avaliativos continuam sendo criticados, como mostram os relatos seguintes:

“(Os professores precisam solicitar) Atividades que se liguem diretamente ao conteúdo tratado na disciplina” (Aluno 16).

“(Sugiro o) Desenvolvimento de métodos avaliativos adequados” (Aluno 9).

“Para as aulas remotas, minhas sugestões e ideias não dependem apenas da gestão. Por exemplo, sabemos da necessidade de mais docentes no Departamento. A aplicação de metodologias ativas exige maior dedicação dos professores e discentes” (Professor 6).

As dificuldades pedagógicas enfrentadas pelos professores reafirmam os achados do estudo de Có, Amorim e Finardi (2020) que sugerem que grande parte dos docentes não possuem formação, capacitação e apoio para o modelo remoto de ensino. Já a sensação de atribuição de muitas tarefas e necessidade de mais docentes para suprir o atendimento das demandas é comentada por Pontes e Rostas (2020), que afirmam que o surgimento da COVID-19 impôs que os professores tivessem que, em tempo recorde, se familiarizar ao ensino on-line e suas ferramentas tecnológicas, adaptar conteúdos e rotinas focadas no ensino tradicional para um modelo totalmente diferente, com experiências pedagógicas síncronas e assíncronas, além de precisarem ajustar suas casas para o ambiente de trabalho e estar disponíveis para diversas conferências virtuais com horários díspares aos seus trabalhos presenciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões dos docentes e discentes evidenciam a necessidade de reestruturar o modelo de ensino remoto visando sanar dificuldades como a alta solicitação de atividades acadêmicas em um ritmo que os alunos não conseguem acompanhar e a falta de formação continuada para que os professores adequem metodologias ativas com tecnologias e rompam com o modelo tradicional de ensino, maximizando a interação dos estudantes. Além disso, programas de Ensino Remoto Emergencial que reduzem consideravelmente a oferta de disciplinas e números de matrículas são percebidos como limitadores à aderência e engajamento dos estudantes nas aulas remotas. Como saída para contornar as dificuldades pontuadas, o ensino híbrido é uma forte opção futura segundo as críticas analisadas, permitindo a praticidade e manutenção dos benefícios das aulas remotas e a viabilização de aulas práticas para aprimorar a qualidade do ensino e aprendizagem e minimizar impactos negativos às formações de estudantes de Educação Física no cenário pandêmico.

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AGRADECIMENTOS Agradecemos aos docentes e discentes participantes da pesquisa

FINANCIAMENTO Não se aplica

CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM Não se aplica

APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Não se aplica

LICENÇA DE USO Os autores cedem à Motrivivência- ISSN 2175-8042 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution Non-Comercial ShareAlike (CC BY-NC SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar com a mesma licença

PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade

EDITORES Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira

EDITOR DE SEÇÃO Juliano Silveira

REVISÃO DO MANUSCRITO E METADADOS João Caetano Prates Rocha; Keli Barreto Santos

Recebido: 14 de Abril de 2021; Aceito: 24 de Setembro de 2021

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tereza.franca@ufpe.br

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CONFLITO DE INTERESSES

Não há conflito de interesses

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